Jacob Bourne
Atravessei a rua com pressa, parando a poucos metros dele para me acalmar, respirando fundo, numa falha tentativa de diminuir meus batimentos cardíacos acelerados. Aproximei-me com cuidado, quase congelando quando seu olhar confuso se direcionou a mim.
— Oi... Oi Jacob! - sorrio, evitando olhar diretamente no mar azulado que me encarava.
— Desculpe-me, mas... Eu conheço você?
— Ah... Acho que você não se lembra, eu também acabei não me apresentando aquele dia. Você me salvou há alguns dias atrás e me trouxe pra casa, inclusive, fiz como prometi a você e não saí mais sozinha desde então...
— Você... Oh! A garota do parque, certo?
— Sim!
— Senta aí, eu queria mesmo falar com você! Não sabia o número do seu apartamento, então não tive como ver se você estava bem depois de tudo aquilo.
— Não se preocupe com isso! Estou realmente agradecida por você ter me ajudado. Se não fosse por você, sabe-se lá o que teria acontecido comigo... Muito obrigada, de verdade. - sento-me ao seu lado, mantendo uma pequena distância entre nós.
— Não precisa agradecer.
— Ah! Não me apresentei, desculpa!! - dou uma risada nervosa, enrolando a barra da camisa entre os dedos - Me chamo Olívia, muito prazer.
— O prazer é todo meu. Então, Olívia, o que uma moça como você estava fazendo sozinha, naquela hora da noite, em um lugar tão perigoso?
— Como assim, uma moça como eu?
— Você não tem cara de que gosta da vida noturna, ainda mais em uma cidade que você não conhece.
— É verdade, eu não costumo ir pra festas ou boates à noite, mas... Como você sabe que não conheço a cidade?
— Ninguém anda naquele parque à noite, principalmente as mulheres...
— Ah, por isso estava tudo tão vazio. E o que você fazia lá?
— Gosto de correr à noite, não me preocupo com o parque porque sei me defender, então ando tranquilamente por lá... Mas você não respondeu, o que fazia sozinha no parque?
— Eu estava em uma boate com minha amiga, comemorando minha mudança pra cá, mas ela acabou saindo com um cara e eu decidi ir embora. Não ia ficar esperando ela voltar da festinha particular dela!
— E você é de onde?
— Carolina do Norte, e você?
— Acho que já posso dizer que sou daqui. - ele sorri - Mas meu estado natal é o Texas.
— Sério? Tenho muita vontade de ir lá!
— Não vou ao Texas há muitos anos, mas posso te levar lá um dia.
— Ei, não brinca! Acabamos de nos conhecer, aquela noite não conta, você nem sabia o meu nome e eu nem salvei o seu número!
— Você quer o meu número?
Parabéns, idiota!
— Não é isso que eu quis dizer! Eu... Eu só queria agradecer! - desvio meu olhar para o lago, implorando pra vermelhidão em meu rosto não me entregar.
— Admito que pensei em pedir o seu, mas você estava em choque e achei que não seria uma boa ideia naquele momento.
— Pensou? Por quê? - olho de volta para ele, percebendo o quanto a nossa distância um do outro diminuiu tão rápido.
Se meu rosto não estava vermelho antes, agora virou um pimentão.
— Esse tipo de situação sempre é traumatizante pra uma mulher, então quis te compensar de alguma forma, sabe? Queria te levar pra sair, em algum lugar mais tranquilo. Acho que o melhor remédio pra uma lembrança ruim é substituí-la por uma lembrança boa.
Se anjos existissem, ele com certeza seria um. Já posso ver até mesmo as asas brancas e a auréola em cima de sua cabeça.
— Você é tão gentil! Faria mesmo isso por mim?
— Por que não?
— Sei lá, você deve ter uma vida ocupada, não sei porque perderia tempo com uma estranha.
— Bem, você não é mais uma estranha, é?
— Não, mas–
—Então o que acha de tomarmos um sorvete?
— Agora?
— Sim. Está calor e tenho o inteiro dia livre. Topa? Eu pago.
— Claro!
(...)
— Então, Olívia, me conte mais sobre você.
Estávamos sentados em uma das mesas externas da sorveteria, aproveitando a brisa leve que passava por nós e a luz do Sol, que não estava tão forte hoje, apesar do calor. A conversa estava boa, já me sentia mais à vontade com a presença dele perto de mim. É incrível como ele tem a capacidade de tirar meu nervosismo e me deixar solta tão rápido.
— O que você gostaria de saber?
— Ah, sei lá. O que você faz da vida... O que te levou a se mudar pra Chicago... Essas coisas.
— Bem... Sou estudante de Engenharia Molecular na Universidade de Chicago. Me transferi há pouco tempo e começo as aulas daqui a duas semanas, falta pouco pra eu me formar. Vim pra Chicago por causa da universidade mesmo, ouvi falar que é uma das melhores e eu queria muito dar um boost no meu currículo.
— Olha só, parece que acabei de conhecer um gênio! Haha!
— O curso é difícil, mas não é isso tudo! - mordo o palito de chocolate do sorvete - Não sou um gênio.
— É difícil entrar em uma universidade como aquela. Você parece ser nova, como já está prestes a se formar?
— Entrei na faculdade assim que saí do colegial, aos 17 anos. Consegui pegar algumas matérias avançadas e estudei muito pra conseguir. Tenho 23.
— Pensei que fosse mais nova, mas parece que nossa diferença de idade não é tão grande. Tenho 25.
— Então, Jacob, sua vez de contar o que faz da vida.
— Me chame de Jake. Bom, eu moro sozinho, há algumas quadras daqui; quase me formei em medicina, mas não aguentava as aulas de anatomia e achei melhor mudar de curso, então fiz educação física e me formei no ano passado. Gosto de viajar, não fico muito tempo no mesmo lugar porque acabo entediado. Prefiro o interior.
— Oh! Então eu acabo de conhecer um quase médico, hum?
— É, bem isso, haha! Você gosta de filmes?
— Sim, mas não tenho um gênero preferido, assisto de tudo.
— Então não terei problemas com a escolha do filme quando formos ao cinema?
— Oi? Isso foi um convite? - cubro a boca, segurando a risada. - Você é ousado!
— Então, aceita?
— Acho que a Kelly vai ficar com ciúmes, vendo você me levar pra sair assim de repente! Haha! Nem ela consegue me tirar de casa tão fácil.
— Kelly? É sua amiga?
— Sim, dividimos o apartamento.
— Diga a ela que não se preocupe, você está em boas mãos.
— Disso eu tenho certeza.
— Que dia está livre?
— Qualquer dia.
— Que tal sexta, às 20h? Eu te busco e te deixo em casa.
— Está ótimo!
Terminamos a sobremesa gelada e saímos andando pela calçada, conversando sobre assuntos aleatórios, que surgiam do nada. Neste pouco tempo em sua companhia, descobri que Jake é solteiro, não tem filhos e nem pretende ter, que gostamos de muitas coisas em comum e que ele é apaixonado por artes plásticas. Jake me contou que seu pai já faleceu e que sua mãe sumiu no mundo após o divórcio do segundo casamento dela, quando ele tinha 16 anos; ele vive sozinho desde então, já que seu padrasto saiu de casa e cortou contato com a família.
Quando chegamos na frente do condomínio que moro, o convidei para subir e conhecer minha amiga e o apartamento, mas ele negou, dizendo que tinha um compromisso mais tarde. Trocamos nossos números e nos despedimos com um abraço longo até de mais; o que eu queria mesmo era ter dado um beijaço nele, mas não queria parecer fácil, então me segurei e o observei ir embora, levando com ele aquele sorriso que me deixava de pernas bambas.
Qual é, Liv, seu último namoro foi há três anos e você não beija ninguém há tanto tempo que já deve até ter esquecido como se faz isso! Vai com calma!
Entro no elevador e subo para meu apartamento, encontrando Kelly pronta já para sair.
— Ei, rolezeira, já tá saindo?
— Sabe o carinha da boate? Me chamou pra sair hoje! Ah, cara, vou sair da seca, finalmente!
— Que seca? Você pega todo mundo!
— Tanto faz, mas me conta, como foi com o gatinho do parque? Pegou o número dele? Deu uns amassos?
— Peguei! Foi ótimo, mas não nos beijamos, não sou atirada! A gente foi na sorveteria, conversamos muito e eu descobri que ele é mais legal do que parece. Plus, vamos no cinema na sexta!
— Ooohh!! Finalmente você achou alguém tão chato quanto você! Como um homem daqueles não gosta de uma festa, uma rave? Nossa!
— Não exagera. Enfim, que horas você volta?
— Não sei. Já tirei a cópia das chaves, não precisa me esperar.
— Beleza. Divirta-se!
— Ah, meu amor, isso é o que eu mais vou fazer. - Kelly passa por mim com uma expressão de "hoje tem", pegando a bolsa e indo em direção à porta - Fui!
— Não esquece a camisinha!
— Relaxa, tô com a bolsa cheia! - ela diz antes de fechar a porta.
O resto da tarde foi tranquilo, sem muitas agitações. Passei a maior parte do tempo vendo séries e, à noite, decidi pedir uma pizza, afinal, só eu iria comer mesmo. Kelly provavelmente vai chegar de manhã, se o encontro for bom.
"Boa noite!"
A tela de meu celular acende, chamando minha atenção. Um sorriso leve brota em meus lábios.
"Boa noite. Você não tinha um compromisso hoje?"
"Foi cancelado. Está ocupada?"
"Não. Acabei de pedir uma pizza, quer dividir comigo?"
"Sua amiga não está aí?"
"Ela foi a um encontro, então acho que não vai voltar hoje."
"Isso significa que você está me chamando pra um encontro também? Haha!"
"Ah, vendo por esse lado, acho que sim! LOL"
"Estou a caminho."
"Gosta de que sabor de pizza?"
"Qualquer um está ótimo!"
"Ok. Te vejo daqui a pouco!"
"Xoxo"
— Xoxo? - dou uma risada, pensando em responder de volta, mas a vergonha foi maior, então desisti.
Liguei para a pizzaria e pedi que aumentassem o tamanho da pizza e que adicionassem mais bebidas, correndo para arrumar a bagunça que estava no apartamento e trocando de roupa. Avisei o porteiro que Jacob poderia subir e aguardei ansiosa, sentindo meus dedos suarem com o nervosismo.
Ding Dong!
Abro a porta, me deparando com o ser mais bonito da face da Terra na minha frente.
— Oi, Jake! - sorrio, abrindo espaço para ele entrar - Entre, por favor.
— Você está linda.
— Obrigada. - digo ao fechar a porta.
— Sei que não é nenhuma ocasião especial, mas trouxe isso pra você.
— Uma rosa? Uau, eu nem sei o que dizer...
— Você não gostou?
— Não é isso! Eu adorei! É que eu não recebo presentes românticos assim há muito tempo, haha! Não estou acostumada. - pego a flor de sua mão, sentindo seu doce aroma - Muito obrigada, ela é linda. Aonde você conseguiu? Não vendem flores a esta hora da noite, a menos que seja algum feriado específico.
— Tenho uma pequena estufa em casa, gosto de cultivar flores.
— É sério? Por que não me disse antes?
— Ah, não achei que você fosse se interessar por isso.
— Agora você sabe que sim, haha! Venha, sente-se. Vou pegar algo pra gente beber enquanto a pizza não chega.
O levo até o sofá e vou para a cozinha, colocando a rosa em um vaso decorativo da bancada e pegando duas taças no armário, escolhendo a garrafa nova de vinho que Kelly e eu ainda não havíamos aberto ainda.
Ela não vai reclamar quando souber que não tomei sozinha.
— Você gosta de tint... Oh, essa foto é antiga! - volto para a sala, vendo-o observar um retrato meu e de meus pais na estante. Eu ainda usava aparelho ortodôntico e era cheia de espinhas, uma visão horrível e pouco popular na escola em que eu estudava.
— Você se parece muito com sua mãe.
— Todo mundo fala isso.
— Acho que sua beleza vem de família.
— Ei, não seja assim! - dou uma risada, me sentando no sofá e nos servindo duas taças de vinho, deixando a garrafa na mesinha da sala - Experimente esse, é muito bom.
— Não ser assim, como? - ele se senta ao meu lado e pega a taça, me olhando profundamente com seus olhar brilhante e sorrindo, fingindo não entender o que digo.
— Galanteador. Você fala isso pra todas?
— Não tem mais nenhuma, pra falar a verdade. Não tive muitas namoradas no passado, era muito tímido e feio, as meninas preferiam os jogadores.
— Você tem cara de jogador!
— Eu só consegui entrar pro time no último ano do colegial, quando decidi mudar o visual e corrigir minha miopia, eu usava uns óculos horríveis, haha!
— Mentira! Sério que você não era popular? Podia jurar que você arrasava o coração das menininhas!
— Não, eu era bem feio.
— Vou continuar sem acreditar, até o dia que eu ver uma foto sua na adolescência! - dou uma risada, tomando um gole do vinho e respirando fundo, sentindo seu perfume marcante invadir minhas narinas.
— Quem sabe, um dia eu te mostro.
Entre uma taça e outra, me sentia cada vez mais leve e tagarela, me soltando completamente com Jake. Se Kelly visse esta cena, com certeza me zuaria pelo resto da vida.
— Sabe, não é inteligente deixar um estranho entrar na sua casa, logo no dia em que você acabou de conhecê-lo. - Jake diz, pegando a taça vazia de minha mão e a colocando na mesinha, junto com a dele, que estava quase pela metade.
— Você não é um estranho, não mais... - encosto a cabeça no sofá, apertando um pouco os olhos para focar minha visão nele.
— Mesmo assim, você não sabe o que sou capaz de fazer contigo.
Seu olhar, de alguma forma, havia ficado mais intenso, quase ameaçador. Talvez fosse pela bebida, eu não me importava, achava aquilo muito engraçado.
— Ah, é? E o que você faria comigo?
— Você vai descobrir...
Sinto sua mão acariciar meu pescoço, seus dedos desenhando as linhas de minhas veias, até que, repentinamente, Jacob agarra meus cabelos da nuca, me puxando bruscamente para perto.
— Uau... Você é desse tipo? - dou uma risada, sentindo pouca dor por conta dos efeitos do álcool. - Não me incomodo com um pouquinho de dor, se foi isso o que você pensou.
— Você gosta de sentir dor, sua filha da puta?
Minha cabeça bate bruscamente no braço do sofá quando Jake se debruça sobre mim, apertando meu pescoço com as duas mãos, impedindo que o ar de meus pulmões saísse.
— Ei... Você é... Selvagem, não? - levanto um pouco o joelho, pressionando-o levemente entre suas pernas.
Ding Dong!
O ar volta a circular de repente, me fazendo tossir um pouco e a pressão em minha cabeça se esvair levemente. Jake olha para a porta, com uma expressão fechada.
— Relaxa, já paguei a pizza... No máximo eles vão levar de volta e comer, ou só vão deixar aí na porta mesmo... - passo os braços por seu pescoço, o puxando para um beijo afobado.
— Você é louca... Não vai gritar? - ele aperta meu braço, dizendo entre o beijo.
— Depende, você ainda não está começando o que me faria gritar, pra começo de conversa. Quer uma dica? Na cama é melhor.
Parecendo ouvir meu conselho, Jake me pega no colo e me carrega pelo corredor, entrando na suíte que aponto com o dedo e, sem cerimônias, me jogando sobre os lençóis macios da cama. Sem esperar, jogo as peças de minhas roupas no chão e o puxo para mim, sem me importar com suas unhas cavadas em minha pele.
— Fica de costas.
— Mas eu quero te v...
— Eu mandei ficar de costas, vagabunda, você é surda? Não quero ver o seu rosto nojento. - Jacob pega em minha cintura e ombro e me vira, apertando meu rosto contra o travesseiro por alguns segundos.
— Que papel você está atuando? - rio, me inclinando para trás, sentindo a excitação que o vinho causou antecipadamente deixar minha região úmida - Você quer ser o garoto mau, hmm?
— Calada.
— Não sei se vou conseg... Ahh! Hmm!! - sua mão cobre minha boca, impedindo que eu pudesse fazer qualquer som significativo quando ele me invade de repente.
Tirando a mão que me calava, Jake usa o travesseiro ao lado para cobrir minha cabeça, abafando todo som que saía de meus lábios, tornando quente o ar que entrava em meus pulmões. Apesar da violência, não sentia aquilo como uma ameaça, pelo contrário, estar fazendo aquilo só me excitava ainda mais. Ele era como um deus, deixando tudo numa intensidade divina. Mesmo sem ver seu rosto, podia imaginar que expressões estava fazendo, e isso só me fazia querer mais.
— J...
O som de minha voz é substituído pelo barulho fino do tapa, seguido pela ardência que formigava em minha pele.
Durante o que eu acreditava serem horas, Jacob e eu reproduzimos algo que talvez não se faça nem nos filmes mais picantes de romance adulto. Mesmo que eu já tivesse esquecido grande parte do que aconteceu, não conseguia deixar de sorrir ao ver seu corpo suado de costas para mim, deitado na cama ao meu lado.
— Sorte a sua que eu tomo pílula, seu safado... - traço uma linha com a ponta do dedo em suas costas.
— Não me toque. Vá tomar um banho, você fede a vinho.
— Você gosta de ser mandão, já percebeu?
Viro-me pro outro lado, levantando da cama com as pernas bambas e indo em direção ao banheiro. Passo sem olhar pro espelho, indo direto para baixo do chuveiro e ligando a água quente, sentindo o líquido aconchegante arrastar para o ralo o cansaço de meu corpo e trazer um leve ardor dos arranhões.
De olhos fechados, escuto a porta do banheiro se abrir e, ao abri-los, vejo o corpo nu de Jake vindo em minha direção, me encostando contra a parede gelada do cubículo que originalmente foi feito apenas para uma pessoa.
— Já quer de novo? - pergunto, sentindo seus dentes roçando em meu ombro.
Não me lembro de ouvir uma resposta, o resto daquela noite se passou como o borrão passageiro da vista da janela de um carro em movimento.
A única lembrança que restou foi a das sensações indescritíveis que tive em seus braços, em meio ao vapor da água que caía sobre nós.
Daquilo, eu realmente não iria me esquecer nunca...
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