Capitulo 81
Eu sempre lembrarei do fogo que ascendeu quando eu bati o meu olho no teu..
Fiquei tão desnorteado que até esqueci o que tinha que fazer. E cá estou eu, sentado igual uma estátua na cadeira da cozinha, escutando Cecília me falar o quanto eu demorei pra voltar e que havia me ligado algumas vezes e eu nem sequer a atendi.
Eu não conseguia prestar atenção nas suas palavras, parecia que ela estava dissertando em câmera lenta.
Só podia ver sua boca se mexer, meus olhos ficaram sem rumo e perdidos, sem raciocinar seu sermão.
— Você tá ouvindo o que eu estou dizendo? — falou alto me fazendo sair do transe.
— S-sim. Me desculpa.. — cocei os olhos rápido.
Ela me olhou com um tom desconfiado. Mas pareceu estar convencida de que não foi "nada demais" meu singelo atraso. Bom, pelo menos eu trouxe o que ela havia pedido.
— Eu já estou pronta, e você não vai tomar banho? — cruzou os braços.
— Não, quando voltarmos eu tomo. Já que está com tanta pressa.. — me levantei e ela deu de ombros.
(...)
O silêncio no carro é ensurdecedor.
Não vou ficar em paz se decidir esconder algo dela, relacionamento é feito à base de cumplicidade, por mais que possa até gerar uma possível discussão eu teria que contar pra ela o que realmente me causou atraso.
Olhei de lado e seu rosto está sério. Respirei fundo e decidi quebrar aquele silêncio.
—Eu acabei me atrasando por quê.. esbarrei com a Stella e acabamos conversando um pouco. — disse com um pouco de receio.
— Ah, então ela voltou? Não sabia..
— É, parece que sim. — dizia ainda concentrado no volante.
— E sobre o quê conversaram?
— Ah, nada demais. Só sobre nossas vidas mesmo.— tentei não entrar em detalhes, até porquê não teve nada demais mesmo.
— Acha que devemos convida-lá pro casamento? — perguntou enquanto roía uma das unhas com um ar de dúvida.
— Sério isso ? — soltei um riso sem humor.
— E por que não seria? Qual o problema?
— Acho que ela não tem a mínima intenção de ir..
—Sei que vocês dois já tiveram algo e eu até lembro dessa época, mas sei lá.. eu acho que já passou, sabe? Não tem porque termos rivalidade, eu convidaria.. se ela é sua amiga e é importante, seria legal chamar.
Respirei fundo.
— Faz o que achar melhor.. — dei de ombros.
— Que cara é essa? Tá bravo?
— Não.. não to bravo Cecília. Eu só acho que seria um puta climão e não tem necessidade alguma disso.
— Climão? Você tá louco? Vocês não tem mais nada e não tem porque rolar clima algum.. — falou como se fosse óbvio.
— Uhum — murmurei indiferente. Não queria entrar nesse assunto, mas só pelo fato de ficar desnorteado com a sua presença.. acho que significa muita coisa.
Depois de saber que ela está de volta, meu coração tá começando a me atormentar, tá começando a querer despertar aquele sentimento que estava adormecido a muito tempo dentro de mim.
E que eu achava que não ia reviver mais.. mas só que quando eu a vi, caralho. Parece que o que estava frio começou a pegar fogo.
Chegamos na minha mãe. Os pais de Cecília também chegaram quase na mesma hora.
Entramos e fomos preparar as coisas para o jantar, o mais bizarro é que a minha mãe conhece bem todas minhas feições de longe.
Ela podia notar quando eu não estava tão bem assim ou quando estava meio confuso sobre algo.
— Então.. como eu ia dizendo. Gostamos muito das flores que a Cecília nos mostrou semana passada.. — Dona Lúcia, a mãe dela, dizia sem parar.
— Ah sim, é as naturais são sempre as mais belas — minha mãe respondia com um sorriso sem graça, ela não era muito por dentro também. Mas fingia ser.
Parte de mim diz que estou indo na direção que eu já deveria ir. E a outra parte ainda me deixa angustiado e um pouco incerto sobre essa parada toda.
— Que foi bebê? Tá tudo bem? — Cecília sentou ao meu lado no sofá e acariciou meus cabelos de leve.
— Sei lá.. acho que tá..— acariciei suas pernas sem emoção alguma.
— Você sabe que não consegue disfarçar quando tá meio bad né ?
— Não quero falar sobre isso agora, tá? Mas, relaxa que vai ficar tudo bem.. — depositei um beijo na sua testa e me levantei rápido.
Ela ficou me olhando e não se convenceu.
Não quero e nem tenho intenção de machuca-lá, e nem ser um total cuzão que só porque tenho medo de casar. Talvez esse meu medo imbecil não seja do casamento em si, mas sim da pessoa que estou me casando.
Cecilia é incrível e eu amo sua companhia, mas tenho medo depois de alguns anos, tudo isso se esfriar e virar monótono.
Comentei brevemente com a minha mãe que havia encontrado o Felipe no semáforo, e juro, foi a porra do encontro menos esperado e mais tenso da minha vida.
Não consigo tira-lo da cabeça, e me condenava por esses pensamentos, pois agora ele é uma pessoa que está prestes a se casar e de certa forma.. torna-se errado.
Tinha ido conhecer a casa do meu irmão e aproveitei para conversar um pouco com Gabi.
— O que você acha? Acha que eu estou ficando louca e somente eu ainda vejo que houve alguma conexão? — mordi os lábios inferiores com um ar duvidoso.
— Acho que rolou um clima estranho sim.. mas não sei o que eh faria se tivesse no seu lugar. E tudo isso também envolve outra pessoa agora.. não é tão fácil.
— É, eu sei, eu sei — suspirei e prendi meus cabelos. — Preciso tirar esses pensamentos de mim, eu não posso.. não posso ficar só pensando nisso.
— Olha pra mim Stella, olha aqui! — Gabriela pegou em minhas mãos fazendo eu a encarar.
— Que foi? — falei sem muito interesse.
— Você ainda é apaixonada nesse homem? Por tudo que é mais sagrado? Não mente!— questionou séria e eu engoli seco.
— Qual foi Gabi, porquê tá me perguntado isso?— desviei o olhar tentando sair daquela situação.
— Responde. Só me responde! — insistiu.
— O que adianta? O que isso vai mudar? — dei de ombros.
— Você ainda tá apaixonada Ste? — falou pela última vez e bem pausadamente. Gabriela adora um drama.
Respirei fundo. Ela só podia estar de sacanagem com a minha cara, sinceramente.
— Sou. Tá satisfeita, porra? — me desvencilhei das suas mãos rapidamente. —Tô fodidamente louca e apaixonada naquele filha da puta, que merda..
Ela soltou uma gargalhada alta e eu mostrei dedo.
— Eu sabia amiga.. eu sempre soube..— disse toda boba. — Só queria que admite-se, é fofo te ver toda bravinha, relaxa aí.
— Vai se ferrar! — joguei uma almofada no seu rosto e ela riu mais ainda.
— Ei, volta aqui apaixonadinha! — falou com a voz sarcástica ao me ver sair de perto dela.
— Você é maluca? Eu não posso cobiçar homem dos outros Gabriela, isso é errado! — a repreendi ainda de pé. — Isso é totalmente errado, você sabe disso.
— Errado é ele querer se casar sem gostar de verdade daquela menina. — cruzou os braços.
— E quem te garante que ele não gosta? Eles estão juntos a quase dois anos, é óbvio que ele a ama.. — revirei os olhos.
— Se eu fosse você não teria tanta certeza assim. Sei lá, só tive um feeling mesmo.
— Para, tá? Não quero estragar nada, melhor deixar isso pra lá. Não fazemos parte um da vida do outro.
— Okay né. Já que você insisti..— ela suspirou dando um risinho malicioso.
3 dias depois
— E então? O que me diz? — Hans me olhava todo esperançoso e animado.
— Eu gostei, acho uma ideia legal.
— Sabia que iria gostar. Esse editorial de moda vai ser tudo, todos vão amar! — disse eufórico.
Ele tinha me falado das suas ideias para a agência, e sobre esse tal editorial que queria começar uma vez por semana.
Diz que queria eu escrevesse um pouco sobre minhas experiências mundo a fora, e também sobre coisas de moda, tendências e todo aquele rolê.
Fora que eu também tenho outros compromisso em diversos lugares, e seria bem mais viável conseguir conciliar tudo de uma só vez.
— Ah, e mudando de assunto.. hoje às nove e meia tem luau, vai ter umas bandas e alguns cantores lá na praia de Copacabana — dizia fitando o celular.
— Eu vi uns anúncios no Insta, mas acabou que nem fui atrás pra saber melhor. — suspirei.
— To pensando em ir. Algumas meninas daqui vão, mas ainda não sei.. e você bem que podia conseguir um camarote pra gente né? — falou manhoso e eu ri.
— Ih qual foi — ri — Mal conheço quem vai nisso aí.
— Aí darling, é só perguntar para esses divulgadores e aposto que consegue um lugar ótimo pra gente.
— Aí não sei.. to cheia de coisa pra fazer e..
— Para de desculpa. Vai ser babado, o Rio de Janeiro em peso vai, não podemos perder não! — implorou me interrompendo.
— Posso ver o que eu faço por você.. — brinquei e ele me abraçou de lado.
— Já falei que eu te amo, né?
— Uhum. Vou falar com Vicen também..— murmurei sem muita animação assim. Mas fazia tempo que eu não saía aqui e poderia ser uma boa.
— Ah.. isso.. só mais um pouquinho.. ah.. — Cecília gemia com a voz manhosa enquanto transávamos na cama. Era só mais um dia normal, em uma de nossas transas normais e semanais.
Saí de cima após chegarmos no ápice e eu suspirei aliviado e um pouco cansado. Ela me olhou sorrindo e me deu um selinho rápido.
— A gente bem que podia ficar mais tempo aqui, né..— balbuciou se espreguiçando por entre os lençóis.
— É, acho que vou tomar um banho. — levantei indo atrás de uma toalha.
— Ei! — falou rápido e eu me virei.
— Que foi?
— Tem certeza que tá tudo bem? Sei lá, cê tá meio distante ultimamente. — franziu o cenho.
— Ah, não foi nada. Acho que é só ansiedade mesmo, vamos casar daqui uns dias e estou pensativo só..
— Você tem razão. Essa rotina pré-wedding é muito estressante e cansativa. — revirou os olhos.
— Sim, pois é e.. — antes que eu pudesse terminar de falar, seu celular tocou alto em cima da cama.
— Só um momento, amor!— ela me interrompeu e abriu um sorrisinho apenas sussurrando " Foi mal " e atendeu em seguida.
Todos os dias ela faz várias ligações e recebia muitas também, era um ciclo sem fim. Essa parada de casar mexe com os neurônios.
Só assenti fraco e dei de ombros, e me dirigi até ao banheiro calmamente.
E dizem que no banho é o momento ideal para poder pensar na vida e afins. Enquanto aquela água gelada caia sobre meu corpo, comecei a pensar o que de fato estou fazendo com a minha vida.
E em como eu não sei o que vai ser dela daqui pra frente, talvez o certo seria eu dar uma segurada e não casar agora, talvez devesse esperar mais um pouco.
Só talvez.
Parece que estamos com pressa e correndo contra o tempo a todo momento. Eu nem sei se é isso que eu quero pro resto da vida.. aliás, " até que a morte nos separe" é tempo demais, e eu não sei se me imagino amando ela até lá.
Tenho que medo que tudo caia na rotina e vire um casamento sem graça e monótono.
Após sair do banho, vesti uma roupa qualquer e fui secar os cabelos com a toalha sentado na beirada da cama.
— Amor, sabe quem me ligou? — ouvi sua voz por trás enquanto mexia concentrada no celular.
— Quem? — perguntei sem muito interesse.
— A Cris amor, lembra dela? — falou como se fosse uma parente muito próxima nossa. Quando na real era só mais uma de suas trezentas colegas.
Não fazia ideia quem era, eram tantas pessoas que ela conhecia que eu sempre me perdia.
— Não.. quem é mesmo? — a olhei e ela bufou.
— A Cristina Perez, aquela minha amiga que foi no casório da Leandra e do Jorge lá em Angra.. sabe? — ela acha mesmo que eu tenho memória fotográfica?
— Óbvio que eu não lembro né Cecília, lá tinha muita gente. Mas continua, o que tem ela?
— Ok..— suspirou, ela detestava quando eu não fazia ideia de quem eram todos seus amigos — Enfim, ela nos chamou para ir naquele lual lá em Copacabana.. lembra que comentamos sobre?
— Lembro sim, e o que você disse?
— Ah.. eu disse que iria ver com você.— chegou perto e começou a massagear meus ombros devagar.
— Você quer ir?
— Não sei amor.. é que você me disse que estava um pouco ansioso e estressado com tudo isso, eu pensei que quisesse sair para se distrair um pouco.
— É, acho que estou precisando mesmo..
— Então, daí a gente vai, bebe e volta pra cá e transa a noite toda. O que você acha? — sussurrou no meu ouvido com malícia.
— Acho que pode ser.. — abri um sorriso fraco e ela vibrou.
— Ótimo. Isso vai fazer muito bem pra gente, você vai ver! — saiu de perto de mim e se levantou indo atrás de alguma toalha para tomar banho também.
Fui atrás de algo para poder vestir e depois fui ver se tinha alguma coisa pra comer na cozinha.
Detestava sair com fome de casa, iam ser oito horas então dava tempo de comer devagar.
Continua..
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