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Capitulo 104

Há momentos na vida que a indignação do perverso precisa aparecer..

Hoje é terça feira, eu arrumei apenas uma bolsa com uma troca de roupa ontem à noite, e Felipe me levou direto para o aeroporto.

E cá esto eu, sentada na sala de espera da Vogue.

Ela é localizada próximo a Vila Olímpia e é incrível de linda. Eu tive desconfortos pela manhã, mas me entupi de remédios e não posso passar mal hoje.

Esperava o tempo passar enquanto encarava a logo tipo estampada numa parade bem na minha frente;

"If it wasn't in Vogue, it wasn't in vogue"

— Vem.. ela tá te esperando! — Geórgia apareceu e me chamou, e saí rápido do pequeno transe.

— Tudo bem! — sussurrei e levantei ajeitando a roupa.

Entrei na sua sala, que por sinal é linda e toda cheia de quadros e fotos de capas de revistas. Daniela me cumprimentou gentilmente e eu sentei na sua frente.

— Geórgia me falou muito bem de você. Pude ler uns editoriais que andou fazendo.. confesso que gostei.— começou a falar e eu só assentia.

— É, quando ela me ligou dizendo que você queria falar comigo nem acreditei.

— Pude ver alguns trabalhos que fez também. Saiba que a Geórgia nunca me indicou ninguém ruim.

— Fico muito feliz que gostou, você pra mim é uma referência e tanto. — sorri fraco.

— A Vogue não é para amadores, sabe disso. E eu te chamei aqui porque gostei realmente de você..

— Obrigada, não sabe o quanto fico agradecida por ouvir isso de você. Mesmo!

— Então, gostaria que fizesse alguns trabalhos pra nós, sem tanto compromisso ainda. Se sair bem, eu posso te contratar pra trabalhar oficialmente aqui.

— É sério? Vou adorar trabalhar pra vocês, juro! — meu riso se estendeu. — Nem sei o que dizer.

— Imagino que vai. Mas não tenho muito tempo pra poder estender essa nossa conversa. Você sabe que milhares de mulheres dariam a vida para estarem no seu lugar, e não desperdice essa chance se quiser o cargo.

— Eu sei que não é todos os dias que isso acontece comigo. Vou saber aproveitar, e obrigada mais uma vez! Farei o que for necessário.

— Você tá morando no Rio de Janeiro atualmente?

— Sim, por enquanto sim.

— Então, enviará os trabalhos por e-mail. Se caso for contratada, terá que se mudar pra São Paulo.. algum problema pra você?

— Ah, na verdade.. eu acho que não. — hesitei um pouco.

— Tem alguma pendência no Rio? Marido ou filhos?

— É, eu vou me casar.. e descobri que to grávida tem poucos dias. — quis falar tudo de uma vez, não tinha como esconder isso se eu quisesse trabalhar lá.

— Grávida? Meus parabéns, mas espero que isso não atrapalhe seu desempenho. Aliás, você é muito nova e nem tem cara de mãe.. — brincou e sorriu de canto.

— Claro que não. Nunca misturei as coisas e eu lido muito bem com isso, pode deixar. — assenti rápido.

— Ótimo. Vou te passar algumas coisas por e-mail, obrigada por comparecer! Manteremos contato.

— É um prazer, prometo não decepcionar. — segurei suas mãos gentilmente.

Eu vim lá do Rio pra ter uma "mini" reunião de dois minutos e já retornar. Isso que é força de vontade.

Voltei pro hotel e em seguida segui pro aeroporto de volta. Fiquei muito feliz com tudo isso, e é mais que um sonho poder trabalhar na Vogue. A parte ruim é que vou ter que sair da Rodolf Maya, e nem contei ao Hans ainda.

(...)

O voo foi rápido e tranquilo, eu dormi quase o tempo todo. Ao chegar no aeroporto Galeão, vi que o Felipe tinha me mandado uma mensagem dizendo que iria me buscar.

Como não tinha levado malas, somente me dirigi até a saída principal. Procurei com os olhos o seu carro e até pensei em ligar pra ele, encarei as horas no meu relógio de pulso e já senti um pouco de fome.

— Ei.. senti saudades! — ouvi a sua voz ecoar e me abraçar forte por trás. Levei um leve susto e dei um pulinho.

— Oi meu amor.. — murmurei virando meu corpo.

Selamos nossos lábios com certa pressa.

— E aí, como foi lá? — se ofereceu pra pegar minha bolsa e a colocou nos ombros.

— Foi ótimo. Mas eu acho que vamos ter que nos mudar pra São Paulo. —entrelacei nossas mãos e fomos andando em direção ao estacionamento.

— Sério? Caralho, como assim? — me olhou de lado.

— Se eu pegar mesmo esse emprego, nós vamos. Não vamos?

— É, vou ver o que posso fazer por você. — falou em tom humorado.

Fomos pro carro e ele iniciou partida.

— Cê tá bem? Não passou mal?

— Não, me entupi de remédios desde ontem.

— Sabe que às vezes eu entro em transe? A gente vai ter um filho, sabe a responsabilidade que vamos ter daqui pra frente? — me olhou de lado.

— Nem me fale, se eu parar pra pensar eu fico louca.. tenho medo, muito medo. E sorte que tenho você, se não até faria uma besteira..— murmurei.

— Minha mãe vai surtar.. tô até vendo.. — balançou a cabeça.

— E quando nós vamos contar? Não vou conseguir segurar isso por muito tempo.

— Você que sabe, o que decidir eu aceito.

— Vou contar pros meus pais hoje, e quero que você esteja comigo. E vai ser no jantar, pode ser?

— Pode sim, vou ver que horas fico livre do trampo.

— E amanhã a gente pode conversar com seus pais.

— Sim, eu te busco a tarde e nós vamos lá.

Após ele estacionar em frente ao condomínio, peguei minha bolsa e fiz menção de descer do carro.

— Beijos, te amo.. fica bem. — selei nossos lábios e ele segurou minhas costas.

— Amo vocês, se cuida. — sorriu de canto me dando mais um selinho rápido.

— Ela tá grávida? Nossa senhora, era só o que faltava pra sua total ascensão nessa família.— minha mãe é sincera demais às vezes, e isso me irrita.

— Sim, aposto que engravidou de propósito. Ela me detesta e jamais deixaria o Felipe assumir um filho meu. — cruzei os braços.

— Qual é seu plano? Se é que você ainda tem algum plano.

— Não sei. Talvez se ela perdesse o bebê..

— Cecília! — ela me repreendeu rápido.

— Desculpa, pensei alto demais. — soltei um riso.

— Tá maluca? Se eles descobrirem que tá pensando nisso..

— Ah sei lá, algumas doses a mais de algum remédio pode causar abortos espontâneos.

— O que vai adiantar ela perder esse bebê? Ela ainda vai continuar no caminho e não vai largar o Felipe.

— Talvez, mas se ele descobrir que foi ela que tentou abortar.. acho que não ficaria tão feliz assim.

— Onde está aprendendo a ser tão maléfica? Depois fica aí com medo do seu futuro nas cartas..

— Aí mamãe, são apenas brincadeiras! Estou doente e não tenho tempo pra sair fazendo maldades por aí.

— E quanto ao teste de DNA? Que desculpa iria dizer pra ele? Por pouco não chegaram naquela clínica.

— Iria contar toda verdade.. dizer que fui estuprada e que tinha vergonha de dizer a ele. E que não faço a menor ideia quem era o homem. — fiz uma cara de inocente e minha mãe soltou uma gargalhada.

— Como você é cínica, o problema é que ele não iria acreditar nessa ladainha. Está cego de amores.

— Meu filho vai nascer sem pai, não acredito que vou ter que inventar alguma história maluca ou dizer que ele acabou morrendo.

— Vê outra saída?

— Vou falar com a Stella.

— O que pensa em fazer?

— Não sei, dizer toda a verdade de uma vez.

— E porquê justo pra ela? Onde quer chegar?

— Mãe, eu posso morrer no parto. Ou então eu posso ficar em coma vegetativo, esse câncer está corroendo o meu corpo, não tenho muito tempo.

— Filha, já falei pra não ser pessimista. Vai ficar tudo bem, eu sei disso.

— Por favor! Pare com esses seus draminhas, seja realista. Eu sei que isso pode me matar, o meu filho não vai ter ninguém nessa terra.

— Eu sei que será vergonhoso a criança não ter pai e nem mãe. Mas eu te disse que cuidarei dele.

— Eu só quero o bem pro meu filho. E o Felipe seria um ótimo pai pro Arthur, ele iria amar.

— Ele ainda vai ser um "ótimo" pai, só que pra outra criança. — exclamou e eu rolei os olhos.

— Mas para todos os efeitos, ele ainda é pai do nosso filho. E eu vou lutar por isso até o fim.

— Acha mesmo que vale a pena? O máximo que ele pode te oferecer é uma pensão meia boca.

— Vai me dizer que vai adorar cuidar de uma criança vinte quatro horas por dia e sem tempo livre nos fins de semana? Piada mamãe, ninguém aguenta aqueles seres desprezíveis por muito tempo.

— Eu sei. Mas não parei pra pensar nisso.

— Então, eu estou pensando na senhora também. E vai ser muito cansativo deixar tudo nas suas costas.. se o Felipe for o pai, vocês podem dividir as tarefas.

— Desde quando a Cecília da boa convivência habita em você? Eu hein, isso não me desce não.

— Desde que eu descobri que estou grávida.

— Conta outra, nós estamos sozinhas. Você não tem que manter essa pose o tempo todo, pode me contar.

Suspirei.

— Quero que ele pague pelo que fez comigo. Não sei como, mas eu quero mãe. E ninguém mensura a dor que eu senti ao ser deixada, e eu só vou ficar em paz quando tiver vingança.

— Filha, eu entendo que foi um vexame. Mas não dá pra ter controle de tudo. Porém, caso a menina não tivesse voltado, vocês estavam felizes na lua de mel.

— Não consigo gostar dele mais, tenho nojo e muita repulsa.. e odeio pensar em tudo que aquele filha da puta me fez passar.

— Eu sei disso. Mas filho não é sinônimo de nada, e nem de vingança.

— O que aconteceu hoje? Está contra mim?

— Não. Só acho que não tem mais pra onde correr e aquele homem não merece ser pai do Arthur.

— Ele não merece ser pai de ninguém.— murmurei.

Continua..

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