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16. Follow You

Carter

— Eu tenho que encher a cara — Disse, sentindo como se todo o meu interior estivesse virando pó aos poucos. — Muito, muito mesmo. Eu quero esquecer a porra do meu nome, então nem vem comigo se não quiser!

Jordan riu nervosamente, ele nunca foi do tipo de cara que enchia a cara, mesmo quando problemas estavam o assombrando e confesso que já tinha muito tempo desde que eu não enchia a cara. Na mais, eu sempre preferia estar completamente limpo para os exames rotineiros que faziam dentro do time.

Mas, ao menos daquela vez, eu queria resolver as coisas como eu fazia quando eu era um adolescente, eu queria sumir com a minha mente ao menos por algum tempo.

— Pra sua sorte, a chave do meu carro tá no meu bolso de trás — Ele respondeu, apalpando o bolso. — Eu busco as bebidas e você vai pra sua casa. Te encontro mais tarde. Se livre dos seus pais!

Jordan deu um tapinha nas minhas costas, partindo na direção de seu carro. Eu, por outro lado, caminhei até o carro do meu pai e dei a partida, saindo em disparada na direção que me guiaria de volta para Brookline.

Eu já tinha uma ideia do que fazer. Queria que Ethan estivesse comigo naquele momento, simplesmente porque eu gostava da ideia de beber com ele como nos velhos tempos, ao menos alguma coisa boa tinha que sair daquilo.

O maior problema seria convencer meus pais a saírem de casa até o dia seguinte, porque, até onde eu sabia, meus pais visitariam meus avós maternos, mas não pretendiam voltar tarde.

Confesso que eu não era o maior fã dos meus avós maternos, apesar de amar eles, de alguma forma. Eu sempre os vi tratando meu pai de maneira estranha, e sabia que o motivo era, justamente, por ele ter engravidado minha mãe quando ela tinha dezesseis e ele, dezoito, mas ainda achava que depois de tanto tempo era idiotice deles continuarem o tratando como um lixo desprezível.

Meu pai sempre sacrificava a saúde mental dele pra visitar os pais da minha mãe, simplesmente porque ele sabia que, mesmo com todas as circunstâncias, minha mãe ainda queria mantê-los por perto e tinha esperança de que as coisas melhorariam entre eles, mesmo que mínimas.

Tia Meghan, diferente do tio Bryce, sempre foi muito gentil e amável com a gente, mas o irmão mais velho da minha mãe fazia questão de ser um porre com todo mundo, o que já tinha rendido milhares de brigas entre ele e o meu pai, especialmente quando envolvia algum problema comigo, meus irmãos ou os filhos dele.

Meu pai, independente das situações, sempre optava por nos defender antes de puxar nossa orelha e falar pra nunca mais fazermos alguma coisa errada.

Eu ainda me lembrava nitidamente da briga mais feia que ele teve com o tio Bryce, e por um bom tempo da minha infância, tive pesadelos com aquela briga. Eu nunca tinha visto meu pai tão puto quanto daquela vez, nem quando quebrei um vaso de seiscentos dólares porque estava jogando bola na sala de casa, nem das milhares de vezes que cheguei bêbado de madrugada, ou quando eu invadia o escritório dele durante alguma reunião porque queria que ele prestasse mais atenção em mim.

Tio Bryce tinha dois filhos, um da idade do Andrew e um dois anos mais velho que eu, e a gente costumava brincar juntos quando éramos mais novos e a família se reunia por algum motivo especial ou coisa assim.

Evan, o filho mais novo do tio Bryce, era um porre, e paciência definitivamente não era algo muito presente na minha genética familiar. Evan tinha dificuldade em se enturmar em qualquer lugar e, pra suprir essa carência, ele provocava qualquer um que cruzasse seu caminho, fosse com ofensas ou com agressões físicas.

Aquele imbecil tinha passado horas tentando derrubar meus irmãos mais velhos da escada da varanda da casa dos meus avós, mas como Andrew e Mark já eram bem altos, nunca dava certo.

Meus irmãos e eu não gostávamos de ficar ouvindo as conversas de adulto, então Mark sempre levava uma bola de futebol americano para jogarmos. Normalmente, Andrew nunca participava, mas para não ficar sozinho no canto, ele decidiu jogar e, pra não parecer cruel, Mark chamou Evan para jogar com a gente.

Claro que o Evan aceitou, mas ele simplesmente não fazia nada direito, fora todas as vezes em que ele arremessou a bola na minha cara propositalmente. Mark estava começando a ficar irritado, especialmente porque, como ele e Andrew eram bem mais velhos que nós dois, ele não podia fazer nada com Evan para me defender. Meu irmão disse que se ele não parasse de tentar me machucar, ele não poderia mais jogar e, obviamente, ele não parou e Mark o tirou do jogo.

O moleque ficou irado e começou a pegar pedrinhas pelo jardim, e a cada monte de pedrinhas que ele encontrava, se sentava no primeiro degrau da varanda e atirava uma por uma em nossa direção. Eu cheguei a falar com o meu pai sobre o que ele estava fazendo, e ele foi falar com o Bryce, mas meu tio não fez absolutamente nada para parar o fedelho.

Me lembro de ter avisado Evan que, se ele não parasse com aquela merda, a coisa ficaria feia pro lado dele. Tio Bryce me viu ameaçando o Evan e me deu uma dura na frente de todo mundo por isso, e ainda disse que meu pai não sabia me educar e por isso eu estava virando um delinquente que nem ele.

Bryce me segurou pelo braço, com força ao ponto de eu sentir minha pele latejar e esfolar abaixo dos seus dedos, e aquilo só me deixou com mais raiva, porque eu não podia simplesmente o mandar para o inferno ou coisa do tipo, muito menos meus irmãos mais velhos, caso contrário, a terceira guerra mundial teria acontecido bem no jardim da casa dos meus avós.

O problema é que Evan enxergou aquilo como um passe livre pra continuar enchendo o saco, e ele continuou arremessando pedrinhas em nossa direção, até que uma delas, pontiaguda, acertou o rosto de Andrew bem abaixo do olho.

Andrew se curvou para frente, levando a mão até o rosto e, de primeira, Mark e eu pensamos que a pedrinha tinha acertado o olho dele. Mark correu na direção do irmão do meio, tirando a mão do mais novo da frente. Na época, Mark tinha dezesseis, Andrew, quatorze, e eu, sete.

Tinha tanto sangue escorrendo do rosto do Andrew, que ele simplesmente começou a passar mal e a ameaçar desmaiar, porque ele sempre foi sensível àquilo. Andrew sempre evitava fazer qualquer coisa muito arriscada porque passava mal toda vez que via sangue. Quando ele era mais novo, não foram poucas as vezes em que ele desmaiou porque tinha ralado os joelhos.

Mark percebeu que não tinha acertado o olho, mas a pedrinha se alojara bem abaixo, na parte superior da maçã do rosto, do lado esquerdo, bem perto da pálpebra inferior. Com a ponta dos dedos, ele puxou a pedra para fora, mas o corte era bem amplo e profundo, já que ela era chata e comprida.

Meu sangue ferveu por completo. Eu não ligava de Evan me encher o saco, mas detestava saber que ele tinha machucado meu irmão mais velho e que nenhum dos dois poderiam fazer qualquer coisa contra ele, simplesmente porque, na época, ele tinha nove anos.

Eu saí correndo atrás do Evan, que tentou fugir, mas eu o agarrei pela cintura e o derrubei no chão, passando as pernas pelas laterais de seu corpo e me apoiando sobre os joelhos. Eu juntei toda a minha força e soquei seu nariz com tudo o que eu tinha. Foi necessário apenas um soco para que seu nariz quebrasse e apenas um soco para que o inferno baixasse na terra.

Bryce me viu sacudir a mão com a dor do impacto, logo em seguida, ele se deparou com o filho caído no chão, esperneando e gritando desesperadamente, com o nariz ensanguentado, torto e inchado.

O homem avançou na minha direção como um leão atrás de uma gazela, eu até tentei correr na direção dos meus irmãos mais velhos, mas Bryce me alcançou sem esforço algum, me agarrou pela orelha e me arrastou para os fundos da casa para brigar comigo na frente dos meus pais para que eles soubessem que eu tinha feito uma merda enorme.

Mas Mark não era um imbecil. Ele ajudou Andrew a andar e o arrastou até os fundos da casa para que meu pai também visse o que tinha acontecido antes. A tia Meghan, minha mãe e minha avó ficaram desesperadas, já que o Andrew estava tão mole quanto um boneco de posto, com o rosto e a roupa manchados de sangue.

