12. slow burn
oi genteee como estão vcs? desejo uma ótima semana ❤️ espero que o fim de semana tenha sido bom. eu passei esses dias só assistindo série kkkkk
esse é um dos maiores capítulos que eu já escrevi porque tem varias cenas e o final também é em uma única noite
as músicas desse capítulo (seria muito bom se vcs escutassem) são "Mine Right Now" da Sigrid (de preferência a acústica), e "Slow Burn" da Kacey Musgraves. Finalmente
vou deixar mais explicações no final ok?
hmm talvez vocês chorem nesse capítulo(?) n vou dar detalhes. só sintam.
boa leitura ❤️
...
slow burn significa "queima lenta" ou um processo lento, e também um tipo de romance que primeiro desenvolve os personagens e seu relacionamento até eles ficarem juntos
...
— Me diz algo que você odeia — Adora falou apontando a caneta para Catra.
Ela girou na cadeira, pensativa.
— Pessoas.
— Fala sério!
— Tô dizendo a verdade — Catra deu de ombros e passou a mão na folha do caderno de composições. — Algumas pessoas são más, egoístas, racistas, homofóbicas, não respeitam ninguém... Eu tenho uma lista enorme de motivos.
Adora precisou concordar com o argumento.
Ambas estavam na rádio e haviam combinado de fazer suas tarefas, pesquisas e afins, mas acabaram batendo papo a noite inteira. Adora fazia todos os origamis que sabia e Catra ainda tentava compor outra música para o show.
— Mas você gosta de mim — Adora falou convencida. — Eu sou exceção!
— Mais ou menos. Mas sexo é bom — Catra disse sarcástica. Adora amassou uma bolinha de papel e atirou na cabeça dela.
— Você não pode dizer isso porque uma semana atrás a gente se declarou uma pra outra. Você disse que gosta de mim, eu falei que tô apaixonada e você disse que também sentia o mesmo — a loira fazia contas na cabeça sorrindo cada vez mais. Catra cruzou os braços.
— Ah que saco.
— Seu argumento foi anulado.
Catra deu uma risada rouca que Adora amava. Ela se voltou para o computador a fim de organizar a programação de rádio e mordeu o lábio.
— Naquele dia eu falei sério.
Adora ergueu os olhos azuis para ela.
— Como assim?
Catra encarou Adora. Sua alma gêmea. Era tão estranho e bom pensar naquilo.
— Não foi só papo de sexo, sabe? Eu não quero esconder nada — ela disse com nervosismo de olhar nos olhos de Adora. Limpou a garganta. — Eu gosto muito de você. Foi chato no início e eu tinha muito pra pensar, mas agora é fácil. Eu gosto de você porque é fácil te ter do meu lado.
Adora não soube o que dizer. Por um instante ficou com as bochechas coradas, e então se levantou e foi até Catra. Beijou-a delicadamente, e ambas sentiram paz e conforto naqueles segundos.
Catra deslizou a mão para entrelaçar seus dedos com os de Adora, chamando-a silenciosamente para ficar.
— Obrigada por ser sincera — disse Adora, colando suas testas. Ela sorriu. — Eu realmente preciso disso. Você é meu porto seguro.
— E você é o meu.
A latina acariciou o rosto da outra levemente. Adora beijou Catra de novo.
— Tenho que te contar uma coisa — Adora formou os lábios em uma linha fina e puxou a cadeira para ficar de frente para a garota. Catra ficou atenta. — Eu falei com a Mara e ela disse que eu posso largar a faculdade se quiser.
Ela fechou os olhos e esperou uma resposta.
— Isso... é ótimo. Mas e nós? O que você vai fazer?
Adora deu de ombros.
— Ainda tô pensando no que fazer, se devo largar, trocar algum curso, sei lá. — Adora chegou mais perto de Catra e segurou suas mãos com firmeza. — Eu quero surfar, ficar na praia, ensinar crianças, qualquer coisa do tipo! Isso é o meu futuro.
Só de fechar os olhos Cat lembrava da sensação boa nos sonhos. Se Adora era tão feliz assim...
— Eu não esperava isso... mas se você vai ficar bem então eu também vou.
A loira agradeceu com um sorriso. Catra disse aquilo com uma pontada de dor no peito. Ela precisava de Adora porque mudou tão rápido nos últimos meses e sua presença fazia tudo ter sentido.
