Capitulo 51
5 dias depois
A minha vida começou a se acomodar, todos os dias pareciam ser os mesmos.
O foda de ter sido criada como a "filhinha mimada", era que nem ovo frito bem feito eu sabia fazer, iria ter que me virar ou passaria fome, acabei apelando para os aplicativos de fast food.
Enquanto eu comia, assistia televisão deitada no sofá. Me sentia deprimida, sempre eu busquei por liberdade mas ser livre me fez só.
Isso era o inferno, já tava agoniada e louca para sair dessa toca.
Mel por outro lado tinha sumiu, não me mandou mensagens nem me ligou.
Também não fui atrás, respeitei os seus afazeres, eu sei que alguma hora ela viria falar comigo.
— Não.. não.. não.. — dizia entediada mudando de canal.
Meu celular vibrou rápido e eu levei um puta susto, olhei de relance e vi a única mensagem possível que poderia alegrar meu dia. Meus olhos brilharam ao encarar o visor.
Meu dia tinha acabado de melhorar um pouco e finalmente algo parece ter começado a dar certo. Pensei no mesmo instante em contar a notícia pra minha mãe, e por falar nisso, eles estavam distantes que nem me ligaram mais.
Tomei inciativa de passar lá em casa para vê-los, só pra não sumir de vez.
(...)
— Mãe ? — falei entrando em seu quarto.
Ela lia o jornal sentada em sua velha poltrona marrom, assim que posicionei em sua frente, ela ergueu os olhos sobre os óculos de grau e me encarou "surpresa".
— Stella..não esperava sua visita. — exclamou séria.
— Eu só passei pra ver como tão as coisas por aqui. — abaixei a cabeça com certa vergonha.
— Estão bem calmas, sem você tudo ficou tão quieto — soltou um riso sem humor. — Sem as suas brigas diárias com o Gustavo e sem todo seu falatório pela manhã. Está bem tranquilo.
— Isso é um bom sinal?
— Não sei, depende do seu ponto de vista.
Suspirei pesadamente e me aproximei mais um pouco.
— Queria te dizer que eu fui aceita na agência de modelos, me chamaram pra ir lá hoje.
— Que bom Stella, finalmente uma coisa boa. — falou sem emoção alguma.
— Desculpa mãe, é horrível ter que conviver desse jeito com vocês. Sinto como se tivesse um nó na garganta.
— Foi horrível ter que ouvir aquelas palavras da sua boca, horrível é ver que a sua filha tão amada se tornou uma prostituta. Horrível é te ver distante todos os dias. Isso sim é horrível.
Meus olhos se encheram d'água pelas suas duras palavras, o pior, era que estava coberta de razão.
Não podia contesta-lá, eu sei que sou responsável pela minhas escolhas e sei que vou ter que arcar elas.
— Mãe a senhora por acaso viu meu carrega.. — Guto chegou de imediato no quarto, mas parou de falar assim que me viu.
Meus olhos se encontraram com os seus e seu semblante triste tomou conta de mim.
— Oi Stella.. — disse baixo.
— Oi Gustavo. — respondi no mesmo tom.
— Vocês precisam conversar, vou me retirar. — mamãe se levantou rápido e saiu fechando a porta.
Ficamos só nós dois como quando éramos crianças, sempre que brigávamos nossa mãe nos obrigava a fazer as pazes, querendo ou não.
Ela toda vida nos trancava num quarto pequeno e só poderíamos sair se estivesse tudo bem.
— Olha, não quero discutir tá? Você tá certo de estar bravo comigo, eu errei, mas se eu pudesse voltar ao passado..
— Infelizmente isso não é possível, você sabe que não foi fácil pra mim. A caçula da família, a pessoa que eu jamais imaginei se envolver nesse tipo de coisa. Justo você Ste.. — me interrompeu.
— Desculpa, você era a última pessoa que eu queria magoar, te amo muito, não quero te perder também! — me levantei rápido e corri para abraçá-lo, mesmo ele não se movendo o apertei com força e apenas fechei os olhos.
Logo eu pude sentir os seus braços me abraçando também, não contive a emoção e derramei algumas lágrimas, meu irmão era uma das únicas pessoas que sempre esteve comigo, virar as costas pra ele era algo que nunca faria, ele é a minha metade, o meu oposto e ao mesmo tempo o meu gêmeo.
— Promete que vai tentar melhorar? Vai tentar criar juízo e ser mais responsável? — falou em meio ao abraço, com a voz abafada.
— Uhum, eu prometo. Desculpa.. desculpa.. desculpa — murmurei.
Conversamos por alguns minutos e eu pude falar sobre a agência e sobre tudo que havia acontecido ultimamente. No fim das contas só iria sobrar nós dois, precisamos ser o apoio um do outro.
Nossos pais não vão estar pra sempre conosco.
