Capitulo 61
Já acordei na correria. Hoje é a inauguração de uma loja chamada Leboh.
Eu levantei cedo e já fui pra agência. Saí com tanta pressa que me maquiei no uber.
Aproveitei e postei um story no Insta. E sim, antes que me perguntem, eu me maquio mesmo sabendo que lá na agência eles vão me maquiar tudo de novo.
E não me pergunte o porquê.
(...)
— Menina do céu. Corre pra pegar seu look! — Hans falou assim que me viu chegar.
— To indo! — o cumprimentei com dois beijos no rosto.
— Depois quero falar com você.. — Hans exclamou alto.
— Ok!
Me entregaram a roupa que escolheram pra eu usar. Troquei rápido, e sentei em uma cadeira giratória e ajeitaram o meu cabelo e maquiagem, e me deram alguns acessórios.
Enquanto me ajeitavam, mandei umas mensagens pro Felipe, todos os dias nós nos falávamos.
Era costume, e além de que eu me sentia super incomodada sem falar com ele.
— O quê, como assim você recusou sair com ele? Por acaso tá usando drogas?
Carina me encarava séria, e com os braços cruzados. Eu percebia a indiferença só pelo seu olhar.
— Ele é marido da minha tia. Acha mesmo que seria capaz disso? Sou puta, mas não tanto.
— Foda-se, isso é sobre dinheiro Carina. Tá ficando maluca? — massageei as minhas têmporas, a dor de cabeça já queria aparecer.
— Pode descontar do que eu recebo. Mas sair com ele, eu não irei. — protestou.
— Vocês só me dão trabalho.. Deus do céu.
— Que seja, isso aqui só foi por água a baixo depois que Ravi morreu. — deu de ombros.
— Para de ser ingrata. Eu melhorei muito aqui depois que aquele velho gagá faleceu.
Ela ignorou minha fala e saiu batendo a porta. Odeio essas garotas audaciosas, pensam que são as donas da razão. Pessoas assim me cansam só de olhar, to tão sem paciência ultimamente.
Em cima da mesa havia só contas. O lucro da casa não tá alto, e ainda mais com as meninas decidindo o que querem fazer e com quem querem sair. Isso me dá nos nervos.
To ficando doente aqui, todos os dias aparece algo que me deixa estressada, é incrível.
— Carmel? — ouvi a voz de Alana.
— Entra. — falei alto.
Ela entrou recosa e se sentou na minha frente, com um ar meio triste e preocupado.
— O que foi agora? — já deduzi que não era algo bom.
— Meus pais tão vindo pro Rio. — fitou o chão.
— E daí? — falei com desdém.
— E daí que eu vou ter que pedir as contas.. e sair daqui— mordeu os lábios inferiores.
— Você tá de brincadeira né? — soltei um riso.
— Não. Não estou brincando, preciso sair, eles não sabem que eu trabalho aqui.. são conservadores e de família evangélica.
— Você está aqui a mais de três fucking anos, e só agora me diz isso tudo? Qual é Alana, tô sem tempo.
— É sério Carmel, eu tenho que sair. Eu já te disse que eles moram em uma cidadezinha lá no interior de Minas.. eu sempre mandei grana pra eles, e sou grata por isso. Porém, eu preciso ficar longe daqui quando eles vierem.
— E da onde vai tirar tanto dinheiro? Caixa de super mercado.. atendente de loja.. me diz aí algo que vá conseguir ganhar bem como ganhou aqui?
— Não sei, eu vou me virar. Como sempre fiz.
— Alana, você é uma das melhores da casa. Tem certeza que quer isso?
— Por favor Carmel. Me dê as contas. — falou decidida.
— Tudo bem. — olhei rápido de frente pra tela do computador — Não vou mais insistir, você está me devendo exatamente cinco mil reais.
— Quê, porquê? — arregalou os olhos.
— Pedir as contas antes do fim ano.. tem uma pequena taxa. Fora que você ficou aqui a três anos. Temos que pagar os seus custos né ?
— Engraçado que quando foi a vez da Stella, tu não cobrou um centavo. Não tenho essa grana Carmel, você sabe disso, não agora.
— Sinto muito querida. Ou é isso, ou não vou te dar as contas. E por favor, não misture as coisas, Stella não ficou aqui nem um ano.
— Você é pior do que eu achei que fosse.
— Entenda como quiser.
— Por acaso sua amiguinha Stella já sabe que você tem um santuário feito pra ela?
— Hum.. parece que a santinha não é tão santa assim né? Está me ameaçando?
— Entenda como quiser — falou a mesma coisa que eu. Além de tudo é petulante.
— Você não faria..
— Ah eu faria sim! E nós duas sabemos que ela iria acreditar em mim.
Meus punhos se fecharam e o meu maxilar travou. Essa filha da puta quer me foder de todos os jeitos que conseguir. E o foda é que ela tinha razão.. essa desgraçada da Stella ia acreditar nela, assim como acreditou no Thomás.
Isso passou dos limites.
— Vá em frente, diga tudo que sabe. Não me importo mais.— sorri cinicamente.
— Vai ou não me dar as contas?
— Vou Alana, vou te dispensar sim. O quanto mais longe melhor. Não trabalho com traíras, melhor eu descartar logo. — suspirei pesadamente.
O lado bom, era que seria menos uma pra me encher o saco. Precisava me livrar de ameaças.
— Que bom que pensou direito. Obrigado por isso, foi bom trabalhar com você. — me olhou sorrindo.
Revirei os olhos e a amaldiçoei mentalmente. Era isso ou essa mal amada faria o inferno.
Detesto viver sob ameaças, ainda mais quando não é eu que estou no comando.
Meus dias estavam cada vez piores. Era tudo que só me faltava, uma mera suburbana de quinta querer me ameaçar. Eu devo estar pagando castigos até da minha trigésima geração. Não consigo me manter concentrada em nada, e pra piorar Stella não me deu notícias, sumiu total do meu campo de visão.
A única coisa que eu via era os seus stories feitos em algumas horas atrás.
E pelo que parecia, ela estava bem.. estava ao menos tentando ficar bem. Se seu objetivo era mostrar que tá super feliz e tranquila, ela conseguiu. Após avistar a foto que o Felipe postou no seu feed.. meu coração doeu, é Stella vocês são a personificação de paz um do outro.
E a única tá sobrando nisso tudo sou eu. Sempre serei eu, todo mundo ajeita suas vidas e me deixam de lado.
Cheguei finalmente no evento da loja, e já tirei uma foto e postei nos meus stories. Só pra poder mostrar a roupa e o @ da marca. Não era muito o meu estilo, mas eu tinha que usar.
Comi alguns snacks e bebi uns sucos que eles estão serviram, por fim tirei umas mil fotos com as outras meninas e com os donos da marca.
Tudo ocorreu bem, até que Hans me chamou em particular pra conversar.
Fomos para um deck meio afastados e nos sentamos em uns sofás brancos.
— E aí, nem tive tempo de falar com você hoje — abriu um sorriso.
— Pois é, mó correria — concordei, bebendo o meu suco colorido.
— Então honey.. é sobre a SunsetModels.
— O que tem eles? — me mostrei interessada.
— Olha, eu queria muito que você fosse uma das garotas que vão pra Los Angeles. Conversei com os patrocinadores em particular e disse que você tem potencial. Eles adoraram o seu desempenho em tão pouco tempo.
— Você pode fazer isso? — disse chocada.
— Claro que posso.. cá entre nós. Todo mundo tem a sua favorita! — falou com entusiasmo.
— Quê? — sorria sem parar — Você é maluco!
— Sim amore. Nossa seleção vai ser feita na semana que vem. Porém, se você aceitar ir de cara pra terra dos anjos.. eu posso te ajudar.
— Aí meu Deus.. só você Hans, eu nem sei se vai ser viável eu largar tudo e ir pra LA.
— Relaxa fofa, é só por alguns meses. E eu te garanto que podem ser os melhores de toda a sua vida. — bebericou sua cerveja.
— E é tudo incluso? Até moradia?
— Yes. Até moradia, o apartamento fica há duas quadras da SunsetModels. Você vai adorar, é lindo.
— Eu não sei. Tenho que pensar, eu tenho que falar com os meus pais também.. várias coisas pendentes. — mordi meus lábios meio indecisa.
— Ah.. já to vendo tudo. — falou malicioso — Tem algum macho nessa história toda né ?
Sorri torto.
— Tem. Tem um macho lindo.. maravilhoso.. gostoso e cheiroso. Aí Hans, apaixonar é de fato uma merda né? — suspirei toda boba.
— Ih.. — Hans soltou um riso — É aquele que deixou você na porta da agência esses dias?
— Aham. Esse mesmo. — assenti.
— É gato viu minha filha? As meninas ficaram todas espiculando quem era.
— Ah ele é gato mesmo. Foda. — disse cabisbaixa.
— Eu acho bem menos complicado apaixonar por cara feio, é menos estresse. Vai por mim..
Ele falou e nós gargalhamos.
— Mas enfim, vou ver tudo certinho e depois te dou alguma resposta. Pode ser ?
— Tá bom. Vou aguardar!
(...)
Saí do evento e eu decidi que iria passar na casa dos meus pais. Fazia tempo mó que eu não ia lá. Após o uber encostar na calçada, fui até a portaria.
Como já me conheciam, só abriram o enorme portão.
Cheguei em "casa", e meu irmão jogava vídeo game ao lado da Gabi na sala de Tv.
Assim que eles me viram se assustaram com a minha presença.
— Ste! Que saudades de você sua maluca! — Gabi levantou e veio até mim. Me dando um abraço bem apertado. Seus abraços quase me derrubavam.
— Saudades Gabizinha.. — retribui o abraço. Quando nos afastamos, meu irmão se levantou.
— E aí doida — Guga aproximou e eu o puxei para outro abraço.
— Me cumprimenta direito otário! — indaguei e eles riram.
— Achei que já tinha viajando de novo. — ele falou em tom humorado.
— Não! Graças a Deus não.
— Você some do nada, depois aparece do nada. Não te entendo não. — exclamou Gabi.
— Ah.. tenho tanta coisa pra te contar. Que cê nem imagina.
— Já to curiosa. — riu fraco.
— E a mãe e o pai ? Cadê eles ? — questionei para o Guto, olhando para os lados.
— Devem tá aí. Nem os vi chegando.. — voltou a se sentar com a Gabi.
— Ok, vou lá! — falei e eles assentiram.
Subi as escadas. O cheiro daquela casa fazia lembrar de tanta coisa. Tanta coisa que já aprontei por aqui.. nunca vou me esquecer de todos os surtos dos meus pais. Meus pai estava no escritório, olhei pela porta entreaberta.
A abri devagar e ele girou rápido a sua cadeira pra ver quem era.
— Ah.. filha, você por aqui? — abriu um sorriso de canto. Tirando os seus óculos de grau.
Corri para abraçá-lo. Antes mesmo que ele pudesse se levantar.
— Oi pai. Saudades.
— Ta tudo bem? — me encarou assim que eu sai do abraço.
— Sim, tá tudo bem.
Conversamos por alguns minutos, e por mais que a minha vida estivesse mega corrida, sentia falta de casa. Minha mãe logo chegou, pois escutou a minha voz do corredor, a abracei e disse que também estava com saudades.
Já que eu odiaria ter que esconder as coisas de novo.
Decidi contar sobre Carmel, e falar o quão certos eles estavam por nunca terem gostado dela.
— Filha, quanto perigo! Meu pai amado, essa guria deveria estar em um manicômio.
— Eu sei mãe, e eu me sinto idiota por ter confiado nela todo esse tempo.
— Você tem que distanciar o mais rápido que puder. Isso é grave, Stella. — meu pai falou com um ar de preocupação.
— Não acha que deveria chamar a polícia? Ou então solicitar o hospício? Fico preocupada!
— Calma mãe. Já pensei em todas essas hipóteses. Mas o melhor a se fazer é esperar.
— Esperar? Esperar o que minha filha? Ela te matar? — minha mãe já estava desesperada.
— Eu conversei com a sua tia Lana. Ela disse que vai tentar interna lá novamente, e foi ela que me alertou sobre tudo isso.. foi difícil cair na real. Tá sendo bem difícil na verdade.
— Você sabe que qualquer coisa é só correr pra cá né? Pelo amor de Deus, não vai querer inventar de se vingar ou algo do tipo.
— Sim pai, eu sei. E além do mais.. o Felipe tá me ajudando bastante com isso.
— Que bom filha, o Felipe é um rapaz de ouro, dona Magda sempre fez muito gosto de vocês — mamãe acrescentou.
— Estão namorando? — me olhou sério. Poderia não parecer, mas ele tinha muito ciúmes.
— Não pai. — sorri fraco. — Ainda não, e nem sei se vamos..
— Ainda bem que Deus ouviu nossas orações, você precisava criar mais juízo. E essa bomba da Carmel veio na hora exata. Fico mais aliviada que o Felipe tá cuidando de você.. e que se tocou sobre essa mulher.
Abracei novamente a minha mãe, e só agora eu tinha entendido que meus pais nunca me fizeram mal. Eu não enxergava, estava cega por essa amizade tóxica.
Briguei com o mundo por causa da Carmel, e só de lembrar disso da vontade de me bater, por ter sido burra e tão ingênua mesmo com todos me alertando sobre ela.
A vida faz a gente apanhar, até aprender.
Remédios pra ansiedade.. remédios para depressão, remédios para alívio muscular, pílulas para dormir.. remédios para não surtar.. remédios para não matar alguém, remédios para morrer em paz. Rivotril tinha se tornado meu melhor amigo no meio disso tudo.
Eram tantos remédios que eu não aceitava tomar todos eles, não preciso ingerir essas merdas no meu corpo. Estão correndo o meu organismo e comendo minha mente aos poucos. Encarava aquela pilha de pastilhas e cartelas em cima da mesa.
Do meu lado havia o celular, sem nenhuma novidade ou ligação.
Aquilo estava me enlouquecendo, tudo que eu comia durante o dia não parava no estômago. Vomitei três vezes hoje, e tudo isso era culpa da Stella, ela que me fez ficar obcecada por ela.
Nunca vou perdoa lá por ter feito isso.
— Que se dane.. — peguei a pílula de Rivotril e tomei junto ao whiskey que tinha nas mãos.
Possuía algumas bebidas que guardava somente para emergência. As peguei lá no clube e as escondia em todas as gavetas.
Me olhei no espelho e vi o meu rosto magro e com várias olheiras. Aquela não era eu, não estava me reconhecendo mais.
Saí da casa dos meus pais, pedi um uber e fui para o apê. Assim que o motorista me deixou na calçada.. meu celular vibrou.
Olhei rápido e vi Carmel no visor. Bufei e atendi.
— O que você quer? — atendi sem paciência.
— Eu estou doente por sua causa!
— O quê? No que está dizendo?
— Você me deixou mal Stella.. me deixou sem forças. Estou prestes a surtar por sua culpa.
— Eu não te fiz nada! Você é quem me deixou mal pra cacete. Inventou mentiras e planejou várias coisas enquanto eu confiei cegamente na sua amizade. E olha só no que deu.
— O clube tá indo de mal a pior.. Ficou uma merda depois que você saiu. Não faz ideia.
— Não quero saber! Me deixa em paz Carmel, só isso que eu te peço. Some da minha vida,
se mata, sei la.. só pare de me atormentar!
— Só se você for junto.
Antes que eu pudesse respondê-la, ela encerrou a chamada, desligando na minha cara. Me deixando de pernas bambas, e com o coração muito aflito.
Entrei em casa, e fechei todas as portas e janelas, e tomei um banho, em seguida deitei na cama, minha cabeça iria explodir.
Esperar é sempre muito ruim. E eu não estava afim de esperar, estava afim de agir. Nem que fosse pela última vez.. vou parar de te encher a paciência Stella, vou parar de te atormentar.
Você vai sentir a minha falta quando perceber que ninguém mais importa com você além de mim.
Eu vou sumir, e desta vez é para sempre.
(...)
Continua.
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