28
Winter's pov:
"Eu simplesmente a segurei, garantindo que soubesse que não estava sozinha. Você não disse nada, mas aceitou o meu gesto como se fosse o maior carinho que já havia recebido."
Diferente do habitual, estou de pé às sete da manhã. Com base no fato de que minha namorada saiu cedo para a faculdade, acredito que isso seja no mínimo esperado. Mas acho que dormi bem, porque, assim que abri os olhos, a lembrança da noite anterior me assaltou como uma sombra a passar pelo quarto.
— Sua mãe deve estar no escritório. — Hayun diz enquanto guarda algumas coisas na geladeira.
Enquanto tomava café da manhã com ela, acabei comentando sobre minha conversa com Jimin e o que tinha em mente — omitindo um pequeno detalhe —, mas agora que estou aqui, não tenho certeza de como isso vai terminar.
— Certo. — Suspiro, passando as mãos nos cabelos. — Vamos lá, então.
— Vai ficar tudo bem. Vocês duas precisam fazer isso. — Ela diz em tom gentil. — E estou orgulhosa por você estar dando o primeiro passo.
Observo Hayun voltar aos seus afazeres, fazendo uma anotação mental para tentar manter a calma.
A porta do escritório está fechada, então bato antes de entrar.
Minha mãe responde quase de imediato:
— Pode entrar.
Respiro fundo e entro. Ela está sentada à sua mesa revisando alguns documentos, mas olha na minha direção quando escuta o clique da porta atrás de mim.
— Minjeong?
Ela para e me lança um olhar intrigado. Provavelmente porque é a primeira vez em tempos que apareço no seu escritório.
— Mãe.
Nossa, também é a primeira vez em muito tempo que a chamo de mãe sem ironia.
— Desculpa se eu estiver te atrapalhando — digo, me recostando na parede. Faço questão de manter distância. Pelo menos por enquanto.
Minha mãe dá de ombros.
— Como você está? — Ela pergunta distraída, enquanto coloca uma pasta na mesa e começa a mexer nos papéis lá dentro.
— Bem... — digo, me recusando a me magoar pelo fato de que está praticamente me ignorando. Mas o que estava esperando? Depois de tanto tempo fazendo o possível para a afastar de mim, talvez finalmente eu tenha conseguido.
Acho que isso não ia dar certo de qualquer forma.
Volto-me para a porta, parando com a mão na maçaneta, mas ela interrompe meu gesto.
— Minjeong.
Não respondo, apenas a encaro.
Minha mãe se levanta e caminha até o sofá na lateral da sala, sentando-se nele. Então bate no assento ao seu lado em um convite silencioso para que me junte a ela.
Hesitante, me aproximo.
— Então, do que se trata essa vinda aqui? — Ela pergunta. — Está bem cedo, imaginei que você ainda estivesse dormindo.
Fico remexendo nos meus dedos, evitando encarar o seu olhar.
— Não sei. Vim até aqui com a intenção de conversar, mas agora não sei por onde começar.
Minha mãe fica em silêncio por alguns instantes, parecendo tão perdida em pensamentos quanto eu estou.
— Então permita que eu facilite um pouco as coisas para você. — Ela diz, colocando a mão sobre a minha. — Para começar, eu tive algumas conversas com a sua terapeuta e reconheço que contribui para que a nossa relação se perdesse. Nunca consegui aceitar a sua reclusão... Mas isso não significa que deixei de me importar com você.
— Desculpe por ser uma decepção... Eu juro que queria ter agido de forma diferente, mas as lembranças do que aconteceu naquele dia me impediam de pensar com clareza.
Ela balança a cabeça.
— Você nunca foi uma decepção para mim, Minjeong. Sinto muito que tenha pensado o contrário.
— Então porque começou a se afastar? — Pergunto, encarando-a.
Minha mãe esfrega os olhos.
— Por que de alguma forma eu me culpava pelo que aconteceu com você. Eu não conseguia olhar para você e imaginar tudo pelo que tinha passado. Eu não sabia exatamente o que dizer para confortá-la, então depois de algum tempo, eu simplesmente decidi respeitar o seu espaço. Eu vou entender se você me culpar por isso.
