Cap. 10: De quem é a culpa?
APATIA
A.PA.TI.A
substantivo feminino
Estado de alma não suscetível de comoção ou interesse; insensibilidade, indiferença.
APATIA, Aquele sentimento destruidor que consome como fogo os bons sentimentos e deixa somente os mais sombrios, quando deixa.
Aquele sentimento capaz de esfriar
o coração mais quente e corromper o
mais forte. Era um monstro impossível de derrotar, impossível para quem não tinha forças para, sequer, erguer o olhar e ver o próprio reflexo no espelho.
O enorme closet, um dia fora o seu castelo, o lugar onde brincava de esconde-esconde com sua babá, seu lugar favorito. Mas agora, aquilo lhe dava ânsia de vômito, assim como quase tudo naquela mansão enorme. Enquanto o motivo de todo o seu ódio não vinha infernizá-la, ela bebia desesperada como se encher a cara fosse o refúgio de seus problemas e dilemas, a garrafa de Uísque já estava pela metade.
Que tudo se foda!
Era o mesmo pensamento de todos os dias. Não via motivo para viver, não via motivo para sorrir. Mais um dia de vida era para ela um martírio. As incontáveis tentativas de suicídio depois do início do ano, só não deram certo por um único motivo. HIDEKI. Sempre que tentava tirar a própria vida, aquele sorriso vinha em sua mente. Aquele sorriso... Ah! Aquele sorriso, era o suficiente para fazê-la largar o veneno, a faca, e desistir de se jogar da sacada da alta mansão.
Ela não se lembrara do dia em que falou com ele pela primeira vez. O que ele lhe dissera era que ela tinha tentado um flerte com Adray. O engraçado é que ela não se lembrava de nada, mas passou a odiá-lo, sem mesmo saber o porquê.
O que importa é que Hideki agora era seu motivo para manter-se de pé. Lutando com todas as forças para vencer o ódio e a escuridão que encobriam seu interior.
Vamos arrumar as malas, Michelle.
Largou a garrafa de álcool no chão e foi até o closet cambaleante. Tirou um amontoado de roupas e jogou em uma mala.
ㅡ Eu preciso de um banho. Ruth!
ㅡ Já estou... ㅡ Ela entrou no quarto e se deparou com uma bagunça, roupas jogadas e o chão ensopado de álcool. ㅡ Michelle!
ㅡ Cala boca! Eu estou com dor de cabeça. ㅡ massageou a lateral da cabeça com a Ponta dos dedos.
ㅡ Se seu pai te ver assim ele...
ㅡ Cala boca! Arruma tudo isso e prepara meu banho. ㅡ Ela foi em direção a porta, mas quando tocou na maçaneta vomitou.
ㅡ Me deixe limpar tudo isso. ㅡ Disse Ruth, tristemente. Ela cuidara de Michele quando esta era criança, seu pai exigente e prepotente, sempre exagerava em correções desnecessárias. Ruth já tinha perdido as contas das vezes que viu Tanto filha, como mãe apanharem por motivos fúteis. Uma vez, Michelle foi espancada porque tirou oito em uma prova. Ruth não podia protestar, além de ser uma mera empregada para o dono da casa ㅡ senhor, como exige ser chamado ㅡ poderia apanhar também.
No banheiro, a água forte do chuveiro, abafava os solução e escondia as lágrimas de uma alma vazia, que era espremida como uma esponja, rachando o solo de um coração seco.
Ela poderia sofrer um infarto naquele mesmo momento.
Levantou-se e foi em direção a porta, pegou a toalha antes e saiu. O entrar no quarto viu as malas e as roupas dobradas em cima da cama.
Obrigado Ruth!
As lágrimas começaram a descer, descer desobedientes pelo rosto. E ela gritou.
A viagem podia esperar. A viagem tem que esperar.
ㅡ Ah! Sim, estou me arrumando, você vem para cá?
ㅡ Mais tarde, preciso ter certeza que a minha mãe vai ficar bem, e que o Adrian não vai dar o ar da graça por aqui.
ㅡ Sabe, Eu tenho percebido que ele está sumido. Tenho receio de que ele esteja aprontando algo.
ㅡ Todos temos... ㅡ Hide deu um longo suspiro, e eu me preparei para o que estava por vir, ou pelo menos tentei. ㅡ estou pensando em largar os estudos.
ㅡ Como é?! ㅡ Aquilo foi como um soco no meu estômago ㅡ Cara, pelo amor de Deus, trata de tirar isso da cabeça e...
ㅡ Adray, para de gritar. Eu não tenho muitas escolhas. Meu irmão virou um drogado, meu pai foi assassinado, e se eu não vigiar... minha mãe também vai para o saco. ㅡ Aquilo me fez paralisar. Eu estou de mãos atadas, como sempre. Sabe, é horrível ver alguém tão importante ir morrendo aos poucos, perdendo a alegria, a vontade de viver e você ficar de mãos atadas.
Mas desta vez não!
ㅡ Eu já te disse que quero e posso ajudar, mas você sempre recusa. Larga de ser orgulhoso! ㅡ Rebato.
ㅡ Olha, eu compreendo que você e sua família têm vontade e condições para me ajudar. Mas eu não quero que vocês se arrisquem por mim. ㅡ Um silêncio constrangedor tomou conta da linha.
