Capítulo V
Uma pequena explicação acerca do universo abo que eu criei para essa fic:
Todos os alfas, betas e ômegas tem um lobo no interior deles, porém, eles se mantém adormecidos. Já os lúpus tem a parte lupina desperta, são duas almas dividindo um só corpo.
Enquanto lobos comuns vivem em comum acordo com sua própria identidade, os lúpus transitam entre as duas consciências eventualmente, eles coexistem, apesar da parte lupina ser mais “quieta”.
Se atentem, pois nesse capítulo em específico eu adentrei bastante nesse tema :)
⚠️Aviso de gatilho⚠️
Nesse capítulo tem menções a situações de abuso, menções a suicídio e temas delicados de terror psicológico.
Não haverá representação estupro! Mas irei narrar os sentimentos dos personagens quanto ao quase ocorrido.
~❤️~
Jeon Jungkook
O medo é um sentimento extremamente forte que traz agonia a quem o sente, independente da situação o medo nos paralisa ou nos torna impulsivos. Ou nos ajuda a fugir ou nos torna fracos, incapazes de reagir, por isso que é um sentimento ruim, ninguém gosta de sentir medo, mesmo o mais corajoso enlouqueceria de medo ao estar em uma situação como a que Jungkook estava. Sentir-se tão pequeno e frágil, mesmo que fosse o maior e o mais viris dos homens não é algo que se consegue evitar, mesmo um leão pode se tornar uma presa indefesa se encontrar um predador maior que ele, era exatamente assim que Jungkook se sentia, uma presa prestes a ser devorada. A dor de olhar nos olhos do homem à sua frente e não enxergar o Taehyung pelo qual havia se apaixonado conseguia ser ainda mais doloroso do que a situação em si, ele estava diante de um alfa no cio, que não ligava para nada mais do que livrar-se da própria dor.
Jungkook tremia com as mãos sobre o peito dele, podia sentir junto a seus dedos trêmulos e sua fraqueza, o coração extremamente acelerado de Taehyung, como se ele fosse infartar a qualquer instante, a respiração dele estava pesada enquanto se mantinha sobre seu corpo, o olhava de cima, como se ansiasse e temesse o que faria a seguir, ele parecia sentir dor e no momento que os olhos dele caíram até seu pescoço Jungkook se desesperou. Ele pediu novamente para o alfa soltá-lo, na esperança de que ainda houvesse um mínimo resquício de lucidez, implorou em meio as lágrimas que ele o deixasse partir, que não lhe ferisse daquela maneira. Com a pouca força que tinha devido ao medo paralisante que sentia, tentou empurrá-lo para longe de seu corpo, mas Taehyung sequer moveu-se um único centímetro de onde estava, era como uma muralha de pedra, fria e pesada. Imóvel.
— Taehyung por favor… — Jungkook não conseguiu conter as lágrimas e deixou-as cair sobre suas bochechas. — Está me assustando, por favor... Alfa.
— Vai acabar logo minha lua — o alfa de Taehyung respondeu por ele e Jungkook arregalou os olhos. — Não irei te machucar.
— P-Por favor me solta, eu não quero isso — sua voz embargou ainda mais e ele se debateu. As palavras da parte lupina de Taehyung mostravam que ele estava sob total influência do cio, queria apenas saciar-se e sua outra metade estar diante dele era como um presente. — Me solta!
— Prometo ser rápido, eu preciso de você — apesar de não usar a voz lupina para subjugá-lo, sequer precisava, somente sua presença o deixava paralisado, seu próprio lobo estava amuado devido a seus sentimentos. Jungkook se encolheu e começou a chorar quando o alfa inclinou-se até seu pescoço.
O alfa de Taehyung apenas tocou em suas bochechas e enxugou suas lágrimas, mas não se afastou, pelo contrário, ele passou o nariz por seu pescoço e suspirou ao sentir seu cheiro, Jungkook gritou por ajuda e chorou cada vez mais alto quando sentiu beijos serem distribuídos por seu pescoço. Apesar da delicadeza dos toques em sua pele, aquilo não o fazia se sentir menos assustado, na realidade ele se sentia culpado, sujo, sentia-se violado, enojado e apavorado por ter seu corpo tocado de maneira tão íntima sem seu consentimento. Sua força comparada a de um alfa no cio não era nada, a presença dele o deixava à mercê de suas ações, suscetível a o que fosse que ele quisesse lhe dar, sua parte lupina uivou em agonia e as lágrimas escorreram pelos cantos de seus olhos, uma mistura de sua tristeza com a de seu lobo, um soluço saiu do fundo de sua garganta e soou tão quebrado que fez seu peito doer a ponto de deixá-lo sem ar.
No momento em que as mãos do alfa foram até os botões da camisa de Jungkook, ele chorava tanto a ponto do ar faltar em seus pulmões.
Ele nunca sentiu tanto medo em toda sua vida, era como se sentisse cada gota de medo solidificar as fibras de seu corpo a ponto de deixá-lo em estado de paralisia, seu pai sempre lhe alertou sobre os perigos de encontrar um alfa não atado durante seu cio, para ter cuidado com eles, pois a parte lupina irracionalmente irá procurar pelo primeiro ômega que surgir em sua frente para livrá-lo da dor insuportável daquele período agonizante. Sabia que muitos ômegas foram violados, sabia também que muitos alfas tiravam a própria vida ao violentar um ômega, ele sabia disso, tinha conhecimento de alguns ômegas que foram molestados e marcados durante o cio, assim como muitos alfas não suportaram a dor de seu lobo e definharam por violar a lua de um irmão. O maior medo de Jungkook era esse, ser tomado à força, mas nunca em seus piores pesadelos imaginou que quem faria seria o alfa por quem se apaixonou.
Quando os botões de sua camisa estouraram Jungkook sentiu-se exposto, sentiu-se mal, apavorado e pediu uma última vez para o alfa de Taehyung soltá-lo. Mas o alfa continuava a deixar beijos delicados por seu peito e pescoço, seu corpo estava colado ao dele e seu cheiro parecia deixá-lo ainda mais inebriado, Jungkook ainda gritava por ajuda, pedia desesperadamente por auxílio, pois sabia que tanto ele quanto o próprio Taehyung nunca iriam superar aquele trauma se o lobo dele o tomasse a força, com sua voz quebrada pelo choro, ele implorou novamente somente para o alfa ouvir, mas ele não lhe deu ouvidos e voltou a dar atenção a seu pescoço, porém dessa vez ele resvalou as presas em sua pele, em uma promessa implícita de que iria marcá-lo. Aquilo fez seu lobo uivar em choro em seu interior, ele não queria ser tomado daquela forma, sentiu-o se recolher a ponto de quase não senti-lo em seu peito.
Jungkook sentiu um vazio tão grande que o deixou sem ar, seu lobo o deixou, recolheu-se em sua própria agonia, aquilo indicava que ele estava prestes a definhar.
— Não! Por favor não! — Chorou mais alto, sentia que uma parte de si havia partido, o alfa notou algo estranho, provavelmente em seu cheiro, pois ele franziu o cenho e o olhou no olhos. — Me solta! Por favor alfa me solta! Eu te imploro...
O alfa estava com as presas à mostra, elas nitidamente o incomodavam, provavelmente elas coçavam e doíam, seus instintos provavelmente pediam para que ele marcasse o ômega a sua frente, mas não sentir a presença de sua lua o deixava confuso. Sabia que Taehyung estava ali dentro, em algum lugar, sabia que ele assistia tudo sem ter controle do próprio corpo, seu lobo estava em total controle de suas ações, mas ao ver o vermelho em seus olhos oscilarem soube que ele tentava resistir, que tentava tomar o controle novamente, o que mostrava que o sumiço seu lobo o desnorteou. Mas mesmo com o os olhos oscilantes, quando o vermelho se tornou vivo novamente, notou as sobrancelhas do alfa franzir e Jungkook sentiu o pânico tomar seu corpo novamente, pois notou Taehyung abrir a boca para mordê-lo e gritou alto em desespero. Então em frações de segundos tudo se tornou um pesadelo.
Taehyung havia mordido.
