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Capítulo 38 - Destino Improvável ❀

     Sentir-se sozinha havia se tornado parte da minha rotina novamente, todos estavam estranhamente inquietos e alheios em si mesmos, incapaz de estabelecer um vínculo. Papai estava preocupado, mas nos dizia para manter a esperança e agir naturalmente.

E isso incluía, trabalhar.

Eu adorava a minha rotina, meu emprego, meu espaço, mas era estranho demais me sentir como uma intrusa dentro de uma empresa que há décadas pertence aos Hoffman, mas se não fôssemos rápidos o bastante, logo esse nome seria deixado para trás.

O motorista nos conduz em silêncio, sem puxar assuntos sobre economia, negócios e política. E eu que odiava esse assunto, por segundos senti falta dele.

Bryan permanecia distante, desde quando começou a trabalhar com o papai. Sinto falta do meu irmão, de sair para beber e fazer besteira. Sinto falta de quem éramos antes disso tudo.

E quando ele está distraído, seguro em sua mão. Bryan se assusta com meu toque, mas não o recusa. Eu sempre fiz isso quando estava com medo, segurava a mão dele e pedia para que me dissesse que tudo ficaria bem.

Meu irmão parece entender o que fazíamos, ele suspira fundo e seus lábios sussurram um "vai ficar tudo bem".

Por segundos, sinto o conforto que apenas ele me passava.

— Chegamos. — Papai anuncia, como se não tivéssemos feito esse trajeto durante toda a nossa vida. — Lembrem-se do que eu disse. Naturalmente. Nada aconteceu. Estamos no controle de tudo.

Fazemos um gesto de concordância e soltamos nossas mãos, ajustamos os trajes sociais e colocamos a expressão facial medíocre. Uma expressão facial que eu e Bryan costumávamos rir do homens de negócios. Suspiramos fundo e adentramos, sem saber o que aconteceria em seguida.

[...]

  Naquela manhã Alejandro não deu as caras pela empresa, o que me deixou curiosa e aflita. Dante não veio para o trabalho, mas eu já estava isso. Ele estava de partida, acabou para nós. Será que seu pai teve conhecimento da fuga? E ele não conseguiu?!

Suspiro fundo e mastigo a borracha na ponta do meu lápis, entretida, observo que Jessica e James estão estranhamente calados. E, sinto uma onda saudosa invadir meu peito, nostalgia das nossas briguinhas, as piadas de James e até mesmo o flerte somente para irritar Dante.

— Está nervosa pelo sumiço do seu Romeu? — ele força um sorriso, notando que estou olhando fixamente para a mesa de Dante.

— Provavelmente ele já acabou uma Julieta mais bonita por aí. — brinco e forço um sorriso, feliz por alguém trocar palavras comigo, além de sussurros.

— Ele seria louco se fizesse isso, com certeza Daniel irá entrar por aquela porta a qualquer minuto e trazer aquele perfume amadeirado e ruim dele. — James sorri e Jessica nos observa com curiosidade.

— Eu gosto do perfume dele, pelo menos não tem cheiro de gambá, igual a você. — Ela batuca a ponta da caneta na mesa e sorri brincalhona.

— Não foi o que você me disse ontem à noite, cheirando o meu pescoço a noite inteira, gata. — James dá uma piscadela e Jess fica com as bochechas coradas, pega de surpresa com a revelação dele.

— Espera aí, vocês estão juntos? O que eu perdi? — fico verdadeiramente feliz, pelo menos alguém vai ter um romance digno.

— Nada aconteceu, Stelly. Você sabe como James gosta de mentir, ele é um babaca. — Ela revira os olhos e sua expressão brincalhona desaparece.

— Um babaca que você ama odiar, meu bem. — James volta sua atenção para o computador e sinto o clima melhorar entre nós, ao menos uma coisa boa no meu dia.

Após organizar as planilhas e arquivos, retiro-me e digo que irei ao banheiro, eles fazem um aceno qualquer mas não estão prestando atenção. Nesse momento, apenas refaço o mesmo trajeto de sempre, observando cada detalhe e sentindo uma nostalgia tomar conta de mim.

Lembro do vovô me pegar no colo e diz que um dia esse império seria meu e do Bryan, que juntos, iríamos perpetuar nosso nome, manter a nossa herança. Lembro de sorrir e logo após pedir dinheiro para comprar sorvete. Eu não sabia o que ser uma Hoffman significava, tinha apenas a inocência de uma criança, alheia ao mundo dos adultos.

Como quase-adulta hoje, posso garantir que gostaria de ter as preocupações bobas das infância. Não sujar o vestido, não comer com as mãos e sim com os talheres.

Não queimar os cabelos das bonecas, sim, eu fazia isso demais... Coitada da Barbie...

Meu devaneio é interrompido por vozes alteradas no final do corredor. Me escondo e observo para saber quem está falando.

— Como você teve coragem de fazer isso conosco? Eu te admirava! — Bryan cuspia as palavras, levantando a voz o máximo que podia. Não conseguia enxergar bem com quem ele falava.

— William, espere um pouco... Sejamos civilizados, vamos resolver isso em casa. — papai implora, fazendo minha curiosidade ficar ainda mais aguçada.

— Não! Você não tem o direito de me pedir isso. — Bryan parece chorar e só há dois momentos na vida em que ele chora: raiva e decepção. 

— Filho, por favor... — Uma súplica invade o corredor e escuto passos, tiro os saltos e vou correndo para voltar até minha sala.

Fecho a porta e tento controlar a respiração, observando as expressões assustadas que se formaram no rosto de James e Jessica.

— Está tudo bem, Stelly? — seu tom de voz é sério, e sequer consigo imaginar James de um jeito preocupado.

— Está sim. Só... Deixa pra lá. — Arrumo o cabelo e ponho os sapatos de volta, indo para a minha mesa e suspirando fundo.

Porém, a abre se abre de repente, pegando todos nós de surpresa. Bryan está adentrando na sala, a fúria está nítida em seu rosto. Abaixo a cabeça e brinco com a costura da minha saia, incapaz de olhá-lo e admitir que ouvi uma parte da cabeça.

— Você não tem vergonha? — seu tom de voz preenche a sala, no entanto, ele não está parado na minha frente, está na mesa de Jessica. — Não ouviu?

— O quê? — Jess pergunta sem entender, olhando na minha direção, em busca de resposta.

— Não fale com esse desse jeito. — James o adverte, se pondo de pé e todo mundo se levanta, até eu, estou tensa e nervosa.

— Bryan, o que aconteceu? — minha voz falha e nesse momento, seus olhos repletos de fúria me encaram. — Deixe ela em paz, Jessica não fez nada para você.

— Ela sabe! Sempre soube! Estava diante dos nossos olhos, debaixo dos nossos narizes. Ah! Como eu odeio você! — ele gritou, porém, James se colocou na frente de Jessica.

— O que está acontecendo? Nao sei do que você está falando, Bryan Hoffman. Não te conheço. — Ela parece aflita e isso me causa dor, não posso deixar que outra pessoa seja alvo da cólera dele.

— Bryan, pare com isso. Você está nervoso, vamos conversar com calma e você pode explicar o que está acontecendo. — peço gentilmente, enquanto ele parece não ceder.

— Ela sempre soube, Stelly. Sempre soube que era nossa irmã. O papai tem uma amante, ao longo de todos ao lado da mamãe. Gerald nos traiu!

Oficialmente, reta final

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