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Capitulo 105

Será que algum dia vai nos dar o prazer da sua ausência?

Últimas emoções

Eu e Lipe encarávamos os meus pais e Gustavo sobre a mesa de jantar, e estávamos tensos pelo que íamos contar a eles. Havia ligado pro Guto vir jantar aqui e trazer Gabi também, e já que íamos contar isso.. que seja logo tudo de uma vez.

— Aí está tudo muito bom, sério.. se eu pudesse viria jantar aqui todos os dias. — Gabi exclamou risonha.

— Ah querida, sinta-se em casa. Pode vir sempre que quiser. — minha mãe sorriu fraco.

— Hoje tá bom mesmo mãe, vou até servir de novo. — Guto elogiou indo servir mais comida no prato.

— Que milagre todos vocês reunidos, aposto que tem algo por trás disso tudo. — meu pai disse um pouco desconfiado sem tirar os olhos da gente.

— Hã? Da minha parte não pai, a Stella que me ligou dizendo que hoje ia ser a minha comida preferida..

— Gustavo sempre muito indelicado, fica menos feio dizer que veio por quê estava com saudade dos seus pais e da sua irmã.

— Foi mal aí mãe.. — deu mais uma garfada.

— E você Felipe, como vai o emprego? — o meu pai questionou puxando algum assunto.

— Vai bem. Tá só corrido como sempre.

— Que bom.. e você filha? Deu tudo certo lá em São Paulo?

— Ah pai, deu sim. Ainda bem. — murmurei olhando pro meu prato e mexendo no garfo sem emoção.

— Está sem fome de novo filha? Poxa, eu achei que tinha dado um tempo pra essas suas dietas sem fim.

— Isso é só pose mãe, se não tivesse ninguém ela ia tá atacando essa comida aqui igual uma doida.

— Aí Gustavo, só come! — Gabi o interrompeu com humor.

— Então, eu queria conversar com vocês.. por isso eu até chamei o Gustavo e a Gabi. — falei com um certo receio.

Eles se entreolharam meio confusos.

— É pô, a gente queria falar umas paradas sérias aí.. — Lipe me olhou e por debaixo da mesa pousou suas mãos pesadas sobre as minhas coxas vagarosamente.

— Ah não filha, vai se mudar pra São Paulo mesmo? Eu não sei se estou preparada para outra despedida.. — minha mãe tomou frente.

— Não me diz que vai sair do país novamente amiga?

— Não vão mais se casar? Porra mané, faz isso com a Stella não.. ela já sofreu tanto, tu sabe né?

— Gustavo! Por favor, deixa eles falarem! — meu pai o repreendeu e ele soltou um riso.

— Desculpa, mas acho que é bem pior que tudo isso.. bom, depende do ponto de vista de vocês.. — sorri de canto.

— Diz logo filha, quanto suspense!

— Calma mãe, não sei por onde começar a dizer isso. Não é uma conversa que eu planejava ter com vocês tão cedo assim.

— Vamos falar de uma vez. — Felipe sussurrou entre os dentes e eu apenas assenti fraco.

— Então.. eu.. eu to grávida! — mordi meus lábios inferiores, o nervosismo já tinha instalado no meu corpo.

— É, a gente meio que.. vai ter um bebê. — Lipe ficou tão tenso quanto eu e apenas resmungou.

Naquele minuto eu percebi todos me olharem com certo pavor e susto.

— Meu Deus! Aí cara! Como assim? Não acredito.. — Gabi foi a primeira a se levantar e vir me abraçar por trás toda radiante. — Que notícia mais linda, e como não me contou antes? Meus parabéns!

— Caralho veado! Que isso? Cês tão zoando né? — Guto soltou uma risada alta. — Na moral?

— Não mané, não íamos brincar com isso! — Lipe retrucou. — A parada é séria mesmo.

— Pô, eu sei que minha irmã é meio descabeçada, mas hoje acredito que ela tá mais ajuizada e eu só desejo sorte pra vocês.. na boa mesmo. — Guto se levantou e foi de encontro ao Lipe e deu um aperto de mão e um abraço de lado.

— Filha.. que surpresa! Caramba, eu nem sei o que dizer. Vocês tem certeza? — o meu pai se levantou e em seguida eu me levantei e corri para abraçá-lo.

— Mãe! Pelo amor de Deus, mãe! — eu disse rápido quando vi que ela tinha se engasgado com algo que estava bebendo antes.

Todos correram para ajudá-la. Ela tossia sem parar e foi ficando cada vez mais vermelha, meu pai a pegou por trás e começou a dar alguns solavancos nas suas costas.

— Toma, bebe um pouco d'água! — Gabi ofereceu e ela bebeu rapidamente voltando a se recompor.

— Meu Deus, acho que a minha pressão caiu! — ela passou as mãos no rosto. — Stella minha filha, como vocês vão ter um filho? Nossa senhora, não faz isso comigo não..

— Mãe calma, senta aqui no sofá. — a direcionei pra sala que ficava logo ao nosso lado.

— É sério isso? Mas gente, como eles dois vão cuidar de uma criança Carlos? Me diz ?

— Quer mais água meu bem? Não se exalte!

— Mantenha a calma dona Viviane, nós estamos tão assustados quanto vocês!— Felipe tentava acalma-lá.

— Eu tô com muito medo de como vai ser, mas agora já era. Não adianta nada surtar! — sentei ao seu lado e a encarei.

Óbvio que não queria passar mais insegurança pros meus pais. Eu preciso manter o controle até nessas situações, por mais que eu não esteja tão calma por dentro.

— Mas o trabalho de vocês? Já pensaram nisso? E ainda nem se casaram, vamos ter que providenciar uma cerimônia já! — começou a falar sem parar.

— Não pensamos em quase nada mãe. Não tem nem uma semana que nós descobrimos!

— Mas a gente vai pensar em tudo isso, podem ficar tranquilos. Vai ficar tudo bem e por mim a gente já casa amanhã. — Lipe acrescentou.

— Aí sim! Quero muito esse casamento! — Gabriela sorriu toda eufórica.

— Aí minha filha, eu sei que não foi planejado.. mas só quero que tenha mais juízo daqui pra frente. E eu agradeço aos céus que você tem esse homem do seu lado.. se isso acontecesse antes, nem sei o quê faria.

— Eu terei mãe. Mesmo insegura, eu sei que isso vai passar. Nem comentei com vocês, mas to pensando em morar com o Felipe lá no meu antigo apê, só por enquanto mesmo. — suspirei.

— Tem certeza? Bom, faz o que achar melhor. E você já foi ao médico? Já viu se tá tudo bem?

— Sim mãe, a minha ginecologista me passou alguns remédios. No começo é complicado, mas eu vou ficar melhor.

— É meu bem, acho que nós esquecemos que a nossa filha cresceu. Tá na hora de encarar as coisas. — meu pai falou pensativo.

— Sim, está certo. — fungou o nariz — Stella não é mais uma criança. Embora eu ainda ache que seja, e é louco pensar que o seu "bebê" vai ter um bebê.

— Ah mãe, não seja tão dramática!— falei manhosa e a abracei carinhosamente.

— Desculpe filha, mas toda mãe é assim! — soltou um riso abafado. 

— E vocês já contaram pra dona Magda? — meu pai nos questionou.

— Ainda não falamos com os meus pais, mas creio que amanhã a gente conta pra eles.

— Aí minha nossa senhora, se vocês se mudaram pra São Paulo mesmo aí sim que eu vou chorar!

— É, mas ainda não sabemos não. Não sei se no meu trampo tem como transferir e tudo mais..

— É só uma hipótese mãe. Ainda vou vir muito aqui pra te pedir ajuda com essa coisa de maternidade.

— Aí Deus, é tanta coisa pra te ensinar.. — passou as mãos na testa.

Nossas famílias são dois universos paralelos. É capaz da família dele soltar fogos de artifícios e pularem de alegria, já a minha é bem mais preocupada e não tão eufóricos.

Porém, tenho que me manter equilibrada entre esses dois mundos completamente diferentes.

Essa semana vou ver o apartamento. Conversei com o corretor de imóveis pelo WhatsApp e ele disse que meu apartamento vai ser desocupado em breve.

(...)

— Achou que ia ser pior né? — Felipe me abraçou de lado enquanto caminhávamos pelo condomínio.

Estava acompanhando o até a saída.

— Muito pior, tô até mais aliviada. — suspirei.

— Mas e essa parada de se mudar? Acha mesmo que isso pode ir pra frente?

— Amor, estamos falando da Vogue. É impossível eu recusar uma proposta dessas, e você sabe que não é todo dia que aparece. Eu sei que o seu trampo pode te impedir.. mas a gente vai dar um jeito.

— Podemos fazer assim, cê mora lá e eu aqui.. daí a gente divide nosso filho no fim de semana. — falou humorado e eu dei um tapa no seu braço.

— Não vou pra lá sem você. Nem que eu tenha que ir e voltar todos os dias.

Ele se virou e selou nossos lábios rapidamente.

— Ótimo. — sorriu dando alguns selinhos por todo meu rosto parando o beijo.


Após despedir do Felipe. Voltei pra casa e conversei mais um tempinho com os meus pais e com Gabi e o meu irmão. Estava exausta desse bate e volta e eu só queria tomar um banho quente e dormir.

Subi para o meu quarto e comecei a tirar a roupa pra poder entrar na água. Até que o meu celular tocou na cômoda. Estranhei alguém estar me ligando naquele horário.. ergui os olhos e vi que era um número que não estava salvo nos contatos.

— Alô?
— Oi Stella. É a Cecília. — ao ouvir sua voz, nem hesitei em desligar na sua cara.
— O quê você quer? Estou sem tempo..
— Espera! Não desliga. Fiquei sabendo da sua gravidez..
— É, já to sabendo disso.
— Meus parabéns, fico muito feliz por vocês.
— Qual é Cecília, nós duas sabemos que você me odeia, e não precisa fingir que está feliz.
— Tudo bem, mas isso não importa. Eu quero conversar com você.. pessoalmente.
— Quê? Não. Tá muito tarde e já vou deitar.
— Eu sei que não quer conversar comigo, só que eu preciso te contar algumas coisas..
— Cecília nós não temos nada pra conversar, eu sinto muito.
— Prometo que vai ser rápido, aí na sua casa mesmo. Apenas me dê alguns segundos, e eu prometo que serei breve.
— Vai tentar me bater? Ou algo do tipo? Não se esqueça que estamos grávidas e eu não to nem um pouco afim de brigar contigo.
— N-não. Não vamos brigar, só vamos apenas papear.. essa maternidade é uma loucura né?
— Onde quer chegar? Pode ser mais clara?
— Estou indo aí, é ruim falar pelo celular.
— Cecília eu..

Antes que pudesse respondê-la, ela encerrou a porra da ligação na minha cara. Murmurei um palavrão e até tentei ligar novamente mas caiu na caixa postal.

Corri para a minha gaveta de remédios e avistei as medicações que a doutora Flávia havia me passado, tomei um calmante e um anti-vômito.

— Filha.. ainda tá acordada? — minha mãe deu leve batidas na porta e eu resmunguei que sim. — Quer um chazinho? Esses são ótimos e ajudam a dormir melhor. — me ofereceu e eu neguei fraco.

— Não mãe, eu tô bem. Aliás, vou receber uma visita agora. — prendi o cabelo num rabo de cavalo frouxo e suspirei me encarando no espelho.

— Uma visita? Mas essa hora da noite? — franziu o cenho.

— Sim, a Cecília disse que vem aqui. — hesitei.

— Como é que é? Stella cê tá doida? Nem pensar em receber essa menina aqui, você não pode passar por estresse nenhum. — indagou rápido.

— Mãe, ela não vai tentar fazer nada. E se tentar, eu grito e chamo vocês, não vou deixar ela encostar um dedo em mim.

— Óbvio que não! Vou ligar pro Felipe agora mesmo. Ele por acaso sabe disso? Aposto que não, né?

— Não mãe! Não ligue pra ele, eu vou conversar com ela e vou enfrentar essa filha da puta sozinha. Cansei de ter medo daquela mulher.

— Stella, você já fez isso uma vez. Não seja teimosa. Você está grávida minha filha, não se arrisque assim.

— Eu já disse que tô bem, e ela está tão fraca quanto eu. Não vai acontecer nada grave.

— Bom, já que insisti.. estarei com a porta do quarto aberta. É só gritar que nós descemos correndo.

— Tá ok. — assenti.

Continua..

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