Capitulo 97
Todas as grandes coisas são difíceis e raras.. inclusive o nosso amor.
Não consegui não escutar aquilo tudo, e ao subir.. eu meio que paralisei e me sentei nos degraus.
E juro, elas duas falaram tanta merda que me deu até embrulhos no estômago. Não sei como o Felipe teve paciência pra aturar Cecília e a sua mãe por fucking dois anos.
— Que porra foi aquela? — levantei rapidamente assim que o vi na minha frente.
— Cê ouviu tudo né? Eu nem sei no que pensar.. elas conseguiram me tirar do sério, puta merda! — coçou os olhos dando alguns suspiros.
— Agora eu entendi o quão difícil vai ser se caso você queira pedir exame de DNA. Elas são malucas, e não consigo crer que tem gente tão insuportável assim.
— Não queria que tu ouvisse aquilo tudo. Eu te disse que não é fácil, não to afim de complicar mais ainda as coisas.
— Felipe. Se você não pedir essa porra de exame.. eu vou! Sério, não vou aguentar ela infernizando nossa vida.. tudo tem limite.
— Quê? Não, nem pensar. Não quero você envolvida nisso, sério mesmo. — negou imediatamente.
— Elas já me odeiam mesmo, não vai fazer diferença se me odiarem mais.. e faço questão de pedir a porra desse exame.
— Cecília não iria fazer isso caso você pedisse. E ela ainda vai querer fazer um escândalo desnecessário. Eu conheço aquela peça, e não adianta encurrala-lá.
— Caramba meu, desse jeito tá difícil levar as coisas. Essa mulher é ridícula.. arrependo de não ter batido mais nessa cara de sonsa dela.. — cruzei os braços.
— Então você bateu mesmo? — olhou incrédulo.
— Claro. Não iria ouvir tudo de boca fechada, e eu te disse que ela só foi lá em casa pra me humilhar e pra destilar seu ódio!
— Você não me contou os detalhes do dia, só soube por cima. — fitou o chão.
— Ah qual é, vai ficar sentido porquê ela levou uns tapinhas? Essa cadela merecia mais..
— Achei que cê tinha aprendido a controlar melhor suas emoções desses tempos pra cá.. e não deixá-las mais a flor da pele. Parece a antiga Stella falando..
— Eu aprendi a lidar melhor, mas não fiquei sonsa e nem trouxa. Não tenho sangue de barata, porra.. ela falou o que quis e teve o que mereceu.
Felipe apenas balançou a cabeça positivamente, num tom irônico de quem não gostou muito dessa minha atitude. Não conseguia entendê-lo.
— Como assim a "antiga Stella"? — franzi o cenho. — Meu cu Felipe, não acredito que tá defendendo ela!
— Aquela que era barraqueira e não levava desaforo pra casa, a que sempre se metia em confusões e não deixava escapar uma briga. Eu sei que eu me amarrei no teu jeito, mas pô.. hoje tu não precisa mais agir de tal forma não. Sei lá.. eu sei que a Cecília é péssima e que ninguém suporta, mas você só deu razão a ela.. e não to defendendo ninguém.. relaxa.
Soltei um riso sem humor ao ouvir tudo aquilo.
— Você não tem noção do tanto de coisa que ela me disse aquele dia. Fiquei desesperada e devo ter saído dos limites. Foi mais forte que eu, olha que até tentei me segurar.. você fala como se fosse super fácil ouvir aquele tanto de bosta que saí da boca dela.
— Eu sei, posso imaginar que ela pegou pesado. Mas a mina tá doente hoje, acho que a vida já a castigou o bastante..
— Você precisa saber se esse filho é seu. Não dá pra esperar mais, parece que você não entende. — voltei nesse assunto.
— Stella, não é tão simples eu já te disse..
— Claro que é, vai esperar o quê? O chá de bebê ? Ou o parto? Tira logo essa dúvida da sua cabeça Felipe! — o interrompi seriamente.
Ele bufou e apenas balançou a cabeça pensativo.
Sei que pode ser horrível ter que criar uma confusão por causa disso, mas se ele tá desconfiado é por quê tem chances de estar certo.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Depois conversamos.. vamos lá, a minha mãe tá esperando só a gente pra jantar. — desviou o olhar e voltou a descer alguns degraus.
— Se você não fazer esse exame logo e resolver toda essa parada com a Cecília, nós vamos demorar ainda mais pra casar. Se é que você ainda se lembra disso.. — falei em um tom sarcástico e passei na sua frente descendo as escadas também.
— Espera porra! — murmurou mas o ignorei.
(...)
Fomos pra sala de jantar e dona Magda e seu Carlos já estavam servindo a comida. E nos olharam rápido quando nos aproximamos. E eles logo perceberam o clima de tensão que está entre mim e Felipe.
— Achei que tinham desistido de jantar aqui..
— Não mãe, a gente só tava conversando. — sentou e eu me acomodei ao seu lado.
— É, e eu to morrendo de fome. — sorri fraco e já fiz menção de começar a servir a comida.
— E tem certeza que tá tudo bem? — nos encarou.
— Uhum.. — respondemos quase em uníssono.
— Ah, se eu soubesse que a visita daquelas duas nos trariam tanta confusão. Teria até tentado evitar.
— E pensar que era com aquela moça que você iria se casar meu filho.. — meu pai negou com a cabeça.
— É pai, a vida é uma tomação no cu infinita.. ainda bem que encontrei a pessoa certa né? — me olhou de lado e por baixo da mesa acariciou as minhas coxas.
Ele sabia que eu ainda estava puta com ele. E faz isso só pra diminuir a culpa, confesso que arrepiei.. mas foi bem pouco. E ainda to brava.
— Graças ao bom Deus, ah e por falar nisso.. quando tão pensando em oficializar tudo isso? — Magda nos questionou radiante.
Nos entreolhamos sem jeito.
— Não sei, não falamos muito sobre isso né Felipe? Ele tá esperando o filho dele nascer eu acho.. — sorri com os olhos e ele deu uma risadinha sem humor.
— É pô, to evitando só criar confusão antes da hora certa. Mas parece que ela não entende.. é foda. — ele tinha que jogar indireta na frente dos seus pais.
Os seus pais nos encararam meio sem jeito e apenas continuamos a comer sem dizer nada um pro outro.
Ao entrarmos dentro do carro a discussão voltou. E parece que só estávamos esperando entrar lá dentro pra voltar a brigarmos sem necessidade.
— Quê? A para Felipe, eu não tenho culpa dos vários problemas dela.. só quero você livre disso! — Stella dizia irritada.
— Não to te culpando. Só acho que devo resolver isso tudo sozinho, e não precisa se exaltar assim porra..
— Ela cagou pela boca o tempo inteiro! Eu me meto sim, do mesmo jeito que ela se mete na nossa vida.
Respirei fundo e continuei focado no volante.
— A gente vai casar caralho! Tem noção? E ela não pode estragar as nossas vidas mais, fica tranquila.
— Basta saber quando, né? — cruzou os braços.
— Oh meu amor, cê tá tão desesperada pra se casar com o pai aqui? Calma princesa, não vou fugir não!— falei em tom humorado e ela quis rir mas segurou o riso e continuou com a cara amarrada.
— Para Felipe! É sério, não to achando graça não.. se eu ver a Cecília na minha frente de novo.. não quero nem pensar!
— Acho que sua tpm tá chegando, certeza. — sorri fraco.
— Tá. Ah falar nisso, me deixa em casa que amanhã tenho consulta cedo.
— Vai continuar brava comigo?
— Vou. E se me irritar de novo enfio essa aliança na sua garganta. — ao falar soltei uma gargalhada alta.
— Sério pô.. eu vou resolver isso logo. Prometo.
— Eu vou te cobrar. E se demorar demais eu mesma vou atrás disso.
Após uns minutos, parei em frente o seu condomínio e ela tirou os cintos se prontificando pra sair.
— Boa noite, amanhã eu te ligo. — veio me dar um selinho rápido mas segurei seu rosto pra ficar mais um pouco no beijo.
— Boa noite amor, te amo.
— Também te amo.. — falou fraco e saiu do carro se distanciando devagar.
Não é fácil começar a dizer tudo que eu penso.
Todo mundo sempre vai acreditar mais na mocinha do que na aspirante a "vilã", e confesso que é menos complicado ficar do lado óbvio dessa história toda.
Bom, por onde devo começar?Eu sei que não somos íntimas e quase ninguém se interessa em saber o que se passa na minha mente.. nem tampouco meus pais.
Em todos esses anos eu estive ao lado do Felipe, e só nós dois sabemos o quão difícil foi, e infelizmente eu não pude controlar os meus sentimentos e acabei me apaixonando por ele.. e não digo que me arrependo.
Mas se eu soubesse como seria o fim disso tudo, teria evitado o começo. E no dia em que nós noivamos, parecia que tudo finalmente tinha se acalmado.
Mal sabia eu que era apenas o início de uma série de problemas.
Quando eu descobri que tinha câncer foi um baque enorme, eu nunca pensei que fosse acontecer justo comigo, mas não tive outra opção a não ser aceitar e tentar seguir em frente.
Nosso casamento me fazia esquecer que tudo podia estar desmoronando, foi então que ela voltou.
A única e fiel paixão adolescente do Felipe, a menina que fez ele perder noites de sono. E sempre soube de tudo que eles dois tiveram no passado, mas a minha opinião formada sobre ela é simples; uma lunática e desajuizada.
Óbvio que sofri com toda a separação, mas não fiz questão de lutar por ele. Pois eu não iria ganhar.
A alguns meses atrás, tive uma crise de ansiedade e decidi sair com a Cris e umas amigas. Eu e Felipe já estávamos estremecidos pelo cansaço da rotina e eu só queria ter um momento de distração sozinha.
Fomos para um barzinho badalado e começamos a beber e conversar sem parar. As horas se passaram, e não lembro de muita coisa, havia bebido demais e quando percebi o bar já estava fechando.
Decidi ir embora, mas eu estava tão bêbada que mal sabia andar corretamente. Cris acabou beijando um cara qualquer, e esse cara tinha um amigo.. um cara que não lembro a sua feição e nem sequer seu nome.
A embriaguez me deixou inconsciente e totalmente sem noção do que estava fazendo. Tudo passa como um flash na minha mente, e a única coisa que eu sei é que transamos no fim das contas.
Naquele dia me senti imunda, havia traído o Felipe dá pior maneira possível, nada que eu fizesse iria apagar.
Os dias se passaram e descobri que aquele cara havia me engravidado. Nunca iria contar pro Felipe toda a verdade, estávamos noivos e isso era inadmissível.
E eu o amo, não queria estragar a nossa relação por causa de uma noite péssima. O pai do meu filho não tem nome nem sobrenome, é um desconhecido pra mim e nem a Cris sabe quem eram os dois homens.
Nunca mais vi o cara na minha vida, pensei em tirar aquele feto de mim. Mas não levei adiante, pois se eu dissesse que o filho era do Lipe seria bem mais fácil. E assim foi feito, e não arrependo disso.
Não foi apenas pro meu bem, mas sim pro bem do bebê, se eu chegar a morrer dessa maldita doença algum dia, vou morrer com a plena certeza de que ele será um ótimo pai. E a sorte foi que estávamos noivos, ele jamais desconfiaria de mim, é 100% de chances que seria dele.
— Cecília! Estou falando contigo! Toma sua sopa! — dona Lúcia me tirou dos meus pensamentos.
— Não, obrigado. To sem fome.
— Você esqueceu que não tem opção? Come logo, os seus remédios estão batidos e misturados na comida, é melhor não insistir.
Suspirei e peguei o prato.
— Achei o Felipe muito arrogante hoje.. — sentou em uma poltrona.
— Depois que nos separamos ele ficou assim, acho que se rebelou, patético. — dei de ombros.
— Não consigo acreditar que ele teve coragem de te trocar por aquela moça, ah, os homens são seres que precisam ser estudados. O seu pai mesmo é a prova viva disso.. nunca os entendi. — respirou fundo.
— E já vão até se casar, às vezes penso que é mentira. Tudo aconteceu tão rápido, nem deu tempo de poder processar ainda.
— É, pensando bem, não sei se é uma boa o seu filho ter que conviver com aquela namorada dele..
— Mãe! O meu filho precisa de um pai na identidade, não posso deixá-lo sem paternidade. O Felipe é o pai dessa criança, e nem adianta me dizer o contrário. — indaguei decidida.
— A nossa sorte foi que ele não quis pedir o teste de DNA, aliás nem teve o porquê, vocês estavam juntos mesmo. E essa traição foi apenas um deslize seu.
— É, um deslize que pode custar minha vida.
— Já disse pra pensar positivo. Essa doença não vai te matar e você vai ter essa criança, eu creio nisso.
— Acha que o Felipe vai gostar dele? Tenho receio de não conseguir criar algum laço com ele.
— Claro que vai, não seja tola.. e um filho é tudo que um casal separado precisa pra nunca mais perderem o vínculo. Inclusive todos daquela família vão gostar do Arthurzinho, pode apostar querida.
— Tem razão. Acho que to fazendo a coisa certa, só estou pensando no futuro dele, nenhuma mãe quer ver o filho sem um pai. Ainda mais se eu morrer.. — resmunguei e minha mãe me repreendeu rápido.
— Mas agora se prepare viu? Por quê aquela garota não vai dar sossego pra vocês, acho melhor dar um jeito logo nisso. E nem pensar em deixá-la ir no seu chá de bebê, pode atrair más vibrações.
— Não tem o quê fazer, infelizmente. Sempre lembro do dia que ela quase arrancou meu cabelo quando eu fui na casa dela tentar um selado de paz.. ela é louca.
— Você não quer.. tentar ver o que as cartas dizem?
— Quê? Não mãe, faz tantos anos que não faço mais isso, acho que perdi a prática.
— Tem medo do futuro?
— Talvez tenha, prefiro não saber.
— Não se preocupe, eu tiro pra você! — se levantou num pulo, indo buscar o seu antigo tarô.
— Não precisa mãe, sério, eu to bem assim. As cartas podem falhar e depende muito da energia da pessoa!
— Pare de ser medrosa filha, e o que custa dar uma olhadinha de vez em quando? — sentou na mesinha que costumava fazer isso e começou a mexer com as cartas e as embaralhar.
— Eu não quero saber o que elas dizem. Guarde pra você, por favor. — revirei os olhos sem paciência.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Sua feição se desfez um pouco ao notar as cartas que saíram. E ela parece estar pensativa e concentrada no que está vendo na sua frente, confesso que senti um pouco de receio pelo o que ela viu.
Tentei ignorar e continuar concentrada na televisão.
— Não quer mesmo saber? — murmurou séria.
— Já disse que não! Dá pra parar com isso?
— Tudo bem, mas quer um conselho? Tome cuidado, pois podem estar desconfiando que o Felipe não é o pai do Arthur, fica esperta.
— Como é que é? — a encarei rápido.
— Isso mesmo que você ouviu. Fique longe daquela namorada dele também, pois ela pode ser a dama do seu xeque mate.
— Sempre soube que aquela garota iria me ferrar..
— Ma se acalme, nem tudo tá perdido. Bom, se você quer mesmo que o Felipe assuma seu filho, precisará lutar muito por isso..
— Aí diz se eu vou morrer? — questionei com medo da resposta.
— Não seja ingênua, as cartas não podem dizer tudo de uma vez só, sabe disso. Apenas faça o que está ao seu alcance no momento.
— Tudo bem..— apenas assenti fraco.
Continua..
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