PISTAS FRIAS
E N Z O T E I X E I R A
Acordei às 8 horas com o som irritante do despertador do celular da Cassie.
Abri meus olhos pesados e a vi do outro lado do quarto se levantando e desativando o maldito alarme. Fechei os olhos novamente, mas senti uma claridade incomodar e abri novamente para ver o que era.
Cassie acendeu a luz e agora estava abrindo guarda-roupas, e estava selecionando algumas peças. Quando terminou ela seguiu para o banheiro batendo a porta.
Eu já estava me sentando na cama, despertado, mas ainda desnorteado, sonolento. Sem entender nada... Bocejei e esfreguei os meus olhos olhando a hora novamente. Oito horas e sete minutos. Me deixei cair sob o colchão, mas ouvi a porta do quarto se abrir, era Rodolfo entrando no quarto.
— Que bom que já acordou! — Falou ao me vê me sentando novamente — Se arruma e vem tomar o café, teremos um dia cheio. — avisou e seus olhos pararam na cama de Cassie, com certa surpresa.
Era compreensível, como eu, Cassie não tinha o costume de levantar cedo.
Eu apontei para o banheiro.
— Diga a ela que tem café na mesa... — ele deixou o quarto.
Pelas minhas contas, Cassie demorou uns quarenta minutos no banheiro, antes de sair toda arrumada. Os cabelos estavam um pouco úmidos, meio ondulados, era a primeira vez que com o cabelo assim.
Ela usava calça jeans escura, e essa não era rasgada, pelo que eu percebi, eram as suas preferidas. Uma camisa social azul escuro dobrada até o cotovelo e botas de salto, para minha maior surpresa, ela estava maquiada.
Nunca a vi maquiada e de salto então a encarei com certo espanto.
Ela pegou uma bolsa preta, enfiou um monte de coisa lá dentro, fechou e foi arrumar o cabelo no espelho do quarto com um secador, pente garfo, e um milhão de produtos para cabelos crespos e cacheados na penteadeira, após muitos minutos ela desceu sem dizer nada.
Bocejei pela quinta vez em menos de uma hora e fui me arrumar.
Quando terminei e estava descendo para o café, encontrei Cassie no final da escada sendo interrogada.
— Para onde você vai assim? — perguntou Rodolfo do sofá a encarando.
— Vamos sair. — respondeu minha mãe passando por mim ao descer as escadas e parando ao lado dela.
— Vocês duas saindo juntas? Sem eu pedir? — questionou Rodolfo — O que eu perdi? — perguntou com um sorriso — Parece que o tempo no jardim uniu vocês...
— Pode se dizer que sim. Conversamos de verdade pela primeira vez. — disse Cassie com um sorriso.
Minha mãe foi na direção de Rodolfo e se inclinou para dar um beijo nele, e o que era para ser um beijo curto se tornou um beijo demorado me fazendo revirar os olhos, ele a puxou para o sofá e ela caiu no colo dele rindo e eles continuaram se beijando.
— Alô! — disse Cassie puxando a minha mãe — Já deu né pombinhos. Cassie não quer assistir a "isso".
— Mais tarde quero saber o que estão aprontando, hein. — disse Rodolfo sorrindo.
— Por enquanto é surpresa. — minha mãe piscou.
— Vamos? — Cassie apressou a minha mãe.
— Vamos! — falou empolgada em resposta, ela distribuiu beijos no ar para mim e Rodolfo — Boa sorte queridos.
Elas atravessaram a porta aos cochichos dando risadinhas.
— Só eu que tô achando isso muito estranho? — perguntei olhando apontando para a porta da sala.
— Com certeza não. Estão de armação... — constatou coçando a barba.
— Foi até bom saírem cedo e juntas. — abri um sorriso — O notebook da Cassie é todo nosso e nem precisamos comprar uma briga.
Rodolfo sorriu. — Vai lá pegar esse e vamos terminar logo com isso. O quanto antes prendermos esse bandido, melhor!
Levamos o notebook para a homicídios onde encontramos Melissa e os outros investigadores que trabalhavam no laboratório.
Melissa abriu um largo sorriso quando nos viu.
