Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 1

Linhas paralelas

O grafite deslizava pelo papel com facilidade enquanto Malu buscava dar um ar mais sombrio à sua heroína.

A senhorita Flamejante tinha os olhos fixos no horizonte além do topo do prédio em que estava empoleirada. Seus cabelos flutuavam ao vento, não mais encobertos pelo capuz que a mantinha anônima pelas ruas, enquanto ela distribuía doses de justiça na cidade. Ao menos era isso o que a imaginação de Malu havia criado em seu precioso caderno de rascunhos, uma página ou duas após as anotações financeiras daquele mês. Um toque de realidade ao universo de superpoderes criado em papel sulfite e lápis preto.

Maria Luiza tinha chegado aos vinte e dois anos com a habilidade de se distrair com uma facilidade muito grande. Sua mãe tinha o costume de dizer que a garota vivia com a cabeça nas nuvens. E de certa forma, não chegava a ser uma mentira, pois se um papel e uma caneta estivessem em pauta, Malu poderia passar horas a fio sem se conectar com o mundo real, criando formas, imagens e personagens que poderiam viver em um universo paralelo, tal qual aquela brincadeira que os seus irmãos pequenos faziam ao olhar para o céu e enxergar animaizinhos nas nuvens.

No entanto, com o passar dos anos, a jovem precisou aprender a conciliar suas criações com as suas responsabilidades do mundo adulto, por isso, era comum encontrar uma lista de compras do mercado em meio à uma cena da Senhorita Flamejante derrotando algum inimigo.

— Nossa, eu estou morrendo de fome! — a voz poderosa de seu colega de trabalho não era nenhuma novidade, mas ainda assim, Malu sempre tinha um leve sobressalto quando Marcelo iniciava uma conversa.

O homem era corpulento, resultado de algumas horas por semana na academia e tinha o péssimo hábito de falar pelos cotovelos. Mas, era uma das pessoas mais amáveis que a jovem havia conhecido.

— Quem está na tosa? — a pergunta foi acompanhada de um organizar rápido das canetas e folhas do caderno de desenhos.

— O Bruno. Ele odeia ficar lá atrás, mas eu estou que não me aguento de fome e se eu esperasse a Mel chegar, estaria estendido no chão. E só tem a secagem de um gato para ser feita.

Os movimentos quase frenéticos do Marcelo em retirar marmita generosa da pequena geladeira, colocá-la no micro-ondas e ficar encarando a contagem regressiva dos números deixava bem evidente o seu desespero em comer.

Os funcionários da Bicharada Pet Shop eram poucos em números, mas agiam como uma família. Malu sempre teve a sensação de que Marcelo, Bruno, Mel e Stephanie eram seus primos perdidos de alguma reencarnação, sendo todos muito divertidos e companheiros, mas sempre muito obedientes às ordens da Dona Margot, a proprietária do local.

Há quase dois anos trabalhando ali, Malu já havia participado e muito da vida de cada um de seus colegas.

— Vou dar uma ajudinha para ele. Sabemos que ele não é o preferido dos animais. — ela usou um tom divertido.

O Bruno tinha sido contratado pouco tempo depois dela e sempre foi meio sisudo e calado, o que não era um grande problema na sua função de estoquista, mas como a equipe sempre foi enxuta no lugar, a rotação de funções acabava sendo necessária. E por ser tão quieto, o rapaz se esqueceu de mencionar a sua total e completa inexperiência com animais. O coitado tinha recebido arranhões, mordidelas e rosnados a cada vez que chegava perto dos alojamentos e área de banho dos pets.

— Boa ideia. — felicidade estampava o rosto do Marcelo quando o micro-ondas apitou seu segundo final.

Malu já estava pronta para guardar suas coisas no armário tipo escolar, que ficava do outro lado da sala, quando o rapaz lhe passou um recado entre garfadas vigorosas.

— Malu, antes de eu vir para cá, a Stephie me parou e pediu para você levar aquela revista de maquiagem.

Alívio e alegria fizeram um pequeno sorriso surgir no rosto da jovem. Vender cosméticos por catálogo rendia às suas finanças um fôlego até o próximo pagamento e a Stephanie era sua melhor compradora.

Sem pensar muito, Malu retirou suas revistas de venda do armário e colocou-as sobre o caderno de rascunhos, um modelo simples de brochura e capa mole, que passou despercebido por entre os planos que envolviam o novo saldo em sua conta bancária, e foi levado junto com as modelos usando makes elaboradas e coloridas.

— Você também não quer comprar nada para a sua esposa Marcelo?

— Querer até quero, mas o financiamento da casa está pesado. Vou passar esse mês Maluzinha.

Para todos, a situação econômica parecia uma tempestade em mar aberto, te jogando de um lado para o outro, fazendo com que ora se afogassem e ora uma lufada de ar parecesse o paraíso.

Malu vivia isso diariamente, sendo a única com um emprego fixo na família. E mesmo que seus pais se desdobrassem para ajudar com seus bicos, era o salário da garota que segurava as pontas no final do mês.