EI, SEU VIADINHO! ㅡ Ouvi um berro alterado do outro lado.
ㅡ Adray, eu vou desligar. Mais tarde eu apareço por aí.
ㅡ Hide... ㅡ Fui entrecortado pelo desligar do outro lado da linha ㅡ Se cuida, irmão. ㅡ Completei para mim mesmo. Meu coração estava angustiado. Sempre fica, quando o desgraçado do Adrian resolve infernizar naquela casa. Parecia - e de longe era mesmo - um enviado das profundezas do inferno para assombrar aquela casa.
ㅡ Marlon? ㅡ A mãe saiu, arrastando-se pelo corredor.
NÃO POSSO DEIXÁ-LA DESCER, DE JEITO NENHUM
ㅡ Mãe! Vamos entrar, volte para o quarto.
ㅡ Não. O Marlon está lá na sala. Eu quero ir vê-lo, me deixa descer. ㅡ Disse ela, se desprendendo dos braços fortes e correndo em direção a sala. ㅡ Marlon!
Aquilo era insuportável, ele não aguentava mais. As lágrimas começaram a descer, lágrimas de cansaço, de ódio, de revolta.
POR QUE?! POR QUE COMIGO?!
ㅡ Ei, sua vadia! ㅡ Disse aquela voz grogue, nojenta que lhe dava ânsia de vômito.
ㅡ Você não é o Marlon. Ai, Socorro! ㅡ Hideki voou para a escada, Adrian estava puxando pelos cabelos para o meio da sala.
SEU DESGRAÇADO!
Ele saltou do segundo andar e caiu em pé no chão da sala de estar. Deu uma voadora, de pronto, na nuca do irmão, e ele cambaleou para o lado. A mãe caiu no chão desorientada, e com os longos cabelos brancos cobrindo seu rosto.
ㅡ Você é um canalha! ㅡ O bêbado gargalha com a ofensa, cuspindo a bebida que acabara de colocar na boca. ㅡ Você não é muito diferente de mim, Hideki. Eu estou onde estou por culpa sua, você sabe disso. ㅡ Rebateu.
ㅡ Você é o único responsável por esse pedaço de merda que se tornou.
ㅡ É? ㅡ gargalhou novamente. ㅡ Esqueceu do que você fez ao velhote?
ㅡ Cala boca... ㅡ Hideki encarou o chão trêmulo, seus punhos cerraram impulsivamente. Os fantasmas interiores começavam a assombrar novamente.
ㅡ Vamos Hide, confesse, você é tão pedaço de merda quanto eu. ㅡ Disse Adrian, com um sorriso escarnecedor.
Dizem que a nossa consciência é um tribunal, e parece que a minha me sentencia a cada palavra que aquele lixo cospe.
ㅡ Cala boca! ㅡ Em súbito, outra voadora. Dessa vez o bêbado desviou para o lado, rindo. - Você destruiu a vida dela! - Hideki apontou para a idosa que estava inerte ali, encarando-os com um olhar vazio.
Será que ela estava ali mesmo?
Ou estaria em alguma outra dimensão em sua mente, dançando com seu amado Marlon... meu pai?
ㅡ Posso ser um pedaço de merda, e ter feito o pingo de paz que existia nesta casa ir para o espaço... ㅡ Ele encarou Hideki com um olhar julgador ㅡ Mas você também tem culpa no cartório, até mais que eu.
ㅡ Onde está o Marlon? ㅡ A mãe deles começa a falar, do nada. ㅡ Marlon? Onde está você querido?
ㅡ Vou te mandar para onde ele está... ㅡ Disse Adrian com ódio no olhar.
ㅡ É?! Me leva! Me leva! Onde ele está? ㅡ Ela começou a andar serelepe até a porta, desesperada. Na euforia não percebeu quando o filho mais velho retirou um revolver da cintura e mirou em sua cabeça.
Hideki correu para sua mãe. Tudo em câmera lenta.
Não vai dar tempo, eu não vou conseguir, não vai dar tempo!
Rapidamente, um flashback. Seu pai correndo em direção à uma rua deserta.
ㅡ Vamos filho, se não nos apressarmos, não vai dar tempo.
ㅡ Não quero ir por aí pai, estou com um aperto no peito.
ㅡ Esse é o caminho mais rápido, quero assistir sua apresentação. ㅡ e então, o jovem seguiu correndo, a contragosto, sumindo junto com seu pai na escuridão do beco vazio e sem iluminação.
De volta a realidade, lágrimas começaram a descer pelo seu rosto, embaçando seus óculos e a morbidez tomou conta do seu coração.
QUE IRONIA!
E de repente, o som seco de um tiro se fez ouvir. Hideki caiu no chão.
______________
AUTOR ON:
Então é isto, bem... recebi algumas críticas a respeito do meu "afeto" pelas personagens. Aparentemente, não dou o devido valor as personagens desta história. Portanto, nos próximos capítulos, os personagens serão MUITO mais explorados (o que aconteceria natural e inevitavelmente). PREPAREM-SE.
Ah! E não esqueçam de dar aquela star marota e aquele comentário Show.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro