Capítulo 14 - Inofensivo ou não?
Fomos para uma parte mais distante de Ocean Bay, poucas pessoas se presenteiam com as luzes da cidade, as estrelas e o cheiro da folhagem úmida. Aqui de cima, podemos ver qualquer coisa, sermos qualquer coisa.
Sentamos no capô do carro, acendo um cigarro e aprecio o fumo e o cheiro da colônia de Stelly, que não parece reclamar do cigarro, está completamente encantada com a vista.
— Aqui é muito lindo, Dante. Nunca tinha visto essa parte da cidade. — Seus olhos azuis parecem um céu estrelado, com um misto de luzes e cores.
— Sempre venho para cá quando preciso pensar, respirar um ar diferente. Ficar em silêncio por um tempo, gosto disso. — Sorrio soprando a fumaça na direção contrária, Stelly parece analisar meu rosto quando finjo que não estou olhando.
— Há quanto tempo você dança? Você foge bastante desse padrão de dançarino, sabe? — Ela sorri e automaticamente um sorriso se forma em meus lábios. Há uma doçura em Stelly, uma doçura que ela não parece perceber.
—- Sou uma caixinha de surpresas. Eu sempre gostei de dançar, minha mãe é uma dançarina. Então, praticamente estou dançando desde que era um feto. Ela nunca deixou de dançar e agora é nossa única fuga. — Apago o cigarro e passo a mão no cabelo, estamos lado a lado, posso sentir o toque do ombro dela no meu.
— Do que você está fugindo? — Stelly questiona sem rodeios, enquanto fico pensativo, perdido nas lembranças da minha vida antiga.
— Estou fugindo há tanto tempo, loirinha. — Sorrio e toco o queixo dela, que está completamente focada no movimento dos meus lábios. — Que receio jamais me encontrar.
Ficamos num embaraçoso silêncio, uma troca de olhares intensa, precisamos diminuir a densidade que se formou. Não quero estragar a noite dela. Não com os meus problemas.
— Qual é o seu filme favorito? — Pergunto de surpresa, sem pretensão, eu poderia observar a noite toda a expressão fofa e pensativa que ela faz.
— Você promete que não vai rir de mim? — Prendo um sorriso e acabo assentindo, mesmo sabendo que provavelmente acabarei rindo. — Eu amo os musicais da Disney, mas High School Musical 1 é o meu favorito. — Ela morde o lábio inferior, acabo sorrindo, mas de sua expressão de apreensão.
— Ah, Stelly! Assim eu não posso te defender, como vou falar para a minha mãe que uma garota como você gosta de filmes musicais da Disney? — Sorrio novamente e percebo alguns segundos a arma que acabei de jogar nas mãos dela.
— Então quer dizer que você fala sobre mim com a sua mãe, Dantezinho? — Um sorriso malicioso parece brincar em seus lábios finos, apenas levanto as mãos em rendição. — Qual é o seu filme favorito?
— Não, eu não falo sobre você com a minha mãe. — Evito olhar em seus olhos dessa vez, apenas concentro minha atenção no mar, que parece distante. — Van Helsing. A atuação do Hugh Jackman é impressionante, meu filme favorito desde a infância, e eu...
— Dante, por que você me trouxe aqui? — Stelly mantém seus olhos fixos aos meus, acabo franzindo o cenho, levando alguns segundos para formular uma resposta.
— Não sei. — digo com sinceridade, pondo as mãos no bolso, a forma como ela me observa, causa algo diferente em mim. — Eu deveria ter algum motivo especial?
— Não. Era só curiosidade mesmo. — Stelly parece insatisfeita com a minha resposta. Então, levanto rapidamente e vou até o som do carro, ponho uma música qualquer da minha banda indie favorita.
E acho que o destino tem algum problema comigo, pois, quando ligo o som, começa a tocar Cry Baby do The Neighbourhood
— Na verdade, queria um pretexto para dançar essa música com uma garota na floresta. Me concede essa desajustada dança, Stelly? Você está precisando de umas aulas. — Sorrio nervoso, não sei a razão de estar assim, por que estou falando tanta bobagem?
— Dante, ao chamar uma garota para dançar você não precisa dizer que ela é ruim. — Stelly gargalha, descendo da lataria e vindo na minha direção. Perco o fôlego por alguns segundos, alheio à forma sinuosa de seus passos.
Automaticamente minha mão vai para a cintura dela, que não demora a se aninhar nos meus braços, ficando na posição exata. Com a cabeça encostada no meu peito, bem pertinho do meu coração. Fico nervoso quando nos mexemos lentamente, meu coração parece que vai sair pela minha garganta. Será que ela pode ouvir? Talvez tenha razão, por que a convidei para vir?
“Eu acho que eu me preocupo muito
Eu preciso ter calma
Eu tenho essa sensação de ansiedade
Mas ele vai embora por um minuto
Quando estou com você respirando”
Convidei Stelly só para ter certeza das coisas que sinto com ela, da calmaria, das conversas bobas sobre qualquer coisa. Irritá-la, era a minha atividade favorita, mas por que ela? Dentre tantas garotas, por que a que pode ser a minha ruína?! Minha mãe estava certa, eu não deveria ter me aproximado.
Mas não posso parar isso agora, só quero apreciar esse momento, a natureza e todo o resto. Sinto ela se aninhar ainda mais, o que será que está se passando em sua cabeça agora?!
— Dante? — Nos afastamos por alguns segundos, enquanto sua voz doce chama pelo nome, como uma melodia de fada. O que eu estou fazendo?
Ficamos em silêncio por dois segundos, apenas dois segundos. E eu não consigo resistir, não resisti em beijá-la. Nossos lábios se encontram em uma sintonia ritmada, suave, o toque de sua língua na minha desperta desejos tão intensos, que nos beijamos com vontade, ali, no meio do nada.
Seguro na cintura dela com firmeza, suas mãos percorrem minha nuca, puxando o meu cabelo. Fecho os olhos com mais firmeza por cada vez que sinto ela gostar das minhas investidas.
Na rádio já toca outra música, não nos importamos, estamos numa coreografia só nossa. Nos separamos e nos encaramos por alguns segundos, como eu gostaria de tocá-la...
Sinto uma vibração no bolso e observo na tela que Keller está . Achei que a festa fosse terminar mais tarde. Suspiro fundo e sem graça, coço a nuca e anuncio.
— Precisamos ir. — Ela apenas acena com a cabeça, e fico me perguntando se está arrependida.
Entramos no carro e ponho a chave na ignição, Stelly põe o cinto e parece calada.
— Me desculpe, eu... — Ela parece não entender bem, mas, põe o indicador nos meus lábios e sorri.
—- Você pode se arrepender disso amanhã, Dante. Hoje não. — Seus olhos azuis nesse momento, pareciam indecifráveis.
— Eu nunca me arrependeria. — Digo com uma sinceridade que acaba me pegando de surpresa.
— Eu também não, Dante. Exceto, se você fizer com que eu me arrependa. — Ela sorri e vira a cabeça para a janela, perdida em seus próprios pensamentos.
Dirijo em silêncio, chegando na festa e buscando Keller e Bryan que pareciam estar brigando antes que chegássemos. Ele cruza os braços e se recusa a olhar para Keller, que também parecia perdido e alheio. Suspiro fundo e dou partida, sentindo Stelly entrelaçar seu dedo mindinho no meu, por alguns segundos. Observo seu rosto angelical e sorrio, completamente encantado pela beleza dela.
Eu gostaria de não ter partido o coração dela, gostaria de voltar para aquele instante. Mas, não tive escolha. Se pudesse, faria tudo novamente. Mas eu não consegui, fui fraco demais para deixá-la ir...
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