| Thirty One |
"Agora cortamos para a cena da garota, sozinha
Ela se encontra na ponte do Brooklyn
E ela está verdadeiramente em casa, em casa
Seu passo tem um novo impulso
As grandes luzes brilhantes da cidade estão brilhando para ela
Há uma sede em seus olhos e em seu coração
Embora ela pense em olhar para trás
Para trás, ela não vai"— Au Cinema (Lianne La Havas)
Devo dizer que acredito que toda a vibe do segredo e algo misterioso começou assim que o dia começou, desde quando as nuvens do final de inverno. O céu azul do início da primavera me confundiam sobre o que eu deveria colocar. Consigo me lembrar exatamente das minhas amigas me dizendo que eu não sei o que vestir e me ajudando a me arrumar, para minhas idas em bares, boas memórias afinal. A questão é que eu acabei vestindo algo que elas muito provavelmente não aprovariam para ir em um show. Um casaco jeans cinza, uma blusa de frio xadrez amarrado em minha cintura, vestida de uma calça mom jeans e um moletom escrito sick mode, minha música do momento, apesar de não refletir em nada minha aura. De qualquer forma talvez meus tênis brancos tenham deixado tudo mais confuso, pois eu devo ser a única que usa tênis brancos para sujá-los na terra. De qualquer, foi assim que eu fui, numa vibe dos anos noventa, esperando as surpresas que aquele show me daria.
O show secreto do Travis Scott, foi em um fim de tarde no Central Park. Um lugar bastante aberto para um show secreto, diga-se de passagem, mas havia realmente algo de secreto ali, talvez as luzes vermelhas, verdes e roxas, a fumaça, o cheiro entorpecente, o som e a vibe que ele trazia. O palco foi montado como se estivéssemos entrando em circo, exatamente como foi no aniversário de sua filha, mas era o show do papai e nele existe algo mais travesso. Nossos celulares foram confiscados, não poderíamos gravar, de fato um show secreto e eu deveria me atentar e muito no que vou contar especialmente para meus caros leitores, para você. Foi um bom show, eu cantei e pulei, dancei e aprendi músicas novas na qual eu me arrependo de tê-las ouvido apenas agora. De qualquer forma, foi sim um show de fato que me tirou o fôlego, que me fez ter uma eletricidade incrível em meu corpo, enquanto não parava de pular e dançar. Foi fantástico e estar sem o meu celular, apenas me fez aspirar por cada momento daquele show e aproveitar cada segundo, cada nota e letra de cada música. Simplesmente, de tirar o fôlego. Uma pena que não poderei dizer muito além de elogios ao show incrível, queria fazer um filme somente do show para quem não pode ir ver o que aconteceu, mas infelizmente esse show é um segredo. Apenas tenham em mente de que foi apaixonante e que Travis Scott é um dos rappers mais impecáveis que temos em nosso país. Foi um espetáculo, com luzes, com diversão, com um salve de palmas e assobios, com música e magia, como em um circo mas com algo a mais, algo que somente Travis Scott nos trouxe, sua criatividade de nos levar para um mundo mágico, com seres fantasiosos, uma mistura de realidade e fantasia, foi tudo.
Olhava atenta para Daniel, eu mandei o mesmo texto para Harry também, mas Daniel estava lá comigo. Óbvio que tudo isso era apenas um rascunho do que eu iria mesmo escrever, eu acabei de escrever porque o show acabou de acabar e estávamos em uma pizzaria. Eu fui anotando em meu celular enquanto Daniel ficava falando sobre sabores de pizza e fez o pedido porque eu confio no gosto alimentar dele. A verdade, foi que já faz mais de um mês desde que o chamei para ir comigo no show do Travis, que aconteceu hoje e fomos nos conhecendo, afinal como eu levaria alguém que mal conhecia para um lugar tão especial como o show secreto do Travis Scott?
Enfim, deveria saber logo que Daniel e eu teríamos uma boa amizade, que ele acabaria lendo o que eu estou escrevendo e dando sua opinião. Foi o que ele fez com a crítica do livro que fiz semana passada, um romance brasileiro e novo. Um bom romance adolescente de uma autora que fiquei interessada em conhecê-la. Ela se chama Tereza e o livro era sobre uma garota que vivia no interior de um estado, um local ribeirinho, a personagem principal vivia em um lugar negligenciado e um rapaz da cidade grande vai para lá, eles se apaixonam, mas ele teve que ir e por sua condição negligentes ela teve que ficar e lutar por um futuro melhor que para ela é uma boa faculdade, um ensino superior. O tempo se moveu, até ela se torna independente e dona de si com uma vida muito melhor mas sem nunca se esquecer da sua casa e dos problemas que sua casa tem. Ela o reencontra em um evento da cidade e o romance começa aí, mais uma vez, um romance ingênuo e doce. Um bom amor e um bom livro em vários aspectos, porque fala tanto sobre amor como de problemas sociais e eu gosto dos dois temas.
— Angelina me escutou? -Daniel me chama. O olho perdida e ele sorri um pouco. Não preciso dizer nada porque ele entendeu e por isso começa a falar. — Como eu estava dizendo, está realmente muito bom para um rascunho e eu que sou chato para ouvir álbuns de imediato, ainda mais quando mais pessoas me pressionam para ouvir. Só que nesse texto, você acabou me convencendo de ouvir um álbum dele só para sentir tudo que você escreveu. -Meu amigo fala e eu sorrio.
— Você acha mesmo? -Pergunto, sentia-me tímida com tal elogio e tenho a sensação de que nunca vou me acostumar com eles.
— Com toda a certeza Angie. -Ele fala e eu sorrio.
— Obrigada. -Falo sorrindo. — Você pediu qual pizza?
— Quatro queijos e calabresa. -Ele fala.
— Espero que conheça um bom cardiologista. Ou que você seja um. -Falo e ele ri.
— Andei pensando em me especializar em neurologia mas posso pensar na cardiologia.-Brinca, sorrio e Daniel sorri também. Respiro fundo, ele é legal. Ele é mesmo legal e estar com ele desde que Harry se foi, deixou as coisas menos melancólicas e dolorosas. Eu acabei aprendendo a tratar Nova Iorque como minha nova casa, conhecendo lugares novos, lugares apertados para boas festas, diga-se de passagem. Aprendi a amar todas as luzes brilhantes e a ir ao Central Park apenas para ver os cristais estrelares em um céu escuro mas que brilhava imensamente por causa das estrelas.
Às vezes Daniel ia comigo, até porque sair de noite e quase sempre de madrugada não é a melhor coisa de se fazer só. Desta forma, conhecer Daniel e sair com ele, na verdade vem sendo divertido. As conversas que existem nas noites do Central Park vem sendo minha parte favorita, me faz esquecer de tanta coisa que pode me machucar e vem me ensinando coisas novas.
— Deveria pensar mesmo sobre. -Falo e o garçom chega nossa pizza. Olho para o rapaz e sorrio agradecendo-o, Daniel faz o mesmo e nós começamos a comer.
A noite havia acabado de começar para apenas comermos pizza e irmos para nossos apartamentos, eu ainda estava eletrizada por conta do show do Travis e Daniel também. Além disso, ainda tem lugares que eu nunca fui e que Daniel conhecia de trás para frente então acabamos parando em uma ponte em Brooklyn. Víamos os carros,as pessoas e as luzes, uma noite com nuvens e estrelas pelo céu parecia que iria chover de madrugada, o início da primavera e classicamente a chuva vinha para dar aquele empurrão nas árvores para que elas florescerem e é uma noite linda afinal.
Bem, eu adoraria que chovesse mas não agora que estou na ponta vendo os carros, as pessoas, as estrelas, as nuvens, sentindo o vento e estando na presença de Daniel.
— Angelina. -Daniel me chama e eu o olho. A câmera do seu celular está apontando para mim. — Sorria. -Ele fala e eu acabo sorrindo. Ele tira a foto e me mostra. Eu estou bem e a paisagem está bonita. Gostei da foto.
— Eu quero a foto. -Falo, olho para Daniel, ele concorda e eu sorrio um pouco para ele. — Nunca tinha vindo para cá, apenas para observar. -Comento e Daniel sorrir e se vira olhando para os carros.
— É um bom lugar para ficar quando a cabeça está um pouco cheia e o silêncio do Central Park se torna perturbador. A cidade é agitada, aqui é agitado, não sei como é com você, mas ver tudo isso, apenas observar a movimentação com atenção, da forma de como cada pessoa está vivendo sua história, andando com passos apressados para os locais, as vezes devagar, distraídos ou com cautela, sorrindo ou preocupados me faz criar histórias, me distrai, eu imagino como se eu estivesse em minha casa vendo um filme, todas essas pessoas com suas vidas são os personagens. Então no final, eu consigo relaxar, quando minha cabeça está cheia demais. -Daniel fala, eu não consigo dizer nada por um longo tempo, apenas observar este rapaz. Ele é legal, ele é mesmo legal e lindo. Eu respiro fundo e fico olhando na mesma direção que ele.
— Eu também gosto de fazer isso. -Falo por fim. — Ouvindo música, algum jazz antigo como Ella Fitzgerald, tomando café e imaginando quantas histórias estão passando por mim, andando pela calçada, sorrindo ou não. -Completo e olho para Daniel, ele se vira me olhando. Continuo. — Então, eu as vezes imagino as histórias dessas pessoas ou crio meu cenário, minha história ideal. Eu fazia isso várias vezes antes do... -Paro de falar quando noto que falaria do Harry. Daniel franze sua testa me observando, ele sorri um pouco e eu mordo meus lábios.
— Do Harry? -Ele pergunta, concordo e respiro fundo. Volto a olhar para frente, para os carros e sinto o vento suave bater em minha pele.
— Não é como se eu estivesse triste como eu estava nos últimos meses, quando ele se foi, você sabe. -Murmuro e olho para o Daniel. Ele não sabe. — Ele foi especial para mim, ele foi como... Como parte de uma história ideal que eu nem pensei em inventar. Simplesmente aconteceu.
— Eu entendo Angie. -Daniel fala, eu seguro a mão dele, os dedos de Daniel passam pela minha mão eu sorrio e volto a olhar para frente. Deixo minha cabeça no ombro de Daniel enquanto ficamos olhando para a paisagem, para as pessoas, para tudo.
Então meus olhos acabam focando em uma mulher andando com seu cachorro, ele parece ser vira lata, mas a coleira que ele tinha parecia cara. Cutuco Daniel que me olha atento.
— Que história? -Pergunto apontando para mulher, olho para Daniel ele sorri um pouco para mim e olha para mulher por um tempo.
— Uma design de interiores, já se formou faz um tempo e conseguiu um emprego, acho que não muito bom para o que ela esperava, mas o suficiente para ela andar com seu cão, Fred, de noite para seus oito mil passos da saúde. -Daniel fala e morde os lábios, pensando. — Acho que ela está perto da sua independência.
— Uau. -Falo sorrindo olhando para ela. Ela está se distanciando de nós agora. Indo em direção aos condomínios dos prédios altos. — E ela se chama Alice, não é de Nova Iorque, diria Houston e os pais dela são ricos, donos de alguma multinacional. Só que mesmo diante de todo esse conforto e privilégios, a vida parece difícil para ela. -Completo e o rapaz sorrir para mim. Sorrio para ele também.
Daniel é legal, essa é a maior verdade e ficar com ele é mais divertido ainda, conversar com ele é apenas natural e eu apenas não fico olhando tanto para o passado, apenas para as pessoas, para os carros, sentindo o vento, esperando a chuva, andando de bicicleta de noite, descobrindo lugares cheios de luzes, ouvindo música, indo para shows, dançando, pulando, descobrindo que posso ter momentos fantásticos sem ficar presa em um passado que apesar de bom, se foi. Eu simplesmente tenho que aceitar isso e não olhar de forma alguma para trás, eu não vou olhar para trás enquanto essas luzes estiverem brilhando para mim.
Meu passado se foi e o meu futuro está longe para me preocupar, tenho o agora, tenho o passeio de bicicleta, as luzes, a minhas conversas com Daniel e o desfrutar de descobrir algo fantástico. Algum sentimento a mais, algo novo. Tenho a liberdade e a chance de viver o que quero, meu momento com aquilo que desejei e com alguém legal ou apenas comigo mesma, porque eu sou uma garota crescida que brilha. Uma garota crescida e independente.
Porém, que mesmo estando com minha liberdade eu também estou com alguém com quem, corro da chuva de madrugada, após uma noite inteira, observando as pessoas, criando histórias, conversando sobre muito, sobre mundo e sobre nada. Tomando sorvetes italianos com pedaços enormes de cereja, o melhor sorvete da minha vida. Há também uma eletricidade intrigante me invadindo e eu vou me sentindo cada vez mais forte. Apenas aprendendo a viver em um lugar novo.
É óbvio que algo doía em mim, mas eu tenho certeza de que faz parte do meu processo, da minha mudança e do meu crescimento. Eu estou em uma nova fase da minha vida.
No final, é certo de que, Daniel é uma pessoa legal, que acabei beijando esta noite, na varanda do seu apartamento, depois de alguns copos de vinho observando a chuva forte. Eu parecia estar vivendo em uma cena de cinema, em um momento de tirar o fôlego com uma intensidade diferente e absurda. Um momento que fez uma pequena onda de eletricidade invadir meu corpo, me arrepiando, me fazendo sentir viva.
Com esse sentimento me invadindo dessa forma, eu devo apenas tomar o ar em meus pulmões e me libertar desse cativeiro que acabei presa por conta de uma paixão intensa. Tenho que fazer com que a minha história continue indo.
Eu devo apenas aproveitar cada segundo, eu devo apenas viver do que me despedaçar na dor e da melancolia. Eu devo apenas criar minha história ideal, com momentos ideais, para quem sabe, no futuro encontrar o meu garoto novamente. Para então, assistir essas cenas com ele, e talvez em um novo cativeiro.
Entretanto, por agora, eu devo apenas me concentrar no agora, nos lábios de Daniel em um beijo doce e alcoolizado. Devo apenas me concentrar em viver isso e no sorriso brilhante que ele tem nos lábios que contagia e que me embala cada vez mais nesse momento novo e incrível. Devo apenas me concentrar nesse novo sentimento que também me parece como algo que cresce forte.
— Angie. -Daniel me chama. Eu sorrio para ele coloco minha mão na sua nuca. O som do chuva, algo mais suave e calmo. Eu pego o ar em meus pulmões, aproximo-me de seus lábios mais uma vez, havia algo queimando em mim, diferente dessa vez. e eu gostei disso.
— Que tipo de história vamos acabar escrevendo essa noite? -Pergunto, ele apenas sorrir e me beija novamente. Entre o beijo ele diz:
— Algum roteiro de cinema. Um novo começo.
Ele está certo. Eu vou ter algo novo. Vou abrir uma porta nova e ter um novo tipo de vida.
Não vou olhar para trás, mesmo que às vezes eu queira, sei disso. Eu não posso virar minha cabeça para trás e ficar mergulhada em um amor que já não posso mais ter. Um amor que não posso ter agora e que deve ficar adormecido mas sempre tendo minha lealdade de alguma forma.
Continua...
Notas: Oi oi meus amores tudo bem?
LEIAM ESSA NOTA, IMPORTANTE. TO DESABAFANDO SOBRE ALGO IMPORTANTE PARA HISTÓRIA.
Gostaram do capitulo da forma de que eu gostei? Quero que vocês saibam que o Harry foi o primeiro amor reciproco de uma garota que nunca se sentiu amada. Fazer uma história em que ela encontrasse apenas o Harry, o único que foi capaz de amar ela me pareceu injusto. Porque Angelina é uma garota fantástica e merece saber que o Harry não é o único, que ela pode ser capaz de despertar esse sentimento em outras pessoas. Que ela é atraente, que ela é capaz de ser amada porque ela é uma mulher maravilhosa e agora crescida.
Então, essa relação dela e do Daniel faz sentido para mim, para que a Angelina não entre em algo que a faça pensar que existe só o Harry e só esse amor para ela. Não é assim e muito menos nessa fase da vida dela, em que ela está descobrindo sua independia e se tornando uma garota crescida, trabalhando naquilo que ama, finalmente.
Enfim, o recado é: O amor existe e existe para Angelina, que passou uma boa parte da vida dela vivendo uma solidão que existe na realidade e principalmente existe para muitas mulheres negras. E de alguma forma, quero que vocês percebam como a relação dela e do Daniel tem algo de poderoso. Infelizmente a fanfic tem mais quatro capítulos mas eu preferi assim, porque se eu continuasse a escrever sobre a Angelina em Nova Iorque, eu levaria isso para um outro tipo de final e eu preciso que o tempo passe para chegar no final que eu quero, no momento que eu quero e em uma Angelina que eu quero. Então, sobre esse processo de crescimento dela em Nova Iorque, infelizmente não vamos ter mais, já vamos chegar na mulher que ela se tornou, não tão diferente dessa aqui mas diferente.
Mas é isto, espero que estejam gostando de coração. Vejo vocês no próximo capitulo. Xx
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