— Eu nunca culpei você, mãe — murmuro.
Ela me lança um olhar gentil.
— Tenho muito orgulho de você, Minjeong— ela diz, sem se dar ao trabalho de conter sua emoção. — Da pessoa que você é. Do quanto tem se dedicado todos os dias para recuperar sua vida. Sinto muito que não tenha expressado isso antes e mais ainda por ter sido invasiva em algumas situações. Mas eu te amo, não podia deixar que você continuasse se afundando daquele jeito.
Sinto meus olhos embargarem. Eu estava tão ocupada tentando me afastar de tudo e de todos, que não percebi que ao fazer isso, estava machucando as pessoas que se importam comigo. Sei que a essa altura, tudo o que eu disser vai parecer uma desculpa, mas é o mínimo que posso fazer.
— Desculpa — digo baixinho. — Reconheço que não facilitei as coisas para ninguém. Sou uma egoísta.
Minha mãe me puxa para um abraço, e não posso deixar de me sentir surpresa com o gesto.
Em outro momento eu a afastaria. Mas agora tudo o que posso fazer é abraçá-la, puxá-la para junto de mim e chorar em seu ombro.
— Você não é egoísta, Minjeong. — Ela diz enquanto afaga minhas costas. — Só estava passando por uma fase difícil. Nunca conversamos abertamente sobre como você se sentia, mas eu sei que não é fácil superar as coisas pelas quais passou. Ainda assim, estou feliz que você esteja recomeçando.
— Bom, talvez ainda possamos fazer isso. Quanto a recomeçar, Jimin tem me ajudado bastante nessa questão.
Minha mãe sorri, se afastando.
— Eu sei. — Ela diz, enxugando minhas lágrimas com gentileza. — Achei que ela fosse mexer de alguma forma com sua cabeça, só não imaginei que seria nesse nível. Mas isso é bom. Você parece estar voltado a vida.
— Bom, ela realmente conseguiu isso — digo, pensativa. — Mas aproveitando a oportunidade, também vim aqui por que preciso te dizer uma coisa.
— Estou ouvindo.
— Pretendo entrar para a faculdade.
Ela pisca os olhos, surpresa. Por um momento fico esperando por algum sermão, mas ela apenas me lança um olhar cauteloso.
— Você sente que está pronta para isso? — Pergunta.
— No momento ainda me sinto insegura — respondo sendo sincera. — Mas tenho mais de seis meses para me preparar, então acho que consigo.
Ela assente com a cabeça.
— E você já compartilhou essa novidade com Jimin?
— Ainda não, mas vou fazer isso. — respondo — E... mãe...
— Humm — Ela diz, me encarando.
— Obrigada... por não ter desistido de mim.
Ela apenas assente com a cabeça. Mas eu sei todo o significado que há por trás desse simples gesto. E para mim é suficiente.
Quando eu estou prestes a me levantar para deixar com que minha mãe volte ao trabalho, Hayun bate na porta e entra. Ela tem uma expressão preocupada no rosto.
— Desculpa atrapalhar, Sra. Kim — seu tom de voz é serio. — Acabaram de ligar da Yonsei University. Houve um incidente, e Jimin, ela está envolvida. Precisam que a senhora vá lá.
Eu tropeço para trás, como se alguém me empurrasse contra o sofá.
\[...]
Quando minha mãe sai para ir a faculdade, eu insisto para que me leve junto. Mas ela acha melhor que eu evite situações estressantes. Eu me seguro, esperando por quase uma hora sem receber notícias até ela me enviar uma mensagem explicando o que aconteceu. Fico na sala andando de um lado para o outro até escutar a porta da frente abrir. Minha mãe entra acompanhada de uma Jimin visivelmente exausta. Sua mão direita está enfaixada, e ela tem alguns cortes em seu rosto, mas ela está aqui. Portanto, nada mais importa.
— Você não precisa se preocupar com nada. — Minha mãe fala, colocando a mão no ombro dela. — Vou entrar em contato com Joohyun e explicar o que aconteceu. Vamos resolver essa situação sem maiores problemas.
Quando ela sai, eu me aproximo. Jimin dá um sorriso singelo, sofrido.
— Oi — sussurro.
— Oi — ela sussurra de volta.
— Oi. — Passo os dedos sobre o curativo em sua sobrancelha e acaricio sua bochecha.
— Oi — diz ela novamente.
— Pare com isto — digo.
Ela tenta rir, mas dói. Ela fecha os olhos.
Seguro sua mão e a acompanho até o seu quarto. Ela está cansada demais para conversar e eu respeito isso. Ficamos na cama, e eu a abraço até que adormeça, a respiração suave enquanto seu peito sobe e desce contra o meu corpo. Dou um beijo suave em sua testa. Ela se envolveu em problemas na faculdade por conta de alguém do meu passado, sem ao menos pertencer a ele.
Eu não consigo imaginar o quanto Sunghoon a provocou para que as coisas chegassem a esse nível. Eu não consigo imaginar como ela se sentiu.
Tudo que eu posso fazer é abraçá-la, desejando que ela sinta meu calor contra sua pele, querendo que ela saiba que eu estou aqui. Estou aqui. Eu não consigo parar de olhar. Eu não posso tirar meus olhos dela, porque se eu fizer, eu me preocupo que ela vá se machucar outra vez por minha causa.
Jimin se vira um pouco e se aconchega mais a mim, enquanto abre os olhos.
— Você ainda está aqui — Ela murmura, sorrindo.
Me inclino, depositando um beijo em seus lábios.
— Você está se sentindo melhor?
— Sim. Acho que só precisava dormir um pouco — seus olhos estão fechados, e posso perceber que ela ainda está meio sonolenta.
— De qualquer forma, prefiro que você fique de repouso por mais um tempo.
Ela abre os olhos e encara meu rosto, completamente concentrada.
— Eu sinto muito.
— Sente muito? Por quê? Você não fez nada de errado.
— Eu sei. Mesmo assim, eu não deveria ter aceitado as provocações do Sunghoon. — A voz dela está tão baixa que é quase um sussurro. Percebo na hora que a mente dela está um turbilhão e eu espero que ela não se afaste de mim.
— Eu tenho certeza que a situação era inevitável, Jimin. — Digo acariciando o braço dela e só então percebendo o quão avermelhado está seu pulso. Não consigo evitar o incômodo em meu peito. — O que realmente importa é que você está bem, ok? — acrescento.
Ela assente com a cabeça.
— Ao menos isso tudo tem um lado positivo. — Um sorriso se pronuncia no canto de sua boca. — Vou ficar livre da faculdade por uns dias.
Isso me faz sorrir.
— Temos que ver o lado bom das coisas, né?
Ela me dá uma piscadinha.
— Exatamente.
Ficamos em silêncio por um momento. Penso em usar essa oportunidade para perguntar algo que vem me intrigando desde que minha mãe me contou o que levou Jimin a entrar nessa confusão, mas não sei como fazer isso sem parecer óbvia demais.
Ela me encara, sorrindo gentilmente.
— O que você quer saber? — Pergunta como se lesse minha mente. — Você sempre fica assim pensativa quando quer me perguntar alguma coisa.
Respiro fundo.
— Por que não me falou nada sobre o Sunghoon? — Solto.
Seu sorriso desaparece e ela me encara, surpresa.
— Minha mãe me contou o que aconteceu. — Explico. — Eu vou entender se achar que esse não é melhor momento para conversar, mas preciso entender isso.
— Não, tudo bem — ela limpa a garganta e então olha para mim. — Eu não queria envolver você em nenhuma situação desagradável e achei que Sunghoon realmente fosse desistir depois da nossa primeira conversa. Então sim, eu me envolvi em confusão numa tentativa de proteger você.
— Então ele já vinha te provocando há um bom tempo? — Enrolo uma mecha de seu cabelo ao redor do meu dedo, esperando manter a conversa num clima agradável.