— Vai ser muito longe? Tipo, se você mudar de universidade, nem sei se isso é permitido, não importa. Ou onde você mora?
— Talvez sim, um pouquinho longe.
Catra soltou ar pelo nariz de frustração e apertou mais forte a mão da garota.
— Eu preciso de você por perto.
— Eu sei, mas eu não estou feliz. Só com você, mas é diferente — Adora gaguejou e tentou se concentrar. — Pelo menos com os estudos. Isso aqui tá me matando, Cat.
Catra sentiu a dor de Adora por toda a vida, desde a morte dos pais até o início das crises de ansiedade. Desde o primeiro período as coisas desandaram, Adora vivia tentando focar a mente em outras coisas, não dormia bem e chorava demais sem controle. Catra não queria mais dor para ambas.
— Ok. Eu vou te apoiar em qualquer coisa — disse Catra. — Prometo.
Adora respirou aliviada e abraçou a alma gêmea. Dava para sentir como ela estava satisfeita.
— Ainda preciso pensar muito nisso. Mas olha, eu sei que vamos dar um jeito.
Almas gêmeas sempre acabam se encontrando de novo mesmo que seus caminhos se separem. Elas sabiam daquilo.
Catra abraçou a garota com mais força para se prender àquilo. Elas eram perfeitas juntas.
Ela lembrou de como Amanda nunca teve a oportunidade de conhecer a alma gêmea e sofreu por isso. Catra pode ter sofrido de início, e ela não sabia o futuro, mas só ter Adora ao seu lado no presente já foi o bastante.
— Hey, Adora.
Ela sentiu Adora sorrir.
— Sim?
— Tudo bem se a gente não ficar junta pra sempre. Você é minha agora.
Adora assentiu e acariciou os curtos fios castanhos de Cat.
— Isso até que dá uma letra de música bacana — ela secou as lágrimas que começavam a brotar no olhos. Ambas riram. — Sério! Escreve isso!
Catra puxou Adora para sentar em seu colo e beijou-a rapidamente. Bem ali ela pegou o caderno e fez anotações da música. Estava quase pronta.
— Acho que já tem o suficiente pra abrir o show da Ohio, né? Melhor você dar uma pausa — Adora passou os olhos pelas canções. — Pode deixar isso pra depois.
Catra negou com um aceno. Foi falando e batendo a ponta da caneta no papel.
— Eu tenho que escrever isso, subir naquele palco e cantar porque preciso deixar a minha mãe ir em paz. Tenho que mudar. Eu quero isso. — Catra falou baixo, leve, e encarando as palavras rabiscadas. Ela sentiu o corpo de Adora contra o seu e tentou ficar mais calma. A loira prestava atenção. — Antes pensei que nunca conseguiria, mas agora sei que posso mudar e tentar outro rumo pra mim.
— Você vai descobrir. Eu sei que sim.
Catra tentou afastar o cansaço com as mãos no rosto. Não adiantou muito. Elas lembrava tão bem da sensação das drogas em seu corpo que ficava maluca. Ainda tentava se acostumar.
— Eu tô tão cansada de não sentir nada uma hora e na outra vir tudo de uma vez em cima de mim. Não sei se conseguiria aguentar mais tanto tempo, Dorinha.
Adora e Catra olharam uma para a outra bem nos olhos. Era um caminho difícil, mas pelo menos a partir dali elas seguiriam juntas.
...
A Ohio havia terminado de ensaiar para o show próximo. Todos ficaram no palco arrumando os instrumentos e equipamentos — inclusive Entrapta. Ela ajudava no som e vivia grudada neles —, Catra mais cansada que outros por ter chegado mais cedo e ensaiado sua parte sozinha.
— Acho que vou pedir a Perfuma em namoro — Scorpia disse do nada. Lonnie, Entrapta, Catra e Double Trouble se viraram para ela, incrédulos. — Acham que ela vai aceitar?
— Óbvio! — Lonnie falou com um sorriso. Entrapta ergueu o polegar em sinal positivo.
— Isso é tão fofo — DT disse com a voz doce.
— Ela vai ser burra se não aceitar — Catra disse delicada como sempre.
DT perguntou sobre tudo, ansiose por uma fofoca. Scorpia mandou todo mundo sentar no chão do palco e o grupo fez um círculo.