Com um sorriso de entendimento e um aperto no ombro do rapaz, Malu deixou a pequena sala de refeitório, que também funcionava como descanso para os funcionários, carregando suas revistas.

Seu almoço tinha sido uma pausa bem-vinda, onde ela pôde soltar a imaginação ao lado da Senhorita Flamejante, mas estava na hora de encarar suas obrigações.

Ao chegar na área de atendimento da loja, Malu assistiu a estudante de contabilidade se dividir entre o atendimento de três clientes no balcão. Stephanie era uma pessoa de presença marcante, com seus olhos cor de caramelo e estatura alta, mas também tinha o pavio curto e pouquíssima paciência. Por isso, quando Malu notou o leve revirar de olhos que a jovem lançou para o senhor de meia idade que apontava para uma das brilhantes coleiras na vitrine, ela rapidamente se pôs em movimento para evitar uma catástrofe.

Malu correu para colocar seu avental com o logo da pet shop, deixando no meio do caminho suas revistas num canto do balcão que delimitava a área de atendimento dos funcionários, das prateleiras de exposição de produtos no centro da loja.

A dona do lugar costumava dizer que aquele balcão deveria servir como o cartão de visitas do estabelecimento, já que era o primeiro lugar em que os clientes pousavam os olhos ao entrarem, por isso, era imprescindível que as peças da vitrine estivessem sempre organizadas, assim como as prateleiras de medicamentos e produtos importados na parede oposta. Além disso, ela pedia também para que todos que estivessem em atendimento ali fossem simpáticos e atenciosos na medida do possível. Mas obviamente a Stephanie não era a melhor funcionária no setor de conversa fiada.

— Stephie, você pode dar uma olhadinha na agenda da Mel? Tem uma cliente no telefone com uma urgência. Eu cuido desse cliente. — Malu sorriu de forma doce para o senhor grisalho e lançou um olhar significativo para sua colega de trabalho.

— Se é uma emergência, eu vou reagendar alguma consulta. — a jovem respondeu num tom sério, levantando os polegares em agradecimento, de forma que o cliente na frente delas não pudesse ver o gesto, e rapidamente foi para a ponta do balcão indicando para o próximo da fila segui-la.

— Esse daqui tem na cor vermelho? — o senhor apontou para uma coleira cor de rosa com pingente de morango.

— Sim. — Malu assentiu educadamente.

— Não gosto desse morango. Tem com formato de abacaxi? E com esses brilhinhos?

O atendimento com o senhor durou mais do que o esperado, até que, ao final da dissecação de cada tipo de coleira que havia na loja, ele decidiu não levar nada além de um saco de ração para o seu gato. Malu sabia que trabalhar com o público requeria uma dose cavalar de simpatia e calma, mas às vezes, um mero sorriso forçado enquanto a pessoa do outro lado te tratava como bem queria era um esforço quase sobrenatural. E para muitos, deveria ser o suficiente para se jogar tudo para o alto, mas no mundo real, onde boletos eram piores do que qualquer bicho papão, se manter firme diante de um cliente ruim era o mesmo que voltar de uma guerra com medalhas de condecoração.

— Meu Deus! Achei que ele nunca iria embora! Você tem uma paciência de Jó, Malu! — Stephanie organizava os enlatados de uma prateleira do outro lado do balcão, aproveitando a calmaria da loja.

— Ainda bem que ele não percebeu a minha tática de evitar que você o esganasse. — a jovem respondeu com bom humor. — E os outros clientes? Foram tão malas quanto esse?

— Não, foi só um almofadinha que veio buscar uma cachorrinha e uma moça que queria uma pomada para sarna. — a garota fez pouco caso do trabalho que odiava fazer, mas não por muito tempo. — Foi o Marcelo quem fez essa confusão, tirando o Bruno do balcão e me fazendo cobrir tudo aqui na frente.

Stephie estava acostumada a ficar no caixa, longe dos bichinhos e dos atendimentos ao cliente, embora todos os funcionários recebessem o mesmo treinamento básico, alguns se saíam melhor em determinadas tarefas e a Dona Margot era bem ciente disso, então, depois do período de experiência, cada um recebia o convite para um cargo definitivo.

Marcelo era o tosador e banhista, o responsável por deixar os animais cheirosos e bonitos. Bruno era tecnicamente o estoquista, mas ele também se dava bem em apontar os produtos para os clientes quando necessário, dando um apoio nos atendimentos, que era a função principal de Malu, que também cuidava das agendas de banhos e consultas.

Melissa, ou apenas Mel, era a veterinária do local, responsável pelos atendimentos e pequenos procedimentos médicos, mas ela tinha uma escala rotativa em outros lugares, por isso, sua presença era sempre com hora marcada. No entanto, isso não a tornava menos membro da equipe Bicharada.

— O coitado estava morrendo de fome. Releva essa Stephanie. — Malu pediu com um sorriso simpático e rapidamente mudou de assunto. — Você pegou as revistas que deixei ali? — ela apontou para o final do balcão que estava vazio agora.

— Sim, já coloquei no caixa para eu dar uma olhadinha. Tenho a formatura da minha mãe semana que vem. A primeira da família a se formar na faculdade. — ela deixou claro o orgulho que sentia em ver a mãe realizando o seu sonho depois de tantos anos.

— Fico tão feliz por ela Stephie! Dê os meus parabéns à ela!

Internamente Malu fazia da mãe de sua colega uma inspiração, pois assim como a formanda, ela estava adiando o sonho de ingressar na faculdade por responsabilidades maiores. Afinal, para reles mortais, uma bolsa de estudos na faculdade não caía do céu e cursinhos, taxas de provas e material de estudo estavam fora do seu orçamento. A mãe de Stephanie precisou esperar os filhos cresceram e caminharem sozinhos para investir no curso de enfermagem.

— Pode deixar! Amanhã eu te trago as revistas, Malu, minha irmã também quer ver alguma coisa. Ela é a louca dos sabonetes.

A chegada de uma família com quatro transportadores de gatos encerrou a conversa entre as duas e rapidamente, a loja foi voltando a ter um ritmo acelerado de funcionamento, até que, ao final do expediente, Malu foi a última a deixar a pet shop ao lado da administradora do lugar.

Magot Alencar estava na casa dos quarenta anos e tinha muita experiência com o comércio. Seu pai tinha uma venda quando ela ainda era pequena, depois se casou com um padeiro e junto dele, montaram um negócio lucrativo no bairro em que viviam. Mas depois da morte de seu companheiro, Margot teve de arregaçar as mangas e começar do zero para garantir o sustento de seus dois filhos adolescentes, já que as dívidas acabaram engolindo a pequena padaria. Foi assim que ela investiu o pouco que lhe restou na Bicharada.

A pet shop da dona Margot era pequena, uma loja espremida entre outras grandes na avenida principal de um centro repletos de empresas. Era comum frequentarem o seu espaço alguns moradores do bairro vizinho e hipsters que trabalhavam nesses escritórios mais flexíveis, todos em busca de um mimo para seus pets, seja na forma de um presente, ou em uma sessão de spa. E graças aos clientes que tinham se tornado fiéis, a loja estava florescendo em meio à crise.

— Malu, antes de você sair, queria trocar umas palavrinhas com você. — a mulher agitou seus cachos perfeitos, naquele penteado que ainda parecia pertencer aos anos 80. — Eu sei que você é a funcionária mais antiga que eu tenho na casa. É a primeira a chegar e a última a sair...

Malu segurou o pensamento de que seus horários eram culpa do transporte público que lhe davam apenas a opção de chegar muito cedo ou muito tarde. E de que seu período de um ano e meio na folha de pagamento foi o que salvou sua família de passar grandes apuros.

— Então, eu queria te oferecer a gerência. — ela rapidamente emendou. — Não seria para agora, daqui há uns dois três meses. Eu tenho que terminar de pagar o secador novo primeiro. Mas, eu queria que você soubesse que reconheço o seu empenho.

A mulher apertou seu ombro de forma maternal e Malu sentiu aquela rede de proteção que parecia cobrir o ambiente de trabalho, mesmo em seus piores dias.

— Não tenho nem como agradecer a confiança Dona Margot. — ela respondeu com um sorriso genuíno.

A mulher de coração mole não resistiu em abraçar a jovem que era muito querida por todos ali, com seu jeito doce e prestativo. Por muitas vezes, Malu a lembrava daquelas bonecas de porcelana que sua mãe costumava colecionar, com a estatura pequena e os cabelos curtos no estilo Audrey Hepburn.

— É só você continuar colocando o Marcelo e o Bruno na linha! Aqueles dois me deixam com mais cabelos brancos do que meus filhos!

Malu riu ao lado de sua chefe com as lembranças daquele dia em que os rapazes trocaram farpas amigáveis entre o depósito e o espaço de banhos por causa da playlist escolhida para tocar no sistema de som da loja durante a tarde. E como a boa apaziguadora que era, Malu conseguiu deixar que os ânimos não se exaltassem muito, afinal, ela tinha experiência nesse setor ao conviver com dois pré-adolescentes em casa. Ela já havia perdido a conta de quantas vezes acabou com a briga entre seus irmãos mais novos.

Depois de se despedirem, cada uma das mulheres foi para um lado da rua, que mesmo no final da noite estava movimentada. E quanto caminhava para o ponto de ônibus, Malu tinha a sensação de ter todos os planetas alinhados ao seu favor e parecia até irreal que pela primeira vez em sua vida, o horóscopo que ela leu de manhã estivesse certo.

Este dia estava pronto para lhe trazer surpresas que dariam uma guinada em sua vida. 

><><><><

Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo... Me deixem a opinião de vocês, please!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro