22
Winter's pov:
"Aprendi uma coisa sobre meu coração. Ele pode ser partido. Pode ser dilacerado. Mas o seu olhar é capaz de curá-lo."
Eu quero gritar enquanto vejo o que acontece a minha frente. Mas não consigo. Minha mente está em disparada e minha garganta parece fechada. Respiro de forma frenética, por causa da adrenalina e da necessidade de levar oxigênio aos meus pulmões.
Fecho os olhos com força, e as terríveis imagens que me trouxeram a esse momento invadem minha mente como uma enxurrada de lembranças desagradáveis.
Ele afogou a garota na margem do lago.
Eu sei que ela está morta. Ela lutou de volta enquanto ele continuava segurando a cabeça dela embaixo da água. Ele segurou-a na borda do lago e manteve empurrando sua cabeça debaixo da água.
A garota lutou no início, agarrando os dedos nele, tentando o seu melhor para atacá-lo. O corpo dela empurrou contra o dele, mas cada vez que ele trazia a cabeça da garota de volta do lago, sua boca inalava e exalava, engasgando com água, lutando para respirar. Ele puxou-a mais para dentro das águas, ao ponto de que eu não conseguia mais vê-la.
Ela está totalmente submersa, e tudo que eu vejo é a escuridão dele.
Ele puxa o corpo da garota da água, de volta para a costa, e ele não para de falar com ela. "Como você pôde? Como você pôde fazer isso conosco?"
Ele matou a garota. Ele a matou.
Eu também vejo a realização de suas ações, ele percebendo o que fez. Ele começa a sacudir a garota, seu corpo está inerte.
"Suyeon," ele choraminga. "Suyeon, acorde." Ele cai no chão ao lado dela e a sacode, tentando trazê-la de volta, mas ele não pode. Ele soluça sobre seu corpo. "Por favor, volte."
Eu piso para trás e quebro um galho. Ele olha para cima.
Ele matou aquela garota, e ele está olhando para mim.
Não olhe para mim.
Eu tropeço para trás, quebrando cada galho, meus tênis batem ao longo do caminho. Minhas costas batem contra o tronco mais próximo da árvore enquanto os olhos castanhos que já me foram familiares dançam em meu corpo.
"Hey!" Ele grita, olhando para mim. "Ei, o que você está fazendo?" Ele se aproxima de mim.
Seus pés arrastam em minha direção, suas roupas pingando. Ele se aproxima cada vez mais e eu grito, afastando-me dele. Começo a correr o mais rápido que posso, voando pelos galhos, sentindo meu coração batendo contra meu peito.
Seus passos ficam mais altos, mas eu não consigo olhar para trás. Ele está correndo atrás de mim.
Um puxão afiado em minha camisa me leva para trás. Minha respiração está entrecortada e eu grito quando ele me joga no chão, colocando todo seu peso em cima de mim, suas mãos cobrindo minha boca, silenciando meus gritos.
Eu chuto e grito. Ele vai me matar.
Não por favor.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto eu luto.
"Você não deveria estar aqui," ele sussurra, começando a soluçar. "Você não deveria ver isso. Isso foi um erro. Eu não queria..."
Não!
Ele coloca uma mão ao meu pescoço, sufocando-me, tornando cada vez mais difícil respirar. Ele chora. Ele chora e se desculpa. Ele pede desculpas por me magoar, pede desculpas por empurrar os dedos para o lado do meu pescoço, tornando mais difícil para eu encontrar minha próxima respiração. Ele me diz que a ama e que nunca a machucaria. Ele promete que não vai machucar a garota que ele já matou.
"Você não deveria estar aqui, mas agora você está", ele diz, abaixando o rosto para mim. "Eu sinto muito. Eu sinto muito, Minjeong."
Ele balança a cabeça enquanto eu separo minha boca para gritar por socorro, implorando para que alguém me escuta, para me encontrar. Ele empurra seus lábios contra seus dedos, também, e emite um som silencioso.
"Shh," ele sussurra. Meus olhos estão arregalados de medo. "Por favor, não grite. Foi um acidente."
As lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto. Ele vai me matar.
Acordo sobressaltada. Meu coração está acelerado, todo meu corpo dói e o desespero ameaça me dominar. Todas essas lembranças ainda mexem demais comigo. Todas as coisas antigas que foram tiradas de mim. Não consigo respirar. Não consigo nem me mover. Eu me curvo, tentando me acalmar.
Meu corpo está coberto de suor, minha visão, embaçada. Cada vez que eu pisco, vejo ele me sufocando. Sempre que respiro, os cacos do meu coração cortam minha alma.
Estou prestes a ter um colapso mental, prestes a desmoronar quando sinto alguém tocar em meu ombro e me viro, entrando em pânico ao me deparar com Jimin. As palmas da minha mão estão suadas, e meu coração bate disparado e com força no peito.
— Calma, calma. Respira devagar. — Ela sussurra com uma voz gentil enquanto se aproxima de mim. A preocupação pesa em seu rosto e fico surpresa ao perceber que ela ainda está aqui comigo. — Teve outro pesadelo, não foi?
Fecho os olhos, na tentativa de esquecer tudo. Esquecer sobre aquele dia. Sobre a maldita ida ao parque que arruinou minha vida e levou tantas outras. Sobre o fato de que presenciei um assassinato.
— Eu... Eu... — Eu tento dizer que eu estou bem, balançando a cabeça para indicar que ela não precisa se preocupar. — Eu estou b-bem. Acho que eu só... — Eu não consigo dizer mais nada, e Jimin assente com a cabeça.
— Você está tendo um ataque de pânico — ela diz.
Assinto levemente.
— Isso. — Levo as mãos ao coração e juro que logo vou ficar bem. Eu tenho que ficar bem. Tem que existir algum momento em que minhas lembranças vão parar de se estilhaçar, não é?
— Venha aqui — chama Jimin, abrindo os braços para mim.
— Eu estou... Eu estou b-bem — gaguejo, mas ela balança a cabeça.
— Minjeong... — ela diz baixinho. Então se aproxima mais e me envolve em seus braços. — O que fizeram com você para que ficasse assim?
Eu quero contar a ela. Mas quando penso sobre isso, sinto que o melhor é deixar as coisas como estão. Ainda não me sinto confortável em falar sobre o que aconteceu. E sempre que tento, as palavras parecem ficar presas na minha garganta.
Permaneço em silêncio. Vendo que não respondo, Jimin diz:
— Tudo bem. Você sabe que não vou te pressionar sobre isso. — Há algo tão sincero em suas palavras que é impossível não acreditar nela. — Vamos no seu tempo, ok?
— Eu vou te contar. Só... preciso de um tempo.
Descanso minha cabeça em seu ombro e seguro sua camisa, esperando que o contato com outra pessoa possa afastar as lembranças ruins. Posso sentir o cheiro suave de seu perfume, o que agrada os meus sentidos, me auxiliando a relaxar.
— Tudo bem — ela repete em tom calmo, a voz grave e estável. — Ei, me lembrei de algo — diz, afastando-se. — Senta assim um pouco. Respira.
É mais fácil dizer do que fazer.
Eu me sento ao lado dela, encostando na cabeceira da cama.
— Muito bom — ela elogia. — Agora, coloque a cabeça entre os joelhos e respire fundo.
— Eu... eu não consigo.
— Consegue sim, Minjeong. Claro que consegue. Você só precisa se acalmar.
Baixe a cabeça e una os dedos na sua nuca. Você consegue.
Faço exatamente o que ela pede, e toda vez que eu tento me desculpar, ela me impede e diz que eu só preciso respirar.
De maneira lenta, mas certa, meu coração volta a bater no ritmo normal. De maneira lenta, mas certa, sou tomada pela vergonha quando levanto a cabeça e me deparo com o olhar intenso de Jimin pousado em mim.
Enxugo os olhos e respiro fundo.
— Desculpa.
— Pare de dizer isso. — Ela suspira com a expressão ainda pesada.
Passo os dedos pelo meu cabelo e assinto com a cabeça.