Catra fingiu desinteresse, mas lá no fundo estava sorrindo pela amiga — na real a cabeça dela ainda estava confusa. Alguns dias eram melhores, outros não, e as drogas ou faziam muita falta ou causavam repulsa só de pensar. Catra forçava um sorriso quando conseguia. Naquele dia ela se sentia um zumbi.
Scorpia contou de como se sentia em relação à Perfuma: confortável, bem, calma. Elas falavam sobre tudo no dormitório, assuntos em comum que iam desde família até o tipo favorito de chá. Perfuma era um doce de pessoa, e Scorpia também. Ele gostava de como a garota era otimista e a apoiava em tudo.
Double Trouble exclamava feliz por ela. Lonnie ouvia tudo com o queixo apoiado nas mãos, Entrapta falava sua opinião de vez em quando com divertimento e Cat encarava os tênis para evitar que a vissem corada. Ela só lembrava de Adora e o jeito que a fazia se sentir.
— Mas e se ela não aceitar?
— Aí a gente apela pra serenata — Double Trouble falou pensative. — Já sabemos tocar "If You're Too Shy Let me Know" (Se você é muito tímide me deixe saber). É do prédio de biologia pro dormitório, bebê.
Catra soltou uma gargalhada alta.
— O refrão da música diz "talvez eu gostaria mais de você se tirasse as suas roupas" — ela disse.
— Justamente por isso! — elu disse como se não fosse nada demais. Catra riu de novo e Scorpia escondeu o rosto. Lonnie também deu risada.
— Você é safade pra caralho!
— Old, amor.
— Acho que conheço outra música muito boa — Lonnie disse pensativa, os olhos claros agitados.
Um barulho veio do outro lado do auditório com as portas se abrindo. Kyle e Rogelio chegaram de mãos dadas já perguntando o que estavam fazendo.
— Scorpia tá falando do romance dela — DT disse com olhos faiscantes. Elu arrumou o cabelo longo e perfeito que até Catra invejava e chamou os garotos para subirem. — É tão fofo que parece coisa de fanfic.
— Ai, eu adoro histórias fofas — Kyle disse gentil para Scorpia. O círculo se abriu e ele ficou do lado de Catra. — Por falar nisso, eu encontrei com a Adora e ela pediu pra eu entregar isso pra você.
Kyle estendeu com cuidado um origami de cor verde claro em formato de pássaro. Quando Catra viu deu um sorriso. Se puxasse de leve um pedaço do papel as asas se mexiam. Ela arregalou os olhos, encantada. Adora sabia fazer tanta coisa bonita.
— Gostei. Me dá? — Entrapta perguntou. Catra entregou o papel dobrado. — Obrigada! É tão fofo.
— Só por hoje, ok?
— Tá, mas você já tem uma coleção dessas coisas mesmo — Entrapta deu de ombros e ficou mexendo as asinhas. Catra revirou os olhos e sorriu.
— Como você se sente, Cat? — Lonnie perguntou.
Desde a abstinência que já durava algumas semanas os amigos viviam perguntando aquilo. Catra gostava de como se preocupavam. Cada dia se sentia um pouquinho mais amada. As coisas estavam mais claras em sua cabeça.
— Ontem foi péssimo. Eu tava zangada pra caralho até com uma formiga se visse uma. Hoje tô bem melhor. Não, quer dizer, mais ou menos. Numa escala de um a dez eu tô "sete".
— A Adora tá te ajudando né? — Kyle sorriu malicioso. Ao invés de Catra empurrar ele preferiu passar o braço pelos ombros dele e trazê-lo para perto. — Sabia! Você nem é carinhosa assim.
— É, ela ajuda também. E eu tô de bom humor hoje. Aproveitem enquanto podem — Catra apertou Kyle num abraço. — Não se preocupem comigo. Vou ficar bem.
Scorpia sorriu para a melhor amiga. Era bom vê-la sorrindo e aos poucos mostrando os sentimentos. Não só isso, mas de aparência e disposição também. Catra não tinha tantas olheiras, não usava mais pijamas para ir às aulas, cantava e dançava mais nos ensaios...
— Faz tempo que a gente não fica junto, só o nosso grupinho — Scorpia disse. Double Trouble assentiu. — O círculo tá aumentando.
