Mulher, vê se me esqueces!
Vê se tu deixas longe de mim
esses teus olhos de Medusa.
Ai de meu volúvel coração,
alvo desse teu poder descabido.
Que faço eu diante dessa injustiça dos céus?
Teus cabelos enganam-me quando,
sedosos, escondem segredos astutos
de tua natureza de mulher.
Quem diria que
subitamente
me prenderiam a ti?

És tu tão curiosa quanto a psiquê,
removeste a máscara
da minha alma
com tanta facilidade que,
num vacilo,
vi-me despido por ti!

Ah, mulher!
Poderia eu ter-te por
toda a eternidade?
Tuas palavras,
secretamente,
endereçadas a mim.
Tu, que fostes protagonista de
um amor proibido.
Ah! Que fazem os enamorados
quando o mundo diz que "não"?
Perdidos ficamos
diante de nossas máscaras.
Erro nosso, erro de homem e mulher:
em meio às intrigas de famílias,
morremos envenenados de amor.

Agora, neste ato,
tu és alvo do meu ciúme.
Tanto morro de amores por ti,
que parte de um plano vil eu fui:
ah, Desdemona!
Perdão pela loucura desmedida!

Tu também, que mudas de anjo a demônio
em um canto doce e vil.
Não me olhes por muito tempo, mulher!
Todos sabem que nas águas do mar,
o cuidado não deve falhar.
Ai de mim! Se tua voz me encontra...
Não me deixes chegar perto
desta cruel armadilha
que é cair nos teus encantos!
Tu, que me levas do
mais puro êxtase
ao fundo das águas frias:
em maresia meu coração
antes de tragado por ti.
Fui um de tantos outros,
desde Os Lusíadas até em
meio aos rios da Amazônia, mãe d'água!

Tu, personificação da sedução e amor.
Tu, que em teus templos
embebedam-se, os loucos, de amores.

Tu, que te mostras tão forte quanto
o mais bravo guerreiro grego.
Que vai contra o que é definido
por mulher.

Tu, que és dona do conhecimento.
Que mostras tua sabedoria
ao alcançar minh'alma,
sem esforço algum.

Afasta-te de mim,
em todas as tuas faces,
pois que miserável homem serei
ao cair nas armadilhas de tuas palavras.
Permaneço firme, centrado.
Me esquece, mulher!
Não te lembres de seduzir-me
com esses teus olhos.
Não te lembres de mexer teus cabelos, distraída,
e lançar em mim teu perfume proibido.
Esqueças de lançar em mim
teu mais poderoso feitiço...
Não esqueças de...
Ah, perdi-me em meio a ti, mulher!

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2º lugar no concurso de poesia do blog Uma Dose A Mais —
Disponível no livro "Poesias de Ouro"
03/08/2017