Capitulo 80
E a coisa mais divina que há no mundo, é viver cada segundo como nunca mais..
Ao sentir o cheiro da minha casa, meu coração ficou quentinho de novo. Meus pais me ajudaram com as minhas malas e as colocaram no canto da sala. Subi as longas escadas e parecia que tudo tinha mudado, os móveis não estão no mesmo lugar, porém aquele cheirinho de casa arrumada permanecia o mesmo.
Caminhei calmamente e ao chegar na porta do meu quarto, girei a maçaneta sem pestanejar.
Assim que abri, vi a brisa da janela entrar, as coisas estavam todas nos lugares e nem parecia que tinha ficado tanto tempo sem vir aqui. Andei por lá, e fui até minha escrivaninha, sentei e abri minha gaveta.
Antes que eu pudesse ver fotos e coisinhas antigas, minha mãe adentrou no quarto com um sorrisinho solidário no rosto.
— Oi minha filha.. — suspirou e se aproximou de mim. Se sentando na beirada da cama.
— E aí mãe! — dizia ainda olhando a minha volta. — Me conta as novidades, como está todo mundo?
— Ah meu bem, nós estamos bem. Gustavo e Gabi moram num apartamento lindo.. precisa conhecer.
— Fico feliz por eles. E a senhora viu o tamanho que está a barriga da Lalá? Fiquei desacreditada..
— Sim, o Noah só que cresce. — sorriu.
Ficamos em silêncio por uns instantes, acho que ela já poderia prever de quem eu iria perguntar.
— Mãe.. — falei com receio.
— Quê?
— Como está dona Magda e seu Carlos?
— Estão bem filha, os seus netinhos só que crescem também. Aliás, fizeram festa de três anos ontem.
— Sério? Ah, queria tanto vê-los..
— Chiara e Fábio mudaram pra uma casa grande e com bastante espaço pra eles correrem e brincarem, estão amando.
Abri um sorrisinho de canto.
— E o Felipe, como ele tá mãe? — perguntei sem nenhum medo aparente da resposta.
— Ele tá bem. Soube que aumentou de cargo lá no seu emprego, faz alguns dias que não o vejo.. — ela falou como se não quisesse entrar em detalhes.
— E.. ele.. tá com alguém? — até poderia me policiar de fazer esse questionamento logo de cara.
Porém a minha curiosidade era maior.
— Ah — ela fungou um riso — Ele está noivo.
Meu riso se desfez bem aos poucos. Ela falou aquilo com tanta naturalidade, com tanta clareza que nem parecia que estávamos falando da mesma pessoa.
— Quê? — sussurrei sem entender.
— É.. ele e a Cecília. Estão juntos faz mais de um ano — como assim minha mãe a conhece ao ponto de não dizer "uma tal de Cecília" ? — E soube que ficaram noivos não tem muito tempo..
Fiquei estática, sem conseguir esboçar reação. Meu peito apertou e fiquei pensativa por alguns minutos.
Confesso que não esperava isso, nem de longe.. por mais que dois anos é tempo, não consigo imaginar ele se casando.
Quanto tempo eu dormi? Que parte eu perdi da sua vida? E por quê a minha mãe dizia isso de forma tão causal? O que tá acontecendo?
Dezenas de perguntas rondavam minha mente, eu sei que não faço mais parte da sua vida, só que isso me assusta um pouco.
— Stella.. filha, o que foi? — ela me tirou do transe.
— N-nada mãe. Eu só não esperava por isso, foi um baque. — passei as mãos no rosto levemente.
— Eu entendo o que tiveram no passado, e naquela época parecia ser tudo mais fácil. Mas hoje não, as coisas mudaram e precisamos aprender a lidar.. sei que é complicado de entender às vezes.
Apenas assenti fraco. Tentei transparecer que estava tudo bem, na verdade estava.. e não vou culpá-lo por decidir seguir sua vida.
Aliás, também havia feito o mesmo, não podemos ter controle de tudo.
E é muito egoísmo querer impedir que ele seguisse em frente, apenas por puro e mero capricho meu.
Peguei uma das minhas malas e decidi ir desfazendo aos poucos. Coloquei em cima da cama e abri, estava uma bagunça e nem sabia por onde começar a tirar.
— Quer ajuda? — minha mãe se ofereceu.
— Não mãe, obrigada..— murmurei.
— Ok, vou fazer algo pra você comer..
— Tudo bem. Já já eu desço. — assenti.
Assim que eu vi aquela pilha de roupas me deu uma preguiça. Fui pegando algumas e colocando na cama.
Até encontrar umas camisetas dobradas no canto da mala, respirei fundo, pois sabia quais eram. Eram do Felipe, as que ele tinha me entregado antes de viajar a três anos atrás.
Peguei uma delas e as acariciei, e ele mal sabe que todos os dias eu dormia com elas, e por mais que já estavam velhas e surradas, ainda sim são as roupas mais confortáveis.
É impossível ignorar o fato dele estar com alguém e que em menos de meses irá se casar. Cheirei aquela camiseta preta e automaticamente uma lágrima fria e aflita caiu dos meus olhos, apenas respirei fundo e limpei o rosto.
Ficar tranquila em situações que me apavoram não é algo que eu sei dominar.
— Ei, tá ocupada? — escutei a voz de Gustavo na porta. Funguei o nariz e continuei fazendo o que estava fazendo.
— Não.. entra aí! — ordenei.
— Senti sua falta Teté, aqui ficou vazio sem você.. — olhou ao seu redor.
— É, eu percebi. Essa casa é muito grande somente para duas pessoas. — funguei um riso.
— É, acho que o pai e a mãe deviam alugar um apê..
O olhei rápido.
— Quê? Aqueles dois jamais vão se acostumar, só a gente que não se incomoda de morar em gaiolas.. — brincou e nós rimos.
— Por falar nisso, vai lá em casa qualquer dia. Gabi tá louquinha pra te mostrar tudo.
— Claro que vou. Não vou sair de lá.. se preparem.
— Ah e o seu apartamento? Pretende fazer o quê?
— O mesmo que estou fazendo, continuar alugando para aquela família. — falava enquanto colocava uns sapatos no meu armário.
Pra quem não sabe, o apartamento lindo e espaçoso que eu tinha comprado e ficado pouquíssimo tempo, está sendo alugado pra uma família, e me rende uma boa grana extra.
E não quis deixá-lo mofando e sem ninguém pra cuidar.
— É, tem razão..
— Aquele lugar não me traz boas lembranças. Por mais que eu já tenha superado, ainda não me sinto bem em morar lá sozinha.
Minhas crises de ansiedade e pânico, foram curadas. Depois de algum tempo praticando terapia com a Dr. Katie Cross em Los Angeles, eu me sentia bem mais apta para lidar com esse tipo de coisa.
E além de me ajudar com isso, também me ajudou a lidar com essa popularidade repentina, por que por muitas vezes eu me sentia sozinha, eu cheguei a ter alguns sintomas de depressão.
Mas, ainda bem que isso só foi uma fase.
Sete dias depois
Meu trabalho na agência ainda não tinha iniciado, e aos poucos vou me adaptando a rotina novamente. E sim, estou bem aliviada em estar em casa.
Guto e as meninas vem até aqui todos os dias, e eles dizem que é pra matar a saudade e compensar todos esses três anos que fiquei fora.
Porém, eu gosto da companhia deles, além de me atualizarem me deixam por dentro de toda a UFRJ.
Hans e Vicente também haviam me mandado umas mensagens. Vicen disse que estava passando alguns dias com seus pais no interior e que estava louco pra poder me ver.
E Hans disse que precisava conversar comigo sobre algo que estão tentando implementar na agência, e queria saber o que eu achava.
E como agora eu meio que sou, digital influencer, eu postei uma foto no instagram que eu ainda não tinha publicado apenas para atualizar mesmo.
Publicações geravam lucro e muito engajamento, é esse mundo é bizarro.
@Stellamuniz
Do dia que eu tirei o cabelo pra lavar #tbt 💇🏼♀️💗
Curtido por Gutomuniz e outras 103 mil pessoas.
Gabibastoss: Te amo demais sis💛
BecaPires: Saudades ma girl 💕
Marianalopez: Linda demais, miss u ♥️
Vicentebrangel: Caralho, deusa!!! 🤯
Hansbosco: A carioca maixx gata hahah
— Amor, o que acha dessas cores? — Cecília dizia enquanto olhava algo em seu computador, sentada de pernas cruzadas numa poltrona.
Ergui os meus olhos, eu estou concentrado jogando o meu vídeo-game e a cada minuto ela me interrompia para poder questionar algo que está comprando.
Cecí está uma pilha de nervos para o casamento, não conseguia ficar um dia sem pesquisar nem olhar algo relacionado.
— Eu gosto, você gostou ?
Ela analisou por mais uns instantes.
— É.. eu gosto. Marsala é uma das cores que estão bem em alta e nunca saem de moda, pelo que vi.
Não sou nenhum pouco por dentro dessas coisas. E quem estava vendo tudo isso era ela e a sua mãe, que aliás, estava tão ansiosa quanto a filha.
E eu também estou um pouco nervoso, mesmo que nós já vivemos juntos, ainda sim é um grande passo.
Eu encarava a aliança em meu dedo e brincava com ela, ainda to me acostumando aos poucos a usá-la.
— Os meus pais querem jantar aqui. Será que você poderia por favor.. ir na padaria que sempre vamos, comprar algum suco ou refrigerante? — falou após olhar brevemente o celular. — Eu acho que devemos falar para eles irem até a casa dos seus pais? Aqui tá uma bagunça. Podíamos todos jantar lá, né?
Cecília mudava de ideia a cada dois minutos. Mas ela tem razão, aqui não está em posição de receber gente tão cedo. Nós dois mal paramos em casa e não temos tanto tempo para deixar tudo ajeitado.
— Acho uma boa ideia, o que presente fazer? — me levantei do sofá dando uma espreguiçada.
— Acho que vou fazer macarrão integral. Você sabe que estou de dieta e preciso evitar comer coisas não saudáveis. Vou falar com a sogrinha aqui..
— Mas tu só come coisas saudáveis. Não tem porque se preocupar com isso meu bem.. — soltei um riso.
— Eu sei Felipe. Agora vai logo antes que escureça! — ordenou e eu só fui vestir uma camiseta e calçar os chinelos. — E não demora amor.. vamos juntos para a sua mãe mais tarde.. — falou alto e eu murmurei um "ok".
Fui até o estacionamento, e dei partida com o carro.
Na rádio passava algum jornal qualquer e as mesmas notícias ruins de todos os dias, alguma bala perdida, algum assalto, alguma incidente.
Troquei de rádio e pulou para uma música aleatória, eu não queria ficar ouvindo apenas notícias ruins.. isso me desgatava às vezes.
Não sei qual música era, mas era uma calma e bem tranquila, ouso dizer que é do Rubel. (mídia)
Essa tal padaria que a Cecília tanto adora, não fica muito perto da nossa casa. Fica perto de um parque onde as pessoas costumavam ir caminhar com seus cachorros e fazer exercícios.
Estacionei o carro num meio fio e saí trancando as portas.
Como a padaria fica no outro lado da avenida, tenho que atravessar a rua, e o sinaleiro em questão estava fechado e muitos e muitos carros passavam em alta velocidade.
Nunca gostei de ficar parada dentro de casa, e lá em LA ou em NY, costumava sair pra correr quase todas as tardes quando me sobrava um tempinho extra.
Aqui não vai ser diferente, além de me deixar menos sedentária me acalma e faz eu esquecer pensamentos ruins que tive ao longo do dia.
Vesti uma roupa confortável e calcei meus tênis. Não passei maquiagem e nem fiz questão de me arrumar, saí totalmente sem nada. Nem peguei meu celular e o deixei carregando no criado mudo perto da cama.
Prendi os cabelos de qualquer forma e saí trancando a porta.
— Mãe.. — desci as escadas dando uma leve corrida.
— Oi filha, vai onde? — me analisou ao ver a minha tentativa de usar uma roupa fitness. Ela assistia um jornal, enquanto o meu pai trabalhava concentrado em seu computador.
— Dar uma caminhada, espairecer um pouco.
— Ok, não quer comer nada antes de ir?
— Não, eu vou só beber uma água.. — me dirigi a cozinha.
(...)
Caminhei alguns minutos até chegar na portaria do condomínio, que já era uma viagem.
A minha sorte é que o sol não apareceu hoje e estava nublado, mas eu não pretendia demorar. Já vão ser cinco da tarde e não vai demorar para escurecer.
Comecei a caminhar concentrada em meus passos. E fiquei assim por alguns minutos, o parque que eu ia não é longe e sei o caminho todo de cor e salteado.
Me deparei com um sinaleiro, aproximei e só fiquei esperando o sinal abrir por uns breves segundos. Até que olhei de lado e meu coração errou todas batidas possíveis, gelei e engoli seco.
Olhei pra frente rápido e logo me bateu um pequeno desespero, o que Felipe está fazendo ali? Meu pai do céu, nunca pensei que fosse ter um ataque cardíaco tão jovem.
Tentei concentrar nesse maldito sinal que se nunca abria..
Olhei pro meu lado de relance, e meus olhos ficaram paralisados quando eu vi quem era. Meu coração no mesmo minuto começou a bater rápido e fiquei sem reação alguma.
Até que ela também olhou de lado e nossos olhares se cruzaram, naquele momento vi o meu mundo dar uma longa pausa, ao mesmo tempo que nós éramos totais desconhecidos um do outro, nós sentimos que alguma carga elétrica nossa deu uma leve pulsada.
Isso tudo aconteceu numa fração de segundos, mas para mim foi uma eternidade.
— Ei. — ela sorriu e me cumprimentou, abraçamos casualmente igual desconhecidos que não se viam a muito tempo. — Não to acreditando!
— E aí, como você tá? — saí do abraço e a respondi sorrindo.
Caralho, tínhamos ficado tanto tempo sem se tocar, e parece que tudo se intensificou, e só de abraça-la por três segundos eu senti um pavor da porra.
— Eu to bem.. tô ótima.. e você? — Stella está linda, tão linda que eu nem sabia ao certo dizer o quão gata ela estava naquele momento.
— Eu to bem também.. tô ótimo. — coloquei as mãos no bolso. Estou puro nervosismo, mas agíamos como se estivemos normais.
— Pra onde você tava indo? — questionou.
— Eu tava indo.. na padaria comprar algumas coisas pra jantar na casa da minha mãe. — cocei a nuca.
— Manda um beijo pra ela. Eu já pensei em passar lá algumas vezes depois que voltei, mas.. acabou não dando certo.
— Eu sempre penso em procurar seus pais também, mas acabou que nunca.. mas, e você tá morando aqui agora?
— Tô. Eu voltei pro Rio.
— Ah sim. Eu te vi esses dias em uma propaganda de roupas lá no shopping da barra..
— Ah, é?
— Você tava bem. Tava ótima. — falei timidamente.
— Obrigada.— sorriu de canto. Ah cacete, como eu estava com saudades daquele sorriso.
— Acho que o sinal já abriu e fechou e a gente não reparou. — desviei o olhar rápido.
— Então, se caso você não tiver com muita pressa.. ou se não fizer sentido, quer dizer, se fizer sentido, a gente podia... não sei.. — ela se enrolou nas palavras.
— Dar uma volta? — a interrompi como se soube-se o que iria falar. Naquela momento esqueci de tudo e de todos, apenas me ofereci para dar uma volta e eu nem sabia ao certo o que estava fazendo.
— É. A gente podia andar por aqui. A calçada afinal foi feita pra isso, pra gente andar nela. — ela tentou me explicar mas se enrolou toda.
Ficava linda quando não sabia se expressar direito.
Aquele foi o reencontro mais maduro que eu já tive com alguém. Parecíamos adultos decididos, e fiquei estática quando o vi.. ele continua bonito e com um semblante mais sério.
Não que ele já não fosse sério antes, mas agora ele é alguém que tem outro alguém e querendo ou não, a gente acaba mudando e amadurecendo.
— Bom. Me conta de você. — começamos a caminhar por toda a calçada, dando curtos passos.
— Eu tô... noivo. — falou com certa dificuldade.
— Eu fiquei sabendo. — dei uma leve respirada.
— Eu não sabia se convidava ou não seus pais para o noivado.. fiquei com um pouco receio. Sei lá.
— Deveria ter convidado, acho que eles iriam..
— Dá próxima vez eu convido, então!— brincou e eu soltei um riso.
— Combinado. — assenti — E como tá sendo? Você morria de medo só de pensar nessa vida de casado.
— Eu morro de medo ainda.
— Mas ela parece ótima. — não queria isso soasse em tom falso. De fato, ela poderia ser uma ótima pessoa e pode estar fazendo muito bem pra ele.
— É.. a Cecília é ótima.. — assentiu fraco. — E você tá.. ?
— Eu não, não tô nada. — neguei rápido.
— Nada nada ?
— Uma coisa ali e outra ali, mas nada demais. — tive uns breves rolos lá em LA, mas nenhum durou nem uma semana.
— Entendi.
— E como vai o trabalho?
— Vai bem, acabei de ser promovido para um cargo melhor..
Uma mulher qualquer passou pela gente e me fitou um pouco, senti que ela me conhecia de algum lugar ou de alguma revista. Aquilo ainda me assustava.
— Aquela moça me reconheceu ou foi impressão minha? — o interrompi.
— Que moça? — olhou pros lados.
— A que acabou de passar.
— Não reparei. Mas é provável, né ?
— Quase ninguém me reconhece quando to assim, sem maquiagem, toda esculhambada. — sorri fraco.
— Toda esculhambada.. — riu baixinho. — E como tá sendo isso?
— Da "fama" — fiz aspas com as mãos.
— É.
— É estranho. Mas eu to tentando só ficar focada em fazer meu trabalho, fazer a mesma coisa que eu fazia quando ainda estávamos juntos e só ignorar o resto. Por que ? Você acha que eu mudei?
— Eu não te conheço tão bem hoje em dia, pra poder dizer.
— Eu acho que mudei. Felizmente. — hesitei — A vida anda e a gente muda, faz parte.
— Eu acho que seria estranho se você continuasse exatamente idêntica. — me olhou de lado.
— Você me parece exatamente igual, tirando essa aliança do seu dedo — brinquei e ele riu frouxo.
— Você sente falta ? — questionou.
— Da gente?
— Daquele tempo, de tudo. Eu sinto falta daquela sensação de que tudo era possível.
— É, eu nem sabia direito o que queria ser..
— Se eu quisesse ser um encanador por exemplo, eu seria um encanador. — ele brincou.
— Você ainda pode ser um encanador, se quiser.
— Posso não. Acho que a cada ano que passa a vida vai afunilando um pouco mais. Hoje em dia vou me casar e tô com carteira assinada. Posso largar tudo e fazer qualquer outra coisa? Posso. Mas eu não posso. — refletiu brevemente. O que me fez ficar pensativa.
— Você tá feliz ?
— Cacete. Eu odeio essa pergunta. Por que a gente tem essa obsessão em ser feliz?
— Porque o objetivo no fim das contas é esse, né ?
— Será que é? Esses dias vi uma frase num banheiro de boteco do Vinicius Moraes que diz: Melhor do que ser feliz é viver.
— Tá, vou mudar minha pergunta, então. Você tá vivendo, pelo menos?
— Nesse exato segundo tô sendo interrogado. — brincou, se esquivando das minhas perguntas.
Demos um riso.
— E você?
— Todo santo dia eu já acordo achando que tô mega atrasada pra faculdade... acho que ás vezes é como se essa busca por fama e sucesso fosse muito alienante. É como se eu tivesse tentando resgatar alguma coisa que ficou lá atrás.
— E o que é essa coisa?
Paramos de caminhar e nos encaramos de frente. Eu queria falar muita coisa pra ele, porém eu não tinha tempo, não conseguia formular meus pensamentos.
Meu coração pulsava demais para eu poder pensar em mais diálogos.
— Eu queria te pedir desculpas. Há muito tempo eu queria te pedir desculpas. — relutei nas palavras.
— Pelo o quê?
— Por não ter voltado.
— Mas você tava construindo sua vida lá fora.
— Mas eu te prometi que iria voltar.. e não iria ficar mais dois anos fora.
— E não voltou. Tá tudo bem. — desviou o olhar.
— Tá tudo bem mesmo?
— Tá sim. Mesmo. — sorriu sem jeito.
Voltamos a andar. Eu o olhava a cada dois segundos e sorria igual uma boba apaixonada, aquela coisa de amar demais ainda estava viva bem no fundo do meu coração.
Aquela chama adolescente de que tudo é possível ainda vibrava dentro de mim.
Continua..
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