Jungkook sentiu sua respiração travar na garganta e seu coração acelerar em sua caixa torácica a ponto de deixá-lo à beira de uma taquicardia, seu peito subia e descia por conta de seus soluços, tudo devido ao choro em excesso. Porém, o mais estranho foi que não sentiu dor alguma, imaginou que quando as presas adentrassem sua pele, sentiria uma dor absurda, mas ela não veio, pelo contrário, notou que o alfa se afastou e depressa Jungkook fez o mesmo, arrastou-se para longe dele e abraçou o próprio corpo. Suspirou aterrorizado com a imagem a sua frente, ela era perturbadora o suficiente para saber que aquela visão jamais o deixaria dormir naquela noite. Taehyung estava com os olhos fechados e o cenho franzido, ele mordia seu antebraço com uma força tão absurda que o sangue minava das feridas mesmo antes dele afastar as presas da pele, podia ver a dor e a agonia pela maneira que ele gemia de dor com o ato. Jungkook chorou baixo ao ver o sangue dele pingar na pedra, sua expressão de dor seria outra imagem que não conseguiria esquecer.
Taehyung mordera a si mesmo para não marcar Jungkook.
— Corre... — Taehyung disse com dificuldade ainda com as presas em seu braço.
E Jungkook não esperou por mais antes de correr para longe dali, suas pernas tremiam e ameaçavam ceder diante de seu desespero, mas ele as forçou a correr o mais rápido que conseguia para longe de Taehyung, para longe do alfa dele. Sentia seu peito doer e as lágrimas embaçaram completamente sua visão, por isso não viu a raiz de árvore sobressalente em seu caminho e tropeçou, a queda lhe rendeu arranhões e cortes. Ele chorou ainda mais, mas o que lhe doía mais não eram suas feridas físicas, por isso se levantou e voltou a correr, com medo do alfa estar atrás de si, seu joelho estava ralado igualmente a seu cotovelo, os dois ardiam toda vez que o vento batia na ferida. Atravessou a trilha e o campinho, passou por alguns betas no caminho que estranharam a situação, alguns o chamaram, preocupados com sua expressão de medo e seus machucados, mas não parou, tinha medo que se parasse ele seria pego e passaria por aquela dor novamente.
Quando finalmente chegou à mansão, abriu a porta de maneira tão abrupta que tropeçou em uma das serventes e caiu de joelhos no chão, ele olhou aterrorizado para trás e constatou que não havia sinal algum de que o alfa havia o seguido. A servente ao qual ele trombou se aproximou e tentou acalmá-lo, mas não adiantou, seus soluços e seu choro alto chamou a atenção de seu pai, que apareceu às pressas com um olhar preocupado na entrada da casa. Quando Jungkook viu seu pai em pé diante dele, chorou ainda mais, deixou que suas dores o tomassem e correu para os braços dele que o abraçou atordoado, mas assim que estava em seus braços, sentiu-o abraçá-lo com força, para protegê-lo do que fosse que estivesse a machucá-lo. Jungkook tremia e chorava copiosamente, nunca chorou diante de seu pai desde que chegara a adolescência, sempre foi forte para suportar a dor até que estivesse sozinho para lidar com ela, mas não conseguiu contê-las daquela vez.
— Meu amor o que aconteceu? — Perguntou preocupado e Jungkook viu sua mãe aparecer no cômodo.
— O T-Taehyung... E-Ele... — Sua voz falhou e não conseguiu terminar de dizer, pois o choro o tomou completamente.
— Foi o Taehyung que fez isso a você?! — Perguntou horrorizado e Jungkook assentiu. — Mas por que? Pensei que ele jamais seria capaz de fazer algum mal a você…
— Ele entrou no cio, senhor — Heesun disse ao entrar no local, pôde ver de onde estava sua mãe arregalar os olhos e encará-lo com a expressão incrédula.
— Cio? Não, isso é impossível — seu país o abraçou ainda mais protetoramente ao ouvir aquilo. — Taehyung e eu conversamos, seu cio demorará a chegar, o doutor Baek irá vir no final do mês para avaliá-lo, foi algo conversado previamente entre nós dois! Foi um pedido dele mesmo, pois não queria pressionar Jungkook.
— Foi sua esposa, senhor — Heesun respondeu e Jungkook franziu o cenho. — Ela deu chá de canela a Taehyung, todos os dias, desde que ele chegou aqui, chá de canela estimula o cio, principalmente em lúpus como Taehyung, que possui a parte lupina presente.
— Chá de canela… Foi por isso que não me deixou beber o chá que deu a Taehyung? — Seu pai encarou sua mãe e Jungkook fez o mesmo. Não podia ser, sua mãe não havia feito aquilo, ela não seria capaz de colocá-lo naquela situação.
— Eu não... Não era para ter acontecido desse jeito! Era apenas para dar um empurrão… — Ela respondeu ao encarar o filho, que sentiu seu coração se partir ainda mais.
Ela não negou.
— Você deu chá de canela a Taehyung com esse propósito? — Soohyun perguntou horrorizado. — Sabe como é o cio de um lúpus, ele poderia ter feito muito mais do que alguns arranhões a Jungkook! E ele sequer teria consciência de seus atos! — Ele gritou em cólera e sua presença se alastrou pelo local.
Mesmo que fosse seu pai, sentiu medo da presença de outro alfa e aquilo o fez chorar ainda mais, pois ele era seu pai, seu porto seguro, a presença dele não deveria assustá-lo, porém não foi o que aconteceu, então Jungkook chorou mais em seus braços, o que fez o alfa se acalmar, ele deixou um beijo em sua testa e sussurrou palavras doces para acalmá-lo. Pediu a Heesun que o levasse para trocar suas vestimentas e a cuidar de seus machucados, a beta assentiu e caminhou até Jungkook, com cuidado ela o envolveu em seus braços e aquilo fez um suspiro de alívio sair de seus lábios, sentia-se acolhido, como nos braços de seu pai. Antes que ela o levasse até o quarto, Jungkook virou-se em direção a sua mãe, ela o encarava com a expressão perplexa, os olhos dela percorriam todo seus machucados, sua calça rasgada por conta da queda, sujo de terra e com os botões de sua camisa estourada. Quando seus olhos se encontraram, Jungkook desviou o olhar.
Não queria olhar no rosto da mulher que o fizera passar por tudo aquilo.
(...)
Jeon Soohyun
Sem conseguir olhar para a própria esposa, Soohyun chamou mais dois betas que o ajudavam com os cavalos, pediu aos dois irem até o riacho e ajudarem Taehyung, pois ele certamente se encontrava em uma situação terrível, principalmente após seu maior medo se concretizar e atacar seu parceiro de alma. Quando os dois betas saíram às pressas para procurá-lo e trazê-lo de volta, ele caminhou até a esposa e puxou-a até a sala, tentou controlar a própria raiva para que não depositasse força sobre o braço de Sunye e que sua presença não se manifestasse, mas somente ao lembrar-se do quão assustado e trêmulo seu filhote estava em seus braços, tudo graças a ela, aquilo fazia seu sangue ferver. Quando chegou ao cômodo, respirou fundo e a sentou em sua poltrona, ela estava com a cabeça baixa e segurava no próprio vestido em um gesto que demonstrava sua ansiedade.
— Sunye, explique-se — pediu com a voz uma oitava mais baixa, apesar de conter sua fúria, não conseguia esconder o quão bravo estava. Sunye abaixou ainda mais a cabeça. — Diga-me o porquê você fez essa atrocidade com seu próprio filho!
— Era tudo pelo futuro dele Soohyun — ela engoliu em seco ao sentir a presença do marido pela primeira vez, a fala dela foi o suficiente para jogar toda a calma que se orgulhava embora. Jungkook era seu filhote, seu protegido, ela ter o machucado por um motivo tão banal o deixou furioso.
— Futuro? Que futuro Sunye? Jungkook quase foi molestado! Se ele já não tenho sido céus! — Soohyun passou os dedos pelos cabelos de maneira nervosa, seu filho, seu doce e inocente Jungkook jamais conseguiria esquecer tamanha dor. — Você viu o quanto ele está abalado? Você tem ciência do trauma que o causou?
— Eu fiz com as melhores das intenções... Não era para ter acontecido desse jeito.
— Melhores onde?! — Gritou e a ômega o encarou assustada, era a primeira vez desde que estavam juntos que ele levantou a voz para ela. — Consegue imaginar como Jungkook deve estar se sentindo neste momento? Você é ômega também! Onde está sua empatia?! Colocou o próprio filho diante de um alfa no cio, sabe-se lá Deus o que poderia ter acontecido.
— Eu não presumi que aconteceria dessa forma — ela respondeu com a voz embargada. Mas o que o deixou ainda mais decepcionado, é que ela não estava arrependida do que fez e sim de não ter saído da maneira que ela queria.
— Você não presumiu absolutamente nada! — Gritou e a ômega voltou a se encolher, estava tão possesso que sequer se importou de estar alterado. — Seu próprio filho! Não consigo nem imaginar como Taehyung deve estar se sentindo, tudo o que ele mais temia aconteceu. Ele sempre fôra muito cuidadoso quanto a seu cio… E se o lobo dele definhar? E se o lobo dos dois definharem? — Ele andou de um lado para o outro, a raiva diluiu-se e tornou-se preocupação.
— Perdão... — Ela pediu com a cabeça baixa, mas nem mesmo aquilo conseguiu comovê-lo.
— Não é a mim que você deve desculpas, é a Jungkook e Taehyung — Sunye assentiu e o alfa a encarou com o olhar frio. — Você irá se desculpar com a família Kim, pedirá perdão de joelhos se precisar, mas você se arrependerá de seu feito. Pedirá clemência a Jungkook quanto a sua punição, pois a partir de hoje nós não dormiremos no mesmo quarto. — Ela o encarou de olhos arregalados e se levantou em desespero.
— Não Soohyun por favor! Perdão, eu peço perdão, mas por favor não me renegue! — Ela chorou enquanto segurava em seus braços, mas Soohyun a afastou.
— Em consideração a todos os anos que foi fiel a mim, eu não a mandarei ao exílio, pois além de minha esposa você é marcada. Mas até que Jungkook diga com todas as palavras que a perdoou, eu sequer olharei em sua direção.
— Por favor Hyun, não faça isso comigo — Sunye chorou e o alfa hesitou, mas fechou os olhos e não voltou atrás com sua decisão. Por mais que a ame, jamais a colocaria acima de seu filho, principalmente depois do que ela fez. — Eu não sei o que fazer, eu só queria uma garantia…
— O que você fez foi inconsequente, cruel, desumano e imperdoável Sunye. Jungkook é um garoto tão puro e inocente, ele não merecia isso. Nenhum dos dois, você brincou com a vida de duas pessoas por seus próprios interesses, nunca pensei que você seria capaz de algo tão baixo.
Sunye abaixou a cabeça e não conteve mais as lágrimas, a dor que ela sentia agora era apenas porque ela foi pega, não por suas ações terem ferido seu filho, por isso não compadeceu de seu choro. A dor que ela sentia não se comparava a de Jungkook, que notou somente naquele momento que estava em pé no final da escada, ele encarava sua mãe com uma decepção tão grande que doeu assistir, as lágrimas ainda banhavam suas bochechas, vê-lo daquela maneira o deixou extremamente desconfortável, por isso correu até ele. Quando chegou até Jungkook o envolveu em seus braços novamente com o peito apertado, os olhos dele estavam inchados e marejados, seu nariz estava vermelho e sua face permanecia muito abatida. Ele encarou sua mãe, que também levantou o olhar em sua direção, mas ele apenas desviou o olhar, não podia culpá-lo de sentir rancor de Sunye, pois ele mesmo também sentia. Por muito tempo tentou entender a frieza dela quanto a Jungkook, pois sabia que a criação dela não havia sido fácil, mas aquilo era demais.
Sunye passou de qualquer limite, não podia perdoá-la por isso.
— Senhor Jeon! — Um homem o chamou com a voz bastante alterada, tinha certeza que era um dos serventes que pediu para buscar Taehyung, por isso não demorou a segurar na mão de Jungkook, pronto para caminhar até a entrada.
Sentiu Jungkook hesitar e ao olhar para trás encontrou a expressão assustada de seu filho, seus olhos antes marejados brilharam ainda mais pelas lágrimas, ele o encarava com um medo que deixou Soohyun sem chão. O quão machucado seu filhote estava a ponto de sequer conseguir suportar estar no mesmo ambiente que Taehyung? Eles se deram tão bem, era simplesmente cruel a maneira como a confiança entre eles fora quebrada. Soohyun abriu um pequeno sorriso, na tentativa de tranquilizar o filho e segurou sua mão com mais firmeza, aproximou-se e deixou um beijo cálido sobre sua testa, olhou em seus olhos e sussurrou que estava tudo bem, que não sairia do seu lado e que nada iria machucá-lo novamente, o viu engolir em seco e assentir. Eles caminharam até a entrada apressados e notou que Sunye os seguiu, seu rosto estava deprimido e sua postura cabisbaixa, mas não deu atenção a ela, pois haviam duas pessoas mais machucadas do que sua esposa inconsequente. Quando chegaram na entrada da mansão, arregalou os olhos com o que viu.
Taehyung estava desacordado com os braços ao redor dos ombros dos serventes, haviam manchas de sangue em sua camisa branca, as gotas ainda pingavam no chão da mansão, o que mostrava que o corte era recente. A cabeça do alfa estava caída para frente e o sangue cobria a sua face, rastros do líquido vermelho estavam por sua testa, bochechas e pescoço, aquilo preocupou Soohyun, porque era indícios de um grande corte na cabeça. Ouviu um soluço e levou a atenção até Jungkook, ele estava com os olhos arregalados e chorava copiosamente ao ver Taehyung naquela situação, sua expressão deixava claro que não sabia o que sentir ou o que pensar, apenas chorou. Os olhos de Soohyun saíram de seu filho e encontraram os da esposa, que encarava a cena com uma expressão perturbada. Quando sua atenção voltou a Taehyung, a preocupação triplicou ao ver um corte em sua têmpora.
— Meu Deus, ele feriu a cabeça — Soohyun se afastou do filho por um momento para ir até Taehyung, levantou a cabeça dele com cuidado, viu um hematoma arroxeado junto a um corte entre a sobrancelha e a orelha. — Como ele fez isso?
— Não sabemos, ele já estava desacordado quando chegamos, estava com uma pedra na mão — um dos betas disse e Soohyun arregalou os olhos.
— Levem-no para o quarto imediatamente! — Os betas assentiram e começaram a levar Taehyung até o segundo andar. — Heesun!
— Sim senhor — ela respondeu de imediato, ela estava junto a Jungkook, sequer tinha visto ela chegar.
— Por favor, peça a alguém para chamar o doutor Baek urgentemente e limpe as feridas de Taehyung por favor — pediu e a beta assentiu, mas ela hesitou em deixar Jungkook, que soluçava em seus braços. — Pode ir, ficarei com ele.
Heesun assentiu e se afastou após deixar um abraço forte em Jungkook, que estava desolado.
Soohyun se aproximou do filho e o envolveu em seus braços novamente, ele chorava agarrado a sua blusa de maneira tão frágil que seu lobo uivou em agonia, seu filhote estava ferido e não sabia o que fazer para acalmá-lo, por isso suas ações foram instintivas, apenas deixou que seu cheiro e sua presença o envolvesse também e o manteve perto. Pôde ver Sunye se aproximar, mas por conta dos sentimentos aflorados e a tão recente decepção, Soohyun acabou por abraçar o filho com mais força e deixar seu lobo o dominar, com sua presença tão forte e um olhar hostil, a ômega se afastou imediatamente com uma expressão ainda mais melancólica. Tudo aquilo foi causado por conta de suas ambições, colocou as próprias vontades acima das do filho, o colocou em perigo para concretizar um romance que sequer precisava de interferência externa. Soohyun iria proteger seu filho, mesmo que precisasse fazer isso da própria mãe dele.
— Seu lobo me rejeitou… — Ela chorou e Soohyun cobriu os ouvidos de Jungkook, que ainda chorava em seu peito.
— Você rejeitou o Jungkook — respondeu e ignorou o olhar de culpa que surgiu no olhar de sua esposa, apenas segurou seu filho nos braços e o levou para longe dela.
Seu filho chorou em seus braços enquanto caminhava até o segundo andar, o levou até o quarto e o colocou sobre o colchão. Jungkook se encolheu entre os lençóis e chorou baixinho, com o coração apertado Soohyun o cobriu com o edredom e fez um carinho delicado por seu cabelo, na tentativa de tranquilizá-lo, mas sabia que seria inútil devido às lembranças e da cena que ele presenciou ao ver Taehyung machucado. Seu pequeno filhote mal tinha chegado à maioridade e já havia passado por um trauma extremamente difícil de superar, aquilo doeu em seu peito, sentiu-se um péssimo pai por não ter visto as ações de Sunye antes, de não tê-la impedido de deixar uma cicatriz tão grande como aquela em seu filho. Estava preocupado com Taehyung, temia que ele tenha tentado tirar a própria vida, temia qual seria a reação de sua família ao saber o que houve e temia mais ainda como as coisas ficariam quando ele recobrasse a consciência.
— Meu amor, eu irei ver como ele está tudo bem? — Soohyun sussurrou enquanto ainda fazia carinho em seus cabelos. Jungkook não respondeu, apenas continuou a soluçar. — Pedirei a Heesun que venha ficar ao seu lado, por isso não tema, nada o fará mal novamente.
Jungkook estava nitidamente em choque, nada do que dizia parecia chegar até ele, sua respiração estava pesada e desregulada enquanto chorava, percebeu que chorar era a única coisa que seu corpo conseguia fazer, por ser jovem, provavelmente não sabia como assimilar o misto de sentimentos ruins que tomou seu corpo sem sua permissão. Soohyun sentiu-se péssimo ao ver seu filho tão abatido daquela forma, seu lobo estava inquieto ao ver seu filhote tão triste, sua pequena e tão adorada cria sentia uma dor que sequer conseguia imaginar a proporção, estava agoniado por não poder fazer nada para o arrancar daquela sensação sufocante. Prometeu a Jungkook que voltaria assim que cuidasse de Taehyung, ele apenas assentiu, sem conseguir levantar o olhar para olhá-lo nos olhos. Soohyun levantou-se e foi até o quarto de hóspedes, quando chegou viu Heesun tratar as feridas de Taehyung, que ainda permanecia desacordado, ao se aproximar notou rastros de lágrimas nas bochechas dele.
— Heesun, muito obrigada por limpar as feridas de Taehyung — aproximou-se se e chamou a atenção da beta. — Poderia fazer companhia a Jungkook? Ele precisa de um porto seguro, seu lobo recolheu-se em si mesmo.
— Ele definhou?! — Ela se levantou aflita e Soohyun negou.
— Não ainda, consigo sentir, mesmo que fraca, a presença do lobo dele, mas se continuar dessa maneira… não demorará a acontecer — o alfa respondeu e um bolo surgiu em sua garganta. Sequer notou que tremia quando se aproximou da beta e segurou em suas mãos. — Por favor, salve meu filho… Você é a pessoa mais próxima a ele depois de mim, Jungkook a vê como uma mãe, por favor não deixe meu pequeno definhar.
— Vou fazer o possível senhor — ela assentiu com os olhos marejados e correu até o quarto de Jungkook.
Soohyun tentou acalmar-se enquanto sentia suas mãos tremerem, pois a possibilidade de seu filho definhar era muito grande, se isso acontecesse, Jungkook perderia sua parte lupina, viveria o restante da sua vida como uma casca vazia, perseguido pelo constante sentimento de perda e abandono. Só ouviu falar de casos onde pessoas definharam, perder a parte lupina era como perder o sentido de sua vida, os deixava sem rumo e em um estado eterno de que algo estava incompleto, na grande maioria das vezes, após definhar as pessoas viviam em uma melancolia eterna, apenas se arrastavam e coexistiam com a solidão. No pior dos casos, por não suportar a dor de perder sua parte lupina, tiravam a própria vida, na esperança da lua lhe abençoar com o reencontro entre suas almas. Temia que o mesmo acontecesse com Jungkook e Taehyung, agora que seus lobos passaram por tamanha dor, tinha medo de que não suportassem.
Temia Jungkook jamais superar aquela memória traumática e temia também que Taehyung jamais se perdoasse pelo o que houve.
Quando se aproximou da cama novamente, sentiu a presença do lobo de Taehyung tão fraca quanto a de seu filho, o rastro de lágrimas nas bochechas e o corte profundo em sua têmpora o deixava com uma imagem tão destruída que lhe deixou sem fôlego, como olharia nos olhos de seu melhor amigo e diria que o filho dele estava prestes a definhar sob sua proteção? Sem conseguir conter as lágrimas, Soohyun tentou suportar a culpa e o peso do remorso em suas costas, precisava ser forte, seu filho precisava dele e agora Taehyung também, por isso após um breve acesso de choro, tentou se recompor. Ver o peito de Taehyung subir e descer junto a sua respiração não o acalmava, pois mesmo que estivesse com a respiração regulada, o fato de ainda permanecer inconsciente não era um bom sinal, por isso suspirou, esperava apenas que não tivesse acontecido nada mais grave que o ferimento em sua cabeça. Estava distraído em seus pensamentos quando notou o ferimento em seu braço, por isso delicadamente levantou a manga da camisa e viu a perfeita marca de suas presas.
— Meu Deus… O que o levou a fazer isso em si mesmo? — Soohyun perguntou ao sentir o bolo em sua garganta retornar. A impotência o atingiu com tanta força que se ajoelhou ao lado da cama e deixou que as lágrimas se derramassem novamente. — Me desculpa…
(...)
O doutor Baek, médico da família, chegou às pressas junto ao servente que o chamou, ele correu para tratar as feridas de Taehyung, fazer curativos e perguntou o que houve. O doutor deu o diagnóstico baseado nos acontecimentos e pelas feridas, ele explicou que Taehyung provavelmente se nocauteou com a pedra para que não fosse atrás de Jungkook, ou também, para evitar o próprio sofrimento. Pelo tamanho da ferida, a força com a qual ele acertou a si mesmo foi demais, não precisava de tanto empenho se seu intuito era somente alcançar o desmaio, o doutor deixou claro que pela força, era um milagre que ele realmente tenha apenas desmaiado e não se matado. Agora era esperar que Taehyung acordasse e sondá-lo para saber se suas memórias, percepções ou movimentos não tenham sido afetados pelo golpe na cabeça, tudo o que podiam fazer era rezar para que aquela atitude não tivesse lhe causado nenhuma sequela.
Todos na mansão falavam sobre o que aconteceu entre seu filho e o pretendente dele, muitos criticaram a atitude de Taehyung, até que a notícia de que a responsável por seu descontrole havia sido Sunye, que não estava mais na porta do quarto do alfa, onde estava anteriormente. Soohyun tentou acalmar os nervos de todos que trabalhavam ali enquanto o doutor Baek cuidava de Taehyung e o vigiava, pois assim que acordasse, tinha de estar presente para examiná-lo e verificar se não havia nenhum outro problemas além das feridas e traumas. Ouviu uma comoção no andar de baixo e uma das serventes de sua mansão apareceu na porta do quarto, ela estava ofegante e anunciou que a família de Taehyung havia chegado e estavam com os ânimos alterados, o que já era de se esperar, por isso agradeceu a moça e pediu licença ao doutor Baek, para que fosse de encontro a família do Duque.
Soohyun desceu as escadas sem saber o que dizer, mas assim que os encontrou a emoção o tomou completamente e a primeira coisa que conseguiu dizer foi um pedido de desculpas, o Duque Kim, seu amigo o encarou com surpresa, sua raiva se dissipou no momento que o viu chorar. Os irmãos de Taehyung estavam muito irritados com o acontecido com o caçula, Jihyun, a esposa de seu melhor amigo parecia a mais afetada pela situação, sua expressão estava banhada em preocupação e medo. Explicou a eles que o doutor Baek estava no quarto para dar a devida atenção a Taehyung e explicou o que houve, ao saberem que Jungkook estava prestes a definhar enquanto o filho deles estava acamado na mesma situação, todos quase desabaram. Soohyun pediu milhares de desculpas e chorou ao contar que seu filho estava ferido e assustado, enquanto seu futuro prometido havia tentado contra a própria vida para não machucá-lo, aquilo fez o Duque Kim se aproximar e abraçar seu amigo, pela primeira vez em anos de amizade.
— Me desculpa por não ter conseguido impedir — Soohyun pediu e Minho, pai de Taehyung e seu melhor amigo, apenas negou.
— A culpa não foi sua — ele respondeu.
— Não, a culpa não foi dele — Jihyun falou pela primeira vez desde que chegaram na mansão, o que atraiu a atenção de todos. — Foi dela. — Apontou em direção às escadas, onde Sunye estava.
Quando todos então notaram a presença de Sunye, ela respirou fundo e desceu as escadas, enquanto os olhos de todos estavam sobre ela, principalmente de Jihyun, que a encarava como uma águia. Sunye caminhou de cabeça baixa até estar de frente para a mãe de Taehyung e ajoelhou-se no chão à sua frente, todos arregalaram os olhos com a cena.
— Perdoe-me — ela pediu com a cabeça baixa, ela tocou os sapatos de Jihyun em um sinal claro de humilhação, nada era tão sujo quanto um sapato, tocá-lo significava estar tão suja quanto. — O que eu fiz foi improcedente, mas feito com as melhores das intenções…
— Senhora Jeon... — Minho tentou dizer algo, mas sua esposa o impediu. Ela queria ouvir o que Sunye tinha a dizer.
— Eu não sou uma boa mãe, sei disso, apenas fiz o que achei que era melhor para o meu filho — sua esposa continuou e Soohyun franziu o cenho, esperava que aquele discurso terminasse com um pedido de desculpas, pois até o aquele momento, ouviu apenas justificativas fúteis.
Jihyun a encarava inexpressiva.
— Eu sei que parece horrível, mas foi realmente uma atitude tomada pelo desespero, tive medo que algo atrapalhasse e o casamento não acontecesse — explicou-se e Jihyun apenas ouvia tudo sem expressar qualquer reação. — Pensei que o nascimento de uma criança mudaria as coisas, por isso que fiz o que fiz, era apenas para ser um empurrão para que o casamento deles acontecesse.
A mãe de Taehyung se abaixou e levantou o rosto de Sunye, Jihyun a encarou por alguns instantes e viu de perto algumas lágrimas escorrerem pela bochecha dela.
— Você foi obrigada por sua família a ter uma criança e decidiu por si mesma que seria o ideal repetir a mesmo erro que sua mãe? — Ela perguntou e Sunye arregalou os olhos. Elas eram amigas de longa data, assim como o Duque e o Marquês, Jihyun sabia da história da vida dela melhor do que ninguém. — Decidiu passar por cima do próprio filho e arrastou o meu para junto da sua irresponsabilidade?
— Sei que o resultado não foi o que eu esperava, mas se eu tivesse calculado melhor…
Sunye foi calada pelo impacto da mão de Jihyun em seu rosto. Todos que assistiam — inclusive alguns serventes — se assustaram com a atitude dela.
— Você é o ser mais desprezível que eu já tive o desprazer de conhecer — Jihyun se levantou com uma expressão enojada. — Meus pêsames por seu casamento Soohyun, infelizmente você ficou preso ao pior tipo de mulher que existe.
Após sua fala Jihyun simplesmente passou por Sunye e a deixou ajoelhada no chão com uma expressão perplexa, Seokjin e Namjoon a acompanharam sem olhar para trás, Minho tocou no ombro de Soohyun e seguiu sua família. O alfa encarou sua esposa, que estava em choque ajoelhada no chão, ela tocou a própria bochecha e o encarou, como se buscasse por amparo, mas isso seria algo que ela não receberia dele, por isso respirou fundo e caminhou atrás da família Kim. Quando chegou até o quarto os irmãos de Taehyung se colocaram de um lado da cama e os pais de outro, o doutor Baek explicou a eles toda a situação e pediu para rezarem, pois como Taehyung havia nocauteado a si mesmo para não machucar machucar ainda mais Jungkook, ele não havia medido a própria força. Depois que fez os curativos nas feridas dele, o doutor Baek deu ao alfa os supressores necessários para parar seu cio, disse também que se tudo corresse bem, em breve ele acordaria e estaria bastante fraco devido a perda de sangue.
Baek instruiu que ficassem atentos a mudanças de humor, amnésia e desmaios quando ele estivesse consciente, pois não tinham como saber se o golpe que aplicou em si mesmo fraturou algo, se Taehyung não acordasse em vinte e quatro horas deveriam chamá-lo novamente com urgência. Ele desculpou-se por não poder ficar, mas tinha outros pacientes que necessitavam de cuidados. Porém antes que o doutor partisse, Soohyun pediu desesperadamente que ele examinasse Jungkook, pois seu filho também havia se machucado e tinha medo do que poderia ter acontecido no riacho sem que soubesse. Após passar no quarto de Jungkook, o doutor Baek, com ajuda de Heesun, fizeram algumas perguntas e o examinou, assim que saiu contou que fora os arranhões ele estava bem, apenas assustado e em choque, mas nada que prejudicasse sua saúde física.
E apesar do acontecido, não teve sua pureza tomada.
A mansão após o ocorrido estava um completo caos, os serventes haviam parado de falar sobre o assunto somente após Heesun chamar a atenção deles, pois o assunto incomodava Jungkook e a família de Taehyung, que Soohyun ofereceu hospedagem. Mas os nervos de todos estavam à flor da pele, Sunye não havia saído do quarto deles desde a humilhação na entrada da mansão, Soohyun ainda pensava no que faria com ela, pois por tê-la marcado tinha responsabilidades, mas provavelmente iria procurar um lugar próximo a mansão para que ela pudesse ficar. Taehyung havia despertado no fim da tarde, ele estava muito confuso e fraco, tanto pela perda de sangue tanto pelo supressor que tinha vários efeitos adversos, Jihyun contou a ele o que aconteceu e então ele se lembrou de tudo. O curativo em seu braço não o deixou esquecer de qualquer maneira, pois foi a primeira coisa que ele procurou quando lembrou-se do ocorrido, assim que viu as ataduras seus olhos marejaram.
Ele colocou as mãos sobre a cabeça e começou a amaldiçoar a si próprio enquanto chorava, seu choro veio com tanta intensidade que não demorou a soluçar, quando ele o viu pediu desculpas por ter tentado atacar seu filho e aquilo deixou Soohyun sem chão. Taehyung havia sido muito cauteloso com o próprio cio, confidenciou a ele que planejava passar por aqueles momentos sozinho até que Jungkook estivesse pronto para aceitá-lo, saber que seus planos foram frustrados da pior maneira possível o deixou completamente abalado. Jihyun tentou acalmá-lo quando a presença do alfa dele diminuiu ainda mais, seu choro pareceu afetar a todos de sua família, seus irmãos tentaram acalmá-lo e seu pai expandiu a própria presença, para mostrar ao alfa do filho que estava ali por ele.
Taehyung disse que se sentia sujo, pois havia tentado ferir sua lua, aquele era um pecado que jamais conseguiria se perdoar.
(...)
Jeon Jungkook
Horas antes do despertar de Taehyung…
Tudo vinha como um grande tsunami de emoções, dor, medo, culpa e a principal, a decepção. Estavam tão bem, pela primeira vez em muito tempo Jungkook havia se sentido bem dentro da própria casa, pela primeira vez sentiu que as palavras de sua mãe não iriam condená-lo a uma vida infeliz, encontrou conforto, felicidade e como se não fosse suficiente, Taehyung havia entrado em seu coração com uma facilidade absurda. Tinham todo o necessário para estarem mais do que felizes juntos, a decepção de tudo ter dado errado por influência externa era o que doía mais, a mulher que se dizia sua mãe o colocou diante de um lobo no cio, o expôs ao perigo sem sequer ligar para o que aconteceria, era uma garantia, como ouviu sua mãe dizer. Heesun havia limpado suas feridas e agora se mantinha ao seu lado, o cheiro dela, seus abraços quente e seus carinhos o deixavam mais calmo, mas não menos trêmulo e assustado. Ela estava sentada em sua cama e sua cabeça repousava no colo dela, ela fazia um carinho delicado sobre seus cabelos quando a porta foi aberta e sua mãe adentrou o quarto.
— Nos dê licença Heesun, quero falar com meu filho a sós — Sunye pediu com sua tão adorada autoridade.
— Não o deixarei — Heesun respondeu sem se mover de onde estava. Sunye arregalou os olhos e a encarou de maneira estarrecida.
— Como é? — Perguntou chocada. — Eu mandei vo-
— O Marquês pediu que eu ficasse ao lado de Jungkook — Heesun a interrompeu. — E é isso que farei.
— Tanto faz — sua mãe respondeu ao revirar os olhos. Ela se aproximou da cama e ajoelhou-se no chão, para que pudesse encará-lo melhor. — Jungkook...? Meu amor, podemos conversar? — Ela nunca o chamou daquela maneira antes, nem mesmo nas suas piores febres, soava falso quando vinha dos lábios dela.
Ele não a respondeu, nem sequer olhou para ela.
— Jungkook me perdoa — sua voz soou baixinha, como se lhe causasse vergonha fazer aquele pedido. — Eu juro que eu fiz tudo aquilo porque queria o melhor para você, sei que não sou uma boa mãe... Que privei você de muitas coisas, mas é porque eu tenho medo que se machuque. — Explicou enquanto o encarava, ouvir aquilo sair da boca dela não lhe causava nada mais do que um desconforto ainda maior. Pois como poderia ela ter medo de o machucar quando foi exatamente aquilo que ela fez?
Jungkook apenas deixou uma lágrima solitária escorrer, mas não demonstrou nenhuma outra reação.
