PERFIL OFICIAL
E N Z O T E I X E I R A
Depois que Rodolfo nos enxotou, Melissa e eu nos organizamos para tentar chegar a algum lugar, primeiro fizemos o que o Rodolfo pediu, falamos com os professores e criamos uma lista das amizades mais próximas da Ana Clara e que tiveram contato com ela nos últimos dias. Ela era uma pessoa de bastante amigos, entretanto os mais íntimos eram apenas três.
Letícia Fonseca, do mesmo curso e período.
Jefferson Fagundes, do mesmo curso e período.
Angélica Carneiro, do curso de administração.
Melissa teve a ideia de ir na secretaria da faculdade para pedir uma foto deles para que nos ajudasse a identificá-los e localizá-los naquela imensa universidade.
Não foi fácil, percorremos pela faculdade inteira por um bom tempo, subindo e descendo escadas, de andar a andar até que encontramos os três juntos, sentados em um canto no corredor do segundo andar. Os três estavam chorando baixinho, meio escondidos de olhos curiosos.
Nos aproximamos com cuidado, mas Jefferson percebeu e foi logo se levantando ao nos ver chegando, engoliu o choro secando o rosto e erguendo a cabeça disse na defensiva:
— O quê que vocês querem em? Não percebe que não queremos ser incomodados? — ele estava ofegante e agressivo. Certamente foram muito incomodados.
Jefferson, era alto, forte, usava uma camiseta apertada, calça jeans mais apertada ainda, cabelo liso com um topete com luzes.
As meninas continuaram sentadas sem nem ao menos virar o rosto para nós.
— Ficamos sabendo sobre o que aconteceu com a Ana Clara... — disse devagar, escolhendo as palavras com cuidado.
Jefferson quase desabou ao ouvir o nome da amiga, o choro das meninas aumentou duas vezes mais entre soluços e grunhidos inconsoláveis.
— Eu sinto muito, pela perda de vocês. — começou Melissa, gentil.
— Por acaso vocês conhecem esse cara que... — perguntei antes que o silêncio pesado se instalasse, mas fui interrompido pelo Jefferson.
— Se eu conhecesse esse filho da puta, com certeza já estava atrás dele para matá-lo de porrada! — disse Jefferson irritado sem conseguir controlar o choro, ele cobriu o rosto com as mãos e se deixou deslizar pela parede do corredor se atando no choro.
Uma das meninas, Angélica, uma morena de cabelos ondulados e pretos, que identificamos pela foto, ela envolveu Jefferson nos braços, tentando consolar o amigo.
Leticia, a outra amiga, se levantou, secando o rosto na tentativa de se recompor e nos enfrentar.
— O que vocês querem? — perguntou ela. — Não veem que estamos sofrendo, não podemos sair daqui, então só queremos ficar sozinhos. Sem alguém vim a cada minuto dizer que sente muito ou fazer perguntas sobre a Ana!
Leticia era branca, com cabelo com californianas e lisos, suas bochechas e nariz estavam vermelhos e olhos inchados.
Melissa respirou fundo e deu alguns passos em direção a Leticia — Eu sou a prima da Ana, e ele é o namorado dela. — apontou para mim durante a apresentação.
Eu tive que segurar a minha reação de surpresa para não chamar a atenção e a mentira de Melissa ser desmascarada assim de cara, eu apenas concordei balançando a cabeça.
— Namorado? — perguntaram os três, claramente surpresos, as atenções totalmente voltadas para nós, agora. Na verdade, para mim
— Ficante. — disse rapidamente diante dos seus olhos curiosos me encarando — A gente estava saindo há uns meses, meio que sem compromisso, sabe? — Fiz uma pausa me lamentando sobre o que ia dizer — Ela está no hospital? Fiquei sabendo que ela foi atacada no banheiro...
Leticia desceu até o chão de novo e começou a chorar alto, Jefferson enterrou a cabeça no peito de Angélica que foi a única que conseguiu se controlar.
— Ela não sobreviveu. Nem chegou a ir ao hospital — sussurrou Angélica com a voz embargada — Ele a matou!
Já esperava essa resposta e então tive um tempo para saber como reagir.
Levei as mãos na boca, balançando a cabeça, com uma expressão de choque, incredulidade. Melissa que estava do meu lado, estava de olhos arregalados, fingindo um choque.
— Não, não pode ser! Como assim? — Melissa estava parecendo desesperada.
Sua reação histérica atraiu a atenção do trio, novamente tentei disfarçar a minha surpresa e entrar no improviso e deixei que ela prosseguisse.
— Eu quero saber o que aconteceu com a minha prima! — disse Melissa histérica — Vocês sabem o que aconteceu com ela? Quem poderia ter feito isso com a minha prima? Quem?!
Eu segurei a Melissa pelos ombros e encarei com um olhar de interrogação, sem saber como prosseguir, ela apenas balançou a cabeça assentindo para que eu continuasse com o teatro.
— Calma! Eles não têm nada a ver com isso. Não deve descontar neles. — disse a encarando, Melissa então caiu nos meus braços e começou a fingir um choro.
— Ah minha prima... Ela só tinha vinte aninhos, era quase a minha irmã... Minha única prima...
Eu a abracei forte e fechei os olhos, diante de tantos olhares sobre nós, a atenção de todo o corredor estava voltada para nós, todos que estavam parados ali, sou transitando pararam para ver a nossa cena. Eu estava me sentindo péssimo em protagonizar essa cena, senti a respiração pesada de Melissa no meu peito, estava sendo difícil para ela também.
— Eu só queria saber quem é esse desgraçado... Pra ele pagar pelo que fez.. — disse Melissa, entre fungadas, choramingando baixo no meu peito, mas alto o suficiente para o trio de amigos escutarem — Ela contou que falava com um cara pela internet, mas... — Melissa começou simular outro ataque de choro.
— Ela também contou para gente sobre um cara da internet... — disse Jefferson, que estava prestando atenção na gente.
— A gente tem certeza que só pode ter sido esse canalha! — disse Angélica entrando na conversa também — Ela marcou um encontro com ele no banheiro e pediu para que a gente ficasse perto...
— Mas não estávamos perto o suficiente — Letícia falou um pouco baixo demais, foi dificil ouvir ela, enquanto fungava limpando as lágrimas com a manga da blusa — Ouvimos os gritos, mas eram tão horríveis que ficamos apavorados e corremos para buscar ajuda. Era pra gente ter entrado lá e pulado em cima daquele monstro.
— A culpa não foi de vocês, fizeram o certo. Buscar ajuda, o que aconteceu foi uma fatalidade. — disse sincero tentando consolá-los.
— Vocês sabem como ele é? Viram ele? — perguntou Melissa, no papel de prima desesperada em busca de justiça.
Eu estava de queixo caído com o talento de Melissa, além de uma garota prodígio, ela também era uma atriz incrível e muito persuasiva.
— Só uma vez, numa conversa de webcam. — respondeu Jefferson, parecendo pensar — Ele era um rapaz branco e loiro, sabe? Bem padrãozinho de olhos claros, azuis ou verdes, ou algo assim... Bem bonito, barbinha feita, cabelos curtos. Talvez nem seja ele de verdade, mas foi assim que apareceu na webcam. Aquele canalha!
— Sabem o e-mail e o número dele? — Melissa estava agarrada no meu braço, como se precisasse de alguém para se apoiar, sua voz saiu suplicante para os três amigos.
O trio trocou olhares, como se pensassem no que fazer a seguir, cochicham entre eles por uns instantes e entraram em consenso, minutos depois. Leticia levantou suspirando, pegou o celular do bolso e deslizou o dedo algumas vezes na tela.
— Ele mandou o email pelo WhatsApp é . — respondeu Letícia, voltado a deslizar os dedos — O número é 999666969, mas isso não adianta mais, ele já desativou a conta de email e o número. Eu anotei tudo no meu celular. Tentamos ligar pra ele, mandar mensagem ameaçando que iríamos falar com a polícia, mas ele desativou tudo muito rápido, nem deu tempo.
Melissa funga assentindo, após anotar tudo no próprio celular e quando terminou apontou para uma mochila de caveiras com um chaveiro com foto e letras AC.
— É da clarinha né?
— É... — assentiu Jefferson abraçando a mochila quase sem voz.
— Eu posso... levar? — perguntou com cuidado — Minha tia vai querer ficar com as coisinhas dela...
— Claro... — ele respondeu gentil e entregou a mochila com cuidado.
— Obrigado por ficarem ao lado dela. — agradeceu Melissa antes de fungar mais uma vez, soltou meu braço e saiu.
Eu também agradeci aos três e corri para acompanhar, Melissa, já no meio do corredor.
— Uau! — disse enquanto caminhávamos pelo corredor.
— Eu não gosto de fazer essas coisas. — disse ela de cabeça baixa segurando a Mochila contra o peito — Fico triste de verdade, sabia? É mais uma vida interrompida.
— Eu sei... — disse desviando o olhar pro chão também, bem chateado — Acha que essas informações serão úteis?
— Um pouco, mas se ela carregar o celular e o notebook aqui, teremos um verdadeiro baú do tesouro de pistas. — disse Melissa indicando a mochila.
— Lembra da descrição? — perguntei com um sorriso.
Melissa me encarou — Ah... branco, loiro e olhos claros...
— Só pode ser ele! — eu estava convicto disso — Ele estava aqui, próximo a cena do crime e inquieto com tantos policiais a volta e de repente some. É um comportamento suspeito.
— Ele só sumiu da sua vista, Enzo. — Melissa me encarou — Não fica obcecado em pegar ele, ok? Não temos nada contra ele, nada. Só sabemos que é uma paquera que a Cassie conheceu pela internet.
— E que ele estava em duas cenas muito recentes de crime. Isso é suspeito, não é?
Melissa suspira — Ok...é suspeito, mas não é uma prova. Só não fica obcecado em culpar ou provar que ele é o assassino em série. Isso pode atrapalhar na sua percepção. Se for ele, a gente vai descobrir.
— Ele não vai ter a chance de pegar a Cassie. — disse, sério — Esse Pedro Henrique, Edgar ou seja lá qual for o seu nome, está com os dias contatos. A pobre Ana foi a sua última vítima.
• • •
C A S S I E A N D R A D E
Depois que larguei Edgar lá no pátio, eu segui o Enzo e a Melissa, para tentar ouvir se eles falavam algo da investigação.
Com cuidado, conseguir alcançar os três, mantendo uma distância segura, para não me avistarem. Dentro de umas das salas de aula, eu consegui ouvir a conversa deles com três alunos, que eram os amigos mais próximos da vítima.
Fiquei surpresa e impressionada de como a Melissa conseguiu conduzir aquela conversa, disfarçada de interrogatório, sem que eles pudessem perceber.
Fingir ser parente e namorado da vítima foi muito inteligente, devo admitir.
Não era atoa que meu pai adorava essa garota.
Consegui ficar bem atrás para seguir Enzo e Melissa novamente, tentando captar algo a mais que eles deixem escapar, mas a conversa não fluiu para onde esperava quando citaram o meu nome. Ou pior, o nome de Edgar, junto com o tal suspeito Pedro de alguma coisa, ambos suspeitos de serem a mesma pessoa , ou seja, o tal assassino em série.
— O que?! — questionei um pouco alto demais atraindo as atenções de outros estudantes que estavam por perto, rapidamente me enfiei em outra sala que estava vazia, onde podia ver os dois a alguns poucos metros de distância, parados no começo da escadaria.
Fiquei ali, observando e Enzo estava digitando no celular, o som das teclas era bem alto, estava digitando um número de telefone.
— Põe no viva-voz! — pediu Melissa, olhando ele digitar.
Enzo obedeceu, e o telefone estava chamando. Grudei a orelha na porta para ouvir melhor a conversa que iria se iniciar.
— O que conseguiram? — imediatamente identifiquei a voz do meu pai do outro lado da linha.
— Uma descrição mais do que precisa. — respondeu Enzo super confiante — O nosso assassino é um homem branco, jovem, e loiro de olhos claros. Igual a uma pessoa que nós conhecemos e justamente está aqui na faculdade.
— Como sabem disso? Tem fotos? — perguntou meu pai, aparentemente interessado no que Enzo tinha a dizer.
— A gente conseguiu a mochila da vítima e conversamos com os amigos dela. Eles confirmam que já viram o Stalker na webcam uma vez. Pode ser uma imagem falsa, mas eu posso tentar verificar. Ainda é cedo para ele conseguir deletar tudo da rede, mas preciso de um computador. — Melissa tomou a palavra tirando o celular da mão de Enzo.
— Vou mandar liberar a sala de informática para vocês.
— Vocês? — questionou Enzo ao ouvir meu pai falar o pronome no plural.
— A Melissa vai precisar de ajuda. — respondeu meu pai — Wallace vai procurar o suspeito e dá um jeito de interrogá-lo. Com a hora das morte e se ele não tiver um álibi sólido, o pegamos sob prisão preventiva. O que será o suficiente para cessar as mortes.
— Qual foi a hora da morte? — perguntou Enzo, verbalizando os meus pensamentos.
— Entre às nove e onze horas da noite.
Fiquei boquiaberta, sem acreditar no que estava ouvindo, foi mais ou menos a hora que Edgar se despediu de mim pelo celular, mais cedo, entre as nove e vinte ou nove e meia da noite. Disse que tinha aula.
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