Aproveitei que ele iria sair e pedi uma carona até a agência, mas antes disso, tomamos um chá da tarde na copa da cozinha, como nos velhos tempos.
Em seguida, fomos em direção ao carro.
— Esse que é o endereço — disse olhando ao celular.
— Vai me guiando aí, não da pra ver..— falou sem conseguir tirar os olhos da direção.
Fui direcionando todo o nosso percurso, foi quando paramos num sinaleiro e aproveitei para tirar uma foto.
É a coisa mais difícil do mundo todo conseguir tirar foto com ele, Gustavo sempre detestou câmeras ou qualquer tipo de coisa que envolva isso.
— Ah eu gostei.. — analisei a foto — Vou postar tá?
Ele olhou rapidamente e assentiu.
@Stellamuniz
Como cão e gato. Mas te amo mesmo assim ♥️👩🏼🤝👨🏻 @Gutomuniz
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@LalaCardoso: Lindosss demais
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@Vicentebrangel: 🧡🥰 gatossss
@Luccaribeiro: esse é firmeza 🤙🏼
— Cuidado amor, ele acabou de mamar!— Chiara falou pra Fábio, assim que ele pegou Gael no colo.
— Sua mãe é muito coruja né filho? — falou com uma voz escrota e eu ri.
Era estranho eu ver meu irmão sendo pai de uma hora pra outra e construindo sua própria família.
Não gosto de ser pessimista, mas não me imagino tendo a mesma vida que ele.
Os seus planos são de ficarem aqui até as crianças fazerem 6 meses, e logo após eles irão retornar pra Austrália. Os parentes da Chiara estão loucos para conhecerem os meninos.
Os meus pais não podiam estar mais felizes, e tudo parecia correr bem se eu não tivesse com um aperto no peito.
Ver a Stella ontem depois de tudo, só me fez ver o quanto eu ainda sou louco por ela.
E vivendo essa vida monótona ainda vou ter chances de sempre encontrá-la, e custo em dizer, mas sem ela é vida é tão sem graça.
— Não tá tudo bem né filho? — minha mãe se aproximou, me fazendo sair do transe.
— Não.. — suspirei. — Não tá tudo bem.
— Você precisa espairecer um pouco, essa vida tá te deixando estressado.
— O pior é que eu não tenho pra onde correr mãe, todo lugar que vou eu lembro dela..
— Dela?
— É pô, dela.
Sem eu falar o nome, minha mãe já entendeu tudo. Ela adorava a Ste, mas também entedia que se eu não estava bem, ela iria respeitar a nossa decisão. Mesmo sem saber o motivo.
— Ah filho, não se preocupe, eu sei que não é fácil. Acho que deveria sair com seus amigos pra distrair um pouco. Vai te fazer bem.
— Tem razão, vou falar com eles.
Logo mandei um alô pro Lucca, perguntando o que ia fazer hoje.
Eu tentei, juro que tentei.. tentei ser alguém ideal pro Felipe, ajudei, dei todo apoio e o que eu recebo em troca? Nada.
É isso que eu ganho por me doar demais, por nunca ter deixado ele de lado e por sempre ser a sua única melhor amiga.
Depois que a Stella chegou, ele mudou por completo, não era o cara que eu conhecia, aquele que sempre se envolvia com muita gente e depois esquecia.
Com essa menina foi diferente, me senti desprezada de uma forma péssima.
— Pensando demais naja? — Vicente falou passando por mim na sala. Segurando um balde de pipoca.
— Pensando só no quanto eu sou uma idiota, uma tola por achar que algum dia o Felipe ia me olhar com outros olhos.
Ele soltou uma risada debochada.
— Até que enfim acordou. Todo mundo via e menos você. Não adianta insistir em ficar com alguém que nunca vai nos pertencer. Isso é perda de tempo.
— Eu jurei que não ia desistir, achava que poderia ter salvação. Achava que íamos ficar novamente.. tudo mal começou e já acabou de uma forma tão fácil.
— Você sabe de quem ele gosta, todos nós sabemos. Por mais que eu não goste tanto de você, acredito que deveria se valorizar mais e parar de correr atrás dele, tenha um pingo de amor próprio uma vez na vida.
— Acha que eu.. amei mais o Felipe do que a mim mesma? Você tá me ofendendo Vicente!
— Mas era isso que você nos mostrava, corria atrás dele igual uma condenada. Se preserve mona, já tava feio pra você. E eu não falo isso para o seu mal.
— Eu o amo Vicente, e vocês nunca que iriam me entender. Quando souber o que é isso, aí sim vai ver o meu lado.
— Mas ele não te ama criatura, gostar como amiga não significa que ele vai te amar como namorada.
— Eu vou ter que aceitar que ele não me ama e seguir minha vida? Como vou esquecer esse macho perfeito? Me diz?
