Capitulo 56
Eu encaro Carmel jantar na minha frente, ela comia concentrada o seu prato, agia normalmente como se não tivesse acontecido nada. Aquilo me incomodava muito, aquela sua tranquilidade excessiva me deixou inquieta. Eu não tava ficando doida, eu tinha certeza do que tinha ouvido.
— Eu ouvi o que conversou com sua tia.. — exclamei e ela nem sequer deu o trabalho de erguer os olhos.
— Ela é maluca, haja paciência..— suspirou dando uma garfada.
— Porquê disse que ela iria pra rua caso fizesse algo? O que tá acontecendo entre vocês?
— Problemas de família.— respondeu com certa indiferença.
— Eu até acreditaria se não escutasse meu nome no meio da conversa. Para de mentir Carmel, me conte o que está acontecendo!
Ela me olhou séria e no mesmo minuto abriu um sorriso sínico. Seu comportamento estava estranho, não conseguia entender.
— Eu esqueci de pagar o seu aluguel. Ela surtou e começou falar que iria acabar com a nossa amizade. Típica chantagista..
— Por quê ela iria querer fazer isso?
— Porque você é a minha amiga, a minha única e melhor amiga. Ela faria de tudo pra me deixar mal.. e é capaz de querer nos afetar — sua voz melancólica não me desceu. A forma com que ela muda de humor quando está sendo encurralada é incrível.
— Hum. Entendi. — respondi seca.
— Que foi? Não está acreditando em mim?
— Não sei, achei que ela queria remédios. Cada hora você fala uma coisa, fica difícil de acreditar.
— Desculpa, no momento certo irá saber. — voltou a concentrar no que estava comendo.
Que porra tá acontecendo?
Até perdi a fome, preciso saber o que tá acontecendo o mais rápido possível. Sou péssima em descobrir as coisas, e sempre penso que estou sendo enganada.
Fiquei só encarando os talheres, enquanto pensava em algo que eu pudesse fazer para descobrir que confusão é essa que tá rolando.
— Vou ao banheiro..
— Ok. — respondeu sem olhar.
Peguei meu celular e chequei todos meus contatos, e ainda bem que eu tinha o número das meninas lá do Clube, talvez elas pudessem saber de algo ou até me enviarem o número da sua tia. Sei que pode parecer invasivo, e talvez isso nem seja da minha conta, mas a curiosidade estava me matando. Ainda mais por escutar meu nome do meio da ligação.
Achei o número de Alana e disquei sem pensar duas vezes, a taxa iria vir alta, ligações feitas no exterior sempre saem bem caras.
— Alô?
— Alana, oi.. é a Stella.
— Stella? Oi, tudo bem? — sua voz se alterou quando soube quem era.
— Sim, na verdade não muito.— hesitei.
— O que aconteceu?
— Tá ocupada?
— Não, pode falar.
— Eu e a Mel estamos viajando, você deve saber.. e hoje eu escutei uma conversa sua com aquela tia dela.
— Ah, elas são bem apegadas.
— O problema é que eu escutei meu nome na ligação, também ouvi que Carmel expulsaria a tia de casa caso ela fizesse algo. E se você souber de alguma coisa.. por favor. Me conte.
— Me desculpa Stella, mas eu não posso falar sobre algo que eu não sei.
— Achei que fossem amigas, você ao menos não tem o número da tia dela?
— Não somos tão íntimas assim. Mas se você quiser o número da tia dela.. posso te passar.
— Sim, por favor.
— Ok. E só mais uma coisa, não acredita em tudo que você ouve dela não tá? Fica esperta, só isso.
— Como assim? Acha que ela tá mentindo pra mim?
— Acho. Mas não quero entrar nesse assunto, foi mal.. aliás, eu ainda trabalho pra ela.
— Tudo bem, desculpa o incômodo.
— Tranquilo.
Encerrei a chamada. Depois disso fiquei ainda mais em dúvida, eu queria acreditar na Mel e em tudo que nossa amizade representa. Não queria ter outra visão sobre ela. Olhei meu WhatsApp e vi que Alana tinha me enviado o número da sua tia.
Suspirei e tentei me recompor.
— Tá bem ? — Carmel entrou no banheiro devagar.
— Sim! — guardei rápido o celular no bolso.
Ela me encarou por uns minutos e foi lavar as mãos e ajeitar seu cabelo no espelho.
— Não quero que me esconda nada. Eu pensei que fôssemos amigas, mas eu to vendo que não somos tanto.
— Curiosidade demais não faz bem, eu vou te contar tudo na hora certa. Para de apressar as coisas..— aquela sua calmaria me fez ficar irritada.
Suspirei pesadamente e saí do banheiro. Não queria brigar, mas não ia me calar. Sou sua amiga, não um tipo de escrava submissa.
O dia amanheceu chuvoso e fui pra faculdade. Tudo ocorria visivelmente normal, mas por dentro minha cabeça estava a mil por hora. Só de pensar que esse filho pode ser meu.. minhas pernas ficam bambas e eu perco todos os sentidos. Eu não estou preparado pra ser pai, não tem nada a vê com o bebê.. e sim com a Cecília.. não é ela que eu imaginava que seria a mãe dos meus filhos. E nem assim tão de repente.
É loucura pensar nisso, e no fundo eu acredito que esse neném é do Vitor, minha intuição não falha.
O foda é que ele não é nenhum pouco responsável e pelo visto tá zero preocupado ela, e eu queria muito ajudá-la, nem que seja só para servir de apoio, mas de todo jeito ela precisaria de mim.
— Que horas sai do trabalho hoje? Eu preciso de uma ajudinha sua.. eu to falando com você Felipe! — minha mãe indagou, fazendo eu sair dos meus pensamentos.
— Ah oi mãe, acho que umas sete e meia.
Ela só assentiu e entrou na cozinha, minhas pernas balançavam involuntariamente, todo instante olhava o relógio ou checava o celular.
— Aconteceu algo? — Fábio me encarou.
— Nada demais. — desviei o olhar.
— Para de mentir ou. Fala aí cuzão.
— Melhor não, sério.
— Para de caô, conta aí. — insistiu.
— Cecília tá grávida, porra! — falei direto sem pensar duas vezes. Acho que ele não esperava essa resposta.
— Ela tá o que ? — minha mãe de repente surgiu na porta da cozinha. Ela tem uma ótima audição nessas horas, era incrível.
— Caralho irmão, que merda? — Fábio me olhou boquiaberto.
— Que porra é essa Felipe ?
— É mãe — suspirei — É isso mesmo que você ouviu, ela tá grávida e eu não sei o que fazer..
— Você mal conhece essa menina! Acha que ter filho é brincadeira? Eu te avisei garoto! — se aproximou me dando uns tapas nas costas.
— Calma mãe.— me esquivei — Tem chances do filho não ser meu, e não surta tá? Foi algo sem querer, eu não esperava isso..
— Ah não se faça de sonso! Eu sempre te falei para usar a porra da camisinha, já te disse pra não confiar nessa história de remédio!
— Mãe eu sei tá? Não pira, se acalma, não é nada certo. Ela se relacionou com outro cara também.
— Torce pra não ser seu, se for.. sinto te dizer. Mas você tá lascado.
Era difícil eu ver minha mãe xingar, e quando isso acontecia, era porquê o bagulho estava sério. Ou ela estava realmente muito puta.
— Ela me mandou mensagem hoje, disse que a sua consulta com a ginecologista ficou marcada para semana que vem. Enquanto isso vou ficar nessa agonia fodida.
— Acho é pouco. Porque na hora de transar igual um cachorro no cio tá bom né? Aí Felipe, eu ainda vou enlouquecer com você.. — ela passou as mãos no peito e se sentou na primeira cadeira que viu na frente.
Fábio a consolou um pouco, eu nem tinha intenção de falar nada pra ela. Esse B.O tinha chances de não ser meu, e a esperança é a última que morre. Essa sua ginecologista era bem requisitada, quase não tinha mais horário disponível. Cecília queria tanto esse exame de DNA quanto eu, posso imaginar sua aflição.
— E eu achando que iria demorar pra ser vó de novo.. — passou as mãos no cabelo.
— E eu achando que iria demorar anos pra ser tio — Fábio soltou um riso, mas minha mãe o repreendeu.
3 dias depois
Digamos que nossa amizade deu uma leve esfriada depois daquele episódio. Não quis nem ligar pra sua tia. Fiquei com medo do que ela poderia me contar e não queria que a nossa amizade abalasse.
Mas eu precisava saber, se caso ela pudesse me falar, se não, eu iria ter que tomar outras providências.
— Vai ficar com essa cara de cu? — questionou séria enquanto tomávamos sol.
— Vou, odeio mentiras. — retruquei.
Ela suspirou e fingiu me ignorar.
Me levantei rápido e fui até o nosso quarto, procurei dentro da minha mala e achei o papelzinho em que eu tinha anotado o número da sua tia. Logo disquei sobre a tela.
Chamou algumas vezes até ela atender.
— Oi?
— Oi, é a tia da Carmel? Aqui é Stella.
( ela ficou em silêncio por uns instantes)
— Ainda tá aí ?
— Tô sim. É.. aconteceu algo?
— Não, na verdade eu quero saber o que tá acontecendo com ela. Eu ouvi vocês no celular e escutei o meu nome na conversa.
— Ah.. não era nada.
— O que foi? Porquê não pode me falar?
Ela encerrou a chamada ignorando a minha fala. Suspirei murmurando um palavrão.
— Com quem estava falando? — Carmel chegou no quarto me dando um leve susto.
— Ninguém. Vou tomar um banho.— falei e dirigi ao banheiro. Isso tá muito bizarro e eu não sei mais o que fazer pra saber o que tá rolando aqui.
— Cara.. se essa mina tiver grávida de um filho seu, só te digo uma coisa: Se fudeu. — Lucca bebia a sua cerveja.
— Ela não está. Tenho quase certeza que é de um tal de Vitor.
— Então qual foi da agonia irmão? Relaxa aí que essa barra não é sua não.. — Caio me tranquilizou.
— Eu tenho que ficar ao lado dela, seja o que for.
Não dá pra fingir que tá tudo bem.
— E você por acaso, já pensou quando a Stella souber disso tudo?
Isso é o que eu mais penso, praticamente a todo momento.
— Já Lucca, e ela não vai ficar nada bem. Que merda.. — passei as mãos no meu rosto tentando afastar aqueles pensamentos.
Mesmo que a porra toda esteja fodida, eu não vou abrir mão da Stella. E eu respeito o nosso tempo, eu sei que é temporário. Mas isso tudo é foda, e eu não quero perdê-la de vez. E ao mesmo tempo não quero deixar a Cecí na mão, eu sei do risco que corremos.
No dia seguinte decidi mandar uma mensagem pra loirinha. Mesmo com receio, fazia mó tempo que não conversávamos. Mas a agonia dentro de mim falava mais alto, é como se fosse uma puta necessidade que eu tinha de falar com ela.
Por conta dessa quase intriga, a viagem toda foi um verdadeiro porre.
Carmel séria de um lado, e eu mega desconfiada de outro. Já estou doida pra voltar para casa e retomar os meus afazeres.
Tanto, que duas semanas passaram voando. Quando menos vi, já estávamos embarcando novamente pro Brasil. O voo foi bem tranquilo e eu pude dormir um pouco e assistir alguns filmes pra passar o tempo.
Assim que chegamos no aeroporto do Rio, peguei minhas malas na esteira e corri pra chamar um uber.
— Stella.. espera! — Carmel veio atrás de mim.
— Preciso pedir um uber. — encarei a tela do celular.
— Vai ficar com essa cara amarrada mesmo? Para, a gente se ama! — cruzou os braços.
— Hã? — franzi o cenho — Você fala como se fôssemos namoradas, que coisa mais estranha..
— Você entendeu. Não quero brigar.
— Entendi Carmel. Agora por favor, me deixa ir.. — saí da sua frente, sem muita paciência.
(...)
Cheguei em casa, deixei as malas num canto e fui tomar um banho. Olhei rápido o celular e vi que o pessoal da agência já haviam solicitado a minha presença. Me aprontei num instante.
Nem parei pra ler todas as mensagens. Mas teve uma específica que eu tive que me sentar na cama pra ver melhor. Era do Felipe, ele quer muito falar comigo.. e as últimas borboletas que sobraram, começaram a pular dentro de mim.
Respondi rapidamente e bloqueei a tela novamente, cacete, era incrível em como meu coração palpitava com uma simples mensagem.
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