— Você deveria voltar a dormir agora, juro. Isso não é novidade, lembra? Eu vou ficar bem — digo, fazendo menção de me levantar, mas ela segura meu braço.
— Espere mais um pouco. Deixe seu corpo se acalmar. — Ela tira alguns fios úmidos de cabelo do meu rosto e se levanta. — Só espere mais alguns minutos, está bem?
— Está bem. Obrigada.
Ela passa a mão na nuca e assente com a cabeça antes de entrar no meu banheiro.
Poucos minutos depois, ergo o olhar e vejo Jimin entrar de novo no quarto.
— Venha comigo — ela diz, estendendo a mão. — Tenho uma coisa para você.
Estreito os olhos e a acompanho. Ela abre a porta do banheiro e dá um passo para trás.
— Um banho de banheira — diz. — Vi que você tinha uns sais de banho no armário. — Ela ri, mas franze a testa. — Tente relaxar um pouco enquanto pego uma roupa confortável para você.
Faço uma careta.
— Por que está sendo tão boa para mim?
Jimin não responde de imediato. Suas sobrancelhas arqueiam enquanto busca as palavras certas.
— Por que você merece, Minjeong — Ela me faz entrar no banheiro e me fecha lá dentro.
Suspiro enquanto tiro minhas roupas. Vou até a banheira e vejo pequenas margaridas flutuando nas bolhas.
— Jimin — sussurro, colocando uma das mãos no peito.
Toco a água quente, primeiro com os dedos, e então permito que todo o meu corpo se afunde no banho. Está quente, mas não escaldante. Confortável. Relaxante. Fecho os olhos e respiro fundo. A água se agita de um lado para o outro com cada pequeno movimento que eu faço.
Viro a cabeça para a porta do banheiro quando escuto o silêncio.
— Ainda está aí? — Pergunto.
— Ainda estou aqui. — Ela responde. — Precisa de alguma coisa?
— Não. Só é estranho, agora que os efeitos da crise passaram eu me sinto exausta. É como se cada um dos meus braços pesasse uns 50 quilos.
Ela fica em silêncio por tanto tempo que penso que tenha saído do quarto. Mas para minha surpresa, Jimin abre a porta do banheiro e entra.
— Vá mais para a frente — ela diz em tom gentil enquanto se aproxima.
Estreito os olhos, mas faço o que me pede. Ela entra completamente vestida dentro da banheira e se acomoda na água atrás de mim. Coloca uma perna em cada lado de meu corpo e apoia minhas costas no seu peito delicadamente.
— Você é maluca — digo baixinho. Ela beija o topo da minha cabeça.
— Você também.
Ficamos em silêncio enquanto ela massageia os meus braços. Fico encostada no seu peito até ela pedir que eu vá mais para a frente a fim de massagear minhas costas.
— Obrigada — sussuro. — Por não tentar me agarrar agora.
Ela dá uma risadinha.
— Não me agradeça ainda. Acabamos de começar.
Sorrio enquanto ela massageia minhas costas com o máximo de delicadeza possível. Apoio minha cabeça nos joelhos e relaxo completamente. Uma sensação de paz me atravessa enquanto eu permito que minha mente esqueça tudo o que me deixa mal e estressada.
— Pronto. Novinha em folha — Jimin diz. Ela me abraça e beija minha bochecha. Fecho os olhos, e nós ficamos paradas por um instante.
— Não foi assim que imaginei nosso primeiro banho juntas — sussurro.
Ela ri.
— Sério? Pois foi exatamente como imaginei. De roupa e tudo.
Respiro fundo. Em seguida, inclino a cabeça para trás para poder olhar em seus olhos.
— Amo você, Jimin.
Ela beija minha testa.
— Amo você, Minjeong.
\[...]
De manhã, quando acordo, Jimin não está. Imagino que tenha ido para o seu quarto, então entro no banheiro. Após vestir uma roupa confortável, me obrigo a descer até a cozinha para preparar meu café da manhã. Hayun tem tirado alguns fins se semana de folga, o que é bom para ela já que vinha se sobrecarregando com o trabalho.
Quando entro no comodo, no entanto, fico surpresa ao ver Jimin ali. Seus cabelos ainda estão meio úmidos e ela está vestindo um dos seus conjuntos de moletom.
— Bom dia — digo, chamando sua atenção.
Ela esfrega o nariz, comedida.
— Bom dia, Minjeong.
— Você acordou cedo.
— Sim. — Ela diz, abrindo um sorrisinho. — Vi que você ainda estava dormindo, então resolvi descer para preparar alguma coisa.
— Sobre isso... — sussurro, me aproximando. — Desculpe pelo que aconteceu ontem à noite.
— Minjeong...
— Eu sei que você não gosta que eu peça desculpas, mas não consigo evitar me sentir mal com isso.
Jimin fica olhando para mim por um instante com os olhos semicerrados e os braços cruzados. O jeito como ela vira a cabeça para a direita e, depois, para a esquerda, me deixa intrigada. O que será que está passando pela cabeça dela? No que está pensando?
— Tudo bem, então — ela diz, por fim. — Vamos com isso então.
— Como assim?
Ela pega minha mão e me leva até o balcão, onde puxa uma banqueta para eu me sentar. Vai até a geladeira e pega alguns ingredientes e coloca diante de mim.
— Vou preparar seu café da manhã e então você estará desculpada.
Abro um sorriso e sinto os olhos cheios de lágrimas.
— Parece uma ótima ideia.
Fico sentada, esperando pacientemente enquanto Jimin começa a cozinhar.
— Vamos começar com alguns pães recheados. Vou fazer um cappuccino e algo doce para acompanhar.
— Não sabia que você lidava bem com a cozinha.
— Até o fim dessa manhã, você vai ficar chocada com a minha habilidade culinária. Eu cozinhava bastante quando estava em Busan.
— Ah, isso é sério? — Provoco. — Se não dissesse eu não ia perceber. Você tem uma fama muito distinta para alguém que cozinha.
— Não comece — ela bufa, mas de um jeito leve. Eu posso jurar que ela está ficando vermelha.
— Você fica sem graça por ser tão adorável assim? — Pergunto.
— Não diga que sou adorável.
— Awn, isso deixa você nervosa, não é?
Ela me lança um olhar sério, mas os olhos demonstram que está se divertindo.
— Não me faça cuspir no seu café da manhã.
— Touché.
Depois de algum tempo, nosso café da manhã está pronto. Jimin coloca tudo sobre o balcão e junta-se a mim. Quando terminamos, ela fica me encarando silenciosamente.
— Sabe de uma coisa? Acho que você tinha razão sobre suas habilidades culinárias.
Ela sorri e eu sinto o seu sorriso.
— Sabia que você ficaria impressionada.
— Você tem uma covinha quando sorri — comento.
O sorriso aumenta em seus lábios.
— Minha mãe também tem. Você vai poder comprovar isso quando a conhecer.
— Só espero não decepcioná-la.
Jimin faz uma careta e balança a cabeça.
— Você não vai decepcionar ninguém, Minjeong.
— Como você pode ter certeza disso?
— Simples. Eu conheço a garota incrível que você é — ela responde com toda sinceridade.
— Você também é uma pessoa incrível, Jimin.
— Eu não sei. — Ela diz suavemente e fica mexendo na pulseira de borracha no punho. Olho atentamente para ela. — Mas tento ser a melhor versão de mim todos os dias.
Eu tenho certeza de que ela não precisa se esforçar para isso, mas a tensão que vejo em seu corpo indica que ela não quer continuar essa conversa.
— É melhor eu subir — decido, pigarreando. — Preciso arrumar minha mala para a nossa viagem.
Ela assente com a cabeça e se levanta.
— Mas muito obrigada por estar sempre ao meu lado quando preciso.
Sorrio quando ela se aproxima e envolve os braços na minha cintura. Seus lábios roçam levemente nos meus e sinto um arrepio descer pelo meu corpo.
— Eu sempre vou estar lá, Minjeong.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro