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Mentiras Imperfeitas

Notas da Autora:

Da mesma produtora de John Wick, vem aí "Queen – De volta às Raízes".

Depois de quase seis anos sem escrever, a gente se pergunta se ainda sabe escrever algo que entusiasme alguém. Naruto me trouxe inspiração que eu precisava para voltar ao jogo e nunca serei suficientemente grata ao meu namorado por insistir que eu assistisse. Meu amor, dedico essa fanfic à você, que nunca desistiu de me mostrar quão incrível posso ser. <3

Kakasaku se tornou meu xodó logo que eu entrei nesse universo e a falta de um gênero parecido com o que estou apresentando hoje me forçou a tomar alguma providência. Espero que gostem de lê-la, tanto quanto eu gosto de escrevê-la. Me sentirei muito honrada em tê-los como leitores. Que todos que se dispuserem à ler sejam muito bem vinda(o)s!

Boa leitura! <3

Capítulo:


                          Aos domingos, pela manhã, quando nos sentávamos à mesa para a primeira refeição do dia, costumava fitar seus olhos escuros em busca de respostas. Observava o lento progresso de seus dedos até a xícara fumegante de café, levando a porcelana aos lábios finos enquanto folheava, sem muito interesse, um jornal com as notícias do dia. Nestes momentos, entre uma página e outra, eu recebia o privilégio de ter sua atenção, mesmo que por alguns segundos.

- Bom dia, Sakura-chan. – Dizia, notando minha presença inquieta do outro lado da mesa.

- Bom dia, Sasuke-kun. – E eu o respondia, não contendo meu entusiasmo em tê-lo tão próximo.

Minutos depois, quando nossos olhares se partiam e voltávamos a ser o mesmos estranhos de sempre, tornava a me entreter com sua introspecção.

Eu estava ciente, desde o princípio, que fazia parte do meu destino pertencer à Sasuke Uchiha. Tinha ansiado por isso desde os meus doze anos e recordava-me de como tinha vibrado ao tomar conhecimento de nosso compromisso, um ano mais tarde.

Naquela época, eu não havia entendido o peso de nosso relacionamento arranjado e tinha abdicado de minha própria individualidade sem pestanejar. A amizade entre nossos pais tornou possível que convivêssemos ao longo dos anos, o que, de longe, havia nos possibilitado que compartilhássemos de intimidades, mas permitiu que criássemos um laço afetivo sem muitos excessos. Nesse interim, enquanto crescíamos à sombra de nossas responsabilidades eminentes, descobri que, tudo o que eu queria, era lhe sussurrar sobre o quanto estava feliz por ser sua.

Talvez este sentimento platônico tivesse me cegado para o que estava em minha frente o tempo todo, me impossibilitando de enxergar que, embora eu concordasse em me submeter à ser instrumento de uma aliança política, Sasuke não parecia ter o mesmo apreço pela ideia. Não conseguia evitar pensar que ele poderia ter se apaixonado por outro alguém, que provavelmente tivesse outros planos para os próximos anos de sua vida. Eu não tinha direito culpá-lo por sua falta de tato, uma vez que haviam lhe roubado a escolha de empregar seu tempo em coisas que realmente gostasse. Meu rosto devia ser o retrato de sua prisão.

Mesmo assim, quando nos deitávamos lado à lado, noite após noite, eu ainda agradecia baixinho pela oportunidade de estar ali. Não me orgulhava de ser tão egoísta, mas amá-lo era a sina que havia aceitado de bom grado.

Dois anos e meio depois, eu ainda enfrentava dificuldades para aprender a como agradá-lo, apesar de que, após o primeiro ano juntos, os encontros que nunca tivemos antes de casar, tivessem se tornado frequentes.

- Está pisando no meu quimono. – Sorri, entre os selinhos que ele depositava nos cantos dos meus lábios, enquanto suas mãos tateavam às escuras as laterais do meu corpo. O festival da primavera de nosso primeiro ano de casados havia nos rendido boas recordações, em principal, a da primeira vez em que Sasuke havia me tocado com tanto afinco.