— Escutem, só! — começou com uma empolgação que nunca vi naquela hora da manhã — Eu continuei buscando pistas no notebook da vítima e consegui alguns contatos de amizade dela. Perguntei a eles sobre o namorado da amiga. A única coisa que sabiam dele era o nome e o perfil e olha que bizarro! Ele havia adicionado todas as amigas dela na rede social e buscou saber do gosto da vítima para se aproximar. Ele ficou fazendo perguntas, tipo perguntas subliminares, para não levantar suspeitas.
— Bizarro mesmo! — comentei recebendo um olhar repreensivo do Rodolfo por interromper a menina prodígio da homicídios — Foi mal.
— Imagina! — ela sorriu e continuou — Então, o suspeito tinha apenas uma foto, que era a do perfil. Era uma foto de longe. Onde não tinha como saber como era sua aparência ou se esse realmente era ele. Com isso tudo, eu percebi que o Stalker... — Melissa agora foi interrompida pelo próprio Rodolfo.
— Estalquer? O que é isso?
— Stalker! — corrigiu Melissa — Stalker é uma palavra de origem inglesa que significa "perseguidor". Atualmente ganhou força no campo da internet, sendo definida para pessoas que vigiam a vida da outra pessoas, por diversos meios de mídias, para saber tudo sobre ela, obsessivamente. Ou seja, um perseguidor. Pode ser cibernético ou não. O Stalker muitas vezes, em alguns casos cria um relacionamento online e de forma anônima. Com o tempo ganha coragem ao ficar mais íntimo e com a negação da vítima em se aproximar de um estranho, o Stalker fica frustrado, agressivo e ataca a vítima ficando cara a cara. — explicou. Conhecia o termo, mas não a origem. Que interessante, temos um tipo de Google humano.
Melissa continuou após Rodolfo menear a cabeça informando que entendeu o que é um Stalker — Exatamente como o nosso criminoso. Decidi chamá-lo assim. Enfim, ele reativou a conta por alguns minutinhos, não faço ideia do motivo, mas com isso eu consegui um endereço de IP e avisei para a equipe que foi até a suposta casa dele. — informou Melissa quase sem fôlego.
Rodolfo se virou para os detetives, Wallace e outro homem que eu não conhecia, ficaram de pé. O homem era grande, alto, branco de cabeça raspada e um óculos de aviador estava pendurado na camisa.
— Então, delegado, encontramos a suposta casa do Stalker. Era um barraco abandonado que foi incendiado em Madureira, antes mesmo de chegarmos. O incêndio estava sendo controlado pelos bombeiros. Não havia vítimas, era uma casa abandonada, muitas das vezes invadida por sem-tetos. Entramos na casa depois que o fogo foi apagado em busca de alguma pista, não encontramos nada, só um modem de internet móvel carbonizado. — disse o homem. — Nenhum computador acompanhando o dispositivo.
— Procuramos conversar com a vizinhança, em busca de depoimentos sobre um homem que frequentava ali ou sobre o paradeiro dos moradores de rua, disseram que as pessoas que passavam ali era um fluxo instável, raramente eram as mesmas pessoas. Uma mulher disse que podemos encontrar os moradores no parque onde todas as quintas comida e roupas são distribuídas para os sem tetos. Um projeto de uma ONG. — contou Wallace.
— Ótimo, na quinta-feira quero que vão ao parque e conversem com os sem-teto em busca do nosso criminoso — decretou Rodolfo, em seguida ele se virou para o cabeça raspada. — Danilo, conseguiu reunir todos os jovens que estiveram no luau?
— Sim senhor. Estão todos esperando lá embaixo. — respondeu o homem de cabeça raspada, que agora eu sabia que se chamava Danilo.
— Talvez um deles seja o nosso Stalker! — Melissa estalou os dedos, empolgada com a possibilidade.
— Enquanto conversamos com os garotos lá embaixo eu tenho um trabalho para você. — Rodolfo estava se voltando para Melissa, que parecia surpresa.
Eu coloquei o notebook da Cassie na bancada chamando a sua atenção.
— É o computador da minha filha. Ela anda conversando com um rapaz na internet há um tempo, ele insiste em se encontrar com ela. — explicou Rodolfo.
Os olhos de Melissa ficaram ainda maiores arregalados e ampliados pela lente dos óculos enormes dela.
— Você acha que sua filha está se relacionando com o Stalker? — perguntou Melissa surpresa.
Todos na sala pareciam surpresos com aquela informação.
— É o que vamos descobrir. — ele apontou para o notebook — Faça o seu trabalho e invada esse computador, descobrindo tudo sobre ele. — ele caminhou até a porta, eu comecei a segui-lo.
— Enzo, você fica e ajuda a Melissa. — disse Rodolfo me fazendo parar surpreso.
— O que? Mas eu posso reconhecer alguém ou sei lá!
— Você não sabe quem é o assassino. E será mais fácil ele te reconhecer do que o contrário e é imprudente te deixar tão exposto. Você vai ajudar a Melissa aqui.
— Mas se ele me reconhecer, vai soltar uma brecha, uma reação e o pegamos. — sugeri.
— Não temos provas contra ele, não poderíamos simplesmente prendê-lo. — começou Heloísa — Mas tendo um suspeito será fácil pressionar e pressionado ele fará algumas besteiras e aí o pegamos.
Eles saíram da sala deixando Melissa e eu com o notebook de Cassie.
Ela encarava o notebook com receio.
— O que foi? — perguntei me aproximando.
— Não é certo invadir a intimidade de uma pessoa assim. Eu ficaria irritadíssima. Eu tô me sentindo uma Stalker...
— Mesmo que seja a prova de crime? — perguntei.
— Isso é diferente! Não há crime aqui. Há suspeitas. Conheço a Cassie e sei que ela não cairia na mão de um predador online. Ela é inteligente... — disse Melissa me jogando luvas e colocando as dela.
Achei desnecessário, porque acho que a Cassie não procuraria outras digitais ali, mas não disse nada. Melissa parecia realmente desconfortável fazendo isso.
— Você não vê o que eu vejo. Ela vive atrás desse monitor ou do celular. Eu li algumas conversas e acho que deveria ser investigado mais de perto. — disse para tentar ajudar naquele trabalho.
Melissa estava iniciando o notebook e me encarou incrédula.
— Você fuxicou as conversas dela? — perguntou enquanto o computador pedia a senha do usuário, ela mordeu os lábios e eu virei o notebook para mim e comecei a digitar.
— Estava fazendo o meu trabalho! — me defendi enquanto abria as redes sociais de Cassie, infelizmente nenhuma estava logada. Eu virei o notebook para ela.
— É com você.
Melissa respirou fundo, abriu um estojo da turma dos looney tunes e tirou um pendrive. Ela conectou em uma das entradas USB e após o notebook aceitar, ela clicou em ok e segundo todas as redes estavam logadas.
— Como eu arrumo um desses?
— Não vai querer saber. — ela puxou e guardou o pendrive no bolso, com um ar um tanto teatral para o meu gosto.
Abrimos o Facebook da Cassie e eu apontei o perfil do cara, e ele estava online.
— Conversa com ele para que rastreie o endereço de IP ele. — pediu Melissa abrindo a janela dele.
— O que? Ficou louca?
— Vamos, não é nada demais. É só fingir que é a Cassie, com certeza já fez isso... — ela estava conectando um fio ao notebook e a outra extremidade um telão de touch. — Você e o Rodolfo não querem descobrir se esse rapaz, não é o assassino em série? Então me ajuda a rastrear ele, para investigarmos mais de perto.
No telão apareceu o Facebook da Cassie e a janela do tal Edgar, ela minimizou, o que também aconteceu aqui e com o teclado digital começou a digitar comandos, fazendo janelas se abrirem.
— Vai Enzo!
Cassie: Oi
A resposta veio rápida
Edgar: Calma, ainda tá no começo do dia. Vou te ligar no fim da tarde u.u
Olhei para Melissa, ela fez sinal para prosseguir sem parar de digitar freneticamente.
Cassie: kkkkk
Edgar: o que foi?
Cassie: hã? Como assim?
Edgar: Está estranha...
Cassie: Impressão sua kkkk
Edgar: Liga a cam?
Olhei para a Melissa em sinal de socorro. — Ele quer que ligue a cam!
— Melhor ainda! — ela abriu um sorriso — mande-o esperar que vou modificar a sua câmera para tela preta.
— Isso vai dar certo?
Ela revirou os olhos — Por favor, Enzo.
Cassie: Ok. Pera ai. Não tô no meu computador e não sei se esse aqui vai funcionar.
Melissa fez sinal de positivo.
Cassie: pronto
Edgar enviou uma solicitação de conversa de vídeo.
Aceitei e desliguei o microfone.
Edgar: Nossa, eu não tô vendo nada. Tá me vendo?
Edgar estava ao ar livre, a claridade mostrava algumas
imperfeições, mas com certeza era o rapaz das fotos, loiro, olhos claros.
— Isso. Isso. Isso! — ela estava sorrindo — Rastreado. Ele está no aterro do Flamengo, em uma praça, usando um acesso de internet público.
— Posso desligar?
— Pode. — permitiu — Temos que falar com Rodolfo. — Ela estava pegando o celular do bolso para ligar para ele e deixou no alto falante, quando ele atendeu. — Chefe, temos a localização do seu suspeito, mas acho que está enganado. — falou Melissa. — Ele não parece perigoso.
— Diga logo onde ele está, Melissa.
— Ele está em uma praça perto do flamengo. No Aterro do Flamengo.
— Diga que vou junto. — disse já saindo do laboratório.
— O Enzo disse que vai junto. — ouvi ela informando ao telefone antes de fechar a porta.
Corri até o estacionamento, encontrei Rodolfo e o Danilo na direção do Gol, enquanto ele destrava as portas com a chave remota.
— Deveria ficar.
— Já estou aqui. — falei abrindo a porta de trás.
Entramos no carro e seguimos em direção ao aterro do flamengo.
Quando chegamos o suspeito já não estava mais lá.
Percorremos o aterro inteiro e nada do tal de Edgar.
— O que faremos, chefe? — perguntou Danilo. — Posso pedir para Melissa nos passar o endereço da casa dele.
— Por enquanto não podemos fazer nada, mas quero que fique de olho nesse rapaz e com quem ele fala nas redes sociais, qualquer uma pode ser a próxima vítima... — ele parou de falar quando o celular tocou. Ele pescou o aparelho do bolso e deu uma rápida olhada no visor e atendeu e clicou no auto falante para ouvirmos também.
— Fala Heloísa.
— Uma menina foi encontrada morta dentro de uma escola. Amigas avisaram a polícia local que ela marcou encontro com um cara na internet, eles chegaram tarde demais. — informou Heloísa.
— Desgraçado! — esbravejou Rodolfo e perguntou — Que escola?
— Uma particular, na Barra da Tijuca.
— Ela tá morta há quanto tempo?
— Uma hora, no máximo, segundo a equipe legista...
Rodolfo desligou quase amassando o celular. — Filho da puta!
— Estávamos tão perto! — falei inconformado.
— É melhor a gente se apressar enquanto a pista está quente. Ele deixou novamente o corpo. — falou Danilo olhando para Rodolfo que assentiu irritado.
— Ele está nos desafiando.
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C A S S I E A N D R A D E
Verônica me levou até um grande prédio, onde ela disse que era o prédio da família dela, tudo pertencia ao seu bisavô, ela tinha o 45° e o 46° andares para a equipe dela e chamava de seu próprio departamento.
Os outros andares eram ocupados por todos os tipos de advogados e empresários que se pode existir, eles alugavam escritórios ou andares inteiros.
Os andares mais altos tinham vistas maravilhosas de Copacabana.
Subimos para o 45°, a demora do elevador me dava certa angústia. Nunca tive medo de altura até ir para um lugar alto de verdade e perceber que tenho medo de altura. Enquanto passava por cada andar eu pensava em todo tipo de morte que se poderia ter dentro de um elevador... — não vá pensando que sou estranha ou maluca isso acontece quando você fica tempo demais em um elevador que não para de subir.
Enfim chegamos ao andar desejado e me senti aliviada ao sair daquela caixa de metal a muitos metros do chão, porém as janelas mostrando o céu azul e nuvens limpíssimas não confortava em nada.
Tentei deixar o detalhe da altura para lá, o ar-condicionado era forte e o ambiente confortável. Respirei, inspirei e relaxei. Em um lugar assim seria maravilhoso trabalhar. Verônica seguiu para a sua sala que ficava no fim do corredor e tinha uma porta dupla para lá de chique toda feita de mármore.
A sala era imensa e linda. A primeira coisa que chamou a atenção foi a janela que ia do teto até o chão com uma vista de tirar o fôlego, em frente a janela se localizava uma grande mesa de madeira escura e impecavelmente arrumada.
Havia quadros pendurados na parede, quadros de artes, paisagens. Tudo do mais caro. Haviam dois sofás estrategicamente colocados. Também tinha um mini bar perto da mesa. Havia alguns porta-retratos, a maioria de Enzo em diversas etapas da sua vida, recém-nascido, bebê, criança, pré-adolescente, no ensino médio e recentes. Há também algumas do meu pai e... Havia uma minha com o meu pai. Eu me lembrei da foto na hora, foi há uns dois anos atrás em uma quermesse...
Ela percebeu a minha surpresa e segurou o porta-retratos.
— Eu vi essa foto na gaveta do seu pai e pedi para tirar uma cópia. Achei que vocês dois ficaram tão bonitos. Tão felizes e queria uma para mim. Tem problema? — perguntou ela com receio.
— Ah que isso. — disse jogando os ombros — Mas não deixa ninguém vê, eu tô tão horrível.
Verônica riu — Você nunca vai ficar tão linda desse jeito de novo. Ou tão linda como agora, por isso é bom ter recordações desses dias. Por mais que a gente tente não dá para copiar o ontem. — ela colocou o retrato no lugar e se sentou.
Verônica indicou para eu me acomodar no sofá e apertou um botão do telefone.
— Queridos, cheguei. Queria que todos dessem um pulinho aqui na minha sala, há um membro novo na equipe.
Eu cruzei as pernas e descruzei algumas vezes enquanto ela desligava o telefone.
— Nervosa?
— Claro que não. — respondi mexendo no cabelo e ela sorriu.
Não demorou muito para que alguém batesse na porta.
— Entra. — disse Verônica.
Um homem de jaleco adentrou na sala, ele era alto e magro com músculos.
Ele tinha os cabelos castanhos escuros, as lentes dos seus óculos retangulares destacavam seus olhos cor de mel.
Nossa, que gato! Pensei.
— Pois não. — sua voz rouca ecoou no escritório ao fechar a porta.
— Sente-se e aguarde... — falou Verônica fazendo um suspense.
Ele se virou para se sentar e me viu.
Cumprimentou-me com um sorriso e se sentou.
Não demorou muito para baterem na porta novamente.
— Entre.
Três mulheres entraram na sala rindo.
Uma era asiatica, cabelos longos presos em um rabo de cavalo, corpo malhado.
A do lado dela era negra de cabelos cacheados e cheios, com luzes, corpo em formato de pêra. E a última era morena, cabelos castanhos claros bem lisos, baixinha de formas mais arredondadas e com quadris e bustos volumosos.
Verônica ficou de pé quando a porta se fechou.
— Equipe, essa é a Cassiana Andrade, a minha enteada e nova estagiária. — apresentou apontando para mim.
Eu me levantei e acenei para a equipe.
— Mizuki Higarashi é a minha Investigadora particular, Carla Alves é sua parceira, também investigadora particular e Renata Noronha é a nossa médica geral e legista. — apresentou na ordem, e depois apontou para o homem que estava aguardando — E esse é o nosso gênio dos computadores e especialista forense, Eduardo Tavares.
— Você esqueceu-se de dizer quebra-galho, faz tudo... — corrigiu com um sorriso.
Um a um me cumprimentou formalmente me dando as boas-vindas a equipe.
— Bom, você deve tá pensando, para quê uma advogada precisa de dois andares e uma equipe dessas? — começou Verônica.
— Os andares são pura vaidade e status. — falou Eduardo, conseguindo algumas risadas e o olhar fulminante da chefa.
— Enfim, eu já expliquei antes que ser um advogado não é simplesmente defender o seu cliente e ponto. É preciso informação. Buscar fatos sólidos que fortaleçam sua defesa e que deixem o seu oponente sem saída. Daí temos os trabalhos de investigação, a parte que os nossos investigadores entram, reúnem provas, buscam fatos. Averíguam os fatos, os prós e contras. Verificam os fatos postos contra o cliente e provam a veracidade de tudo. Às vezes é preciso provas científicas em alguns casos e outras vezes quando há morte, é preciso verificar a prova da morte para saber se é o que dizem.
Meu trabalho como advogada vai além de defender o meu cliente e ganhar dinheiro. Trabalho só com inocentes e pessoas de bem. Por isso eu me aplico tanto. — explicou.
Eu estava assentindo.
— Bom, vocês podem contar as novidades para a gente sobre o caso.. — Verônica voltou a sua cadeira.
— Bom, não conseguimos um mandado para verificar a casa do suspeito e nem exumar o corpo. — informou Mizuki.
— E olha que mostramos algumas queixas de violência doméstica e o depoimento da mãe do suspeito. — explicou Carla — Mas eles negaram.
— Então terá que ser pelo modo difícil. — disse Verônica decidida.
— Ah que novidade. — disse Eduardo cruzando os braços — Quando que fazemos algo pelo modo fácil?
— A Renatinha vem comigo cuidar da exumação, Mizu e Edu invadem a casa e Carlinha você marca uma entrevista com os envolvidos os mantendo ocupados. — decreta Verônica e depois se virou para mim.
— E você pode ir junto investigar a casa... — ela parou mordeu os lábios — Se bem que se você for presa seu pai me mata, é melhor você vir comigo.
— Pro cemitério? Exumar um corpo? — Perguntei incrédula.
— É... — respondeu ela como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Por que estamos exumando um corpo? — perguntei para o início da conversa.
— Queremos saber se a mãe da Célia morreu como seu marido diz que morreu ou se ele a matou. — explicou Verônica — O que levaria uma mãe a se suicidar e deixar uma filha para trás?
— Tá... — disse sem escolhas, suspirando.
— É estagiária, espero que esteja acostumada com as loucuras da sua madrasta. — Eduardo deu leves tapinhas no meu ombro.
— Eu vou providenciar a nossa exumação. — disse Renata pegando o celular do bolso.
— Eu vou marcar a entrevista e vou avisar a vocês. — informou Carla se dirigindo até a porta.
— Você leu o relatório? — perguntou Verônica para mim que estava em silêncio.
— Sim, eu li.
— Que conclusões tirou?
Passei a língua pelos lábios sentindo o gosto de tuti fruti do meu batom.
— Que ela, a garota sofre uma série de abusos. — respondi lembrando do relatório.
Verônica assentiu — É tão óbvio, mas está tão difícil de provar. — Verônica respirou fundo — Mas vamos conseguir.
— Carla, quando marcar a entrevista me manda uma mensagem. Vou dar uma saída rápida. Preciso ir à escola das crianças, reunião. — ouvimos Mizuki gritar da porta.
— Pode deixar, amor. — Carla gritou em resposta.
— Bom, eu tô na minha sala. Qualquer coisa, passa lá. — Eduardo também deixou a sala.
— Quer voltar para casa e dormir? — perguntou Verônica pegando a sua bolsa.
— O que?
— É, a gente vai sair novamente só na madrugada.
— Madrugada? — questionei incrédula. — Sério? Vamos exumar um corpo durante a madrugada?
— Não podemos exumar um corpo à luz do dia. No mínimo seria desconfortável para os que estarão enterrando seus entes. — explicou.
MERDA.
Grande merda
— Entendi.
— Você não precisa vir. Amanhã a gente te deixa a par de tudo. — falou Verônica me encarando com ar de preocupação, ela deve ter notado a minha expressão de espanto.
— Eu quero ir. — Falei meio certa do que queria. Mas eu não poderia dar para trás. E eu aceitei esse trabalho, vamos até o fim nisso.
Verônica sorriu — Então vamos. A gente vai precisar de muita energia para a madrugada.
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