Epílogo 1
"I don't wanna picture our first born
If you've stopped discussing names with me
But if it means that we get through
Then you know I'm up for anything."
— Anything; Catfish And The Bottlemen.
Cooper
Abri os olhos lentamente, sentindo minhas pálpebras serem incomodadas por uma luz forte. Ele ainda estava dormindo praticamente imóvel bem de frente para mim, as cobertas o cobriam por completo, como se fosse um burrito, mal conseguia ver seu rosto ali no meio.
Me virei para o lado, passando o braço por cima da mesa de cabeceira até encontrar meu celular. Merda, tá bem cedo. Suspirei pesadamente o ar para fora dos meus pulmões, eu não queria ter acordado tão cedo, preferia ficar mais algum tempo dormindo que enfrentar o frio com o meu corpo quase nu.
Preguei os olhos novamente, procurando pelo sono novamente, mas ele não se encontrava em nenhum lugar. Me dei por vencida depois de rolar de um lado para o outro e não conseguir sequer cochilar um pouco.
Me esgueirei para fora da cama lentamente, eu não queria acordá-lo, era cedo demais e tínhamos chegado bem tarde em casa depois de um dos jogos do campeonato. Tentei não fazer nenhum barulho alto o suficiente para perturbá-lo, ele devia estar cansado como um camelo.
A luz forte das janelas da sala invadiam o quarto pela porta, que estava escancarada. Estávamos tão cansados na noite anterior que mal nos demos ao trabalho de fechar a porta antes de deitar e dormir. A luz vinha diretamente na minha cara, claro que eu não conseguiria dormir de jeito nenhum e até fazia algum sentido o fato de Daniel ter coberto todo o rosto.
Arrastei os pés preguiçosamente até o banheiro, sentindo meu corpo estremecer com a diferença de temperatura. Por um instante, cogitei em voltar para a cama, me encolher bem perto de seu corpo e deixar que as cobertas fizessem o resto do favor, mas se eu não levantasse, sabia que minhas costas ficariam doendo depois.
Depois de escovar meus dentes, me dando ao direito de me enfiar em roupas nada bonitas, mas bem quentes, saí do quarto deixando apenas uma fresta da porta aberta, assim, a pouca luz que entraria seria o suficiente para iluminar um pouco do quarto para que Daniel não chutasse a beirada da cama de novo.
Atravessei a sala silenciosamente, dando uma bela olhada pelas janelas grandes, a cidade inteira estava calma e pacata, banhada pela luz do sol que escapava por entre as poucas nuvens escuras. Estiquei as costas até senti-las estralar aos poucos e contornei a ilha de bancadas, parando de frente para a pia.
Abri armário por armário, procurando pelo que fazer no café da manhã. As coisas estavam tão corridas que mal tivemos tempo para ir ao mercado comprar o que faltava. O que ninguém nunca te conta sobre morar junto de alguém é que a comida acaba duas vezes mais rápido e, consequentemente, você precisa comprar duas vezes mais comida, e isso era algo que ainda estávamos aprendendo.
Encontrei um pacote de pães de forma quase acabando, um resto de manteiga e três ovos na geladeira, se quiséssemos almoçar em casa, teríamos que passar o mais rápido possível na mercearia do bairro antes de ir no mercado de verdade. Abri o armário de cima da pia, sabia que a frigideira deveria estar ali em algum lugar, eu só tinha o pequeno empecilho de não ter altura o suficiente para alcançá-la.
Respirei fundo, eu não podia acordá-lo só para pegar uma frigideira para mim. Dei uma olhada ao redor, não tínhamos uma mesa de jantar com cadeiras para que eu usasse uma delas para subir em cima e os banquinhos do balcão eram redondos e viravam com facilidade, a não ser que eu quisesse causar um grande acidente, eles estavam fora de cogitação.
Apoiei as duas mãos sobre a bancada da pia, forçando um pouco para descobrir se aquilo aguentaria o meu peso. A bancada nem se mexeu e eu, confiante, me ajoelhei sobre ela, me esticando até conseguir tocar o cabo da frigideira e trazê-la para mim. Fechei as portas do armário e pulei para o chão logo em seguida.
Coloquei os pães na torradeira e, depois de colocar um pouco de óleo na frigideira, quebrei os ovos e os levei até o fogão, dando uma olhada rápida no fogo enquanto dava uma mexida neles com uma espátula de silicone. Salpiquei com sal e senti o cheiro convidativo invadir meus pulmões, fazendo minha barriga roncar.
Mesmo que fosse simples e até um tanto sem graça, o café da manhã combinaria com o dia timidamente ensolarado, mesmo que frio. O inverno estava chegando com força e a proximidade de Ann Arbor com o Canadá quase nos transformava em picolés ambulantes.
Antes que eu pudesse desligar o fogão, um par de mãos deslizou pela minha cintura, torneando meu corpo e me puxando um pouco mais para trás. Ele colou nossos corpos e se curvou para frente, o cabelo molhado escorregando pela testa e me molhando enquanto ele preguiçosamente deslizava o rosto no meu.
— Bom dia — Com a voz rouca e grave, ele suspirou lentamente.
— Bom dia — Virei meu rosto para o dele, beijando-o rapidamente. — Acordou cedo!
— Senti sua falta na cama, fiquei preocupado — Ele fechou os olhos, apoiando o queixo no topo da minha cabeça. — O que tá fazendo aí?
— Torrada e ovos — Desliguei o fogão e ele se afastou. — Pega um prato, é muito pra mim!
Ele confirmou com a cabeça, pegando outro prato e o deixando ao lado do meu, caminhando até a geladeira. Seus dedos puxaram a porta e a luz branca iluminou as poucas opções que ainda tínhamos ali dentro. Depois de pouco tempo de procura, encontrou o galão de suco e deu uma sacudida para saber se teria o suficiente para nós dois antes de fechar a porta e sentar na beirada da bancada da ilha, deixando o galão ao lado do corpo e encarando minhas costas.
— Dan, a gente tá meio sem opções pra comer, acho melhor darmos uma passada no mercado, mais tarde... — Virei-me ligeiramente para ele, colocando os ovos nos dois pratos.
— Não tenho treino hoje, então a gente pode ir depois de comer — Ele passou os dedos pelos olhos, afastando o sono. — Eu coloco uma roupa decente e a gente vai!
Coloquei o prato dele e um garvo perto do calão de suco, parando de frente para suas pernas. Estreitei os olhos para ele, como ele não tá morrendo de frio? O peito nu salpicado pelas poucas gotas que ainda escorriam do cabelo não tinha pudor algum ao se exibir para os meus olhos.
— Gosto de te ver assim — Disse e ele sorriu de canto.
— Posso ir assim, se quiser — Provocou, me puxando para o espaço entre suas pernas.
Fechei os olhos e neguei lentamente com a cabeça, apoiando os braços em suas pernas e me colocando nas pontas dos pés para chegar um pouco mais perto do seu rosto, mesmo que não fosse muito eficaz.
— Prefiro quando só eu posso te ver assim!
Ele se curvou para frente, segurando meu rosto entre as mãos e beijando minha testa antes de pegar o prato e dar uma garfada nos ovos mexidos.
— Sabe alguma coisa da Madison? — Perguntou, estreitando os olhos pra mim. — Da última vez que falei com o Jordan, ela já tava de oito meses. Eu mal percebi o tempo passar, foi bem rápido!
Neguei com a cabeça, tudo que eu sabia, na verdade, é que eles estavam só esperando a boa vontade da Makena dar as caras para o mundo. Não tinha muito o que saber, Madison estava bem e tranquila. Toda a gravidez foi calma e sem muitas dores de cabeça, o que era ótimo, mas o fato da pequena Makie estar com preguiça de dar as caras estava a preocupando um pouco, já que isso poderia se tornar um problema.
— Só esperando a nenê nascer, agora — Beberiquei um pouco do suco. — Falou com seus irmãos esses dias?
Ele confirmou com a cabeça, engolindo o pedaço de torrada que ele roubou do meu prato.
— Andrew arrumou uma namorada. Dá pra acreditar que alguém no mundo realmente aguenta ele e não é da minha família?
— Eu aguento você, aguentar ele não deve ser tão difícil, ele é mais organizado e menos distraído!
— O que tá querendo dizer com isso, hein, senhorita Cooper? — Ele estreitou os olhos, apontando o garfo em minha direção, ameaçando pegar o resto dos meus ovos mexidos.
— Que vocês dois são farinha do mesmo saco! — Provoquei, pegando o copo dele e bebendo o resto do suco propositalmente.
— Isso não é verdade — Ele cruzou os braços na frente do peito. — Eu sou muito mais bonito!
Ri jogando a cabeça para trás, eu realmente achava Daniel o mais bonito dos três irmãos, mas não era como se Andrew e Mark ficassem muito para trás, eles só eram bem mais velhos e menos preocupados com a aparência.
Dos três filhos de Sebastian e Helen Carter, Andrew era o que menos se parecia com Sebastian, e Daniel, por outro lado, o que mais se parecia com o pai, e mesmo que ele detestasse admitir que se parecia com os irmãos mais velhos, os três eram descaradamente parecidos.
— Certo, senhor convencido, eu vou tomar um banho!
Me estiquei para conseguir beijá-lo, mas ele me virou pelos ombros, pulando da bancada e me guiando na direção do quarto.
— Eu lavo a louça, então.
Corri para o armário, pegando uma roupa limpa e decente para sair na rua e me enfiei no banheiro novamente, me despindo rapidamente antes de entrar embaixo do chuveiro. Não tínhamos hora para sair e nem para voltar para casa, o que era ótimo porque eu poderia demorar o tempo que precisasse e quisesse.
Deixei que a água quente caísse sobre meus ombros, empurrando meu cabelo para frente enquanto eu ensaboava o corpo. A temperatura em Ann Arbor durante o mês de novembro dificilmente passava dos 10ºC, o que tornava os banhos quentes muito mais relaxantes e duradouros, porque era quase impossível querer sair.
Era diferente de Brookline que em novembro conseguia manter uma média de 13ºC e, por vezes, até chegava a esquentar mais. As médias de Ann Arbor estacionavam em 8ºC e quase nunca aumentavam.
Fechei o registro e tirei o excesso de água do cabelo, puxando minha toalha para perto, secando as pernas antes de abrir o box de vidro. A porta do banheiro de repente se abriu e Daniel entrou, despreocupado. Instintivamente, me cobri com a toalha, segurando-a em frente ao corpo, ele mal tinha me percebido ali dentro.
O moreno deu uma olhada no interruptor, se dando conta, finalmente, de que a luz estava ligada porque tinha alguém no banheiro e rapidamente, como se quisesse saber se quem estava lá dentro era um fantasma, virou o rosto em minha direção. Os olhos arregalados e as sobrancelhas arqueadas deduraram o susto. Ele recuou um passo e engoliu em seco.
— Foi mal — Ele rompeu o silêncio. Tudo que eu conseguia ouvir era meu coração batendo forte. — Eu esqueci que você tava tomando banho...
Ainda sem reação, eu mantinha meus olhos nele, na casualidade que ele passara a carregar em questão de segundos, esperando como um gato prestes a dar o bote. Seus olhos se estreitaram em minha direção e ele franziu o cenho, confuso.
— Por que tá agindo como se eu nunca tivesse te visto sem roupa? — Ele riu, virando-se para a pia e procurando a escova de dentes dentro da primeira gaveta.
— Daniel, sai do banheiro! — Pedi, apertando a toalha.
Ele suspirou.
— Certo — Ele levantou a escova de dentes e a pasta na altura dos olhos, indicando que tinha achado o que estava procurando. Seus olhos desceram lentamente pelo meu corpo, o desejo era tão escancarado e ele mal se esforçou para disfarçar. — Belas pernas!
Grunhi, irritada. Sabia que ele estava apenas me provocando, mas eu detestava que ele fosse capaz de me ver daquela forma, sem barreira alguma, especialmente com todas as luzes acesas, meu corpo ainda era uma das minhas maiores inseguranças.
Daniel saiu do banheiro e fechou a porta novamente, me deixando sozinha com minhas roupas limpas. Respirei fundo, eu não precisava ter vergonha do meu corpo perto dele, ele não tinha vergonha do corpo dele quando se tratava de mim, mas ainda era muito difícil para mim.
Me vesti rapidamente, pendurando a toalha novamente e abrindo a porta do banheiro, dando de cara com Daniel logo ao lado, as costas escoradas na parede e a cabeça baixa, ele tornou os olhos na minha direção, ajeitando a postura logo em seguida.
— Ei — Ele passou a mão pelos meus braços, me impedindo de continuar andando. — Eu sinto muito!
— Pelo quê? — Franzi o cenho, confusa.
— Pelo que aconteceu no banheiro, eu não pensei que isso pudesse te deixar desconfortável... Eu sei que ainda não se sente cem por cento bem com o seu corpo e...
— Tá tudo bem — Levantei o rosto, passando os braços ao redor de seu tórax e apoiando a cabeça em seu peito. — Não precisa se desculpar por isso!
Ele beijou o topo da minha cabeça, passando os braços ao redor do meu corpo, afagando minhas costas lentamente.
— É melhor a gente ir — Disse, me afastando rapidamente.
∞
O mercado não ficava muito longe de casa, e como detestávamos passar tempo demais lá dentro, pegamos tudo o mais rápido possível e paramos em uma das filas dos caixas, ele segurando o carrinho e eu, dando uma boa olhada nos mostruários do corredor que guiava a fila até o caixa.
— Pega um pacote de camisinha — Ele apontou para os pacotes. — O pacote de casa tá acabando...
Peguei o pacote que costumávamos comprar e coloquei a caixinha dentro do carrinho, apoiando a base das costas na beirada de metal. Detestávamos filas, mas era um bom tempo que podíamos passar juntos.
Daniel franziu o cenho, passando as mãos por dentro do casaco grosso e, logo em seguida, estendeu meu celular para mim. Como meu casaco não tinha bolsos tão grandes, eu sempre acabava usando o casaco dele como bolsa.
— Acho que te mandaram mensagem — Disse, enquanto eu pegava o celular.
Olhei para a tela do celular, o nome da minha mãe estampando as notificações de mensagens. Levantei os olhos para Daniel novamente, apreensiva, minha mãe não costumava me mandar mensagens, não tantas, ela preferia fazer chamadas de vídeo e passar horas falando.
Respirei fundo, arrumando coragem para ver o conteúdo das várias mensagens. Engoli em seco, encolhendo os ombros, ainda sem conseguir abrir as mensagens. Anda logo, é só abrir!
Carter
Allison mantinha as duas mãos bem presas ao celular, seus olhos não se desviavam da tela e, mesmo assim, era como se ela não conseguisse abrir as mensagens. Ela mordiscou o lábio inferior, nervosa. Mesmo que aquilo fosse uma atitude completamente inconsciente, ela não fazia ideia do quanto aquilo me deixava maluco.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, preocupado.
Ela finalmente selecionou as mensagens, correndo os olhos rapidamente por cada uma delas. Ela levou uma de suas mãos à boa, tapando-a com força. Os olhos arregalados e os dedos apertados ao redor do celular. Merda, aconteceu alguma coisa!
Meu coração apertou dentro do peito, eu estava apavorado, se alguma coisa tivesse acontecido com alguém da família dela, estávamos a doze horas de viagem de carro de distância de Brookline e duas horas de avião, não tinha como chegar o mais rápido possível nem se quiséssemos.
— Allison, pelo amor de Deus, aconteceu alguma coisa? — Insisti na pergunta, quase cuspindo meu coração.
Ela virou a tela do celular na minha direção, eufórica.
— A gente tem que ir pra Boston!
Passei os olhos pelas mensagens. Marianne tinha sido muito incisiva em dizer que a primeira neta tinha acabado de nascer, mandando um monte de fotos da recém-nascida embolada em um pijama lilás que estava um pouco maior do que deveria.
Por um lado, senti todo o meu corpo relaxar, eu estava empolgado, eu amava crianças e me lembrava muito bem de como foi quando o meu sobrinho Sean nasceu, sabia que ela queria estar perto e conhecer a sobrinha, a nossa sobrinha, eu daria um jeito.
— A gente tem que ir pra Boston! — Repeti, abrindo um sorriso largo.
Vê-la tão contente era um alívio, sabia que as coisas não estavam sendo tão fáceis naquele período de adaptação no Michigan, apesar de ela conseguir se virar bem com os quadros, o que era ótimo e a deixava cada vez mais disposta e empolgada, nem sempre as coisas iam tão bem quanto gostaríamos.
Às vezes eu chegava tarde em casa, por conta de treinos ou jogos, e me deparava com ela dormindo no sofá esperando por mim. Cortava meu coração. Então eu tentava passar o máximo de tempo livre com ela, mesmo que, por vezes, eu quisesse jogar alguma coisa com Ethan, porque também sentia falta dele.
Ela era compreensiva e não me cobrava as coisas, mas às vezes eu sentia como se pudesse fazer muito mais por ela e por nós, e fazer uma visita aos pais e à irmã mais velha não seria um problema para mim, ainda teria algum tempo de descanso entre os treinos para o próximo jogo.
Quando chegamos em casa, ela estava praticamente saltitando, contando nos dedos quando poderíamos ir sem atrapalhar a rotina que tínhamos, mas eu tinha outros planos para aquela viagem. Seria antes do que ela esperava que fosse.
Ela passou o dia inteiro falando sobre o que ela deveria dar de presente pra sobrinha, perguntando sobre o que bebês gostavam, mesmo que eu não fizesse ideia do que bebês gostavam, eles são bebês, acho que gostam de qualquer coisa que faça uma voz estúpida e engraçada.
— Ela é a cara do Jordan, né? — Ela abriu novamente uma das fotos da sobrinha, me mostrando o celular.
— Honestamente, eu não faço ideia — Estreitei os olhos. — Todo bebê parece que sai com a mesma cara e só começa a se parecer com algum dos pais depois de uns meses!
Ela riu, as costas apoiadas no meu peito enquanto ela sentava entre minhas pernas no sofá, meus braços ao redor da sua cintura, segurando o controle do videogame entre elas. Era um jeito que tínhamos encontrado de conciliar as duas coisas: nós dois e Ethan e eu.
— Não é verdade, você era a cara do seu pai desde bebê — Ela levantou o rosto, tentando me olhar melhor.
Allison já teve a honra de ver alguns álbuns de família que estavam escondidos no sótão de casa, ela e minha mãe passaram horas folheando cada um deles e, como Allison gostava de ouvir as histórias por trás das fotos, minha mãe não deixou de contar cada uma delas.
Ela acabou encontrando uma foto de quando meu pai era bebê, no colo do meu avô e, depois de encontrar uma foto quase idêntica do meu pai me carregando no colo quando eu era um bebê recém-nascido, tudo o que ela sabia falar era que minha mãe era a maior máquina copiadora que já pisara na superfície terrestre.
— Todo bebê é igual, amor — Estreitei os olhos para a televisão, correndo para me esconder atrás de uns tonéis.
— Tsc, não são, você só tá forçando a barra — Ela riu.
A partida terminou e eu me despedi do Ethan rapidamente, deixando o controle de lado e a puxando para mais perto do meu corpo. Ela passou as mãos pelo meu braço, me fazendo arrepiar por completo. Era engraçado como ela ainda era capaz de fazer com que meu corpo ainda sentisse toda a corrente elétrica que nos conectava.
Puxei seu cabelo para o lado, deixando sua nuca amostra e depositei um beijo rápido antes de encaixar meu rosto no dela, encarando a tela de seu celular, ainda com a foto da Makena brilhando para nossos olhos.
— Será que nosso filho vai se parecer com você? — Ela virou o rosto para mim.
Eu nunca tinha pensado em ter filhos, pra ser honesto. Eu sabia que queria passar o resto da minha vida ao lado dela, mas não conseguia me imaginar sendo pai, eu mal saberia o que fazer.
Meus pais diziam que filhos são fruto de um amor que transborda, e por isso acaba gerando mais gente, mas sempre diziam que precisava de muita seriedade e maturidade pra lidar com uma criança, porque são outros seres humanos, precisam de atenção, cuidados, educação, carinho e amor, e eu sabia que eles tinham feito um ótimo trabalho comigo e com meus irmãos, mas não sabia se eu seria capaz de ser um pai tão bom quanto o meu.
A ideia de ter que cuidar de outra pessoa que não fosse eu ou Allison me deixava apavorado. Eu gostava de crianças, especialmente porque eu não tinha uma, sempre gostei de brincar com meu sobrinho desde que ele era só um bebê, mas quando ele abria o berreiro para começar a chorar, eu podia devolver para Barbara, a minha cunhada, e se eu tivesse um filho, não teria pra quem devolver, né? A criança seria minha responsabilidade, me entregariam ela chorando e eu não poderia passar adiante.
— Tomara que não — Respondi, estreitando os olhos. — Se for para termos um filho, quero que ele se pareça com você!
Ela riu, meio sem graça. Seus ombros caíram e seu sorriso sumiu automaticamente.
— Acha que é uma boa nosso filho se parecer comigo? — Perguntou, a voz fraca e tímida.
Eu conseguia sentir a dor em seu peito e aquilo me assombrava mais do que eu gostaria que assombrasse.
— Claro — Beijei seu rosto, sorrindo para ela. — Você é a mulher mais bonita do universo pra mim, se nosso filho se parecer com você, ele tá no lucro!
Ela juntou nossos lábios, apertando-os com força e trancando os olhos, se aninhando ao meu corpo e encolhendo as pernas. Eu odiava saber que ela não gostava tanto de si mesma quanto deveria gostar, ela não tinha mais tantos problemas com a autoestima como costumava ter, mas não era como se ela se sentisse tão autoconfiante com a sua aparência.
Tinha medo de, no fim das contas, ela nunca conseguir se sentir tão bem consigo mesma quanto gostaria. Queria que ela fosse capaz de se enxergar através dos meus olhos, talvez assim ela fosse capaz de enxergar todos os motivos pelos quais eu a amava cada vez mais. Não tinha nada a ver com a aparência dela, eram os pequenos detalhes, não sobre os grandes — claro, eles também faziam parte do pacote, mas todos os mínimos detalhes que a compunham eram tão fortes para mim que, às vezes, eu pensava que não seria capaz de suportar tanto amor no meu peito.
Não tinha nada de errado com a aparência dela, mas era difícil fazer ela entender aquilo.
Tirei meu celular de trás da almofada assim que percebi que ela pegara no sono, levantando-o na altura dos meus olhos. Sabia que aquilo significaria muito para ela, queria que ela se sentisse bem, então não hesitei em comprar as passagens para Boston para aquela mesma semana.
Larguei o celular sobre o sofá e me contorci para sair do sofá sem acordá-la, passei um dos meus braços por baixo de suas pernas e o outro por baixo de seus ombros, encaixando-a até que eu conseguisse a levantar. Caminhei com ela no colo até o quarto, ajeitando sua cabeça em meu braço para que não ficasse pendurada para trás.
A coloquei sobre o colchão e me deitei ao seu lado, sorrindo para suas costas. Meu pai disse que, às vezes, a vida adulta e a dois poderia ser complicada, mesmo que boa, e ele tinha razão, porque quando se ama alguém, as lutas ficam mais fáceis.
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