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Capítulo 2 - Terra Firme


O tempo sempre passou bastante depressa embaixo d'água. Era possível até que sereianos sentissem sua vida ainda mais curta do que os humanos. Mas, para uma sereia que se esforçava em tentar contar os segundos antes de chegar sua vez de pisar em terra firme, os anos se passaram terrivelmente devagar.

Seus dias eram feitos de escavações que chegavam perto do muro de proteção e às vezes passavam dele. Ela se arriscava para procurar objetos que os humanos talvez tivessem deixado serem levados pelas ondas do mar e os trazia para o museu durante o período escuro, ainda que ninguém conseguisse explicar a função deles. Ela quase era vista por aqueles de pernas, quase descoberta pelos de cauda, mas nunca foi pega. Cada vez que chegava perto, treinava seu rabo a ficar ainda mais rápido, aprendia curvas mais fechadas e perdia todo o medo que um sereiano poderia ter de lugares apertados. Entre esconderijos e sonhos, o tempo acabou passando para ela.

Para quem sempre tinha se esforçado em marcar o tempo como uma contagem regressiva até ela finalmente ser feliz, assim que a flor desabrochou, Ariella sentiu que ele corria por entre seus dedos.

A surpresa do povo ao saber que a princesa caçula tinha vencido logo foi substituída por apreensão. Será que era seguro? Ninguém nunca mais tinha contraído aquilo que lhes tinha roubado a rainha, mas e se o problema fosse sua posição? E se fosse um castigo dos deuses para impedir que membros da realeza participassem? Era prudente deixar que uma princesa se arriscasse em Dias ao Sol?

Ariella não era feita só de sonhos bons. Durante os anos em que imaginou o que aconteceria ao ganhar, ela também havia previsto o olhar de reprovação de seu pai. Ele podia ser bastante amoroso e se esforçava em não deixar nenhuma das sete filhas sentir falta demais de sua mãe. Mas também sabia ficar bravo quando precisava, como tinha ficado ao encontrar sua filha com oito anos buscando pelo colar de concha de sua mãe no antigo quarto dela. Ainda que torcesse pelo contrário, Ariella já sabia que seu ato de rebeldia inconsequente seria igualado por um pai furioso.

Seus olhos foram da flor para ele, um segundo de apreensão em que arriscaria perdê-la de vista. Ela tinha as mãos no peito, uma segurando a outra como se pertencessem a outra pessoa. Já havia preparado o que diria ao seu pai, como o convenceria. Prometeria que se comportaria. Não falaria com qualquer pessoa. Seguiria as indicações de todos os outros vencedores antes. E ela tinha estudado bastante, estava mais do que preparada. Aquela podia ter sido uma decisão secreta, mas estava longe de ser imprudente e impulsiva.

Além do mais, dois dias passariam terrivelmente rápido. Ele provavelmente nem perceberia.

Mas seus argumentos morreram em sua cabeça. Seu pai, ao invés de furioso, nadou até a sua frente, escondendo uma expressão triste e dolorosamente nostálgica.

Ariella não sabia se devia esperar que ele a proibisse até de usar seu rabo para sair de seu quarto ou se ainda teria alguma chance de tentar argumentar seu caso. Seus olhos e seus ombros encolheram ao encarar o corpo largo de seu pai à sua frente. Ele posou as mãos nos ombros da menina, pesadas até para quem estava embaixo d'água, e, sem mais explicações, disse:

"Vá. E tome cuidado."

O rei nunca tinha sido de muitas palavras, ainda mais quando usava aquelas criadas pelos humanos do Leste. Mas sua aprovação foi mais estranha para Ariella do que só inesperada. Enquanto o sentia indicá-la na direção da flor e os sereianos todos do reino ficavam em silêncio, ela questionou se seu pai a amava. Ele não deveria ficar um pouco mais apreensivo ao deixar que ela seguisse o mesmo caminho da mãe? Ou ele simplesmente a entendia bem melhor do que Ariella esperava? Ele entendia verdadeiramente o quanto aquilo era importante para ela?

Talvez essa fosse a maior demonstração de amor, afinal.

Assim que sua irmã mais velha colheu a flor e a deixou na palma de sua mão, ela se esqueceu de todas as dúvidas. Teria bastante tempo para respondê-las quando voltasse. Agora era a hora de dar o último passo que faltava para seu sonho se realizar.

Então ela trouxe a flor para si, parando um segundo antes de deixá-la em sua boca para respirar fundo e encher seu peito de água. Seu nervosismo movimentava o mar à sua volta freneticamente, obrigando a irmã e o pai a tentarem amenizá-lo para todos os outros presentes não serem empurrados para trás. Mas ela não se importava.

Seus olhos estavam em cada pétala mágica. Seu coração já parecia explodir dentro de seu peito, acelerando sem parar a cada batida.

Era agora. Ela teria pernas.

Não sabia se estava mais imersa por água, medo ou euforia. Mas não esperou mais nem um segundo para comer a flor.

Ariella tinha se preparado. Além de repassar tudo que já tinha aprendido dos objetos humanos e sua língua, também tinha feito questão de irritar os vencedores mais recentes com perguntas impertinentes e muitas vezes bastante repetitivas. As respostas que tinha recebido nunca tinham deixado a desejar. Pelo contrário, só alimentavam sua curiosidade e vontade de sentir na pele como era ser humana. Mas tinha uma pergunta que eles nunca foram capazes de responder: como era a transformação.

O começo, ela já tinha assistido várias vezes. Por isso, quando cardumes de peixes diferentes foram atraídos pela mágica da flor dentro dela e os outros sereianos se afastaram, ela não se assustou. Só ficou parada, deixando que eles movimentassem a água à sua volta em um redemoinho e a levassem para a praia, tentando absorver cada detalhe de tudo que acontecia para, na sua vez, saber responder à pergunta que ninguém tinha conseguido antes.

Os peixes a rodearam rapidamente e continuaram nadando em direção à superfície, sempre a circulando. Ela sabia que eles subiam, ainda que não conseguisse sentir exatamente. Estava preocupada demais em observar os peixes, tentar reconhecê-los, quando sentiu um arrepio começar em sua nuca.

Não era um arrepio comum. Era forte como um choque e desceu pelas suas costas como um raio. Pela primeira vez em toda sua vida, Ariella se questionou se tinha tomado a decisão certa. Não era simples e indolor. Não era só olhar para baixo e ver duas pernas. Ela sentia cada centímetro de seu rabo se partindo ao meio violentamente, enquanto suas escamas se queimavam e davam lugar à pele, e o resto de seu corpo enrijecia como se atrofiasse. Os peixes à sua volta já tinham se tornado um borrão de cores mortas e vertigem. E, quando ela sentiu o choque chegar às pontas de seus novos pés e voltar a se espalhar por cada osso de seu corpo, quando quis gritar de dor, a água do mar entrou pela sua garganta, lhe ensinando a engasgar com pulmões humanos.

Seu único consolo era o barulho do trem que atravessava o mar, ligando os países de costas vizinhas. Assim que o ouviu, soube que estava perto de quebrar a superfície. Não sabia de mais nada. Não sabia nem se seu peito doía mais do que suas tão desejadas pernas, ou se seu pescoço era o grande vencedor. Mas, enquanto levava as mãos à garganta para se forçar a parar de tentar respirar e engasgar, ela se concentrou no barulho do trem. Logo acabaria. Logo a pior parte ficaria para trás. Ela tinha que sobreviver à transformação. Senão tudo estaria perdido.

Não tem como saber exatamente o que está acontecendo, foi assim que os antigos vencedores tinham lhe explicado sobre como seria. E agora ela entendia. Em poucos segundos, tinha sentindo todos os ossos de seu corpo parecerem quebrar e logo relaxarem, tinha subido até o topo sem ter que nadar, tinha sentido seu novo sistema respiratório se contrair em seu peito, engasgar e, quando os peixes se dispersaram e ela passou da superfície, tinha aprendido que agora era de ar que precisava.

Seus pulmões doeram ainda mais quando ela tossiu e cuspiu toda a água que tinha se entalado em sua garganta e, logo em seguida, antes que ao menos soubesse o que fazia, inspirou outra vez o máximo possível de ar que conseguia.

Mas, antes que tivesse sido o suficiente, ela já afundava de novo no mar, a água chegando à altura de sua boca.

Por instinto, ela tentou se impulsionar para a cima. Mas suas pernas novas chutaram em direções diferentes, agora exaustas da transformação, mas ainda sem controle.

E foi então que Ariella parou de se debater. Ela se deixou afundar até o limite, se deixou boiar como os corpos humanos faziam. Seus olhos miravam a imensidão do mar, mas não prestariam atenção a um palmo na sua frente. Toda sua concentração estava voltada para seus novos membros. Ela tinha pernas. Pernas! Dois negócios bizarros que pareciam braços, mas eram bem diferentes e se movimentavam separados um do outro.

Como isso era possível?

Ela levou as mãos à barriga, a sentindo como sempre foi, mas descendo cada vez mais pela pele que antes lhe tinha parecido ser feita de brasa. Se questionou a cada centímetro se já deveria ter sentido escamas, ou se até então estava normal, até que não pôde mais negar. Teve que se encolher, mas deixou suas mãos acompanharem cada perna até as pontas dos pés. E então ela contou seus dedos. Um, dois, três, quatro, cinco de cada lado. Voltou sentindo cada músculo, se perguntando se funcionavam como as mãos, tentando se lembrar se algum antigo vencedor já tinha falado sobre aquilo.

Uma sensação bastante estranha e deliciosa a atingiu quando tentou esticar uma única perna e conseguiu. Ela riu, criando bolhas na água que tinha na altura da boca, mas agora não se deixava beber. E então esticou a outra, rindo outra vez.

Aquilo era tão engraçado! E estranho, tão estranho! Ela sentia um frio na sua barriga lhe perfurar, mas o adorava. Esticou as pernas outras vezes, várias seguidas e aumentando a velocidade. Tentou nadar também, mas seus braços faziam a maior parte do trabalho. E, depois de girar em volta de si mesma e rir algumas outras vezes de pura felicidade, ela finalmente percebeu que o sol já estava terminando de se pôr.

E então ela sentiu o medo lhe encobrir outra vez, agora tão denso quanto o escuro do céu.

Sonhos são difíceis de realizar. Era preciso sair do mar e se arriscar.

Ela sabia onde a praia estava. Entre seus giros, a tinha avistado. Queria a ajuda dos peixes outra vez, precisava de uma correnteza mais propícia para levá-la até lá. Até mesmo seus braços já estavam cansados de toda sua agitação, e parecia que o ar que ela respirava nunca seria o suficiente para ela não precisar de mais, muito mais.

Sem se deixar pensar no assunto e focar no que doía e no quanto estava exausta, ela se forçou a nadar até lá. Mexia os braços com destreza e as pernas para todo e qualquer lado, mas inevitavelmente chegava mais próxima da costa a cada movimento, ainda que devagar. Não demorou para ver a luz verde que piscava e a atraía, a luz da mulher com quem ficaria.

Seu esforço ficou bem mais fácil quando sua cabeça se distraiu a pensar em frases que usaria para falar com ela, em conselhos dos outros vencedores. A mulher sabia quem eles eram, um primo de segundo grau de Ariella tinha arriscado toda a existência do povo ao lhe contar. Mas ela era confiável. E, ainda que nunca a tivesse visto de perto antes, Ariella já gostava dela.

E agora, então, queria muito chegar até ela o quanto antes.

Do outro lado, de pé na areia e já com tudo pronto, estava Thea. Tinha feito seu marido e suas filhas viajarem para a casa dos avós durante o final de semana, tinha arrumado o quarto do sereiano que ganhasse a flor e o esperava desde às três da tarde. Aquele era seu dia favorito do ano. Desde que tinha esbarrado no primeiro vencedor alguns anos atrás e lhe dado abrigo, ela passava todos os outros dias esperando pelo próximo. Tinha se tornado uma apaixonada por tudo que tivesse a ver com o mar e os seres místicos que ninguém mais sabia que existiam. Era o ponto alto de sua vida normalmente passada trancada em um laboratório ou arrumando brinquedos das crianças.

Quando viu uma cabeça despontar na superfície do mar Báltico, sentiu seu coração acelerar. Não conseguia distinguir de tão longe se era homem ou mulher, principalmente porque eles todos tinham cabelos bastante compridos e brancos, quase da mesma cor que suas peles, salvo pelo brilho esverdeado. Ela praticamente segurava a respiração, dando passos inconscientes na direção de Ariella, apertando o tecido do roupão em suas mãos e torcendo para que ela nadasse mais rápido até a praia.

Já sentia a água bater em sua cintura quando conseguiu ver o rosto da garota com clareza. Ariella sorriu, sem conseguir tirar os olhos dos cabelos negros e curtos da humana que vinha ao seu encontro e questionar se ela mesma poderia pintar o seu. Apesar de seu encanto repentino, ela parou de nadar. Sentiu seus braços afundarem com as pernas, quase dormentes e extremamente pesados. Não queria nem pensar na possibilidade, mas já não conseguiria negar. Ela chegava ao seu limite. E até seu sorriso estremeceu.

Thea também ficou imóvel por alguns segundos. Tinha a tola esperança de acabar vendo algum deles com rabos em algum momento, mas sabia que, se ela estava na superfície, era pernas que trazia. E, como todos os outros antes dela, já devia estar precisando de ajuda.

A queda da praia embaixo do mar era grande. Mais alguns metros e ela não conseguiria sentir os pés no chão e manter a cabeça fora d'água. Ariella permanecia ali, deixando só seu nariz e seus olhos para fora, tentando inspirar mais e mais ar e odiando seus novos pulmões humanos. A expressão em seu rosto implorava para a nova amiga lhe ajudar, mas ela ainda não sabia o que fazer. Nunca tinha tido que ir até lá. E, para falar a verdade, tinha um pouco de medo do alto mar. Tinha medo de não sentir os pés no chão. Tinha medo de não conseguir voltar.

Mas Ariella realmente tinha chegado ao seu limite. Quando Thea viu a jovem garota afundar a cabeça de cansaço e lutar para voltar a deixar o nariz fora d'água, ela se arriscou. Pegou o impulso que podia na areia e tirou os pés do chão. Nem se deixou sentir a queda imersa, seria bem pior se percebesse exatamente onde tudo ficava extremamente fundo. Simplesmente focou na menina e no quanto ela precisava dela e juntou forças dentro de si para chegar até lá, ainda que o roupão agora encharcado a pesasse.

"Olá," Ariella arriscou assim que Thea a podia ouvir. Era a primeira vez que ela falava aquela língua fora da água, primeira vez que percebia que tinha que revezar com seu nariz entre falar e respirar. Mas ficou bastante orgulhosa de si mesma. Mal tinha forças para boiar, mas sorria de orelha a orelha por estar ali.

Thea não conseguiu responder. Estava ocupada demais sentindo o medo e a responsabilidade que tinha de levar a garota à terra firme. Quando chegou perto o suficiente, a abraçou com um braço só e voltou a nadar na direção da praia, sem parar para olhar em seu rosto.

Ela era leve. Todos os sereianos eram, até mesmo fora do mar. Mas ainda ficou espantada com o quanto. Era como se a própria água a deixasse graciosa e ajudasse a se movimentar. Como se o mar adorasse e torcesse pela menina. Ainda que agora estivesse nadando por duas pessoas, parecia mais fácil que antes, quando era só para ela mesma. E, antes que Thea se desse conta, seu pé raspou na areia próxima demais embaixo delas.

E Ariella a forçou a parar.

"Já?" Ela perguntou, uma mistura de pânico e ansiedade em seu rosto. Queria saber se já era hora de se levantar, de aprender a andar. Mas não conseguia se lembrar das palavras.

E não precisava. Thea entendeu.

"Não," disse, focando a menina com compreensão. "Ainda não."

Agora que tinha os pés no chão, Thea pôde enrolar o roupão em volta da menina, praticamente pegá-la no colo, leve como se fosse uma brisa, e dar passos grandes até que fosse obrigada a colocá-la de pé.

Ariella não estava preparada. Ela queria andar, queria muito! Ordenava seu corpo inteiro a se renovar do cansaço. Não era hora de estar exausta. Era hora de aprender a andar, dançar, correr e tudo o mais que os humanos podiam fazer.

Mas ela não chegou nem a se esticar. Quando Thea a colocou no chão, seus pés se entortaram e ela caiu de bunda na areia, espirrando água para todo lado. E, para ajudar, antes que conseguisse começar a se recuperar, uma onda passou e quase a encobriu, a jogando mais para dentro da praia e logo a puxando de volta na direção do mar.

Thea correu para se abaixar, pegar a menina pelos braços e a levantar, com o máximo de urgência e cuidado que tinha. "Se apoie em mim," falou, sem saber se ela a entenderia.

Mas entendeu. Suas mãos a agarraram pelos ombros com tal força, que Thea podia sentir hematomas se formando. Mas ela só sorriu, não deixou sua dor transparecer. Devia ser bem menor do que a da garota, que precisava terrivelmente dela agora.

Foi só então que pôde olhar direito para o rosto da pequena sereia. Queria que desse para ver que podia confiar nela só pelo jeito que a olhava, mas foram os olhos dela que a desconcertaram.

Diferente de todo seu corpo pálido e esverdeado, seus olhos eram do tom mais próximo de roxo que azul conseguiria ser, quentes o suficiente para darem a impressão de refletirem nas bochechas da garota, quase lhe corando.

Ela era da realeza. Só eles tinham olhos daquela tonalidade.

Thea fingiu analisar o jeito que Ariella tentava se manter de pé, mas estava mesmo era ganhando tempo para pensar. Fazia só cinco anos desde que teve a chance de ajudar o primeiro sereiano, não sabia bem como seria ter que cuidar do que deveria ser uma princesa. Não sabia se já estava pronta para essa responsabilidade.

"Você foi a ganhadora então?" Perguntou, enquanto a sereia tentava pisar no chão e acabava se agarrando mais a ela, quase subindo em seu colo. Thea aproveitou para respirar fundo. "Como se chama?"

"Ariella," ela respondeu por instinto, levantando os pés do chão quando outra onda passou.

"Eu sou Thea," disse, buscando os olhos da menina outra vez e se deixando ficar cada vez mais encantada por saber agora quem ela era, quão importante era.

Tinha que admitir que era assustador tê-la por perto, mas não a deixaria sozinha durante seus Dias ao Sol. Então, sorrindo ainda mais e deixando aumentar a quantidade de rugas em seu rosto, ela completou:

"Não sei se te falaram, mas serei sua guia pelos próximos dias."

Ariella despejou sua ansiedade ainda presente na quantidade de vezes que assentiu para lhe responder.

"Falaram," disse, se distraindo em cada marca do tempo no rosto da mulher, tentando adivinhar quantos anos ela teria, mas sem sucesso. Ela também percebeu que seus olhos eram tão escuros quanto o cabelo curto, sua pele bastante bronzeada.

"Você sabe onde estamos?" Thea perguntou de novo, discretamente se afastando com Ariella do mar. A menina sabia, mas balançou a cabeça, sem querer ter que elaborar uma resposta na língua estrangeira. "Estamos em uma cidade chamada Copenhague, que é a capital do reino da Dinamarca. Eles não têm um rei agora, mas tem uma rainha. Vocês não têm uma rainha, não é?"

Os olhos de Ariella miraram os de Thea, e ela tentou negar com a cabeça, mas foi tão discreto que nem ao menos sabia se tinha conseguido.

"Do outro lado do mar fica outro reino, o da Suécia," Thea continuou. "Eles têm rei. E você está de pé," ela completou, soltando a menina momentaneamente.

Toda vez que Ariella tinha levantado os pés, Thea a tinha trazido para mais longe do mar, até estarem em areia seca. E, antes que Ariella percebesse, tinha se distraído o suficiente para ficar de pé sozinha.

O medo de cair lhe desceu a espinha assim que foi obrigada a se soltar da mulher, seu rosto virando na hora na direção de onde vinham as ondas. Mas elas estavam longe de alcançá-las. Seus pés se apoiavam em areia e pedra, só ocasionalmente lhe dando a sensação de balançar de um lado para o outro, o mais firme que conseguia ficar.

"Olhe para mim. Não olha para baixo, olhe para mim," Thea pediu, fazendo alguns gestos, e ela obedeceu. "Andar é instinto. Não pense no que está fazendo. Só pense aonde quer chegar." Ela voltou a se aproximar da menina, mas se colocou ao seu lado, deixando que só apoiasse um braço no seu. "O que você quer fazer nos seus dias na terra?"

"Tudo," Ariella respondeu antes que ao menos pudesse pensar. Ela não estava preparada para andar de novo. Suas pernas estavam moles, ainda que seus novos dedos do pé abraçassem a pedra embaixo deles, e ela sentia seu corpo pesar mais a cada segundo, lhe dando a impressão de que logo seria demais para ela sustentar.

"Não sei se dá tempo de fazer tudo," Thea se inclinou para a frente, desequilibrando Ariella o suficiente para ela ser obrigada a dar um passo e se apoiar quase completamente no braço da mulher. "Podíamos começar com algumas comidas diferentes! Você já deve estar morta de fome!"

Ela estava. Sua barriga se embrulhava em nervosismo, medo e fome. Mas ela tinha outras prioridades agora.

"Tem alguma coisa que queira comer?"

"A massa gelada," essas eram palavras que Ariella tinha treinado toda sua vida. "Massa gelada colorida."

Thea riu genuinamente, fazendo a menina dar outro passo. "Sorvete," traduziu, já sentindo um enorme carinho pela sereia. "Sei de um lugar ótimo. Mais alguma coisa?"

O maior problema de andar não era só o quanto era difícil pensar em duas pernas ao mesmo tempo e ordenar as duas a fazer movimentos diferentes. Era o quanto doía, como seus joelhos tremiam e pareciam que a derrubariam a qualquer instante.

Mas Ariella parou de pensar no assunto para rever tudo que tinha planejado comer. "Italiana," falou, assim que se lembrou da palavra. O próximo passo que deu foi completamente inconsciente. "Comida italiana."

"Ótima escolha," Thea disse, imitando o sorriso da sereia e parando de a olhar por só um segundo, só o suficiente para perceber que estavam chegando perto da sua casa. "Eu moro ali," disse, indicando com a cabeça o portão ao lado do posto da luz verde piscante. "Se quiser, posso te carregar para dentro e nós continuamos a treinar lá dentro."

Ariella queria aceitar. Já estava cansada demais para continuar e ansiosa demais para ver como era dentro de uma casa de humanos de verdade. Mas, ao olhar rapidamente para trás, na direção do mar, ela percebeu o quanto já tinha andado e como gostava de pensar que tinha dado cada um daqueles passos para longe de onde tinha começado!

"Não," falou. "Quero tentar."

Thea concordou, notando também que a garota se apoiava cada vez menos em seu braço. Não esperava que aceitasse mesmo. Podia ver por trás dos olhos roxos da sereia que ela estava determinada a sentir tudo que pudesse durante os próximos dias, que estava disposta a sofrer o que precisasse. Foi impossível não se identificar com ela, estranhar completamente a sensação, mas acabar admitindo para si mesma que tinha a forte impressão de que os próximos dias seriam os melhores da sua vida.

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