- Se importa que eu o tire de você? – A pergunta havia me feito estacar, enrubescendo-me dos pés à cabeça. Não que não tivéssemos consumado o casamento na época, mas nossas noites eram sempre presididas por toques rápidos e pouco diálogo, logo, a falta de roupa era um detalhe com o qual Sasuke nunca havia se preocupado, até aquele dia.

- Desculpe. – Ele afastou-se, passando as mãos pelos cabelos negros. As bochechas ruborizadas denunciando sua embriaguez. O analisei dos pés à cabeça, notando que sua roupa amarrotada revelava parte do peitoral liso e firme e o quão desejosa eu estava de tocá-lo ali. Corri as mãos para a fita que prendia meu quimono, desatando o nó enquanto o deslizava pelos braços. Sasuke arregalou os olhos.

- Não se desculpe. – Ditei, aproximando-me de seu corpo teso. – Eu o quero. – Completei, direcionando suas mãos para os meus seios.

Naquela noite, apesar de ter ponderado minha atitude, Sasuke tinha me tomado para si, me devorando do jeito que eu havia ansiado para tê-lo. Agraciá-lo daquela maneira parecia fácil e eu acreditei que finalmente tínhamos algo em comum; o desejo. No ano seguinte, encontramos uma maneira de servir ao nosso propósito juntos. Enquanto eu seguia os passos de Mikoto-sama, aprendendo os trejeitos de como comandar o casarão dos Uchiha, Sasuke dedicava-se à assumir o posto renegado pelo irmão mais velho, voltando, por vezes, cansado demais até para elogiar minha vitória contra a fobia de cozinhar.

Ainda assim, nos intervalos em que nos encontrávamos entre nossas obrigações, podia sentir que tínhamos criado um vínculo, ainda que frágil. O trabalho árduo havia tomado muito de nosso tempo, fazendo com que Sasuke costumasse a ficar horas após o expediente, bem como os afazeres domésticos cujo eu não tinha muita habilidade em executar, a princípio. No entanto, enfim parecíamos verdadeiramente realizados um com o outro.

Ou, pelo menos, era assim que eu gostava de pensar.

Acreditar que tínhamos encontrado a felicidade em nosso convívio fomentava a esperança de que, um dia, todas as manhãs fossem como os domingos, onde ele sempre estaria ali para me desejar um bom dia. Esse era o estímulo com o qual contava para prosseguir com minhas tarefas exaustivas e, no entanto, aquela cordialidade não pareceu ser suficiente para anular as frustrações com as quais eu passei a me deparar ao longo dos próximos meses.

Às quintas feiras, no começo Julho, Sasuke passou a se atrasar para os jantares. Com sua ausência recorrente nas refeições, aguardá-lo na poltrona da sala, entre um cochilo e outro, havia se tornado um ato corriqueiro para mim. Em Setembro, numa quarta-feira fria outono, adormeci no sofá, sendo acordada por um sussurro exasperado:

- Sakura, o que está fazendo aqui?! – Sorri, ainda sonolenta, estendendo-lhe a mão para que se aproximasse.

- Estava te esperando. – Sasuke negou com a cabeça, visivelmente irritado.

- Já falei que não precisa fazer isso. - Cambaleei para próximo dele, agarrando o colarinho úmido de seu sobretudo.

- Mas eu gosto. – Segredei, enquanto me inclinava para beijá-lo.

- É – Ele meneou a cabeça, afastando minhas mãos de seu corpo e impedindo que eu me aproximasse mais. – Mas eu não! – Engoli em seco, sendo pega de surpresa pela revelação.

- Ah – Suspirei, constrangida. – É que... você nunca se opôs. – Apertei meus dedos contra as palmas das mãos, tentando arranjar uma justificativa para meu erro. – Achei que apreciasse.

- É por que você não me conhece, Sakura! – Deu de ombros, parando no primeiro degrau da escadaria que levava ao andar de cima. – Se me conhecesse, saberia muito bem que não gosto que tentem me controlar desse jeito.

Eu quis refutá-lo. Quis acusá-lo de estar enganado e de estar sendo injusto comigo. Mas, quando sua silhueta esguia desapareceu pelos corredores escuros, entendi que havia perdido a oportunidade de me posicionar sobre. Nos dias que se seguiram, tentei ser compreensiva à sua atitude, convencida de que deveria tomar mais cuidado com minha devoção impulsiva, pretendendo utilizar o ocorrido como um aprendizado. Eu só gostaria de ter contornado esse desentendimento tão rápido quanto aprendi a ser cautelosa.

Outubro havia chegado trazendo o prenúncio do inverno e assim como os galhos secos das árvores de nosso jardim particular, Sasuke havia se tornado ríspido e arredio, se reportava a mim apenas quando necessário e não parecia fazer questão de disfarçar o quanto ficava impaciente na minha presença. Parecia ilógico que algo tão pequeno tivesse causado uma mudança tão drástica em sua personalidade, outrora tão afável, o que me fazia pensar que, talvez, Sasuke tivesse razão.

Talvez ele sempre tivesse sido mais austero, fazendo um esforço para ser agradável comigo todo esse tempo e eu, com meu jeito parvo, havia consumido, enfim, toda a sua energia. Suas novas atitudes não nos davam margem para um diálogo, mas me permitiam observar hábitos que não havia notado anteriormente e me faziam perceber que ainda sabia, de fato, muito pouco sobre ele.

O que ele gosta de comer? O que ele gosta de fazer ?! No que está pensando quando franze aquelas sobrancelhas para os jornais todas as manhãs? Para cada uma das perguntas, eu tentava idealizar uma resposta, ainda que sua expressão impassível não me desse nenhuma pista. Imaginar sobre o que ele gostava era, agora, um dos poucos métodos que me faziam sentir mais próxima dele.

Quando minha mente retornava de sua retrospectiva para a mesa de café da manhã, quase sempre, eu encontrava seus segredos me encarando de volta, zombando da minha incapacidade de decifrá-los. "Por que você está me torturando?", eu pensava, "Por que está tão distante de mim?", nós nunca mais nos recuperamos e o pior é que eu nem havia entendido o que tinha feito de tão errado, até passar a suspeitar de que não tivesse assim tanta culpa em sua mudança de comportamento.

Pensar no termo infidelidade comumente é o que mulheres na mesma situação que eu faziam primeiro, contudo, eu me recusava a cogitar a possibilidade, até encontrar um pequeno pedaço de papel amarrotado, enquanto polia os móveis do escritório de Sasuke:

" Me encontre no Ichiraku esta quinta, preciso te ver.

Por favor, não se atrase.

K."

Era um bilhete de poucas palavras escrito em letras cursivas, mas emanava o inconfundível cheiro adocicado de uma fragrância feminina. O perfume dela!

Eu podia estar tirando conclusões precipitadas mas, depois de seis meses suportando suas implicâncias gratuitas, as noites mal dormidas, os atrasos constantes e o mau humor atípico, pareciam fazer muito mais sentido se associados à sua perda de interesse em mim e pelos próximos dias que se seguiram até quinta-feira, ela povoou meus pensamentos.

Eu a imaginava esbelta e curvilínea, com os encantos que meu corpo franzino não possuía. O cabelo macio e lustroso adornando um rosto expressivo e harmonioso, diferente de meus longos cabelos rosa desbotados, que estavam sempre acompanhados de um semblante abatido. Construir sua aparência era uma crítica à negligência com minha própria vaidade.

No entanto, ainda que meu aspecto atual deixasse a desejar, eu havia engavetado meus próprios desejos para servi-lo. O amava tanto que seria impossível expressar todo o afeto que lhe dedicava, enquanto Sasuke apenas havia nutrido minhas fantasias com falsas promessas.

Ao longo da semana, enquanto ocupava meu tempo com a limpeza dos cômodos da casa, tentava me confortar com a ideia de que tudo se tratava apenas de uma suposição e que este problema, só devia existir na minha cabeça. Ainda assim, quando tateei o lado vazio da cama, um dia antes de estar ali, a dor lancinante da dúvida havia se tornado a força cujo me agarrei para descobrir a verdade.

Japão, Konohagakure, 11 de Março de 2021.

O Ichiraku era um edifício de cor preta com janelas largas e escuras, varandas íngremes e um enorme letreiro em neon na cor púrpura. Holofotes pontilhavam o perímetro da construção, projetando sombras com seus feixes oscilantes e uma fonte de mármore precedia às portas de vidro fumê, gorgolejando enquanto cuspia água pelo chafariz. O local era uma boate bastante frequentada na área sul de Konohagakure e apesar da reputação, entregava uma aparência demasiadamente refinada para uma casa noturna.

- A senhora tem certeza de que quer que eu a deixe aqui? – O motorista do táxi chamou minha atenção, as sobrancelhas grossas franzidas.

- Sim. Obrigada! - Sorri, no intuito de parecer mais confiante de minha resposta, recolhendo o troco pelo pagamento da corrida e enfiando-o no bolso. Ainda relutante, o homem deu a partida no carro, despedindo-se com uma desaprovação implícita no olhar. Quando o Toyota Crown 1980 virou a esquina, sumindo do meu campo de visão, eu soube que não tinha mais volta. Eu precisava encarar a situação em que havia me metido.

Aquele bilhete tinha levantado os questionamentos mais íntimos de meu âmago e apesar de estar ansiosa para conhecer a remetente misteriosa que havia semeado a discórdia em meu casamento, estava mais inquieta para descobrir o que faria a seguir. Ainda que o receio de que eu pudesse estar cometendo um terrível engano por incapacidade de conter minhas inseguranças prevalecesse, a desilusão que sentia alimentava meu ímpeto em continuar, mesmo que ainda não tivesse uma reação pré-determinada para o possível adultério de meu marido. Eu estava depositando minhas esperanças em que, assim que os visse juntos, descobriria o que fazer a seguir ou, pelo menos, era assim que eu esperava que acontecesse.

Ainda do outro lado, sequei as palmas das mãos úmidas nas jeans largas, tirando do bolso da camiseta de algodão, o ingresso amarrotado. Em seguida, atravessei a rua, sendo acometida pela insegurança a cada novo passo. Quando me posicionei atrás de um casal para aguardar na fila, notei que, talvez, estivesse com uma roupa inadequada para a ocasião. Enquanto uma jovem, dois lugares a frente, estava vestida com um conjunto de paetês cor de prata, o casal à minha frente estava trajado à rigor e eu, que não planejava ser notada, tinha me botado em evidência. "Ótimo", pensei, ainda mais frustrada.

Assim que cheguei às portas de entrada, o segurança que supervisionava a movimentação dos convidados ergueu as sobrancelhas, olhando-me de cima a baixo com divertimento.

- Está perdida, gatinha? - Ignorei sua pergunta e permaneci em silêncio, lhe estendendo o convite. O homem tomou o pequeno papel de meus dedos, inspecionando-o para verificar sua veracidade. Por fim, quando se deu por satisfeito, sinalizou que eu me aproximasse, tirando de uma urna uma pulseira de papel na cor laranja. – Seja bem-vinda ao Ichiraku! - Disse, colocando a fita em meu pulso. – Que todos os seus desejos possam se realizar essa noite! – Frisou, piscando sugestivamente para mim.

- Obrigada! – Agradeci, desconfortável. – Poderia me dar licença? – O homem sorriu, cedendo-me espaço para que eu adentrasse o recinto, o que fiz sem demora, tendo meus movimentos acompanhados por seu olhar lascivo.

Uma melodia abafada passou a se fazer presente à medida que comecei a avançar pelo corredor estreito que supunha levar ao centro do prédio, ecoando pelas paredes carmesim e fazendo com que as lâmpadas azuladas vibrassem com estalidos elétricos. Ao fim do declive, com volume alto o suficiente para me deixar atordoada, um par de cortinas espessas era tudo o que me separava da verdade.

- Vamos, Sakura. Você consegue! – Me encorajei, limpando o suor de minhas têmporas com o antebraço.

Puxei as cortinas para os lados como um curativo, tentando me acostumar com a iluminação dúbia do local quando passei a me locomover pela multidão agitada. O primeiro andar era imenso e eu não tinha me dado conta de que minha tarefa seria tão complicada, até tentar distinguir a quantidade de silhuetas cada vez que feixes de luzes coloridos bruxuleavam pelo salão.

Alcancei o retrato de Sasuke no bolso traseiro de minha calça, planejando iniciar minha busca do modo convencional, mas sustentei esse método por pouco tempo, uma vez que a maioria das pessoas não estavam muito interessadas em largar de suas atividades supérfluas para me auxiliar com meus problemas pessoais. O bar era a minha última tentativa antes de partir para o próximo andar e estava prestes a me inclinar para pedir a informação, quando um dos quatro telões do espaço reproduziu uma gravação da pista de dança. A pouca iluminação não enriquecia a qualidade da imagem, mas eu podia apostar ter visto os vislumbre dos cabelos negros e espetados de Sasuke.

- Sasuke... – Murmurei, a garganta ressequida produzindo um ruído esganiçado. Tentei alcançá-lo, cortando caminho pelos degraus dos palcos dispostos no salão, acotovelando-me por entre as frestas dos corpos que se friccionavam no centro da pista de dança. Quando já não existia mais espaço pelo qual eu pudesse lutar para chegar ao outro lado, fiquei presa entre a amurada que levava aos elevadores e o amontoado de indivíduos alcoolizados que me esmagavam contra a parede, cada vez que se moviam.

Eu ainda estava longe demais para alcançá-lo, mas estava perto o suficiente para que eu pudesse ver o exato momento em que entrou em um deles, cercado de brutamontes dos quais eu desconhecia. Estava vestido com os trajes cerimoniais da família Uchiha e carregava no ombro direito uma espada samurai. Era assustador para mim reconhecer que, mesmo que ele estivesse partindo meu coração, eu ainda continuaria achando-o o homem mais bonito que já conheci.

- Sasuke! - Gritei, agarrando-me nas barras de proteção a fim de elevar meu corpo. – Sasuke! – Quando seus intensos olhos negros recaíram sobre mim, tive a certeza de que ele havia me escutado. Seu rosto esculpido tingido de carmim, foi a última coisa que vi antes das portas do elevador se fecharem, levando-o, mais uma vez, para longe de mim. – Não!

Eu não queria estar certa, eu não pedi por isso. Tudo o que eu queria era voltar para casa para me deitar eu seus braços e justificar minha frustração em não encontrá-lo com o fato de que Sasuke permanecia sendo apenas meu. Mas, eu já devia ter aprendido que a realidade tendia a ser mais áspera do que em minhas fantasias bobas.

Eu estava em pedaços, sufocando sem realmente ter parado de respirar. Eu não o tinha pego com outro alguém a quem pudesse culpar suas atitudes inconsequentes, mas havia encarado sua forma mais dura de sinceridade; O silêncio.

Abracei meus próprios braços e me atirei na multidão, limpando as lágrimas que escorriam por minhas bochechas quentes com a manga da blusa. Eu me sentia pequena e nauseada e me deixei ser empurrada até as portas do banheiro, onde eu poderia buscar um alívio para meu descontrole emocional. Ao invés disso, enquanto tentava apertar o botão do bebedouro que antecedia a entrada com as mãos trêmulas, me debulhei em légrimas.

O choro incontido era acompanhado de uma dor cujo não sabia mensurar e enquanto deslizava ao chão com os cabelos úmidos e a testa arranhando o metal do aparelho, soquei meus próprios braços. Eu me odiava. Odiava não ter sido suficiente para ele e para mim mesma. Me detestava por minha aparência medíocre e por não ter aprendido na academia como uma boa esposa deveria ser. Eu era um fracasso em todos os aspectos de minha vida e toda a dor que eu me infringisse ainda não seria o bastante para punir meus descuidos.

Estava tão concentrada em castigar meu corpo que só notei a aproximação de alguém quando duas enormes mãos tomaram meus pulsos e os puxaram, fazendo-me rodopiar e parar em frente à uma parede robusta vestida em um terno verde musgo.

- Você está bem? – Essa era a pior pergunta que poderiam me fazer naquele momento, mas sua voz morosa e o calor terno de suas mãos apenas contribuíram para que eu abaixasse minhas defesas.

- Não. – E o abracei, agarrando-me à sua roupa como se minha vida dependesse disso. O estranho, por sua vez, apenas afagou minhas costas e suportou meus soluços, mantendo-me em pé com a força de seus braços. Quando virei meu rosto para cima, espremendo-o contra seu peitoral, encontrei a peculiaridade de seus olhos bicolores. O direito, preto como o de Sasuke e o esquerdo, adornado por uma cicatriz, castanho avermelhado. Grandes globos gentis que pareciam querer despir minha alma, a cada minuto a mais que me demorava encarando-os.

O sujeito era singular em todos os seus pormenores, desde o cabelo esbranquiçado que lhe cobria a testa, até a máscara que ocultava o restante de seu rosto e pescoço e eu não pude evitar desejar me livrar daquele tecido para conhecer além do contorno de seus traços escondidos. Quando suas mãos deslizaram pelos meus ombros, afastando-me do conforto de sua proteção, recobrei meu juízo.

- D- Desculpe. – Balbuciei com a voz embargada, antes de me desvencilhar e irromper pela multidão novamente, parando apenas quando me encontrava do lado de fora daquele pardieiro.

A viagem de volta para casa fora um martírio. Enquanto a primeira chuva da primavera açoitava os vidros do carro, eu me encontrava incapacitada de assimilar tudo o que sentia. Já no casarão, subindo as escadas com os pés molhados, observava os pequenos detalhes que, agora, tinha permissão para mudar e como aquilo parecia ser distante de tudo já que sonhei um dia.

Me deitei, banhando os travesseiros macios com o meu pranto e estiquei os dedos para o lado vazio da cama, agarrando o lençol que ainda tinha o perfume de Sasuke. O cheiro do sândalo era a última coisa de que me lembrava, antes de ser acordada na manhã seguinte com batidas na porta.

- Sakura! – A voz inconfundível de Mikoto-sama, reverberou pelo quarto. – Sakura! – Olhei para o relógio no criado mudo ao lado direito da cama, notando que já se passava das oito horas da manhã, o que, para Mikoto-sama, significava que eu estava atrasada para as minhas obrigações. – Sakura, não pode passar a manhã inteira aí. – Revirei os olhos, sentindo minha cabeça latejar.

Me levantei a contragosto, arrastando meu corpo dolorido para o banheiro conjugado ao quarto. Lavei o rosto e esfreguei a nuca com os dedos úmidos, olhando-me no espelho logo em seguida. O cabelo despenteado emoldurava um rosto inchado com olheiras profundas e olhos irritadiços de tanto chorar. Eu poderia ignorar isso. Eu poderia me propor a esquecer tudo o que passei na noite anterior, deixando minha dúvida em aberto para não perder tudo o que construímos ou, poderia encurralá-lo em seu escritório, obrigando-o a expurgar de uma vez por todas o meu sofrimento. E antes que Mikoto-sama pudesse bater à porta mais uma vez, eu já tinha tomado minha decisão.

- O Sasuke está em casa? – A mulher franziu as sobrancelhas, a mão ainda pairando no ar.

- Mas é claro que está. Que pergunta é essa?

- Ele está no escritório? – Indaguei, ajeitando meu quimono.

- Sim, mas... – Antes que pudesse completar a frase, deixei-a para trás, rumando em direção ao primeiro andar da casa. – Aonde pensa que está indo?

- Preciso falar com o meu marido. – Repliquei, ouvindo-a resmungar enquanto tentava me alcançar com seus passos intercalados.

- Sakura, estamos muito atarefadas hoje. Não temos tempo para... – Ela retomou o fôlego, apoiando-se no portal de acesso à segunda parte dos cômodos. – Não temos tempo para essas futilidades! – E agarrou meu pulso, tentando me puxar de volta para dentro.

- Procure quem possa lhe auxiliar nesta manhã, Mikoto-sama. Chame Shizune, chame quem precisar, – Movimentei meu braço, tirando-o de seu alcance, tingindo sua feição impecável de espanto. – Mas esta manhã, eu preciso conversar com meu marido e não será a senhora que me impedirá de fazê-lo!

- Garota petulante, eu devia tê-la devolvido... – Não fiquei muito mais tempo para ouvir seus insultos e parti para a ala oeste, onde a porta de madeira incrustrada encontrava-se entreaberta. Irrompi pela fresta, encontrando Sasuke com seu habitual jornal em mãos.

- Bom dia, Sakura-chan.

- Onde você estava ontem à noite? – O cortei, determinada à não ceder diante de sua aspereza. Ele se inclinou, largou o noticiário na mesa e riu com escárnio.

- Em casa, onde mais eu poderia ter estado ontem? – Mentiroso, rosnei. Eu não conseguia acreditar como Sasuke ainda tinha capacidade de ser cínico, mesmo depois de ter me flagrado naquele lugar odioso. – A questão é, onde você estava ontem à noite? - Eu estava prestes à retrucá-lo, quando ele se interpôs. – Cheguei mais cedo do trabalho e esperava encontrá-la para lhe contar as boas novas, mas você não estava. - Ele esticou os dedos para alcançar a xícara de café ao lado de seu computador, soprando o vapor enquanto me estudava com os olhos. – Vi quando você chegou, de táxi. – Ele pausou, devolvendo a xícara de volta ao pires. – Eu fui ao banheiro e quando voltei, você já estava dormindo.

- Eu... – Impossível, pensei. Era praticamente impossível que eu tivesse imaginado tudo aquilo, mas era inegável o fato de que eu também não conseguia explicar como ele sabia exatamente o que tinha feito em minha chegada e isso me fazia duvidar de minha própria sanidade.

- Sakura, - Ele chamou minha atenção, erguendo-se de sua cadeira executiva para contornar a mesa até mim. – Sei que não tenho sido fácil de lidar. – Segurou uma de minhas mãos, acariciando a palma com seu polegar, como costumava fazer, antes de nos desentendermos. – Eu tinha planejado lhe dar isso ontem, quando a levaria para jantar fora. – Com a mão livre, tirou do bolso interno de seu paletó uma caixinha de veludo azul royal, depositando-a em minha mão. – Abra, por favor.

Desfiz o laço do embrulho, encontrando um colar de brilhantes cor de rosa, com a pedra central lapidada no formato de uma flor de sakura. Eu estava confusa. Me reconciliar com Sasuke era tudo o que mais desejei em meses, no entanto, não podia ignorar que eu estava em plena posse de minhas faculdades mentais e que, portanto, sua versão da história parecia ter algumas inconsistências. O fato de não saber como explicar não significava que a explicação não existia.

- Você não gostou? – Sasuke aguardava por minha resposta com ansiedade, ainda resvalando seu polegar em minha pele

- Sim, eu gostei. – Balbuciei, desconcertada. – É muito bonito.

- Pedi que o joalheiro fizesse especialmente para você. – Ele se aproximou, tomando a joia de minhas mãos e posicionando-se às minhas costas. Desatou o fecho, deslizando a pedraria por minhas clavículas expostas. – Eu não consigo viver sem você. – Meu coração acelerou e fui obrigada a me virar de frente para ele.

- Sasuke... – Murmurei, pouco antes dele me beijar. Seus lábios esfregaram-se gentilmente sobre os meus, enquanto cedia a passagem tão desejada de sua língua. Enlacei seus ombros, sentindo o calor alastrar-se por minhas pernas e quando nossas bocas se afastaram, ofegantes e úmidas, eu sorri, distante de todas as amenidades que ansiei pôr à limpo.

- Me perdoe. – Anui, o abraçando e por alguns minutos, acreditei que aquela era a resposta de Kami às minhas preces. Isso, até notar que o suporte de sua katana estava vazio.

- O que aconteceu com a sua espada? – Sasuke beijou minhas têmporas, afastando-se apenas o suficiente para me olhar nos olhos.

- Só agora notou que ela não está aqui? – Ele riu, ajeitando uma mecha de meu cabelo para trás de minha orelha. – Itachi a levou ano passado, quando voltou para a América. Você não se lembra?

- Não. Desculpe, eu não me lembrava. – E eu jamais me lembraria, porque esse acontecimento nunca existiu. A não ser que Itachi-kun a tivesse buscado no dia anterior, após eu tê-la polido, essa era a prova irrefutável de que sua mentira era imperfeita.

- Sakura, já que estamos aqui, eu precisava conversar sobre algo com você. – Voltei minha atenção para ele, tendo o entusiasmo substituído pela melancolia. – Fechei um negócio que nos trará muitos benefícios, com um cliente de muita visibilidade. – Tentei ficar feliz por sua conquista, mas tudo o que eu conseguia pensar era em seu rosto, oscilando entre o agora e o bordô. – Mas o trabalho tem seus riscos e meu cliente possui algumas inimizades que fariam de tudo para prejudicá-lo, inclusive, ferir a quem o serve.

- Onde quer chegar com isso? – Indaguei, desvencilhando-me de suas carícias. Ele me olhou em reprovação, voltando para sua posição inicial, atrás da mesa.

- Que, por isso, tomei a liberdade de contratar um segurança para você.

- Um segurança? Para quê? – Para me supervisionar que nem sua mãe? Que ótimo!, pensei, enfurecida. Com alguém de sua confiança em minha cola, jamais tornaria a ter paz outra vez.

- Preciso que você fique segura e esse é o único jeito. – O único jeito para me manter fora do alcance de seus objetivos com sua amásia, isso sim! Pessoalmente, a segunda opção me parecia bem mais convincente, mas não tive tempo de replicá-lo a respeito. – Bem na hora. – Sasuke disse, erguendo o rosto com uma expressão presunçosa. O barulho de passos havia me alertado, fazendo-me virar, curiosa, para quem quer que ele tivesse se referido, totalmente despreparada para o que viria a seguir.

Arregalei os olhos, sentindo minhas bochechas ruborizarem automaticamente. Ele estava trajado com uma roupa despojada, o que lhe conferia um ar menos sério do que eu havia lhe atribuído anteriormente. A máscara agora lhe cobria apenas a parte inferior de seu rosto, enquanto os cabelos platinados estavam penteados para o lado, permitindo que eu me hipnotizasse mais uma vez pelos seus exóticos olhos bicolores.

Pisquei algumas vezes, tendo dificuldade em acreditar no que via pois, parado na soleira da porta, com um exemplar de um livro amarelo ainda aberto em mãos, estava ele, o cara da boate.

- Sakura, eu quero que conheça Kakashi Hatake,o seu novo segurança.                                                   

Notas Finais:

             Bem, é issoo! Gostaria de agradecer quem teve o carinho de ler até aqui e desejar que voltem para o próximo capítulo. Espero que tenham gostado. Aguardo vocês ansiosamente nos comentários.

- G. <3 


(Lê-se improvisando para me comunicar com vocês) 

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