— Aí guria, quanto drama! Só segue o baile, ele não vai te amar, apenas aceite! — revirou os olhos.
— Vou seguir.. mas vai ser bem longe daqui.
— Quê?
— Vou voltar pra casa dos nossos pais, e de lá vou tentar ir para Milão, fazer o meu pós.
— Da onde tirou isso? Tá doida?
— Não, já estava vendo essa ideia, mas não conclui porquê ainda tinha esperanças que nós ficaríamos juntos.. — ao falar Vicente segurou o riso e eu parei de explicar.
— Tá, desculpa. Continua.
— Isso era o meu segundo plano, e eu acho que vou fazer isso. — suspirei. — Já falei com a mamãe e ela me deu todo apoio. E quanto a Milão eu ainda estou vendo direito..
— Olha, por mim tudo bem. Desde que o apê fique só pra mim tá ótimo.
— Perfeito, vou ver o dia certo. — indaguei, meu segundo plano não era exatamente o que eu queria, mas se tornou a partir do momento que eu vi que não importava o que eu fizesse. O Lipe jamais iria me olhar diferente.
— Tá tudo ótimo? Que bom que veio — Edu, um dos agenciadores falou todo sorridente quando me viu.
— Tudo sim, pois é, fiquei bem feliz quando recebi as mensagens da Vanessa!
— Que bom. Como você já deve saber, nós somos um time composto por trinta modelos, incluindo alguns homens. Temos trabalhos feitos toda semana, por isso estamos buscando alguém que esteja disposto a vir aqui quase todos os dias possíveis. Não só para as reuniões como também para ensaios fotográficos.
Prestava atenção atentamente em tudo que ele dizia. Por fim, escutei mil outras coisas e no final assinei o contrato, que todo ano teria que ser renovado.
O meu pagamento seria por mês ou conforme eu ia fazendo propagandas.
— Amamos te conhecer, te esperamos amanhã, sem falta! — Hans falou me dando um abraço apertado.
— Sim, pode deixar! — sorri fraco.
(...)
— Tem certeza que isso não faz mal não? — disse ao ver Lucca misturar Skol beats com vodka dentro do carro.
Estávamos indo a casa de pagode, mas precisamente no Bar dos Jarbas, toda sexta tinha música ao vivo e muita cerveja.
Era bastante frequentado, pois a sua localização era a beira mar e ficava bem pertinho do Leblon.
— Pô só faltou Gustavinho e Guilherme pra fechar o clã. Mancada! — Caio exclamou soltando um riso.
— Depois que eles casaram tudo mudou.. — Lucca acrescentou.
— Ainda bem que tu saiu disso a tempo molecote, ser solteiro é ter qualidade de vida. — brincou Caio e eu soltei um riso meio sem graça.
O bar estava lotado, tinha gente até no meio da rua. Entramos com certa dificuldade no meio da muvuca e achamos uma mesinha vazia pra colocar as bebidas e curtir um som.
Se eu não me engano é uma banda bem famosa que tava tocando, o mais foda era que essas músicas me deixavam bem na bad.
Porém a cerveja amenizava um pouco.
— Essa é pra arrastar o chifre no chão do asfalto! — Lucca falou enquanto tocava a música do Ferrugem.
Aparentemente bêbado.
Ao som da música Sinto sua falta, a minha já mente começou a lembrar de quem eu não devia. Eu fiquei bem de boa no canto, só com a latinha na mão.
Até que o Caio chegou depois de algumas horas sumido no meio do povo.
— Ou, vocês não vão acreditar em quem eu encontrei aqui! — falava alto por causa do som.
— Quem, porra? — Lucca entrou no meio.
— Minha ex vizinha véi, não vejo ela faz mó tempão.
— Toma no seu cu, ninguém conhece. Achei que era alguém importante..— Lucca riu alto.
— Ela é gata pra caraí, vocês precisam conhecer essa peça. Juro, vão adorar ela.
— To de boa Caio.. — exclamei baixo, fazendo redenção com as mãos.
— Apresenta aí pô, quem sabe tira Felipão da fossa.. — Lucca falou dando tapinhas nos meus ombros.
Xinguei ele mentalmente por isso, eu não queria me envolver, não estou afim de ficar com ninguém hoje. Tava tudo muito recente. Antes ficava por ficar, mas depois de tudo, eu ando meio sem vontade.. sei lá.
— Essa é Cecília gurizada! — ele se aproximou nos apresentando uma menina muito bonita.
Lucca arregalou os olhos e me encarou surpreso, de fato. Ela tem os cabelos curtos e várias tatuagens em um de seus braços, um sorrisão largo e os olhos bem pretos. Parecia ser bem simpática.
— Oi gente, o Caio me arrastou até aqui. Foi mal.. prazer, podem me chamar de Ceci! — falou risonha segurando um copo na mão. O sotaque é carioca e bem gostoso de ouvir.
— Fica tranquila que o prazer é todo nosso, fica a vontade aí.. — Lucca falou receptivo.
— Relaxa aí.. — indaguei.
Ela começou a beber com a gente e rapidamente se enturmou. É bem engraçada e divertida, e se fosse antes eu poderia até chegar nela.
Não vou negar, é meu número, o tipo de menina que costumava ficar.
— Enche mais que tá pouco! — ela exclamou pedindo para que Lucca enchesse todo o seu copo com Gin.
— Vai devagar, cuidado passar mal.. — falei próximo a eles.
— Fica relax, se eu passar mal vocês pegam a minha identidade e me levam pro postinho tá ? — brincou e nós rimos.
— Ou, ela faz bem seu tipo. O que custa chegar na mina? — Lucca falou baixo pra mim, enquanto nós observávamos ela cantarolar.
— Nem sei como faz isso mais, desaprendi total.— cocei a nuca.
— Só vai parceiro, eu te dou uma ajudada. — ele se aproximou da Cecília e passou os braços ao redor do seu pescoço, parecendo falar algo no seu ouvido.
Morri de vergonha, apenas abaixei a cabeça e fingi estar mexendo no celular por uns instantes.
— Tá tudo bem? — pude perceber ela aproximando de mim.
— Ah, tá sim pô. — respondi guardando o celular no bolso.
— O seu amigo Lucca veio falar comigo sabe.. disse que você tá passando por umas barras e que era pra eu vim falar contigo..
Eu vou matar o Lucca com todas as minhas forças, juro. Mas só depois que saíssemos daqui.
— Ele te disse isso? Caô..— soltei um riso — Tô bem.. de verdade.
— Acho que era só uma desculpa boba pra ele tentar nos aproximar. Eu reparei mesmo que tu tava meio distante. — sorriu.
— Impressão sua, é que aqui tá muito lotado e eu fico incomodado.
— Quer dar uma volta lá na praia ? Pisar na areia e me ajudar a pular as ondas ? — falou divertida e eu assenti fraco.
— E foi assim que eu me mudei de casa, a separação dos meus pais foi bem barra.. — ela falava enquanto caminhávamos perto do mar.
— É foda, posso imaginar que não foi fácil..
— Mas por outro lado, hoje eles são amigos e então tá tudo certo. — abriu um sorrisinho.
Eu segurava as suas sandálias apenas por gentileza. E ela ainda tomava algo dentro daquele copo com tirante. O vento batia bem forte e as ondas faziam muito barulho.
— Gosto de vim aqui pra pensar, faz muito bem pra alma e pra mente.
— Tu tem a cara que faz aquelas paradas todas de meditação.. sétima arte e todo aquele rolê. — falei ingenuamente.
Ela riu do comentário.
— Quase isso, meus pais são de uma religião Budista e eu cresci sabendo meditar.. me ajudou bastante ao longo da minha vida.— colocou uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
— Maneiro, queria aprender a fazer essas coisas.
— Vem.. vamos sentar aqui, vou te ajudar a ficar bem relaxado. — ela se sentou na areia e estendeu a mão.
— Caô, eu tô meio bebo.. não sei se consigo. — me sentei ao seu lado.
—A meditação ajuda controlar a respiração melhor. Só respirar bem devagar e tentar interiorizar os seus pensamentos.— dizia calmamente, parecendo uma médica.
Fiquei todo bobo vendo ela explicar aquelas paradas.
Fechei os olhos e fiquei apenas ouvindo as ondas do mar, controlei a respiração e fiquei num ritmo só. O silêncio era algo bom de se ouvir.
— Tá mais calmo agora? — sussurrou.
— Uhum.. — murmurei.
Assim que abri os olhos, ela olhava as ondas do mar, o reflexo da lua estava nas águas e tudo estava num clima muito agradável.
— Que foi? — me encarou quando percebeu que eu ainda continuava em silêncio.
— Nada, acho que não to muito bem.. bebi demais. — desviei o olhar.
— Vem aqui, deita aqui.. vamos olhar o céu, eu gosto desse aplicativo. — deitamos lado a lado e ela pegou o celular e ligou em um app que dava para enxergar os planetas e todas as estrelas do céu. Acho que se chama Sky View.
Observamos e ríamos a cada descoberta, era incrível poder ver o nome de cada um dos astros.
— Olha Júpiter.. — exclamou apontando para o céu.
No mesmo instantes os nossos rostos se colaram, e eu pude sentir a sua respiração e os seus batimentos cardíacos. Ele me olhou de lado e apenas abriu um sorriso tímido.
Continua.
Cecília Vaz, 21 anos. (Ceci ) cursa Medicina.
> Interpretada por Estela NewBold.
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