único
Chan respirou fundo enquanto bisbilhotava pelo canto do olho o homem mais baixo de fios negros e roupa amarrotada, ele estava todo sem jeito sentado no assento do passageiro ao seu lado, sua cabeça baixa denunciava sua embriaguez tangível, o cheiro de álcool fazia as narinas do australiano ficarem levemente dilatadas e sua teste se mantinha enrugada. Ele não queria estar ali ao lado do seo naquele momento.
Minutos mais cedo quando recebeu uma ligação inesperada do moreno, mesmo com seu coração pesado, não tardou em largar tudo que estava fazendo em seu apartamento para ir ao encontro do rapaz, o encontrando sentado na calçada de um bar qualquer em um estado deplorável. No mesmo momento que o viu, sua cabeça latejou. Ele tinha voltado a beber, e aquilo deixou o ruivo aflito.
Agora, ambos estavam em um silêncio desconfortável no carro, mesmo que tivessem vários assuntos para por em pratos limpos, nenhum dos dois parecia estar em sua melhor condição para iniciar aquela conversa.
— você pode encostar? — apenas precisou mover os olhos na direção do menor antes de virar bruscamente o automóvel em direção do acostamento da estrada, destrancando as portas para ele descer.
Chan suspirou impaciente enquanto desceu também, deixando os faróis ligados, o ruivo foi até changbin que colocava toda a bebida ingerida horas antes para fora, massageando suas costas enquanto sua destra ia em direção ao ombro do menor, o mantendo de pé. Foram gasto alguns minutos até o moreno se recompor, se afastando do bang enquanto limpava a boca com as costas da mão, ele usou o automóvel do mais velho como encosto e se sentou no chão do acostamento, pouco se importando com o quão deprimente sua imagem deveria estar.
Sem saber muito o que fazer, chan voltou para perto do carro, se sentando no assento do motorista com o seo no chão próximo a suas pernas, o menor se manteve ocupado enquanto juntava as pedrinhas que achava pelo asfalto, jogando uma por uma em direção a escuridão que preenchia o cenário à sua frente. Uma lufada forte de vento que veio acompanhada de vários carros passando logo atrás das costas de ambos rapazes, tomaram seus cabelos desorganizados, seus rostos sendo levemente iluminados pelos faróis alaranjados e a barulheira dos pneus dos automóveis preencheu aquela lacuna silenciosa que predominava.
— sinto muito. — depois de certo tempo changbin se pronunciou, sua voz saiu baixa e vacilante.
— por ter vomitado? — indagou descontraído, arrancando uma risadinha nasal do menor ao seu lado.
— por isso também. — changbin manteve seu rosto virado em direção ao chão, seu dedo traçava linhas imaginárias sobre o jeans velho que vestia. Ele não tinha coragem o suficiente para encarar o ruivo. — e por estar te incomodando.
Eles ficarem em silêncio novamente, algo maçante que deixava o australiano de fios tingidos de vermelho angustiado. Em um longo suspiro, chan escorregou até estar sentado no asfalto ao lado de changbin, cruzando as pernas e encostando a cabeça na lataria prateada do automóvel enquanto erguia o rosto em direção ao céu escuro, não havia nenhuma estrela e nem sinal da lua, tudo parecia tão sem graça e opaco. Ele virou sutilmente a cabeça na direção do moreno, os fios negros caiam entre as linhas do seu rosto, todos os pequenos detalhes sendo ocultados pela posição que sua cabeça estava, ele parecia tão cansado, tinha bolsas escuras embaixo dos olhos e suas bochechas pareciam magras. Estavam há quanto tempo sem se ver? Não deveria passar de mais de um mês, mas tudo parecia tão diferente. Changbin parecia diferente.
— sinto que te devo um longo pedido de desculpa. — o moreno puxou as pernas para cima, as abraçando próximo ao peito, ele encostou a testa nos antebraços e respirou fundo, tentando se manter lúcido.
— por ter terminado comigo e sumido do mapa? — chan indagou enquanto encarava ele de soslaio. — é, você deve.
— me desculpa.
— por que me ligou?
— eu não sei. — ele esfregou a testa nos braços.
— você só está complicando mais as coisas entre a gente. Você me disse pra te esquecer e seguir em frente, achar alguém que seja do mesmo mundo que eu, e agora isso? Sinceramente, changbin, eu não te entendo.
— eu não terminei com você porque queria. — ele exprimiu ruidosamente, erguendo o queixo em direção do australiano, parecendo levemente irritado. — eu ainda gosto muito de você, mas simplesmente não ia dar certo.
— por que não daria certo? Estávamos juntos desde o ensino médio! — se sobressaltou visivelmente indignado.
— mas naquela época era diferente. — ele desviou seus olhos da expressão confusa do australiano. — antes éramos só dois adolescentes idiotas que estavam apaixonados, mas somos adultos agora, chan.
— o que você quer dizer com isso?
— quero dizer que as coisas mudaram, somos diferentes de antigamente. — ele esperou que changbin continuasse, ainda confuso com o rumo daquela conversa. — sendo sincero, pensei que o fato que você era totalmente fora da minha realidade não fosse afetar nosso namoro, mas aquela festa só provou o que eu tanto quis evitar. — ele virou o rosto na direção de chan, seus olhos sendo facilmente lidos. Changbin estava visivelmente abatido. — você lembra? A última festa que a gente foi junto, você insistiu tanto que eu fosse com você naquela festa que seus amigos de faculdade iriam dar, e eu acabei indo no final. Você sabia que eles me trataram como se eu fosse um aproveitador? Disseram que eu estava com você por dinheiro, que eu não passava de um vagabundo e coitadinho, que precisava do namorado pra se manter. — a risada do menor saiu amarga e dolorida, ele ergueu o queixo em direção ao céu, seus olhos sendo espremidos, contendo sua irritação. — e você ainda me culpou por ter explodido e batido naquele bando de filhinho de papai.
— se você tivesse me falado antes…
— o que você iria fazer? — sua expressão dura pegou o australiano totalmente desprevenido. — brigamos feito estúpidos naquela noite e você me deixou sozinho pra ir ver como seus amiguinhos estavam. Eu fiquei tão irritado, christopher, tão puto com tudo, porque sempre foi assim depois que a gente saiu da escola. Eu era visto como aproveitador por namorar um cara rico, mas eu nunca precisei da merda do seu dinheiro, eu só queria ficar do seu lado e ter uma vida normal.
— você sabe que eu poderia largar tudo pra ficar com você.
— nunca diga isso. — ele parecia cada vez mais irritado, sua testa enrugada e suas sobrancelhas juntas denunciava aquilo com nitidez. — não quero carregar o fardo que você acabou com a sua vida por mim, isso nem é pra ser cogitável.
— você não entende, não é? Eu só quero ficar com você. — o semblante rígida do moreno se suavizou lentamente, até seus olhos serem apenas duas esferas de turmalina cintilante no meio do mar de faróis que passavam em alta velocidade na estrada. — posso largar tudo se for pra ficar com você, mesmo que a gente vá morar embaixo de uma ponte totalmente falidos, se você estiver do meu lado eu ainda seria o homem mais feliz do mundo. — ele tinha tanta sinceramente expressa em suas palavras que foi impossível para changbin não rir. Chan acabou rindo também, ele sentiu tanta saudade do jeitinho que os ombros do menor se moviam para cima e para baixo quando sua risada esganiçada saia, como seus cílios eram esmagados por suas bochechas e seus lábios pequenos se tornavam tão bonitos.
— não acredito que você realmente disse isso. — o moreno encarou o bang ainda sorrindo.
Chan podia passar a noite toda sentado naquele asfalto gelado, apenas admirando silenciosamente e com devoção o menor rir ou tagarelar por horas como ele fazia quando estava animado com algo. Podia passar horas vendo seu cabelo preto e macio ser bagunçado pela ventania que os carros formavam. Podia observar calmamente cada traço do seu rosto, sua pele acobreada e pura, seus braços fortes e suas roupas de tons escuros. Podia admirar por horas o menor que não se cansaria, o venerava tanto que às vezes era difícil de explicar em palavras o quanto podia amá-lo daquele jeito estourado e impaciente, porque sabia que changbin era muito mais que apenas aquela camada de irritação e estresse, ele era alguém esforçado que trabalhava arduamente para se manter desde que era apenas um pirralho que odiava a escola.
Changbin era alguém intenso como uma calamidade, mas podia ser calmo e sereno quando se tratava de ajudar alguém ou prestar apoio. Chan sabia que ele nunca mudaria, e não queria vê-lo mudar, o moreno podia ser imperfeito em alguns aspectos mas era sua personalidade forte que mantinha o ruivo lúcido quando tudo parecia desabar.
— vamos pra casa. — chan ficou de pé, afastando a sujeira do seu jeans no processo com as mãos.
O seo ergueu o rosto na direção do australiano, o vendo estender sua mão para ajudá-lo a ficar de pé. Mesmo confuso, ainda esticou seus dedos pequenos e cheios de calos até a palma firme do maior, sendo puxado para cima numa força sutil. Ainda estava desorientado pelo álcool que corria em suas correntes sanguíneas, e quando foi erguido, teve que respirar fundo e se encostar no ombro do ruivo para cair.
— ainda tô puto com os seus amigos. — ele resmungou contra seu ombro.
— eles não são mais os meus amigos, bin. — chan acariciou as costas do moreno, ele cheirava a uísque com um leve toque de nicotina. O ruivo queria livrá-lo daquele odor desagradável logo.
— estamos resolvidos? — changbin indagou receoso, esfregando sua testa no ombro largo do australiano.
— vamos conversar melhor quando você tomar um banho e descansar. — o moreno tateou o dorso do australiano e segurou com força contra seus dedos a camiseta dele, a voz melodiosa do ruivo soou em seus ouvidos como uma canção tranquila. Ele aspirou o cheiro suave de chan, sentindo falta de como aquilo podia acalmá-lo instantaneamente quando ele estava tendo um dia ruim.
— sinto que vou cair se der mais um passo — aquilo arrancou uma risada gostosa do ruivo, ele desceu suas mão pelas laterais do corpo frágil de changbin até ter suas duas mãos apoiadas no quadril do homem, ajudando ele a ficar de pé.
— vamos logo pra casa, seu bêbado sem vergonha. — changbin grunhiu contra a pele sensível do seu pescoço, tentando abrir a boca para mordê-lo, mas estava bêbado demais para conseguir realizar aquilo.
Chan colocou sua pequena catástrofe dentro do carro, partindo logo em seguida.
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