Eu nem conseguia culpar meus irmãos por não terem me protegido e me defendido, Bryce era ridiculamente alto e forte, lembrava um guarda-roupa velho de madeira pesada, e sua voz era tão grave que parecia um terremoto. Qualquer idiota inteligente não tentaria o enfrentar. O problema é que meu pai não era um idiota inteligente, não quando se tratava dos seus filhos.

O irmão mais velho da minha mãe apontava o indicador bem diante da minha cara, o brandindo como se fosse uma espada prestes a furar meu olho. Ele gritava comigo como se eu fosse um monstro destruidor de vidas e eu estava tão assustado que mal conseguia responder.

Em situações normais, com qualquer outra pessoa, eu teria respondido, simplesmente porque eu não tinha medo de nada e, para a infelicidade dos meus pais, eu tinha saído da fábrica com a mesma petulância do meu pai. Mas com Bryce era diferente, eu me sentia minúsculo e invalidado, como um pedaço de merda.

Minha mãe ficou fora de si a hora que ela viu o irmão mais velho gritando comigo, mas antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, meu pai atravessou o gramado dos fundos em um rasante, agarrando Bryce pela gola da blusa e o empurrando para longe de mim.

Os dois gritavam um com o outro como se fosse uma tempestade avassaladora, e eu nunca tinha visto meu pai levantar a voz daquele jeito, gritar completamente domado pela raiva.

Eu não conseguia reagir. Tudo o que eu pude fazer foi espremer meus dedos na camiseta do meu pai enquanto permanecia agarrado à sua cintura, por trás, mesmo que eu soubesse que ali eu só estaria o atrapalhando. Eu tinha esperanças de que, se eu continuasse ali, eles não partiriam um para cima do outro.

Mamãe deixou Andrew com minha avó e minha tia e correu na direção da briga, parando no meio dos dois, empurrando o irmão para trás, que pareceu ainda mais ofendido porque minha mãe estava defendendo o marido e não ele.

Era um verdadeiro inferno, porque a briga ficou entre minha mãe e o irmão dela.

Meu pai virou-se para mim, abaixando-se de cócoras para ficar da minha altura. Ele passou a mão pelo meu rosto, afastando meu cabelo da testa e rapidamente suas mãos deslizaram para os meus braços, me segurando por ali. Eu fiz uma careta de dor, porque os dedos do meu pai tornearam justamente onde o tio Bryce apertara.

Ele levantou a manga da minha camiseta e eu praticamente vi seus olhos, que eram tão verdes quanto os meus, ficarem vermelhos como brasa.

— Onde mais ele te machucou? — Perguntou, me girando antes que eu pudesse o responder. — Anda, Daniel, responde, moleque!

Automaticamente, seus olhos se prenderam na minha orelha esquerda, que estava da cor de um tomate maduro por conta dos dedos grandes do irmão da minha mãe. Seus dedos subiram para a região e ele massageou cuidadosamente, tentando aliviar a dor, mas também tateou cada canto da minha orelha só para ter certeza de que não tinha nenhum sangramento aparente.

Eu mal conseguia reagir, tudo que eu sentia era meu coração batendo, acelerado, dentro do peito.

Meus pais nunca levantaram a mão para bater em mim ou nos meus irmãos, e, para eles, era inaceitável que alguém o fizesse.

— Quem você pensa que é pra encostar no meu filho, seu desgraçado? — Meu pai bradou, furioso.

— Viu o que esse moleque desgraçado fez com o meu filho? — Bryce gritou de volta.

Bryce o puxou pela gola da camiseta, praticamente o levantando do chão com uma mão só. Ele parecia um titã perto do meu pai. Enquanto ele tinha um metro e noventa, meu pai esbanjava cento e setenta e oito centímetros de raiva escancarada.

Minha mãe tentava puxar o irmão para trás, minha tia limpava o rosto do Andrew e minha avó, irritada com tudo aquilo, dizia que nós éramos uns desgraçados e que a culpa era da minha mãe por ter se casado com alguém como Sebastian Carter.

Pensei que eles fossem se esmurrar ali mesmo, principalmente porque meu tio estava com os punho fechado enquanto segurava meu pai pela gola da camiseta. Ambos continuavam gritando um com o outro e eu sabia que se eles partissem pra agressão física, só parariam a hora que um deles morresse e eu não queria que o cadáver fosse o meu pai.

Corri na direção deles dois, ouvindo a esposa do Bryce gritar para que eles tivessem cuidado porque eu estava chegando perto. Minha mãe não conseguiu me segurar, e eu me agarrei na perna do meu tio, mordendo sua coxa com toda a minha força.

Antes que ele pudesse reagir, me dar um tapa ou fazer qualquer coisa movido pela raiva e pela dor, ele soltou meu pai, que me agarrou pelo braço no mesmo instante. Ele me puxou para perto, me pegando no colo com um movimento rápido e me arrastou na direção do carro, com minha mãe e meus irmãos logo atrás.

Minha avó, encarando nós irmos embora, gritava para a minha mãe que ela era uma "vadia burra" por ter se casado com um "marginal desgraçado" como o meu pai, porque agora ela era mãe de três "malandros iguaizinhos ao pai".

Eu me agarrei com tanta força nele, que me carregava como se eu fosse tão leve quando um caderno, que quando ele foi me colocar no chão para que eu entrasse no carro, relutei em o soltar, enterrando meu rosto na curva do seu pescoço.

— Tá tudo bem, agora, baixinho — Disse ele, afagando minhas costas. — Anda, o papai tem que levar o Andy no hospital. Entra, vai!

Eu pensei que ele fosse brigar comigo depois que chegássemos do hospital, porque era como ele sempre fazia para nos repreender. Ele detestava nos dar bronca em público, então toda vez que alguma coisa acontecia, ele nos repreendia em casa, tanto ele quanto minha mãe.

Andrew precisou levar quatro pontos por causa da pedrinha e, por muita sorte, ela não acertou um ponto que poderia ter o deixado cego.

Diferente do que eu pensei que fosse acontecer, meu pai não brigou comigo, mas o casamento deles ficou por um fio depois daquilo e eu me sentia extremamente culpado porque, de certa forma, se eu não tivesse quebrado o nariz do Evan, eles não teriam brigado tão feio.

A família da minha mãe sempre foi o maior problema do casamento dos meus pais. Por mais que eles se amassem muito e descaradamente, toda vez que o assunto era visitar meus avós, eles acabavam brigando, porque meu pai não queria ir e não se sentia confortável quando ia e eu me sentia com o coração partido.

A maioria das vezes que minha mãe ia visitar meus avós, ela ia sozinha, enquanto meus irmãos e eu ficávamos em casa com o meu pai, tentando disfarçar aquele clima estranho e desconfortável com videogame, pizza e bagunça, mas, na hora de dormir, era sempre um inferno pra mim.

Eu não gostava de dormir sabendo que eles dois estavam brigados ou que, de alguma forma, eu tinha atrapalhado o casamento deles. Meus irmãos não pareciam ligar tanto, mas eles eram mais velhos e mais maduros que eu para entender toda a situação.

Mesmo assim, toda vez que meu pai me colocava na cama, eu tinha pesadelos e passava a noite em claro, até que comecei a aparecer na porta do quarto dele, pedindo para dormir lá.

No começo, ele reclamava dizendo que eu já estava grandinho para dormir com ele, mas depois que ele começou a perceber que eu passava a noite em claro, toda vez que eu aparecia na porta do quarto, ele apenas estendia as cobertas para que eu me enfiasse embaixo.

Meu pai ajeitava as cobertas sobre meus ombros, perguntava se eu ainda tava com fome e se eu queria assaltar a geladeira com ele. Na maioria das vezes, eu dizia que estava com fome só para que fingíssemos ser agentes secretos tentando capturar o último pedaço de pizza, nos esgueirando pelas paredes de casa, descendo as escadas nas pontas dos pés e rolando no chão como nos filmes.

Antes de abrir a geladeira, ele olhava para os dois lados para se certificar de que ninguém nos pegaria, e então abria a porta, pegava o último pedaço de pizza, me colocava sentado sobre o balcão e esperava que eu terminasse de comer para subirmos de novo.

Ele arrumava novamente as cobertas sobre os meus ombros e deitava de frente para mim. Contava histórias de quando ele e o pai do Ethan eram mais novos e mexia no meu cabelo até que eu conseguisse pegar no sono, e antes que eu estivesse realmente dormindo, beijava minha testa e dizia:

— Não precisa ter medo, eu sempre estarei aqui pra te proteger, pirralho!

E passava os dedos na minha bochecha antes de completar com:

— O papai ama você!

E aí eu sabia que podia dormir tranquilamente, porque independente do que acontecesse, meu pai estaria me protegendo como um super-herói imbatível.

Aquilo durou até os meus doze anos, que foi quando eu comecei a parar de ter pesadelos com a briga entre meu pai e o irmão da minha mãe. Mesmo assim, antes de dormir, ele aparecia na porta do meu quarto perguntando se eu queria comer pizza, e, algumas vezes, eu respondia que sim para podermos brincar de novo, até que eu fiquei velho demais para fazer aquilo.

No fim das contas, o tio Leight era muito mais da minha família que a família da minha mãe e, por isso, era comum ver fotos de viagens em família em que os Mullins estavam com a gente, inclusive nos fins de ano.

Estacionei o carro na frente de casa, deixando espaço suficiente para que Jordan e Ethan pudessem estacionar mais tarde.

Empurrei a porta de casa e logo de cara me deparei com meu pai com as pernas pra cima do sofá, atirando no inimigo com o gatilho do controle do videogame. Ele virou o rosto rapidamente na minha direção e abriu um sorriso, tirando uma mecha do cabelo molhado que caíra na testa.

— E aí, filho? — Ele virou-se novamente para a televisão. — Demorou pra voltar!

— Tive um imprevisto... — Comentei, fechando a porta atrás de mim.

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, ouvi minha mãe bater a porta do quarto e ele trancar os olhos, sabendo que as coisas não estavam boas para ele.

Meu pai saiu da partida e largou o controle ao lado do corpo.

— Sebastian Knox Carter — Ela gritou, descendo as escadas com os pés pesados.

— Oi, meu bem — Ele virou-se na direção dela.

— O que é isso? — Ela perguntou apontando para a toalha do meu pai, o rosto todo vermelho de raiva.

— Uma toalha... — Meu pai estreitou os olhos, confuso.

Minha mãe rangeu os dentes, quase pulando no pescoço do marido. Ela detestava quando ele fazia aquele tipo de coisa como se ela não fizesse a mínima ideia do que estava segurando.

— Não seja idiota — Ela jogou a toalha no rosto do meu pai, que a tirou da frente rapidamente. — Quantas vezes eu tenho que te dizer para não largar a porcaria da toalha molhada em cima da cama?

Meu pai suspirou, sabendo que não tinha como fugir daquela situação. Era quase como um problema dos homens da casa. Meu pai sempre esquecia a toalha molhada em cima da cama, Mark também, e eu era ainda pior, o único que nunca fazia algo assim era o Andrew.

— Sinto muito — Disse ele, se levantando com a toalha pendurada no ombro.

Mas minha mãe não pareceu comprar a desculpa do meu pai, muito pelo contrário. Ela cruzou os braços na frente do peito e apoiou o peso do corpo em uma das pernas.

— Por que você sempre faz isso quando vamos visitar meus pais? — Perguntou, ácida.

Meu pai espremeu os lábios, rendido. Eu sabia que aquilo era sempre um problema recorrente, era a forma que meu pai tinha de dizer que não queria ir sem precisar dizer isso diretamente para a minha mãe, porque ele morria de medo de magoá-la.

Então, para tentar fugir de sempre dizer "eu detesto seus pais", ele simplesmente deixava de lavar a louça, largava a toalha molhada sobre a cama, não levava o lixo pra fora, dentre tantas outras coisas que ele sabia que minha mãe detestava.

— Sabe que eu não quero ver seus pais — Ele confessou, deixando os ombros caírem. — Eles me detestam, e eu também não sou o maior fã deles... Não me sinto bem quando vou pra lá!

Minha mãe ficou dez mil vezes mais puta. Era sempre a mesma história: meu pai não dizia nada, fazia merda e ela falava pra ele que era muito mais simples se ele simplesmente dissesse que não queria ir.

Ela sabia que meu pai não gostava dos meus avós e que o sentimento era recíproco, mas ela ainda queria a família reunida e sabia o quanto ela se sentia triste por saber que aquilo provavelmente nunca aconteceria.

— Eu não queria te deixar triste... — Ele coçou a nuca. — Quando digo que não quero ir, você fica magoada e eu percebo isso!

— Prefiro ficar magoada por não ter sua companhia do que ficar com raiva de você, seu imbecil — Ela puxou a toalha dos ombros do meu pai e virou as costas, indo como um furacão na direção da lavanderia. — Mas é muito mais fácil pra você me irritar do que dizer qualquer coisa!

Meu pai desligou o videogame e passou os dedos nos olhos, sem tentar esconder de mim a frustração que ele sentia toda vez que aquilo acontecia. Eu sabia que eles eventualmente se acertariam quando minha mãe voltasse pra casa depois de ver meus avós e constatar que eles ainda detestavam o meu pai.

Ela sempre aparecia na porta, o abraçava e o beijava como se nunca tivessem o feito antes, e, no fim das contas, ela dizia que toda vez que ia para a casa dos pais dela, ela se lembrava do quanto amava o meu pai, porque eles enchiam o saco dela falando que ela precisava mudar de marido, mesmo que eles já estivessem juntos há trinta e dois anos.

— Às vezes, ser casado é um porre — Ele retrucou, caminhando até a cozinha.

— Mas você não se divorcia — Estreitei os olhos, me sentando no banco na frente da ilha.

— Eu não largaria sua mãe por nada nesse mundo, garoto! — Ele abriu um dos armários de cima, puxando dois copos de uísque. — Mas uma vida a dois é complicada! — Despejou um pouco da bebida nos dois copos e empurrou um em minha direção. — Eu amo ela, mas juro que aquela mulher me deixa confuso, às vezes!

Eu ri anasalado, circundando o copo com os dedos e brindando com ele. Dei uma golada rápida, sentindo o conteúdo inflamar minha garganta. Não consegui conter a careta quando finalmente consegui engolir, e meu pai riu de mim.

— O Jordan e o Ethan vêm pra cá mais tarde — Comentei, apoiando os cotovelos na pedra escura do tampo da ilha. — Eu tenho que encher a cara...

— Se importa se eu ficar? — Perguntou, erguendo uma das sobrancelhas. — Visitar seus avós definitivamente não tá nos meus planos!

— Tá tudo bem — Contornei a borda do copo com a ponta dos dedos. — Já passou a época que eu achava você chato e inadequado!

— Finalmente criou vergonha na cara pra admitir que eu sou o pai mais legal do universo — Ele repousou o copo sobre a pedra e se debruçou em minha direção.

Não consegui conter a risada. Quando meus irmãos eram mais novos e ainda estavam na escola, meu pai e minha mãe eram os pais mais jovens que apareciam nas reuniões de pais, o que levantava a curiosidade de todo mundo, já que parecia meio inadequado que pais tão jovens tivessem dois filhos.

Mas, diferente do que aconteceu com meus irmãos mais velhos, que nasceram quando meu pai tinha dezoito e vinte anos, respectivamente, quando eu vim para o mundo, ele já tinha "idade para ser pai", já que estava com vinte e sete anos. Então, nas reuniões de pais e mestres não era como se ele fosse jovem demais para ter um filho, mesmo que alguns dos meus professores tivessem dado aula para ele.

Meu pai não era do tipo de pai que pegava no pé, nem do tipo conservador, talvez por ele ter se tornado pai muito cedo. Então, enquanto meus amigos da escola reclamavam que seus pais não deixavam eles saírem porque sabiam que eles iriam em festas e coisas do tipo, meus pais estavam me ensinando a como colocar uma camisinha e isso fazia com que ele parecesse um pai muito mais legal na visão de todo mundo.

Para mim, ele sempre foi o meu pai, não o pai mais legal do universo ou coisa assim. Ele era um bom pai, sempre cuidou de todo mundo em casa e se preocupava com os mínimos detalhes, mas ele não era perfeito como todo mundo acreditava. Não foram poucas as vezes em que ele esqueceu de me buscar na escola, ou que ele não conseguiu participar de algum recital ou evento que envolvesse os pais por estar muito ocupado com o trabalho.

Também não foram poucas as vezes em que ele deveria ter me deixado de castigo e, no fim das contas, ele não o fazia porque dizia que era coisa de adolescente e que as coisas mudam, que eu mudaria querendo ou não. No fim, ele não estava errado, mas poderia ter evitado grandes dores de cabeça.

Eu gostava que ele fosse o meu pai, acho que não existia nenhum outro cara no mundo que pudesse ter cumprido o papel que ele sempre cumpriu na minha vida melhor do que ele. Mesmo com todas as minhas dificuldades internas, ele nunca deixou de tentar me entender.

Meu pai nunca me privou de carinho, mesmo depois de grande. Sempre foi afetuoso, cuidadoso e sensível. Ele gostava de passar horas conversando sobre como eu estava me sentindo e fazia isso com meus irmãos também.

Tenho uma coleção imensa de memórias que compartilho com meu pai de momentos em que ele me pegava no colo, corria comigo nas costas, brincava com meus brinquedos, me ensinava o que ele sabia sobre a vida e que falava sobre garotas comigo. Era um privilégio e tanto, porque eu sabia que a maior parte dos meus amigos não tinham aquilo.

Minha mãe desceu as escadas algum tempo depois, tinha saído da lavanderia e voltado para o quarto para terminar de se arrumar. Ela tinha ondulado as pontas do cabelo, que caía como cascatas sobre seus ombros, seus lábios estavam tingidos de vermelho e ela usava brincos de prata que eram compridos e esbarravam nos ombros.

Ela sempre fora uma mulher vaidosa e que gostava de se arrumar de forma extravagante, mas eu sabia que ela estava usando aquele macacão apertado e cavado no decote unicamente para provocar o meu pai, porque ela não estava indo pra um jantar chique, ela ia passar a noite na casa dos meus avós.

Ela atravessou a sala com a malinha pequena nos ombros e parou atrás de mim, afagando minhas costas enquanto pegava as chaves do seu carro, que estavam dispostas ao lado do meu copo.

Ela deu um beijo na lateral da minha cabeça e lançou um olhar mortal para o meu pai, como se quisesse que ele se arrependesse de todos os pecados bem ali, porque se ele fosse para o inferno, ela quem o torturaria pela eternidade. Ele abaixou os olhos como um cachorro assustado e tensionou o maxilar, encarando o resto de uísque no copo.

Ele levantou os olhos apenas para observá-la se afastar em direção à porta, carregando tanto peso nas órbitas cor de esmeralda que eu fiquei com pena.

— Não vai fazer nada? — Perguntei, estreitando os olhos. — Vai deixar as coisas assim?

Ele engoliu em seco sem desviar os olhos do copo, ele torceu o nariz e respirou fundo algumas vezes, como se tentasse colocar em ordem a bagunça que existia na sua cabeça.

Eu achava inconcebível a ideia de que ele fosse deixar minha mãe sair por aquela porta sem dizer nada, especialmente porque eles estavam brigados.

— Se você a ama, por que não mostra isso pra ela de verdade em vez de agir que nem um babaca folgado? — Grunhi para ele, que hesitou no mesmo instante.

Ele me encarou, perplexo, talvez porque não esperava que eu fosse reagir daquela forma, mas, no lugar dele, eu nunca deixaria que ela saísse tão estressada. Acho que eu não me perdoaria se alguma coisa acontecesse e a última coisa que tivesse rolado fosse uma briga.

Meu pai deu um tapinha sobre a pedra e contornou o balcão rapidamente.

— Droga, garoto — Ele grunhiu, correndo atrás dela.

Empurrei a cortina com a ponta dos dedos e segui meu pai com os olhos, vendo ele correr pelo gramado atrás da minha mãe. Ele a puxou pelo braço, fazendo ela virar-se para trás, encarando-o de perto.

Meu pai a segurou pelos braços, puxando com delicadeza a mala pequena com as coisas da minha mãe e deixando no chão ao lado de seus pés. Ele circundou os cotovelos dela com as mãos, acariciando levemente a região. Eu não fazia ideia do que ele tinha dito ou quais palavras ele escolheu para fazê-lo, mas minha mãe abriu um sorriso aliviado.

Ela segurou seu rosto entre as mãos e o beijou rapidamente, olhando para mim pela janela como se soubesse que aquilo fosse ideia minha.

Acenei para ela uma última vez e meu pai pegou a mala dela, colocou no porta-malas e se despediu uma última vez, a beijando quando ela abaixou o vidro do motorista antes de sair com o carro.

Ele voltou para dentro de casa, fechando a porta da frente sem trancar. Sentou-se ao meu lado, puxando o copo e bebendo o pouco do uísque que sobrara, batendo o copo logo em seguida.

— Te devo uma — Ele socou meu ombro.

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