• 🌧 || 45. recomeçar
COLE SPROUSE
Se eu dissesse que passei as duas semanas de férias completamente trancado apenas sonhando com o início das aulas eu estaria mentindo feio. Eu sai algumas vezes, todas elas Camila estava junto e me dava atualizações de Lili.
Eram sempre informações boas, o que eu agradeço. Não queria vê-la sofrendo de novo.
Na terceira segunda-feira de janeiro as ruas da cidade estavam completamente brancas e cheia de crianças, eu poderia jurar que a escola baniria o primeiro dia de aula por conta do frio extremo, mas nada aconteceu.
Quando eu menos esperei eu já estava descendo do meu carro com Tiera ao meu ladro reclamando o quanto ela odiava a neve. Eu não prestava muita atenção no que ela falava, normalmente só saiam bobagens.
Assim que entramos na escola vejo Charles cheio de casacos e não deixo de rir enquanto me aproximo.
— Puta merda... — dou um empurrãozinho de leve em seu ombro totalmente fofo por conta das mil camadas de roupa. Ele me olha com o nariz vermelho e os olhos inchados.
— Essa droga de escola não consegue pensar em quem tem problema renais! — Charles exclama indignado. Nego com a cabeça e vejo Tiera ao meu lado agarrar minha mão e conversar com uma Cheer. — Você ri porque continua com essa cara de bunda sem nenhum aranhão.
— Você só reclama... — Camila chega por trás de Charles e revira os olhos. Não deixo de concordar com a cabeça.
— Você só vê o pior de mim. — Charles reclama esfregando o nariz. — Vocês só veem o pior de mim! Deus...
Ele espirra.
— Eu odeio o inverno.
— Eu também. — Dou de ombros. Tiera puxa minha mão e eu olho para ela. — Sim?
— Vou indo até a sala, tá bom? — Ela sorri de leve e eu dou de ombros. — Ok, boa aula.
Sinto seus lábios em minha bochecha e ela sai andando com uma menina ao seu lado.
— Pra você também. — Aceno olhando na direção que ela tinha ido e volto minha atenção para a rodinha. Não recebo bem o que eu gostaria. Camila me olhava como se estivesse me julgando.
— Ela está te julgando, caso esteja com dúvida. — Charles aponta. Bufo, sem paciência para o início do assunto mais previsível.
— Quando vai parar de fingir que gosta desses beijinhos que ela dá na sua bochecha ou as mãos de vocês grudadas?!
— Eu odeio o inverno também, Melton. — Ignoro minha melhor amiga e volto ao assunto anterior. — As chuvas aumentam.
— Você e seu trauma. — Camila revira os olhos. — Ainda não entendo o seu medo extremo de chuva.
Dou de ombros e cruzo os braços, encarando Camila me analisar. Eu odiava quando ela fazia isso, era cansativo saber que dentro da sua mente muito esperta ela me julgava e previa cada passo que eu ia dar.
Sua atenção, apesar de estar me julgando, se vira para alguém atrás de mim, que não demora a cutucar meu ombro.
Viro rápido e controlo o sorriso involuntário que começava a se formar na minha boca quando vejo Lili toda cheia de casacos e uma touca rosa e marrom.
— Pare de me encarar, o frio me deixa preguiçosa. — Ela revira os olhos.
Suspiro. Caramba, essa era a primeira vez que ela me procurava para conversar e mais, era a primeira vez que a nossa conversa não começava com uma patada muito bem dada vinda de Lili.
— Você parece uma criança. — Respondo e ela bufa.
— Bem, ignorando o comentário, você pode me encontrar no final da aula no jornal? — Ela pergunta esfregando o nariz e eu concordo rapidamente. — Tive umas ideias e quero te mostrar.
— Tudo bem, no final da aula eu te vejo.
— Certo. — Ela sorri e começa a de afastar. — Tchau Mendes!
— Tchau. — Camila responde e volta a me olhar, corrigindo, analisar. — Posso te pedir uma coisa?
Franzo as sobrancelhas e concordo com a cabeça.
— A próxima vez que ela vier falar com você controle esse seu desejo incubado deagarrar ela. — O sinal toca mostrando que devíamos ir para as aulas. — É só um conselho.
***
As aulas passaram rápido para um primeiro dia de aula. Ignorando o frio e o barulho irritante de fungados, eu havia gostado do dia. Provavelmente só pelo fato de que eu conversaria mais com Lili.
— Amanhã quero esses exercícios feitos! — a professora de química diz e os alunos começam a se levantar. — Vocês estão no último ano no ensino médio, os trabalhos, qualquer trabalho, vale nota! Se lembrem. Estão dispensados.
Essa professora era um porre apesar desses conselhos ótimos.
Uma multidão se aglomera ao lado de fora das salas de aula e eu me apresso para correr até as escadas. Eu queria tudo menos uma gripe.
Subo o conjunto de escadas meio correndo e chego no andar das extracurriculares. As salas estavam algumas vazias outras com um certo número de pessoas, não duvido muito que o jornal ainda esteja vazio.
Chego na porta do jornal e vejo que ela apesar de fechada não estava trancada, então entro lá.
Como o esperado, não tinha ninguém ali. Apenas eu, folhas largadas pelas mesas e os milhares de livros nas prateleiras. Sorrio, imaginando Lili muito confortável aqui.
Me sento em uma das cadeiras em volta da mesa bagunçada e começo a mexer nas folhas e acho uma em específico que tinha gostado.
Apesar de ser apenas um desenho com lápis grafite, estava ótimo na realidade. Eu conseguia claramente ver o que Lili queria mostrar com esse desenho. Eu entendia que esse espelho com mãos espalmadas neles queriam dizer. Eu entendia ela, e isso me fazia ter mais esperança de que eu a teria de volta.
— Você realmente está mexendo nas minhas coisas? — Escuto a voz de Lili e me viro. Ergo o desenho e falo:
— Eu gostei desse.
Vejo ela arregalar os olhos, jogar a mochila no chão e pegar o desenho correndo da minha mão.
— Isso não devia estar aqui... — Ela fala rindo nervosamente e enfia entre as páginas de um caderno.
— Vai esquecer.
— Não vou.
De longe vejo ela abrir mais as cortinas nas janelas fazendo o pouco de sol existente em Ohio entrar na sala. Depois Lili tira os tênis e pega um controle branco, ligando o ar.
— Tudo bem. — Ela se senta na cadeira na minha diagonal e pegar um outro caderno jogado ali. — Eu fiz uns esboços. Só te chamei aqui mesmo porque quero que fale qual mais gosta e porque.
Então era isso?
— Sério? Você vai fazer o desenho inteiro sozinha?
Ela ergue a sobrancelha me desafiando e eu seguro o sorriso que tentava rasgar a minha boca.
— Primeiro, você não sabe desenhar. Segundo, acho melhor fazermos essa trabalho separados por causa do tema... — Ela pisca o olho. — Você sabe, temos visões diferentes do amor...
— Você realmente nunca vai esquecer isso, não é? — Lili me olhou como se eu estivesse falando a verdade. — Ou pelo menos me dar uma chance de explicar? Não sei, recomeçar tudo isso!
— Recomeçar? — Perguntou segurando o riso e quando eu menos esperava ela explodiu em gargalhadas. Cruzei os braços vendo, não sabendo exatamente o que fazer.
Decidi que ficar em silêncio, esperando que sua crise nada engraçada de risos pudesse acabar, e depois de alguns minutos acabou.
— Certo... — Ela coçou a garganta e limpou os olhos. Lili pegou uma caderno cinza com adesivos. — Ai Sprouse, você me diverte. Vou te mostrar os meus esboços e vamos acabar logo com isso...
A próxima meia hora passou com apenas Lili falando, mostrando e explicando cada desenho que tinha feito. De fato eram ótimos, muito bons na verdade. Eu acreditava que esse talento não fora colocado em Lili por motivo nenhum, ela um dia se tornaria com um nome de peso.
Mas, apesar dos desenhos estarem bons, mas todas aquelas mãos dadas, pessoas com seus corações ligados por algum motivo ou os rabiscos que se caso você olhasse de longe claramente via duas pessoas se abraçando ainda não transmitiam para mim o que significa amor.
— Eu gosto muito deles... — Falo entregando o caderno de rascunhos de volta para as mãos de Lili e tentando achar, dentro da minha cabeça, alguma forma de dizer o que eu sentia.
— Mas... — Lili cruzo as pernas e me olhou com aqueles olhos verdes. Os encaro por um tempo e tomo coragem.
— Mas eu ainda não consigo ver o amor aí. — Lili franze a sobrancelha. — Assim, os desenhos são claramente pessoas que se gostam ou gestos de amor e carinho mas pra mim o amor não é só isso.
Lili me encara em silêncio. Em uma grande parte eu sabia o que se passava dentro da sua cabeça tão inteligente e tinha muito medo do que ela iria falar.