— Eu dei a luz a você muito jovem, eu tinha apenas dezessete anos quando você nasceu. Minha mãe queria um neto, mas eu sempre tive a saúde debilitada — ela apoiou seus braços e cabeça no colchão. — Achávamos que eu era infértil, mas aí você apareceu... Eu fiquei tão feliz quando o segurei em meus braços, quando você sorriu pela primeira vez e quando deu seus primeiros passos…
Jungkook não sentiu verdade em suas palavras, como poderia ela ter se alegrado com seu nascimento e tratá-lo com tamanha indiferença por toda sua vida? Sunye era uma mentirosa compulsiva.
— Você nasceu tão pequeno e frágil... Suscetível a qualquer perigo — ela brincou com os lençóis da cama de maneira ansiosa. — O médico disse que não seria seguro eu ter mais um filho, porque eu não poderia segurá-lo no ventre. Então eu adquiri uma proteção exagerada sobre você, tinha medo que qualquer coisa o machucasse, pois eu sabia que se te perdesse... Eu não teria mais nada.
Aquilo fez Jungkook finalmente encarar sua mãe.
— Eu tive em mente que se você se casasse com um alfa rico, de nome renomado ele lhe daria o luxo, conforto e atenção que você necessita. Não ouvia suas queixas, pois achava que era o certo, que isso o deixaria seguro. E quando Taehyung apareceu, eu pensei que aquela era a oportunidade perfeita para levá-lo para uma vida melhor — ela explicou enquanto mantinha a voz extremamente baixa. Os carinhos de Heesun haviam parado, ela apenas apoiava a mão em seus cabelos, sem se mover. — Mas eu realmente não pensei nas consequências... Eu me sinto horrível por ter exposto você a essa situação. — Queria muito acreditar no que ela dizia, mas suas ações contradizem suas palavras. Só mostrava que por não ter mais filhos, Jungkook era sua garantia de riqueza.
Jungkook chorou baixinho e fechou os olhos.
— Eu não sei se um dia você irá me perdoar, mas eu me arrependo, me arrependo muito. Não posso mudar o que eu fiz, mas posso mudar a mim mesma e tentar consertar as coisas — ela pediu e sua voz soou um pouco desesperada, aquilo mostrou um pouco de sinceridade, por isso Jungkook a encarou novamente. Seus olhos brilharam em esperança, pois seria ela capaz de realmente mudar após tantos anos? — Eu irei pedir perdão de joelhos a Taehyung e sua família, por isso converse com seu pai, hm? Diga a ele que iremos recomeçar, que não me renegue. — Sua última frase foi o que fez com que o véu de entendimento caísse sobre ele, sua mãe apenas não queria ser renegada por seu pai. Não se arrependia do que fez, apenas não queria ser castigada.
Por muito tempo Jungkook se culpou, passou grande parte de sua vida sob a visão de que ele não era um bom filho para sua mãe, como poderia ser? Ouviu de seu pai que Sunye foi criada em um lar extremamente rigoroso, ela foi obrigada a se casar e ter um filho pela própria mãe, tudo para que prendesse seu pai em um casamento e mesmo ciente daquilo, Soohyun aceitou o casamento. Sabia que ela era uma mulher cheia de traumas e que apenas reproduzia os ensinamentos torpes e cruéis que recebeu da própria mãe, mas como não se ressentir quando mesmo com sua vida em risco, ela parecia mais preocupada com seu casamento do que com o próprio filho? Doía ouvir as lamúrias de sua mãe e saber que tudo não se passava de palavras vazias, queria ser capaz de perdoá-la, mas estava tão machucado...
Ele sentia seu peito dilacerado, as feridas eram tão profundas que temia jamais cicatrizarem, pois quando finalmente se apaixonou por alguém um desastre aconteceu e saber que fora sua mãe a responsável por isso só fazia sua ferida sangrar ainda mais, ele só queria que aquele dia nunca houvesse acontecido. Se encolheu ainda mais no colchão e sentiu os dedos de Heesun voltarem a acariciar seus cabelos, o que o fez fechar os olhos e se concentrar na presença dela, pois mesmo que minimamente, saber que ela estava a seu lado fazia doer menos. Sentiu a mão de Sunye tocar a sua e abriu os olhos novamente, aquilo fez um sentimento tão ruim o tomar que se afastou do toque frio e mentiroso, aquilo pareceu atingi-la, pois ela o encarou com o cenho franzido.
— Eu realmente sinto muito Jungkook, muito mesmo — ela se aproximou para tocá-lo novamente, mas não permitiu que ela o tocasse uma segunda vez e se encolheu ainda mais. — Não consigo imaginar a dor que está sentindo e me amaldiçoarei pelo resto da minha vida por ser a responsável pela sua dor. Eu nunca irei me perdoar por ter te machucado... Mas eu te amo, mais do que tudo nesse mundo, você é o meu filhotinho. Meu milagre.
— Mentira — conseguiu dizer após muito tempo em silêncio. Sunye arregalou os olhos e o encarou com uma expressão espantada. — Para você, eu sou apenas a consequência de um casamento arranjado. — Apesar de não querer demonstrar o quanto aquilo o afetava, não conseguiu conter o embargo em sua voz.
— Jungkook… Entenda, eu tive uma criação difícil, sei que fui muito dura com você, mas eu não tive bons exemplos em casa, minha mãe era-
— Sabendo disso, escolheu fazer igual, não, fazer pior do que ela — a interrompeu com pesar. As lágrimas antes tímidas, agora corriam por suas bochechas com intensidade. — Você escolheu descontar em mim tudo o que sofreu na infância, você não é a minha mãe, nunca foi.
Após sua fala Jungkook virou-se de costas para Sunye, sequer reconhecia o cheiro dela agora, na realidade, não reconhecia o cheiro de ninguém, até mesmo a presença de Heesun que costumava lhe acalmar estava fraca, não sentia seu lobo como antes, era como se pudesse vê-lo, mas estava longe demais para alcançá-lo. Aquele sentimento de vazio e de solidão o assustou, ainda estava com a cabeça no colo de Heesun quando a tremedeira voltou a assolar seu corpo, o choro ainda não contido se tornou mais intenso e Jungkook só quis que tudo aquilo acabasse, que colocassem um fim em seu sofrimento. Depois que sua mãe fora embora — após sua rejeição também — Jungkook passou horas deitado naquela cama, sentiu calafrios e tremores por todo seu corpo, quando o doutor veio lhe examinar teve de reviver o acontecido no riacho e aquilo só lhe deixou pior. Ouviu Baek dizer a seu pai na porta de seu quarto que todas aquelas sensações em seu corpo eram resultado da ausência de seu lobo, que estava prestes a definhar.
Aquilo o deixou em pânico, seu lobo havia lhe deixado?
— O que eu fiz para merecer um destino tão cruel Sun? — Chorou ao tocar o próprio peito.
(...)
O passar dos dias foram muito desconfortáveis, para todos que residiam naquela mansão, até mesmo para a família de Taehyung que ia visitá-lo de tempos em tempos, pois ele recusou-se ir embora antes que pudesse ver Jungkook e se desculpar, mas não estava pronto para ficar frente a frente com ele. Sunye havia sido enviada para um casarão de férias da família, ficava próximo o suficiente para Soohyun visitá-la para evitar que a falta de seus companheiros prejudicasse seus lobos, mas iriam manter distância, pois o alfa havia desfeito o casamento. Já Jungkook ficava em seu quarto grande parte do dia ao lado de Heesun, que havia levado suas coisas para lá e dormia junto a ele, pois o ômega temia encontrar Taehyung pelos cômodos da mansão, somente conseguia sair quando tinha certeza que ele não estava por perto. Ouviu de seu pai e a família Kim que Taehyung estava cabisbaixo, mal se alimentava e que assim como ele, seu lobo estava a definhar também.
Duas semanas seguiram daquela maneira, Heesun e Soohyun eram as duas pilastras que o sustentava e impedia que afundasse ou que definhasse de vez, um dos muitos dias que se passaram sem se falar, Taehyung saiu de seu quarto para beber um pouco de água de madrugada e acabou por encontrá-lo quando iria sair do quarto. Quando o viu, Jungkook encarou com os olhos fixos aos dele, como se a sua frente estivesse materializado o pior de seus pesadelos, mas quando o alfa deu um passo em sua direção, ele correu para dentro do quarto e fechou a porta com as mãos trêmulas. Aquilo o fez encostar a cabeça na madeira da porta, havia realmente fugido de Taehyung, o mesmo alfa que o fazia sorrir, odiou a si mesmo por ser tão covarde, sabia que o que aconteceu não era culpa dele e que ele próprio se culpava pelo ocorrido, mesmo que a responsável estivesse longe. Mas não conseguia olhar para ele sem sentir aquele medo paralisante que sentiu no riacho.