Para minha surpresa, Jimin responde sem hesitar.
— Sunghoon me fez de alvo desde o dia que nos viu juntas no campus. — Ela faz uma pausa. — Para ser sincera, eu não poderia me importar menos com o que aquele desgraçado tinha a dizer. Mas isso mudou a partir do momento que ele começou a ser agressivo.
— Não sei muito bem o que pensar sobre isso — murmuro, pensativa.
Parte de mim está grata por ela estar falando sobre esse assunto, mas a outra está apreensiva por imaginar o que Sunghoon foi capaz de fazer. Jimin respira fundo, abre a boca como se fosse dizer algo, mas fecha novamente. De algum jeito eu consigo criar coragem para dizer:
— Ele comentou sobre o incidente, certo?
Eu a encaro, e ela me encara de volta, seus olhos começando a mostrar um familiar tom castanho-esverdeado de cautela. Mentalmente me lembrando que ela está machucada e não deveríamos ter essa conversa agora.
— Sim — ela sussurra. — E acho que vamos precisar conversar. Mas prometo que não vou forçar a barra com você. Acredite, nem estou em condições para fazer isso.
A verdade por trás dessas palavras me mantém em silêncio por um bom tempo. Junto com o som de sua voz. Eu odeio o fato de que ela esteja frustada e machucada. Eu odeio como eu sou a pessoa que a puxou para esse nível. Por quê simplesmente não me abri com ela?
— Jimin...
— Nós vamos conversar — Ela diz, entendendo. — Mas agora tudo o que eu quero é ficar abraçada aqui com você e esquecer o mundo lá fora.
Eu entendo. Entendo exatamente o que Jimin quer dizer.
— Eu queria ter te conhecido antes — ela murmura.
A encaro, levemente surpresa.
— Por quê?
— Por que eu teria enfrentado melhor as coisas. — Ela diz com a voz baixa. — Não pense nisso como dependência. Sei que sou capaz de sobreviver sem você, Minjeong. Mas isso não significa que não tenha receio de viver sem você. E não há nada que eu não faria para ter a chance de permanecer ao seu lado.
Ela está sendo sincera. Isso faz algo dentro de mim se tornar uma pequena vibração quente. Eu me inclino para beijá-la nos lábios, tentando esconder o que essas palavras fazem comigo.
— Obrigada por me contar — digo, sorrindo. Relutantemente, me afasto e pouso as mãos em seu rosto. — Mas eu estou aqui agora e não vou a lugar nenhum.
Jimin sorri.
— Você falou com a Ningning? — Ela pergunta.
— Liguei para ela assim que soube o que tinha acontecido — digo. E antes que ela fale alguma coisa, acrescento: — Ela está meio dolorida, mas vai ficar bem. Disse que não imaginou que as coisas fossem sair do controle daquele jeito e só queria evitar algo pior.
— Ela acabou se machucando no processo... Ainda não acredito que não fui capaz de agir rápido o suficiente.
— Jimin... — deslizo minha mão por sua nuca, acariciando seus cabelos. — Ningning não está culpando você pelo que aconteceu. Na verdade, ela pareceu mais preocupada com você, mas expliquei que minha mãe está lidando com a situação.
Ela assente a cabeça, relutante.
— O pai de Sunghoon compareceu a faculdade. Ele pareceu bem decepcionado e garantiu que resolveria toda a questão o mais breve possível.
— O sr. Park é a única pessoa sensata daquela família, acredite.
Jimin fica em silêncio, esperando que eu fale mais alguma coisa, como não faço isso, ela diz:
— Acho que vou voltar a dormir — seus olhos se fecham, ela coloca o braço bom em cima de mim e me puxa para perto. — Pode ficar mais um tempo aqui comigo?
— O tempo que você quiser — sussurro, passando um braço por suas costas e a aconchegando em meu abraço.
Fico um bom tempo ali, apenas ouvindo ela respirar lentamente, em um ritmo constante de sono profundo.
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E aí, galera!
Passando aqui para avisar que a fic entrou na sua reta final. Temos apenas mais alguns capítulos pela frente.
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