— Eu sei que vocês me amam — Entrapta deu de ombros. Ela ainda mexia no origami. — Querem saber? Vou colocar uma musiquinha. A gente fica conversando até tarde hoje. Festinha no auditório!
O grupo comemorou. Lonnie e Rogelio saíram para comprar algo para todos comerem, DT acompanhou Entrapta e Catra continuou enchendo a paciência de Kyle e Scorpia.
Ela precisava daquilo. Um tempinho só com a banda e amigos para relaxar. Estava nervosa pelo show e se conseguiria ficar sozinha no palco durante meia hora. Mas naquele lugar com eles o peso saiu de seus ombros e ela esqueceu do medo.
Catra estava feliz de verdade.
...
— Aqui só tem gente velha — Bow disse com graça enquanto cutucava Glimmer e Adora. Elas reviraram os olhos.
— Logo logo isso aqui vira um cabaré do jeito que você gosta, não se preocupa — Glimmer disse dando tapinhas leves nas costas dele.
O trio estava andando na frente acompanhados de Hawk e Mermista. A casa de shows estava quase cheia com gente comendo e bebendo nas mesas. A parte mais próxima do palco onde geralmente as pessoas dançavam estava livre, mas assim que a Ohio subisse O lugar ficaria cheio de gente animada dançando.
Ainda estava cedo. Adora não se importava com a hora. Queria ver Catra se apresentar. Em poucos minutos iria cantar, apenas ela e o violão. A dona do espaço tinha ficado tão impressionada com Cat que uis contratada para uma apresentação mais leve, e abrindo o próprio show. Adora amava ouvir Cat mais delicada e cantando como se o mundo ao redor não existisse.
Eles sentaram numa mesa com boa vista do palco, perto do bar, e olharam em volta. A banda arrumava os instrumentos e som, mas Cat não estava lá em cima. Até Entrapta e Perfuma estavam lá, mas nenhum sinal de latina.
— Ei, que horas são? — Adora perguntou. Mermista olhou o celular. Ela estava linda naquela noite.
— Quase oito horas.
Adora franziu a sobrancelha.
— Wow, essa é a cara de "Sentido-Aranha" — Hawk disse. Os outros assentiram.
— Eu vou atrás da Cat — Adora disse e se levantou. Já estava quase na hora de ela subir no palco e tinha um pressentimento ruim. — Podem pedir qualquer coisa que eu como. Já volto.
Adora sentiu que a alma gêmea estava precisando de ajuda. Não só isso. Precisava dela.
Na sala atrás do palco, sentada no sofá, Catra não parava de secar as mãos na calça. Ficava mexendo nos anéis, apertava os olhos, aquecia a voz, batia os pés, e nada afastava o nervosismo.
Não podia nem subir naquele palco e olhar as pessoas (ok, talvez eles nem prestasse atenção nela. Só queriam uma musiquinha de fundo), mas ainda era aterrorizante ficar lá sozinha e cantar coisas tão pessoais.
Mas talvez fosse melhor assim. As pessoas iriam escutar, comer, sair e depois nem ligariam para aquilo. Catra receberia dinheiro e todo mundo saía feliz.
E pra quem anos antes passava o dia todo tentando tocar o solo de "Sweet Child O' Mine"na guitarra, ela tava bem. Tava ótima.
— Legal, legal, legal... — era o que ela ficava repetindo enquanto andava em círculos. Era melhor se movimentar.
Porra, devia ter ido arrumar o palco. Pelo menos não estaria sozinha e surtando.
— Eu que lute então — bufou e arrumou o cabelo. Foi abrindo a porta para ir até o palco e sair daquele inferno chamado ansiedade, e deu de cara com a alma gêmea. Catra prendeu ar um segundo, surpresa, e depois sorriu. — Hey, Adora.
— Eu já estava indo falar contigo. Tava saindo, é? — a loira perguntou com um sorriso aparecendo lentamente em seus lábios. Catra puxou ela pelo braço. — Ok, então.
— Já que você apareceu então melhor ficar aqui enquanto dá tempo — Catra fechou a porta atrás delas e beijou a loira.
Adora sorriu, mas afastou o rosto de Catra. Por mais gostoso que fosse ficar agarrada com ela, ainda estava preocupada.
— O que tá acontecendo?
— Eu não tô me sentindo muito bem. Acho que é nervosismo. Eu vou ficar lá em cima sozinha, cantando e tocando, sentada num banquinho — Adora segurou suas mãos. Estavam tremendo um pouco.
— Eu vou ficar te olhando na plateia o tempo inteiro, ok? Vai dar tudo certo! É até bom ficar sozinha e saber como você se sai.
Catra tentou respirar fundo. Não era como se um "ei, relaxa" fosse resolver todos os seus problemas num passe de mágica. Ela estava tentando de verdade. Adora apertou mais suas mãos. Desde que começou a tocar para um público sempre teve pelo menos Scorpia ao seu lado.
— É por causa da mamãe — Catra disse baixo, cansada e balançando a cabeça devagar. — Vai ser um passo a mais enorme e eu não sei se tô pronta.
Adora acariciou o rosto de Catra. A latina deixou-se levar o aquilo e inclinou a cabeça para o lado, aceitando o carinho.
— Tá tudo bem. Ninguém consegue superar essas coisas do nada. Tipo eu, por exemplo. Se um dia vou ficar bem de verdade? Pelo menos espero que sim, mas é um passo de cada vez. — Adora fez Cat olhar em seus olhos. — Isso que você tá fazendo é algo grande, bonito e vai te deixar mais forte.
Catra sorriu fraco.
— Lembrei de uma coisa que meu pai fazia quando eu era pequena e ficava triste ou com medo — a loira disse e levou a garota até o sofá do lugar. Elas ficaram de frente uma para a outra e Adora encostou suas testas. — Agora fecha os olhos.
Catra riu sarcástica.
— Eu não sei se isso...
— Só fecha os olhos — Adora disse rápido e mandona. Catra revirou os olhos e obedeceu. — Vamos só ficar assim por um minuto.
E elas ficaram. Catra tentou ignorar os ruídos do lado de fora e prestou atenção no silêncio, nem mesmo escutava sua respiração ou a de Adora. Não sabia se era coisa da sua mente em tentar realmente se acalmar ou se foi a sua alma gêmea, mas ela sentiu alguma coisa. Literalmente. Algo a fez relaxar os ombros, os membros pararam de tremer e aos poucos sua confiança voltava.
— Hey — Cat chamou, quase num sussurro. — O que você tá fazendo? Acho que eu tô muito chapada, e olha que nem usei nada.
Adora riu. Ambas abriram os olhos, ainda ficando com rostos próximos.
— Não sei, mas funciona. Deve ser só a companhia de quem faz bem pra gente que ajuda. Às vezes só é preciso de um tempo de silêncio.
— Hmm, sei. Ou deve ser coisa de alma gêmea. Você faz muita coisa boa pra mim, sabia? — Catra disse manhosa. Adora ficou arrepiada e com o corpo quente.
— Ótimo — Adora sorriu.
As duas sorriram, deixando suas bocas a milímetro de distância. Catra queria devorar a garota em um beijo, mas apenas mordeu o lábio inferior dela lentamente.
Adora deu selinhos em Catra ao mesmo tempo que fazia cócegas com o seu nariz. Os beijos ficaram mais lentos, cheios de sorrisos pelo meio.
A loira se inclinou para cima de Catra, e a latina passou a mão pela perna dela, trazendo-a para si. Adora não conseguia pensar em outra coisa além do quão bom era ter a língua quente de Catra na boca.
— Hey, Adora — Catra gemeu no meio de outro beijo enquanto descia para seu pescoço. — Eu sou louca por você.
— Eu também — Adora disse doce e parou por um instante a fim de encarar seus olhos bicolores. — Faz esse show e depois a gente comemora, ok? Aqui não dá.
Catra encarou Adora praticamente em cima dela. Catra estava a poucos centímetros de apertar a bunda dela.
— Mas você tá usando um vestido. Vai ser rápido — ela sorriu e mordeu a orelha de Adora.
Ela usava um vestido vermelho leve demais para o outono, jaqueta jeans e tênis.
A loira balançou a cabeça, procurou o celular e olhou a hora. Não iria dar tempo. Alguém bateu na porta e avisou que Catra tinha cinco minutos para subir no palco. A garota respondeu em positivo e a pessoa saiu.
— Viu? Melhor não. — Mesmo assim Adora deu um beijo lento de tirar o fôlego. Catra ficou maluca. — Você já é uma estrela. Minha estrela.
— Eu sou sua em todos os sentidos, Adora.
...
Do palco todas as pessoas ficavam no escuro. Catra se sentiu tão estranha. Ela buscou Adora na multidão e encontrou-a. Estavam ela, o grupinho de amigos e a banda, todos juntos no mesmo canto entre ela e o bar. Até Hordak estava lá (o que não devia ser mais surpresa).
Ela se apresentou às pessoas, que já aplaudiram de início por educação. Contou cinco segundos para lembrar a si mesma que aquele lugar era seguro, que sua mãe estava lá com ela dando forças e que era onde precisava estar porque nasceu para a música.
Tinha à sua disposição o violão e o teclado. Ela já havia escolhido o que iria performar. Introduziu com "Love Is a Wild Thing", e o tempo inteiro se pegou sorrindo de leve. Ela iria conseguir. Só precisava lembrar que podia até estar sozinha no palco, mas não estava na vida.
Catra pode ter perdido uma mãe, mas ganhou muitos amigos. Uma família.
Ela continuou com outras músicas, cada uma um cover diferente em um dos instrumentos, e já não tinha mais medo algum. As pessoas a observavam com admiração ou simplesmente conversavam e comiam. Catra costumava fechar os olhos e deixava seus dedos fluírem pelas cordas ou teclas do piano. Era calmo, familiar e sem erros.
— Essa música se chama "Mine Right Now" — disse ela, depois de beber um copo de água e pegar o teclado. Borboletas no estômago se agitaram nela. — É sobre quando você ama muito alguém, e tem medo que tudo acabe desmoronando. Mas não vai. O que importa é o presente e que vocês estão juntos agora.
Catra tentou tranquilizar os dedos. Pressionou as teclas com cuidado e fechou os olhos. Imaginou que estava sozinha com a alma gêmea, porque fez aquela música para ela, botando tudo o que sentia: amor, medo, conforto...
Cantou no microfone. A voz um pouco rouca habitual, mas de certa forma suave assim como o ritmo da música:
Algo sobre como você e eu nos encaixamos
É quando eu percebo, parece bom demais para ser verdade
Estamos no porto e dançamos no escuro
Não sei o que você disse, mas sei como me senti
É difícil acreditar que nosso amor pode durar
Porque você está agindo tão rápido
Ela tinha tanto medo de perder Adora. Mais do que ela podia imaginar. Ficar longe dela todos os dias não parecia ser uma boa opção, mas não podia prender a garota também.
Com o tempo aprendeu a entender Adora, e quis cuidar dela. Ficar ao seu lado e não soltar.
Catra tinha medo de perdê-la para sempre.
Então começo a pensar demais
Então eu estrago o momento, pois imagino o fim
Mas não quero chegar lá, então digo a mim mesma que:
"Hey, tudo bem se não acabarmos juntas porque você é minha agora"
Hey, não me importo se não chegarmos no 'para sempre'
Porque você é minha agora
Ela sorriu para si mesma por ter pensado naquela frase. Tudo na música era verdadeiro desde a primeira nota até a última palavra.
Teve esperanças porque, se Adora disse que não iria largá-la, era verdade. Nem que elas ficassem distantes por anos ou até do outro lado do mundo as duas dariam um jeito de se encontrar. Era o que almas gêmeas faziam.
Adora apertou os olhos e cobriu o rosto. Sentiu ficar vermelha e sem ar. Estava chorando silenciosamente porque já sentia falta de Catra.
Não era só isso. Adora estava orgulhosa dela e de como as coisas mudaram em tão pouco tempo.
Catra cantava com sentimento e dor. Sua voz estava falhando, mas nem por isso ela parava. Tentava permanecer doce, e no momento em que abriu os olhos, Adora fez o mesmo. Às vezes música leva mensagens que não podem ser simplesmente ditas. Tem que ser transmitida e sentida:
Eu não vou desmoronar se você partir meu coração
No entanto, aqui estamos nós
E eu estrago o momento, pois imagino o fim
Mas não quero chegar lá, então digo a mim mesma que
Catra não aguentou. Deixou a voz falhar de qualquer jeito, falando e cantando mais alto, apertando as teclas com desespero. Estava com medo de ficar sem a sua metade, mesmo que ela soubesse que isso não fosse acontecer por muito tempo, ainda era triste.
"Hey, tudo bem se não acabarmos juntas porque você é minha agora"
Hey, não me importo se não chegarmos no 'para sempre'
Porque você é minha agora
Catra tomou ar. Os braços estavam tremendo, e ela deixou os dedos mais leves no fim da canção. A última estrofe saiu como um beijo suave:
Tudo bem se não acabarmos ficando juntas
Tudo bem se não, tudo bem...
Porque você é minha agora
Hey... tudo bem se não acabarmos ficando juntas
Tudo bem se não, tudo bem... porque você é minha agora
Terminou a música encarando o teclado. Se deu conta de que estava em choque apenas quando ouviu aplausos.
Ela ergueu a cabeça e assentiu em agradecimento, secou uma lágrima que nem sabia que estava lá, e encontrou os olhos azuis brilhantes de Adora com um sorriso.
Não precisaram dizer verbalmente o que sentiam em cada célula. Era recíproco, belo, maravilhoso e certo:
"Eu amo você".
...
A noite estava longe de acabar. Catra ainda precisava encarar o último demônio do medo.
Lonnie apertou o ombro dela de leve. Catra e a banda estavam na lateral do palco esperando para entrarem, mas Cat e Lonnie ainda tinham uma última música acústica para performar e abrir o show.
— Você vai conseguir — disse a garota. Catra tomou ar. — Eu vou ficar cantando e tocando se precisar.
— A gente vai ficar aqui atrás pertinho de você — Scorpia falou com um sorriso.
— Aqui, amiga — Double Trouble entregou o violão de Lonnie. — Boa sorte pra vocês.
Catra agradeceu com a cabeça. Ela e Lonnie foram ao palco, cada uma sentando num banquinho com o microfone já a postos. Todos os instrumentos já estavam no lugar esperando a Ohio.
Pode ter sido o nervosismo influenciando sua mente e visão, mas Catra teve certeza que todos no local olharam para ela e a amiga.
— Boa noite. Está música se chama "Slow Burn" — Lonnie disse por ela. Cat estava em choque e apertava forte o violão.
Precisou secar as mãos na calça. Engoliu seco, tentou afastar o medo e respirou fundo. Ela lembrava de uma dica que Amanda havia lhe dado: quando fosse falar na frente de muitas pessoas, ela devia olhar cada um nos olhos se quisesse se impor, ou se estivesse muito assustada bastava encarar a parede no fundo.
Catra preferiu a parede. Melhor, o fundo do bar mal iluminado.
Olhou para Lonnie. Elas contaram silenciosamente para começarem a música.
O som dos violões vagou por todo o local. Catra se concentrou na introdução e os acordes certos. Sentiu como se voltasse no tempo há mais de três anos quando Amanda ainda tocava para ela antes de dormir, e Catra cantarolava pela casa.
Born in a hurry, always late
Haven't been early since '88
Não era a letra da música que a afetava. Era a lembrança de uma época que não podia mais voltar.
Texas is hot, I can be cold
Grandma cried when I pierced my nose
Good in a glass, good on green
Good when you're putting your hands all over me
Ela cantou com o coração. Quase falhou na hora de sincronizar a voz com a melodia, mas conseguiu. Ainda bem que Lonnie estava logo ao seu lado.
Catra podia ter várias facetas quando performava. Se precisava ser ousada ela fazia sem problemas, se precisava de interpretação também. E, principalmente, quando precisava ser calma, Catra cantava com amor.
Ela pensou apenas em sua mãe. O cabelo escuro assim como a pele, o sorriso, seu toque, cheiro, carinho... todo o sentimento de saudade veio como um furacão em seu estômago. Catra fechou os olhos e deixou-se levar. Foi no automático. Ela mal podia ouvir a própria voz:
I'm alright with a slow burn
Taking my time, let the world turn
I'm gonna do it my way, it'll be alright
If we burn it down and it takes all night
It's a slow burn, yeah
Catra abriu os olhos e olhou o fundo do lugar. Ela piscou várias vezes, assustada.
Amanda estava lá.
Ela viu a mãe de relance no fundo do bar por um segundo. Pôde jurar que viu.
Engoliu seco de novo. Suas mãos faziam o trabalho automático de tocar a pequena parte instrumental da música, mas foi como ter perdido a voz.
— Catra? — Lonnie sussurrou longe do próprio microfone. A latina buscava a mãe de novo.
"Faça, por favor" Catra conseguiu dizer para ela. Não iria conseguir.
Até Adora sentiu um peso de angústia no peito. Mas ela não podia subir no palco e parar tudo.
Catra só fechou os olhos, pronta para deixar as lágrimas caírem, e escutou a doce voz de Lonnie:
In Tennessee, the sun's goin' down
But in Beijing, they're heading out to work
E então algo estranho aconteceu.
Catra ouviu e sentiu o som de uma bateria atrás dela. E um baixo.
Ela quase tomou um susto. Aquilo a fez virar o corpo e encarar Scorpia e Double Trouble, cada um em seu lugar, todos sentados e tocando.
You know the bar down the street don't close for an hour
We should take a walk and look at all the flowers
Scorpia sorriu para Catra. A batida encaixava direitinho com a música. Catra precisou ver os amigos, um de cada vez, para se confortar com seus sorrisos.
Sentiu-se forte. Foi uma mensagem de todos que dizia: "você não precisa lidar tudo isso sozinha. É pra isso que servem os amigos".
Catra suspirou e sorriu para si mesma. Ela cantou com Lonnie o refrão de novo, dessa vez mais determinada.
'Cause I'm alright with a slow burn
Taking my time, let the world turn
I'm gonna do it my way, it'll be alright
If we burn it down and it takes all night
It's a slow burn
Aquela era sua parte favorita. Apenas um instrumental com vozes sutis de fundo, onde ela, Lonnie e Double Trouble cantavam levemente. Todo o peso que Catra tinha nos ombros foi saindo lentamente. Era paz? Talvez.
Catra procurou a mãe de novo. Foi incrível. A mulher estava bem ali sorrindo de leve, orgulhosa. Catra não sentiu medo algum. Amanda estava vendo a filha por uma última vez...
Old soul, waiting my turn
I know a few things, but I still got a lot to learn
Os acordes seguiram devagar. Catra chorava e cantava, mas ela não se importava.
So I'm alright with a slow burn, slow burn, slow burn
I'm alright with a slow burn
Ao final da música Amanda tinha ido embora.
Catra escutou aplausos. Ela limpou os olhos e sorriu para si mesma. Lonnie, Double Trouble e Scorpia a abraçaram apertado.
Soube naquele instante que não estava sozinha, que sua mãe pôde ir em paz, e ela seguiria em frente.
...
ok eu n sei o que dizer. se vc chegou até aqui, parabéns, guerreire kkkkk quantas pessoas ficaram emocionadas? comentem aqui 🤧
muito obrigada pelos 12K e todo o apoio que vocês deixam nos comentários, eu sou grata demais por tudo, por vocês, por essa história, porque é isso que tá me mantendo bem nesses tempos tão difíceis, e saber que tem gente que gosta do que eu faço é incrível ❤️
agora minhas notas:
- "mine right now" não foi uma coisa planejada. a música da Sigrid chegou e eu notei que se encaixava perfeitamente na história, então não resisti
- slow burn é tipo A música da Catra nessa fic e eu tava ansiosa demais pra escrever essa cena. toda a ligação dela com a mãe é tão intensa, e a música n tem nada a ver tradução com história (por isso deixei em inglês), e sim com o sentimento, sabe? a lembrança
- o squad da Ohio é tudo pra mim meu deus do céu, a cena foi feita de última hora e eu amei cada palavra dps de terminado
- vcs tem noção do meu desespero enquanto escrevia? espero que tenha sido bom porque às vezes na minha cabeça é uma coisa e nas palavras é outra. a última cena que a amanda "aparece" é como uma despedida definitiva, sabe, a catra superando o luto de uma vez, e como tudo foi uma "queima lenta" por tanto tempo e finalmente ela tá bem de verdade 😭
enfim, deixem suas opiniões por favor 💖 eu amo ler o que vocês acham dos capítulos, me faz sentir mais próxima de vcs
não sei mais o que dizer e mds esse capítulo já tem mais de 5ooo palavras kkkkkkk eu nunca imaginei uma coisa assim
✨ o próximo capítulo ainda é uma continuação dessa noite! ainda têm rolê viu 🤩😎😎😎
mais uma vez, obrigada por T U D O. vocês são incríveis! sério, obrigada
sexta-feira nos vemos de novo ❤️ spoiler: "sober" e "misery". vejam na playlist ;)
se cuidem! 💕💕
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