Jungkook ouviu os passos de Taehyung e soube que ele estava em frente a sua porta, mas não bateu e nem tentou abrir a maçaneta. Em todos aqueles dias, o alfa não havia tentado entrar em seu quarto nem uma única vez, sequer se aproximava de sua porta, como se soubesse que tentava evitá-lo.
— Eu vou esperar Jungkook... — Sua voz estava embargada e baixa, mas falou alto o bastante para que pudesse ouvi-lo. — Eu vou esperar por você, não importa o quanto demore ou quantos dias passem. Eu vou esperar, porque eu me apaixonei por você.
— Me desculpa… — Jungkook chorou e ouviu um soluço do outro lado também. — Eu ainda não consigo.
— Eu vou esperar, quando estiver pronto… Estarei aqui, eu prometo — ele respondeu com a voz ainda mais embargada.
Ouviu os passos de Taehyung se afastarem da porta e soube então que ele havia voltado para o quarto de hóspedes, que era onde ele dormia nos últimos dias. Jungkook abaixou-se e sentou-se em frente a porta, apoiou as costas na madeira e abraçou as próprias pernas, chorou por não ser forte o suficiente para encarar Taehyung, para enfrentar suas memórias dolorosas e de dar a ele a chance que tiraram deles. Queria falar com ele, queria resolver tudo, mas estava com medo, com muito medo, não conseguia esquecer da sensação horrível que sentiu naquele dia, assim como não conseguia esquecer a imagem dele ensanguentado na entrada da mansão. Toda vez que olhava para ele lembrava-se apenas do que aconteceu, do quão apavorado ficou, do quão triste e impotente se sentiu ao vê-lo ferido por sua causa, ele tentou contra a própria vida para não machucá-lo e agora sequer conseguia olhá-lo nos olhos, aquilo doía muito mais que suas feridas físicas. Queria passar o tempo com ele, rir com ele, queria tê-lo por perto novamente.
— Eu sinto a sua falta... — Chorou.
(...)
Naquela manhã completou-se exatamente duas semanas e meia desde o incidente no riacho, mais de 336 horas que Jungkook não conseguia nem sustentar o olhar com Taehyung, dezessete dias que não sentia mais o cheiro de café ou a presença do lobo dele. Com o passar do tempo, Jungkook ao menos conseguia sair do quarto quando estava junto a seu pai e Heesun, o que era grande avanço, pois antes ele não saia por nada, então o fato de ao menos conseguir sair do cômodo quando Taehyung estava presente era uma grande conquista. Quando o via pelos corredores da mansão, o medo ainda estava presente, mas a preocupação começou a ser maior que qualquer outro sentimento, pois ao ver as olheiras embaixo de seus olhos e sua expressão abatida, deixava nítido o quão afetado estava pela situação. Os dois se arrastavam pelos corredores como zumbis, enquanto seus lobos estavam quase que por completo reclusos, mas sempre que viam um ao outro, sentiam que a conexão de suas almas ainda estavam lá, apesar de fraca.
Naquela noite, Jungkook estava sentado junto a seu pai e Heesun na sala de jantar, estavam prontos para fazerem a última refeição do dia, mas não sentia apetite algum e não era de algo anormal nos últimos dias. Havia dormido naquela tarde e levantou-se em um horário do qual normalmente estava em seu quarto, pois sentia-se indisposto, era como se tivesse perdido completamente a razão de sua existência, temia que seu lobo tivesse partido e o deixado só, sequer conseguia sentir desejo de comer a refeição a sua frente, tudo parecia insípido. Quando estava distraído em sua própria mente vazia, ouviu passos, seu coração disparou e virou-se em direção a entrada da sala de jantar, seus olhos encontraram os castanhos de Taehyung, que paralisou na entrada assim que o viu. Sabia que ele também evitava encontrá-lo, principalmente por ter dito que esperaria por ele, mas também porque ele parecia não suportar seu olhar de medo sempre que o encarava, naquele dia também ele provavelmente não esperava encontrá-lo naquele horário e se virou para partir.
— Tae! — Jungkook o chamou e Taehyung parou de caminhar imediatamente. — Fique…
— Me desculpe… Hoje não estou em meu melhor momento, temo não ser uma boa companhia — respondeu ao virar-se e encarar Jungkook, seus olhos estavam marejados e soube que aquele não era o verdadeiro motivo de manter-se distante.
Taehyung virou-se e caminhou para fora da sala de estar, Jungkook sentiu o bolo em sua garganta retornar quando notou o verdadeiro motivo.
— Eu não sinto o lobo dele — Jungkook respondeu com a voz embargada. Sentiu algo dentro de si próprio se quebrar e se esvair com aquela constatação.
— Você precisa falar com ele filho, estão definhando por conta do medo e da culpa — Soohyun acariciou seus cabelos com uma expressão extremamente entristecida. — Isto está aos poucos destruindo vocês dois.
— Eu não consigo pai... Eu tenho medo, a memória ainda está tão recente...
— Não será fácil esquecer meu amor, mas lembre-se que não foi culpa dele, hm? Aquele não era ele — Heesun disse com delicadeza. — Sei que é assustador, mas olhe como ele tem estado tão abatido quanto você, ele quer resolver as coisas. Mas tem medo de se aproximar, porque ele sabe que está com medo.
— Tente conversar com ele, se não encarar seus medos de frente você será sempre uma vítima dele — seu pai sorriu e tentou lhe passar confiança. — Sei que não será fácil enfrentá-lo, mas não deixe que o erro de outra pessoa destrua o sentimento lindo que vocês cultivaram.
— Eu não sei como enfrentar, tenho medo de reviver o que houve, se eu hesitar isso o deixará pior — colocou as mãos sobre a cabeça e tentou conter as lágrimas.
— Confie em mim — Soohyun pediu e Jungkook o encarou. — Taehyung só quer seu perdão filho, ele não conseguirá seguir em frente até que consiga se desculpar. Nenhum de vocês conseguirá.
— Eu... — Jungkook abaixou a cabeça e fechou os olhos com força, precisava colocar um ponto final naquilo, não queria ser o responsável pela morte do lobo dele assim como não queria perder o seu. — Eu vou tentar.
Heesun e Soohyun abriram um imenso sorriso orgulhoso e lhe desejaram boa sorte, eles mais do que todos queriam vê-lo bem, por isso decidiu naquele momento que não iria se entregar, a culpa era de Sunye, não iria deixar que ela estragasse sua vida novamente, lutaria contra as amarras dela até o final, mesmo que precisasse reviver memórias dolorosas. Jungkook respirou fundo e levantou-se, ele caminhou pela mansão a passos lentos à procura dele, mas quando não o encontrou em lugar algum, partiu para o lado de fora, o clima estava agradável e depois de dias dentro de casa sentiu-se muito bem ao ter a luz do luar em contato com seu rosto. Ele olhou em volta e procurou por Taehyung, tinha uma ideia de onde ele poderia estar, mas mesmo assim caminhou até o estábulo, na esperança de encontrá-lo lá ou de pelo menos encontrar um cavalo a menos, assim saberia que ele saiu para cavalgar, mas quando chegou viu apenas um dos betas que cuidava de Kiara em sua ausência.
Jungkook engoliu em seco, pois sabia para onde ele havia ido e aquilo somente o deixou ainda mais temeroso em encontrá-lo, mas mesmo com as mãos trêmulas, caminhou para longe do estábulo. Naquele momento ele estava parado em frente a entrada da trilha enquanto tentava convencer a si mesmo que não havia o que temer, repetiu em sua cabeça diversas vezes que não voltaria a se repetir, que Sunye estava longe e que o lobo de Taehyung definhou. Ele respirou fundo e caminhou sobre as folhas mortas, afastou para longe de sua mente cada lembrança assustadora que tinha sobre aquele lugar, pois a cada passo, sua coragem oscilava. Junto ao barulho da água, vou ao longe a silhueta de Taehyung, que estava sentado à beira do riacho, ele se aproximou devagar e paralisou no lugar ao escutar um soluço.
Taehyung estava chorando.
Jungkook se aproximou até que pudesse vê-lo com nitidez, estava a alguns metros, o viu sentado na mesma pedra que estavam sentados naquele dia, ele abraçava as próprias pernas enquanto olhava a correnteza. Quando se aproximou acabou por pisar em folhas mortas, o som de seus passos denunciou sua presença e o viu rapidamente enxugar as lágrimas, como se não quisesse que o visse chorar, se aproximou ainda mais, mas Taehyung não virou-se para encará-lo. Jungkook sentiu o peito apertar e hesitou um pouco antes de aproximar-se ainda mais e sentar-se ao seu lado, sobre a pedra, ainda que mantivesse uma distância entre eles. Vê-lo daquela maneira só o deixava pior, não mereciam passar por aquele tormento, eram almas destinadas, estavam unidos pela lua e pelo sol, não deviam deixá-la se apagar por um erro causado por outra pessoa.
E não deixaria.
— Oi Tae — Jungkook o cumprimentou baixinho, era tão ruim não sentir o cheiro de café dele, mesmo que estivessem lado a lado.
— Oi — ele respondeu sem olhar em sua direção. Sua voz e sua postura estavam extremamente abatidas. — Não está com medo de mim?
— Estou... — Respondeu junto a um suspiro.
— Não o culpo. Eu trai a sua confiança quando você finalmente se abriu comigo — sua voz embargou e aquilo doeu em Jungkook. — Me desculpe.
— Não foi culpa sua, por isso não se desculpe, o que aconteceu foi horrível, nos marcará para sempre, mas não quero que nos sintamos culpados por algo que não foi causado por nós.
— Eu planejei te dizer muitas coisas, mas agora que você está aqui eu não consigo fazer nada além de chorar — riu de si próprio por entre as lágrimas. — Eu sou patético. Eu fiz tudo o que eu prometi a você que não faria.
— Você não é patético... Você é amável, cuidadoso e carinhoso. Aquele não era você.
— Você não acredita nisso.
— Eu tive muitos dias para pensar sobre o que aconteceu, vou mentir se disser que não estou com medo agora. Mas vou mentir também se eu disser que não sinto a sua falta, que vê-lo tão triste não me afeta — admitiu e Taehyung o encarou. — Me assustou, certamente sim. Mas doeu mais quando notei que estava definhando bem diante dos meus olhos, tomado pela culpa e pelo arrependimento. Eu vi o que fez para não me marcar, foi aterrorizante, mas nada se iguala a imagem de você ensanguentado e desacordado…
— Eu não queria ficar consciente, não depois do que eu fiz, vê-lo chorar por minha causa foi uma das cenas mais dolorosas que já presenciei. Por muito pouco não me tornei o tipo de alfa que sempre odiei — Taehyung parecia tentar conter o bolo em sua garganta, pois engolia em seco sempre que fazia uma pausa. — Quando descobri que você estava definhando, meu lobo… Ele se foi.
Taehyung não conteve a emoção, as lágrimas o tomaram junto a um soluço.
— Por minha causa, você definhou e meu lobo me abandonou — Taehyung disse com a voz embargada e cobriu o rosto com as mãos.
— Não — Jungkook disse a si mesmo e a Taehyung, que o encarou. Ele virou-se em direção ao alfa e se aproximou, notou que ele hesitou com sua aproximação, mas não se afastou. — Não vou deixar que meu sol se apague por uma culpa que não é dele.
Jungkook segurou no rosto de Taehyung e fechou os olhos, respirou fundo e olhou no fundo das íris castanhas dele.
— Alfa, se está me ouvindo, a culpa não foi sua — Jungkook disse com a voz carregada de seriedade, queria que chegasse ao lobo de Taehyung.
— Jungkook… Não irá funcionar — ele disse com o olhar desesperançoso, mas em resposta, Jungkook negou com a cabeça diversas vezes.
— Eu sou um lúpus, meu lobo faz parte de mim, compartilhamos um só corpo e assim como ele influencia meus sentimentos, eu influencio os dele — fechou os olhos e respirou fundo novamente. — Ômega, seu alfa está prestes a desaparecer bem na sua frente, não ouse abandoná-lo por causa dela! Eu sei que está aí, então reaja! — Ordenou e sentiu algo em seu peito se comprimir.
— Jungkook, não adianta, nós… — Taehyung se calou no momento que voltou a encará-lo, pôde ver refletidas nas íris dele que as suas clarearam. Pouco, mas era o suficiente para mostrar que seu lobo ainda estava ali.
— Eu não vou viver afundado no medo, me recuso a perder minha alma gêmea por causa disso, então alfa, por favor… Por favor volte pra mim — pediu e sua voz embargou. — Não faça com que minha existência seja ainda mais infeliz sem a sua presença.
Os olhos dele oscilaram entre o castanho e o vermelho, aquilo fez Jungkook abrir um sorriso imenso e a expressão de Taehyung tornou-se ainda mais confusa, antes de seus olhos marejarem novamente. O alfa dele ainda estava lá, precisava apenas trazê-lo para fora.
— Diga a ele, chame-o de volta — Jungkook pediu a seu ômega. Taehyung franziu o cenho quando ouviu suas palavras.
Em todos os seus anos de vida, Jungkook nunca permitiu que seu ômega tomasse o controle fora de seus cios, era uma maneira de não deixar-se levar pelos sentimentos de seu lobo. Mas precisava que ele viesse naquele momento, precisava que houvesse a reconciliação entre seus lobos, para que Taehyung e ele pudessem fazer o mesmo. Jungkook sentiu uma presença abraçá-lo por completo, pôde sentir com intensidade novamente, a presença do ômega em seu peito, era como se seu ômega houvesse finalmente despertado de sua própria dor. A partir daquele momento não era mais Jungkook, era o ômega com o qual dividia sua alma, ele encarou com Taehyung com intensidade e permaneceu quieto por alguns segundos, seus dedos percorreram pelas bochechas magras dele, pelas bolsas roxas em volta de seus olhos e sua expressão abatida. Seu ômega notou naquele momento, o quão frágil e quebrado ele estava.
— Meu sol? — Seu ômega o chamou e Taehyung arregalou os olhos. O castanho antes tão intenso deu lugar ao belo carmesim de seu lobo, o que fez tanto seu ômega quando o próprio Jungkook sorrirem.
— Me perdoe minha lua — o alfa pediu com os olhos marejados e seu ômega sorriu, ele assentiu e a expressão de Taehyung pareceu ainda mais chorosa. — Me perdoe por ter lhe machucado.
— Me perdoe também por deixá-lo só? — Perguntou e fez um carinho singelo em suas bochechas, o alfa assentiu e deixou que as lágrimas escorressem por suas bochechas. — Vamos deixar que nossos meninos se curem juntos, hm?
O alfa assentiu e seu ômega sorriu orgulhoso, ele aproximou seus rostos e colou suas testas, as mãos de Taehyung cobriram as suas e ambos permaneceram em um silêncio por alguns segundos, seus olhos estavam fechados e seus lobos voltaram a se recolherem. Quando sentiu o abraço de seu ômega partir, Jungkook suspirou aliviado, era como se tivesse novamente o capítulo faltante em seu livro, finalmente poderia continuar sua história sem sentir-se incompleto. O cheiro de café voltou a cobri-lo como um véu e deixou que um sorriso sincero surgisse em seus lábios, sentia tanta falta daquele cheiro, daquela presença acalorada e da sensação de segurança que ela passava, sentiu muita falta da presença de Taehyung. Quando abriu os olhos novamente, seu alfa parecia se recuperar do turbilhão de emoções que havia o tomado também, mas assim que os abriu o encarou, aqueles olhos castanhos e intensos pareciam brilhar em sua direção, como se as milhares de estrelas sobre a cabeça deles dançassem em seu olhar.
— Obrigado por não desistir de mim — Jungkook agradeceu baixinho, ainda sem se afastar.
— Eu que agradeço por me dar uma nova chance — sorriu e fechou os olhos. — Vamos recomeçar?
— Aos poucos?
— Sim, no nosso tempo — Taehyung respondeu e Jungkook assentiu.
~❤️~
SUNYE FOI DE CAMISA DE SAUDADEEEEEE
Uma das coisas que mais que incomodavam nessa fic era o final que eu trouxe para a mãe do Jungkook. Eu era bem nova quando escrevi essa fic, minha cabeça de agora não cai mais naquele papo de "ah é mãe" ou "tem que perdoar porque é família" e pipipi popopo.
Um filho da puta é um filho da puta, independente do parentesco.
Então, o que acharam do final? Foi bom? Gostaram das mudanças?
Gente a fic não acabou não hein? Calma o coração que ainda tem mais um capítulo KKK
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