— Já sei. — Ela fala com um sorrisinho pequeno na boca e eu me preparo para a próxima bofetada no meu peito. — Que tal nos fazermos o texto antes e depois o desenho? Assim a gente junta nossos conceitos.
Com toda certeza isso não era o que eu estava esperando. Esperava uma de suas patadas rápidas e curtas que doíam mais que o mundo.
— Certo... — Concordo com a cabeça com certa desconfiança.
— Você fala o que acha do amor e depois eu. — Passo a língua entre os lábios e vejo a atenção de Lili mudar para eles em um milésimo de segundo. — Vai.
Olho para seus olhos e tento encontrar palavras para explicar o que eu senti quando me apaixonei por ela.
— Eu acho que o amor é complicado. — Dou de ombros. — O amor é respeito e admiração. O amor é persistir em cada pequena coisinha. O amor é paciência. É lealdade e também poder perdoar...
Olho para Lili que estava com uma expressão neutra mas seus olhos mostravam que ela sentia muito e tinha muito o que falar.
— Amor é verdade e puro carinho. Amor é crescer, maturidade, apoiar os outros e a si mesmo... — Respiro fundo. — O amor é uma conexão de almas e comunicação com os sentimentos. O amor é a esperança no meio desse mundo.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas nos olhando. Apenas falando tudo o que nós gostaríamos de poder falar um para o outro, dizer o que estamos sentindo mas sem nenhum pingo de coragem no corpo para tirar isso de dentro da nossa mente.
— Certo, é, hmmm... — A Lili envergonhada e atrapalhada volta com as palavras por um momento volta mas aquele olhar duro e frio volta numa questão de segundos. — Talvez...
— Eu odeio me apaixonar. — A interrompo, criando um pouco de coragem para dizer um terço do que se passava na minha cabeça. — Na verdade, eu odeio ter me apaixonado por você e ter conseguido estragar tudo. A gente ficou por pouco tempo junto mas..., mas aqueles dias foram os melhores da minha vida. Cada música — Sorrio lembrando de todos os nossos momentos tão especiais. —, sorrisos, momentos e todas as vezes que eu olhar para a lua e as estrelas vou lembrar de nós juntos. Daquelas conversas noturnas que tínhamos, das risadas sinceras e sentimentos. Eu sempre vou me lembrar do nosso primeiro beijo. Você me fez acreditar no amor, acreditar na vida e apreciar os pequenos detalhes...
Lili estava com seus olhos brilhando e boca espremida.
— Talvez eu não seja o amor da sua vida. Talvez eu seja só uma memória ou lição de vida que aparece na sua mente de vez em quando mas some tão rápido quanto o vento... — Esfrego meus olhos que ameaçavam a transbordar as lágrimas que eu segurava. — Eu não sou o garoto dos seus sonhos. Eu sou a passagem que te faz aprender a amar para aí sim, ir encontrar o garoto dos seus sonhos... Posso ser o caminho, mas nunca o destino final. Tem vezes que eu me pergunto se você sente tanta saudade quanto eu sinto de você... A gente terminou por minha culpa, e porra... porra, se eu pudesse refazer tudo...
Lili desvia os olhos dos meus como se lembrasse daquele dia como se ele fosse hoje.
— Eu preciso te falar isso mesmo que você não acredite. Eu te amei tanto, que você não tem ideia. Nunca amei ninguém como amei você, eu sempre vou te amar e te amarei mesmo quando nossos caminhos se desencontrarem. E caso você queira, pelo menos, me escutar e saber o que realmente aconteceu eu vou estar aqui.
Ficamos em silêncio, em um silêncio desconfortável que dizia muita coisa. Talvez eu tenha feito uma grande merda falando tudo isso, mas acho que assim é melhor. Assim vamos poder acabar a escola, nos distanciar e esquecer um do outro sem um peso na consciência.
Escuto Lili suspirar, fungar e se arrumar na cadeira.
— Encontrar o significado único para o amor é uma tarefa muito complicada... mas ele pode ter diversos significados especiais. Há quem diga que ele é o maior sentimento do universo; há quem acredite que ele esteja em uma pessoa específica, ao mesmo tempo que há quem acredite que ele está em tudo. O amor é algo que cada um de nós aprendemos de uma maneira única. Mas a gente , por favor, combinar? Ele é um sentimento maravilhoso, indescritível e imenso.
Olhava fixamente para seus olhos, sabendo que cedo ou tarde viria mais coisas para falar.
— O nosso amor foi tão bonito... — Ela nega com a cabeça olhando para suas mãos. — Foi o mais bonito que eu ja vi. Tinha companheirismo, carinho e amor de sobra. Você não tem a mínima noção de quanto tudo isso dói no meu peito, o quanto dói eu te ver se afastar de mim e sair da minha vida sem dar o uma única explicação!
Lili me olha com seus olhos verdes. Aquele olhar da qual eu me apaixonei volta enquanto ela falava e isso me fez querer morrer por dentro.
— Ao mesmo tempo que eu sinto saudade sua, eu também sinto raiva. Pra quem dizia me amar e tinha mil e um planos comigo, até que conseguiu superar e rápido. — Vejo ela fechar os olhos e respirar fundo. — O sentimento que eu sinto quando vejo a pessoa que iria estar comigo pra sempre agora está com outra me faz querer simplesmente desistir da nossa história. Pelo menos eu aprendi que amar é uma grande porcaria...
Nos encaramos por um tempo antes que ela continuasse.
— Uma grande perda de tempo... E sabe...? Eu te amei! Te amei mesmo. Acho que... que te amei mais do que já amei qualquer outra coisa e eu, por momento, achei que você sentia o mesmo por mim. Mas não sentia.
— Lili, por favor... me deixe explicar... — Aproximo minha cadeira da sua e, por um milagre do momento, consigo pegar suas mãos. A mesma energia e conforto que senti a primeira vez volta a tona.
— Só de pensar que você beijou outra pessoa enquanto estava comigo me faz fisicamente doente... — Ela me encara com lágrimas nos olhos e não solta a minha mão. — Sei que eu não tenho nada haver com quem você fica ou deixa de ficar mas... porra, me mata.
Lili deixa que as lágrimas escorram por seu rosto e eu me mordo por dentro de estar fazendo ela sentir toda essa dor e sofrimento que desejo que nós não tivéssemos nos conhecido. Que aquela professora não tivesse no colocado juntos. Que nada disso tivesse acontecido.
— Lil... — Ela solta as nossas mãos e enxuga o rosto com raiva.
— Eu já pedi pra parar de me chamar assim! Deus, quando vai aprender que me perdeu de vez?! Você não vai me ter de volta, Cole.
— Lili, se você soubesse o quanto eu gostaria de poder recomeçar toda a nossa história...
Vejo ela esfregar seu moletom nas bochechas, fazendo com que os únicos vestígios de choro que sobrassem fossem seus olhos vermelhos.
— Você quer recomeçar isso? — Ela pergunta um pouco irritada enquanto me olhava, com os olhos vermelhos. Vou repetir que sim, gostaria mais que tudo que pudéssemos recomeçar, mas ela me interrompe antes. — Tudo bem. Vamos recomeçar.
Ela esfrega as mãos na calça e sorri pra mim, esticando a mão.
— Oi, eu sou a Lili, faço 18 anos em setembro. Gosto de arte e música e flores. Sou horrível com esportes e qualquer coisa que envolva números. — Respira fundo. — Já namorei uma vez mas não terminou muito certo. Agora é você.
Era como se eu tivesse levado um tapa. Ela havia largado informação demais em um período de tempo muito curto. Achei que Lili só iria rir da minha cara e me responder algo engraçadinho. Se ela tivesse levando isso realmente a sério, o que é mentira, eu faria de tudo para que ela me escutasse e me desculpasse de uma vez por todas.
— Oi? — Lili estrala os dedos na minha cara. — Vai.
— Ahm... Eu me chamo o Cole, vou fazer 18 anos em agosto... — Coço minha nuca meio incomodado com o jeito que ela me olhava. — Eu gosto de futebol, de brincar com a minha irmã e de uma loirinha chata.
Ela revira os olhos.
— A Tiera, claro. — Lili fala rindo e dessa vez sou eu quem revira os olhos.
— Claro... — Suspiro. — Minha cor favorita é verde e eu já namorei mas adivinha só?!
Lili sorriu, fazendo parecer que não tivemos a "conversa" mais profunda de toda a nossa vida a alguns minutos.
— A menina te deu um pé na bunda?
— Também. — Pisco um olho. — Eu fiz merda e tentei recuperar meu relacionamento mas ela não me escuta. É isso.
Lili concorda com a cabeça e olha para a janela.
— Tudo bem. Estou com frio e fome, pode me dar uma carona pra casa?
Sorrio de leve e concordo com a cabeça, pegando minha mochila no chão e saindo daquela sala que já tinha escutado tanta coisa em tão pouco tempo, que eu não sei como aguenta.
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um capítulo grande pra voltar com tudo!!!!
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