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O SUSPEITO

C A S S I E   A N D R A D E

Sai de casa irritada, quem ele pensa que é para dizer aquelas coisas? Que eu não tenho uma vida e nem amigos? E fica repetindo isso como se me conhecesse. Príncipe da vara de infância estúpido! Só saí mesmo porque tenho mais o que fazer ou faria questão de infernizar ele e seu grupinho idiota.


É claro que tenho amigos, amigos de infância, da escada, mas a vida segue! Não é todo mundo que pode pagar mensalidades absurdas das faculdades igual ao idiota do príncipe.
Juliana e David, meus melhores amigos, fizeram o ENEM e passaram. Agora eles estão estudando em outros estados morando no campus. Eu também passei para algumas faculdades fora do Rio de Janeiro. Nos cursos que eu mais queria, mas jamais deixaria meu pai para ir morar em Curitiba em um campus ou em qualquer outro estado. Então eu menti, desistir das vagas disse que não passei.

Meu pai me apoiou, disse que estava tudo bem e que poderia tentar de novo no ano que vem e conseguiria passar pra onde quisesse.

O surpreendi dizendo que iria pegar uma bolsa de 80 por cento numa faculdade particular mesmo, aqui perto. Mesmo sem precisar, pois minha bolsa era de quase 100 por cento, meu pai para aumentar a renda, além de trabalhar como delegado na delegacia, também resolveu trabalhar de investigador. Eu também iria atrás de um bico para não sobrecarregar ele.

Eu gosto da minha cidade, gosto de ficar perto do meu pai e minha vida estava estabilizada aqui. Ele amou a decisão, era durão, mas não queria sua filhinha longe dele, mesmo não querendo admitir. Afinal, quem ele iria tentar controlar, dá broncas e etc? Nós só tínhamos um ao outro, e prometemos sempre estar presentes um para o outro.

Isso até agora né. Agora ele também tem a monarquia da vara da família. Revirei os olhos só em lembrar daquele povo na minha casa.

Eu estava a caminho do mercado para comprar algumas besteiras para passar o tempo e outros ítens que meu pai pediu antes de ir trabalhar.
Quando estava voltando, terminando de conferir a lista mentalmente vi um filhote de cachorro correr inocentemente para a pista com o sinal aberto e um carro avançava acelerando. Arregalei os olhos e corri sinalizando e gritando igual uma louca.


— PARA MOÇO! PELO AMOR DE DEUS! PARA!


O motorista freou o carro assustado e me xingou. Com o coração disparado, abaixei e peguei o filhote no colo voltando para a calçada e sentindo o coraçãozinho do filhote também disparado.

Sentei no meio fio, um pouco trêmula pela adrenalina de ser quase atropelada junto com um cachorro. O filhote começou a lamber minha mão, como se tivesse agradecendo. Sorri derretida fazendo carinho. Suspirei imaginando que o filhote no meu colo deveria ter apenas alguns meses, cinco ou menos, ele era um pequeno vira-lata misturado com alguma outra raça, talvez um pastor alemão. Estava sujo e sem coleira com os olhinhos dizendo: Me leva para casa. Quem resiste? Eu não!


No caminho de casa passei em uma casa de ração e encomendei um saco de uma boa ração para filhotes, comprei sabonete anti-pulgas e carrapatos e contra outros tipos de pragas, comprei um shampoo cheiroso, alguns brinquedinhos, coleira e corrente.

Quando cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi fechar o portão para ele não correr pra rua de novo, colocar as sacolas na mesa e soltar o cachorrinho no quintal, ele imediatamente correu feliz e saltitante.

Observei com um sorriso, o pequenino cheirar cada canto do nosso curto quintal todo curioso.

Cheirei a minha mão em um instinto automático e senti aquele fedorzinho básico de cachorros de rua. E então aproveitando outro dia de sol — eca — eu peguei a mangueira e chamei o filhote para um banho.


Primeiro peguei uma luva e catei os carrapatos visíveis e queimei como li em um site de dicas para exterminar esses parasitas. Comecei o banho em seguida. Foi uma verdadeira bagunça, já que o filhote não parava quieto me fazendo correr atrás dele ao escorregar das minhas mãos durante o banho, e sempre fazia questão de se sacudir antes de construir terminar de enxaguá-lo, eu acabei entrando no banho junto com ele, me molhando com a mangueira também. Estava calor mesmo.

Enquanto eu o ensaboava com o shampoo massageando seus pêlos, estava pensando em um nome para ele.


— Nescau? — sugeri pela sua pelagem escura que estava quase cinza.

Ele não reagiu, só estava apreciando a massagem com a língua para fora.


— Está mais para café com leite, não é?


O filhote se sacudiu me sujando de sabão.
Resmunguei um palavrão sem soltar as minhas mãos dele, a qualquer momento ele poderia sair correndo em disparada. Ele latiu em resposta ao meu palavrão, eu molhei minha mão com sabão para fazer mais espuma voltando a massagear o seu pêlo.


— Tudo bem, vamos tentar nomes literários, que tal?


E ele abanou o rabo em resposta.

— Loki?


Sem reação.


— Luke?


Sem reação novamente.

— Ah, qual é? Luke é nome de lobisomem, e você parece um lobinho. — acariciei atrás das suas orelhas.
Ainda sem reação.


Eu soltei um longo suspiro pensando. Já estava sem ideias. — Draco?


Ele abanou o rabo e soltou um latido fino me fazendo sorrir feito boba.


— Ah, cê gosta de vilões, não é? — peguei a mangueira para tirar o sabão. — Ok, vai ser Draco, embora eu prefira Luke.


Draco latiu feliz e eu continuei o banho passando os outros produtos deixando seu pêlo cheiroso e macio.

Eu usei uma toalha velha para enxuga-lo, quando o soltei no chão, após tirar o excesso de água, Draco saiu em disparada pelo quintal e começou a rolar na terra.


— Ah Draco! Você está querendo me foder né! — gritei incrédula enquanto ele rolava na terra feliz a beça.


A vizinha que estava molhando as plantas me olhou incrédula, pelo palavrão. Dei de ombros a ignorando e fui atrás do Draco.
Depois de o enxaguar novamente para tirar toda a lama dele. Para secar usei um negócio que não sei o nome, mas que meu pai usa para secar o carro. Sequei os pêlos de Draco que achou muito divertido e ficou latindo e brincando com o vento.


Meu filhote estava cheiroso e limpinho e pude admirar a pelagem escura e super hidratada.


Eu o levantei no alto — Quem é o bebezinho mais lindo e cheiroso da mamãe? Quenhê é? É voshê, é voshê sinhê! — disse com a voz super abobalhada e Draco adorou.


Arrumei um espaço para ele longe do jardim onde agora meu pai e a rainha da vara de família cuidavam juntos. Fiz um cercadinho, coloquei água e comida que ele atacou em poucos segundos.


Recolhi algumas roupas na área de serviço para tomar banho no quarto do meu pai.
Quando terminei desci para a sala de pijama e encontrei os amigos do Enzo sentados no sofá, com várias latinhas de cerveja na mesinha de centro, assim que me viram eles me cumprimentaram com um sorrisinho.


— E ai.


— Fala ai


— YO!


Eu sorri e disse oi com meus olhos percorrendo a sala.


— Cadê o prin... Enzo? — perguntei.


— Foi vê o que o cachorro de vocês estava destruindo lá fora — apontou um deles.


— Draco! — exclamei correndo para o quintal.


Quando cheguei Enzo estava com ele no colo fazendo carinho em seu pescoço. Me aproximei dos dois e avistei o jardim acabado! A metade das plantas estavam destruídas, as flores estavam estraçalhadas, ele comeu a horta inteira, o solo estava revirado e cheio de buracos.

— DROGA! — gritei fazendo Enzo se virar na minha direção assustado, mas sua expressão não durou um minuto, ele abriu um sorriso me olhando.

— Você está ferrada, filhinha do papai. É hoje que eu vejo a senhorita que nunca faz nada de errado se dar mal.

Me dá o MEU cachorro! — mandei.

— Já gostei de você Spok — zombou me entregando o cachorro.

— É Draco! — corrigi e passei os olhos pelo jardim detonado sem acreditar.

— Acho que vou mudar o seu nome para Detona Cassie. — disse o erguendo no alto, ele estava com a língua para fora balançando o rabo. — Você realmente quer me foder né?

Draco lambeu o meu nariz me forçando a sorrir.

— Isso não é justo, não dá pra ficar brava com você! — disse aninhando ele nos meus braços como um bebê.

Enzo revirou os olhos e entrou novamente.

O soltei no quintal e comecei a arrumar a bagunça ou pelo menos tentar, primeiro fui ajustar o cercado, fiz um maior para ele não pular novamente.
Depois de meia hora o portão se abriu e meu pai veio furioso na minha direção.

— Eu posso explicar! — disse rapidamente, mas ele já havia passado direto por mim. Não entendi nada.

A rainha da vara de família veio apressadamente logo depois dele, mas diferente do meu pai ela reparou no estrago do quintal.
Droga.

— O que aconteceu aqui? — Questionou assustada.

— Eu posso explicar! — eu repeti levantando.

E então a porta da sala bateu com força.
Verônica correu em direção a casa e eu fui atrás dela, quando cheguei a porta vi os amigos do Enzo saindo apressadamente.

— Ihh, o céu fechou. — falou um deles passando por mim.

Quando entrei na sala, Verônica estava ao lado do meu pai dizendo para ele se acalmar e meu pai estava aparentemente furioso.

— EXISTEM MOTIVOS PARA QUE EXISTAM REGRAS NESTA CASA! — começou meu pai alterado assustando a todo mundo, ao irromper o silêncio de repente — PARA QUE HAJA PAZ, ORDEM, HARMONIA, SEGURANÇA! SERÁ QUE É TÃO DIFÍCIL PARA VOCÊS SEGUIRAM A PORRA DAS REGRAS! OU HÁ PRAZER EM ME CONTRARIAR, ME IRRITAR?

Eu fiquei assustada, meu pai não costumava falar nesse tom.
Olhei para a rainha da vara de família sem entender, ela se aproximou mais dele tocando no seu ombro.

— Meu amor, é melhor se acalmar. Não é assim que vamos conversar, você está muito nervoso... — disse ela — Amanhã discutiremos e eu tenho certeza que o Enzo terá uma boa explicação.

A expressão de confusão no meu rosto era clara, olhei do meu pai para Verônica e depois para Enzo.

— Opa, pera lá! — disse Enzo — Isso tudo é por causa de ontem? — questionou ele, também tão confuso quanto eu.

— POIS É! NÃO BASTA VOCÊ PASSAR POR CIMA DAS SIMPLES REGRAS DE CONVIVÊNCIA, TEM QUE ESTÁ ENVOLVIDO EM ASSASSINATO! — gritou meu pai.

Levei as duas mãos à boca chocada com a notícia.
Enzo ia falar algo, mas foi cortado por sua mãe.

— JÁ CHEGA RODOLFO! — agora quem levantou a voz foi a rainha — Você não pode falar assim com o MEU FILHO! E não pode fazer uma acusação tão grave quanto essa!

— Assim como? — questionou meu pai encarando-a, o tom agora moderado — Ele foi a última pessoa a ser vista ao sair do quarto da vítima quando ela estava com vida! Mal ou bem ele está envolvido, mas se estivesse em casa no horário decretado nenhum de nós precisaria passar por esse transtorno, ele não precisaria se submeter e ser acusado pela da polícia! Nada disso teria acontecido se tivesse dado um pouco de disciplina a ele! — meu pai estava ofegante, o tom ríspido e irritado. Ele silenciou Verônica, eu estava com as mãos no peito, super chocada e então ele voltou a olhar para o Enzo, que estava em estado de choque. — Agora as coisas vão mudar.

Vi Verônica ofegar balançando a cabeça, ainda assimilando o golpe das palavras duras do meu pai.

Primeira briga de casal na frente das crianças? O clima estava ficando pesado.


A boca de Verônica se abriu, mas ela não articulou uma palavra, apenas deixando o ar sair e entrar. Seus olhos estavam se enchendo de lágrimas, mas ela não deixou cair.

— Você está INSINUANDO que o meu filho está envolvido em um assassinato... Está gritando e o tratando como um criminoso. Está dizendo que eu não o eduquei direito... — ela estava dizendo pausadamente enquanto se aproximava dele — E você não é o pai dele para tentar discipliná-lo, quem disse que você tem esse direito?

Meu pai assentiu lentamente.

— Não sou. Você está certa. Só pensei que você queria que nós formassemos uma família. — ele passou a mão pelos cabelos, tentando se acalmar — Eu não sei o que você realmente quer, não sei o que estamos fazendo.

— O que está acontecendo aqui? Ninguém me explicou o motivo de tanto estresse! — Enzo recuperou a voz dando um passo na direção deles.

— Meu amor, não é nada. Você não precisa se preocupar. — Verônica sorriu olhando para o filho, tentando amenizar a situação — Tá tudo bem.

— Eu quero saber. O que está acontecendo? — agora ele estava se direcionando ao meu pai.

— O assassinato de Daniela Moura. — respondeu meu pai abrindo sua mochila e tirando um envelope pardo dela.

Observamos em silêncio ele abrir o envelope e tirar uma foto e entregando para Enzo, que se aproximou em passos vacilantes e expressão de puro choque ao reconhecer a garota loira de olhos azuis da foto de óbito.

— Dani... — sussurrou perplexo tomando a fotografia do rosto empalidecido pelo efeito da morte e fraturado. Ele começou a balançar a cabeça entrando em negação — Não, não pode ser. Não quer dizer que ela...

— Ela está morta. — disse meu pai com pesar.

— Ela estava comigo ontem. Estava bem... — Enzo continuava em estado de negação. Verônica fez menção de se aproximar, mas o filho sinalizou que não precisava, ele voltou os olhos para meu pai o encarava sem nenhuma expressão. — Você não acha que fui eu né? — questionou com um tom assustado e procurou se justificar ao não perceber nenhuma mudança de expressão — Eu não fiz nada, quando eu saí de lá ela estava bem. Muito bem! Ela estava viva, me chamou para fazer algo hoje e...

— Eu sei que você é inocente. — responde meu pai calmamente.
Verônica o encarou sem entender e Enzo mais ainda.

— Sabe? E então por que chegou atirando todas as pedras? Gritando desse jeito? — questionou Enzo alterado.

— A PM vai fazer bem pior, vai chegar, vai gritar, descer o pau e te jogar no camburão como um criminoso. Se não reagir da maneira certa. — começou meu pai o encarando — E você sabe porque eu cheguei assim, você simplesmente cagou nas regras e envolveu toda nossa família num caso grave de homicídio, só por isso. — suspira —
A coisa está feia para o seu lado, há testemunhas dizendo que você foi o último a entrar e sair da casa da vítima na madrugada... Daniela foi agredida, Enzo. Há indícios de violência sexual.


Enzo suspirou balançando a cabeça e nega ouvindo a última frase.

— Não, eu dormi com ela sim, mas ela queria. Eu queria. Eu nunca faria isso com garota alguma. — explicou Enzo e então olhou para a mãe — Fui educado por uma mulher incrível, que me ensinou muito bem a tratar uma garota.

Verônica sorriu olhando para o filho e meu pai balançou a cabeça positivamente.

— Sei disso e não duvido. — ele respirou fundo cruzando os braços. — Tudo indica que o assassino a estuprou antes de matá-la e fez isso da maneira mais agressiva que podia... Enzo, você pode ajudar a provar a sua inocência e apontar o culpado.
Isso atraiu todos os olhares para ele. — Já temos um perfil de suspeito em vista. A vítima tinha um namorado virtual, com o qual ela trocava mensagens frequentemente no celular pela internet.

Agora Verônica se aproximou do meu pai aparentemente instigada.

— Acha que é aquele maníaco da internet? Que seduz as meninas para abusar, matar e publicar na internet as fotos do crime?

Choquei ao ouvir isso. Como não fiquei sabendo desse horror? Droga! Preciso assistir mais aos noticiários.

— Ao que tudo indica, sim. — respondeu meu pai lentamente — Descobrimos através do celular da vítima que ele cria um perfil sedutor falso, encanta a vítima e depois de ter a confiança mostra a verdadeira face atacando, abusando e depois matando. Só que dessa vez ele não teve tempo para esconder o corpo e nem postar nada na internet. Talvez a chegada de Enzo tirou tempo que ele precisava para dar o seu show e vamos tirar vantagem disso. Agora temos um corpo, ele deve ter deixado algum vestígio que nos ajude a identificá-lo. — meu pai se virou para Enzo novamente. — Eu preciso que você me ajude. Vamos reconstituir o luau, ele tinha que estar perto para ter chegado tão rápido, pode ser um dos estudantes.

— Eu posso me envolver no caso? — Questionou Enzo chocado, como eu que assistia toda aquela cena chocada.

— Pretendia que pudesse me ajudar, amanhã o caso será oficialmente meu. — respondeu meu pai.


• • •

E N Z O    T E I X E I R A


Eu ainda estava meio atordoado com tudo que estava acontecendo, assimilando os fatos.Daniella, a garota que conheci ontem no luau, estava morta. Foi assassinada logo depois que eu saí de sua casa. Depois que a deixei sozinha. Não foi só assassinada, ela foi espancada e violentada. Era demais para mim.
Meu coração batia forte no peito graças a bagunça que estava na minha cabeça, no meu coração. Um turbilhão de sentimentos me atingiam, raiva, medo, luto, repulsa, dor e culpa.Talvez se eu tivesse ficado. Se não tivesse a deixado só, ela estaria aqui. Estaria viva.
Imagens dos nossos últimos momentos juntos passavam na minha cabeça, sua risada gostosa e calorosa, seu jeito gentil e carinhoso, seu humor bobo e sarcástico que eu nunca mais terei a chance de ver.

Nossa guerra de travesseiros em cima da cama, quase a quebrando, nossos amassos intensos pelo quarto, nossa noite intensa de carícias, beijos e muito mais.
E agora ela se foi para sempre.
Eu mal percebi as lágrimas rolando pelo meu rosto.

— Enzo, você não precisa fazer isso. — minha mãe se aproximou pegando na minha mão como se notasse a minha confusão mental, minha tristeza — Podemos arrumar um advogado e provar que você não tem nada a ver com isso. Prova a sua inocência.

Respirei fundo levando sua delicada não com a aliança a minha boca beijando-a e neguei a sua sugestão com um movimento leve de cabeça.

— Eu quero fazer. — respondi secando meu rosto e voltei o meu olhar para Rodolfo. Sentia que tinha que fazer isso. Não só pela Daniela, mas por todas as outras que tinham uma vida inteira pela frente e não mereciam passar por isso. — Quando que a gente começa?


Rodolfo abriu um sorriso, satisfeito com a minha decisão. — Agora.

Ele marchou em direção a porta, como uma deixa para segui-lo, eu vi Cassie correr na minha frente para alcançá-lo.

— Posso ir junto? Eu posso ajudar...

— Não. — respondeu Rodolfo entrando no carro e fechando a porta sem nem deixar a filha continuar, eu passei por ela contornando o carrro, e sentei no banco do carona.

Rodolfo deu partida e eu assisti minha mãe observando do portão junto com Cassie que ainda estava indignada e não pude deixar de dar um sorriso vendo a frustração no rostinho dela apesar de toda a merda que estava envolvido.

Meu sorriso se fechou ao lembrar de Daniela, isso não era uma brincadeira e muito menos era divertido.
Uma garota inocente, que estudava engenharia mecânica e tinha o sonho de criar uma linha de automóveis foi brutalmente assassinada pouco tempo depois de termos uma noite memorável com muita música, conversa e contato físico.
Era um caso muito sério de assassinato,o que eu precisava ajudar, não só para me inocentar, mas para vingar a Dani.


Seguimos em silêncio pela estrada durante um bom tempo.

— Desculpe ter chegado daquele jeito, mas a polícia faria pior se eu não te desse um choque de realidade agora. Talvez se eu não tivesse falado daquele jeito você não estaria aqui... — Rodolfo segurava o volante com as mãos firmes e seu anel de noivado cintilava de vez em quando o sol refletia nele.

Franzi a testa com seu comentário, mas ele tinha lá sua razão, sua explosão me deu um motivo para reagir e pela primeira vez não estava fazendo algo apenas por mim.
Rodolfo continuou.

— Sua mãe não poderia impedir que te levassem, mesmo sendo uma ótima advogada, ia ter que brigar por você em prisão preventiva, mas eu posso. — ele soltou suspiro com os olhos fixos na janela — Não que eu esteja tentando bancar o seu pai, mas agora somos uma família. Devemos prezar uns pelos outros. Não seria diferente se fosse a Cassie.

Eu apenas assenti.

— E sua mãe, ela sofreria muito ao te ver ser condenado por algo que não fez, então preciso que seja honesto comigo. Quero saber tudo que aconteceu no luau. Quero nomes. Alguém que você achou suspeito. Saber o comportamento da vítima antes do crime. Tudo. — pediu estacionando na praia onde aconteceu o luau.

Acompanhei Rodolfo pela praia e encontramos os restos do luau.
Corri os olhos em volta me esforçando para recordar cada detalhe importante do momento em que cheguei e do último segundo em que saí.

— Quando eu cheguei o luau já havia começado. — Comecei olhando para os restos da fogueira na areia. — Estava cheio, quase não haviam cadeiras para todos, muitos ficaram na areia. Havia muita gente que eu não conhecia. Gente da faculdade, eu acho. Cheguei com o meu violão e já me convidaram para tocar. Toquei muitas músicas, quase uma hora de música...

— Alguém mexia no celular? — perguntou Rodolfo me encarando atento a cada palavra minha.


Abri um sorriso o encarando pela pergunta — Só todo mundo.


Ele crispou o rosto em uma careta — Não entendo. Para quê marcam encontros assim se ficam grudados no celular?

Dei os ombros. — É um vício, não dá para largar, mas estávamos conversando e bebendo também...

— A vítima, ela estava mexendo no celular?

Eu tentei me lembrar, apesar de estar tocando eu prestava bastante atenção à minha volta. Nas pessoas a minha volta, casais juntos, grupinhos de amigos rindo e bebendo e até pessoas solitárias com atenção no celular ou notebook.

— Estava sim. — lembrei de ter reparado em Daniela durante as canções — Ela só parou depois que eu estava tocando a penúltima música. Vi que ela tirou a bateria e guardou o celular na bolsa para ouvir as músicas. Quando parei de tocar e fui curtir um pouco ela veio falar comigo.

— Ela foi falar com você. — Rodolfo parecia anotar mentalmente — Como ela estava quando desligou o celular?

— Parecia irritada, mas quando veio falar comigo, depois de um tempo estava normal. De bom humor até.

— Prossiga. — instruiu Rodolfo gesticulando.

— Bem, conversamos, bebemos, comemos e então ela me convidou para o alojamento dela. Já eram umas duas horas da manhã, ficamos lá até às 4 horas, dormimos juntos, trocamos números e depois fui embora. Deixei ela lá, bem e viva. Foi isso...

Rodolfo assentiu lentamente. — Percebeu algo estranho antes ou depois do luau? Algo no comportamento dela ou de alguém?

Voltei as lembranças do luau, mas tudo parecia normal... Não, não havia nada de estranho. — Não. — respondi — Não percebi nada de estranho.

— Acontece que já temos um suspeito como disse antes. — começou Rodolfo atraindo minha atenção — O assassino pode ser um predador sexual da internet. Ele seduz garotas pela internet, as namora por alguns dias, as atrai para sua armadilha, as violenta sexualmente e depois as mata. Daniela é a 14a vítima. — Minha expressão de surpresa com tanta informação era visível. Estávamos lidando com um monstro.
Rodolfo estava colocando aquelas luvas brancas de perícia que tirou de um dos bolsos, E tirando do outro um celular dentro de um saco de evidências, era um Galaxy de modelo recente com uma capinha rosa. Ele se pôs do meu lado, deslizou o dedo no celular desbloqueado com a foto de Daniela no plano de fundo. Vê-la deu um nó na garganta, um aperto no coração.

Rodolfo estava abrindo o aplicativo do whatsapp e clicou em um contato sem foto e gravado com o nome de João.



João: Bom dia minha princesa! Como vai? Eu vou mal por não acordar ao teu lado.
Enviada 10h20m

Daniela: Bomm dia meu príncipe! Own! Eu também!! Estou morrendo de saudades.
Enviada 10h21m

João: Saudades dos seus lábios doces e macios junto ao meu. Saudades do teu corpo junto ao meu.
Enviada 10h23m

Daniela: Isso é tudo culpa sua, sabia? Quem mandou morar tão longe rs.
Enviada 10h23m

João: Minha? Rs. Você que é a rica e mora na zona sul. Eu sou pobre, feio e moro na zona oeste. Não sei o que viu em mim.
Enviada 10h24m

Daniela: Deixa de ser bobo! Eu vi em você um verdadeiro príncipe.
Enviada 10h25m

João: Vou te comprar uns óculos. Só terei receio que me abandone.
Enviada 10h26m

Daniela: Impossível disso acontecer.
Enviada 10h26m

João: Aposto que diz isso para todos.
Enviada 10h27m

Daniela: KKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Meu Deus! Como é bobo. Não tem outros. Só você.
Enviada 10h27m

João: Ah é?
Enviada 10h28m

Daniela: Para que nos separem, só matando um de nós.
Enviada 10h29m

João: Você morreria por mim?
Enviada 10h29m

Daniela: Como Julieta por Romeu.
Enviada 10h30m

João: Af, para com isso.
Enviada 10h31m

Daniela: Com o que?
Enviada 10h32m

João: De fazer me apaixonar ainda mais.
Enviada 10h33m

Daniela: Impossível. É meu encanto natural. RS.
Enviada 10h34m

João: Queira ouvi você me dizendo isso pessoalmente. Eu cheirando o seu cabelo, sentindo o calor do seu corpo.
Enviada 10h35m

Daniela: Já sei como resolver isso.
Enviada 10h36m

João: Ah é? E como?
Enviada 10h36m

Daniela: Vai ter um luau amanhã à noite. Vamos poder ficar juntinhos comendo e bebendo. E depois você pode dormir aqui no meu alojamento.
Enviada 10h38m

João: Ah, meu amor. Eu não sei se vai dar. Tem a faculdade e o meu trabalho. Não posso faltar.
Enviada 10h42m

Daniela: Ah, João. Semana passada você ficou comigo tão pouquinho! Está me devendo essa! Vem!! Vai ser legal.
Enviada 10h41m

João: O que você não pede chorando que eu faço sorrindo, em? Rs.
Enviada 10h45

Daniela: Onwn. Te amo sabia? Amo mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, mt, s2s2s2.
Enviada 10h47m

João: Nossa, são muitos muitos.
Enviada 10h48m

Daniela: Mas não o suficiente.

Enviada 10h49m

João: Pois o meu amor por você não pode ser expressado em palavras. Por isso irei te mostrar pessoalmente, amanhã. Teremos uma noite inesquecível, eu prometo.Enviado 10h50m

João: Agora eu terei que ir, meu amor. Beijos e se cuida.Enviada 10h51m



— Ela tinha um namorado? — Questionei surpreso olhando para Rodolfo que assentiu.

Ele começou a deslizar o dedo novamente avançando nas mensagens e me mostrou a conversa do dia do luau.



Daniela: ONDE VOCÊ ESTÁ? A FESTA JÁ COMEÇOU HÁ UM TEMPÃO!
Enviada 22h52m

João: Desculpa...
Enviada 23h18m

Daniela: COMO ASSIM DESCULPA? ONDE VOCÊ ESTÁ?
Enviada 23h38m

Daniela: João? Você me prometeu. Por favor, não faz isso comigo...
Enviada: 23h56

João: Desculpa meu amor. Você precisa ter paciência.
Enviada 00h22m

Daniela: Você vai vir aqui ou não?
Enviada 00h43m

João: Não posso aparecer no luau, mas logo nos veremos, afinal eu fiz uma promessa.
Enviado 01h20m

Daniela: SE VC NÃO APARECER AQUI É MELHOR ESQUECER TUDO. ESTARÁ TUDO TERMINADO. VAI APARECER OU NÃO?

Enviado 01h25m

Daniela: Não me liga nunca mais. Não manda mensagens. Me esquece. Eu vou apagar e bloquear o seu número e perfis sociais!Enviado 01h25m

João foi bloqueado e não receberá mensagens deste usuário.



— E depois ela veio falar comigo. Ela me usou para se vingar do ex...

Rodolfo balançou a cabeça confirmando o que acabei de dizer — Ela só queria esquecer o ex-namorado e conhecer alguém que more perto.

— Como ela morreu? — perguntei passando a mão pela cabeça e olhando para o mar.

— Ela foi espancada brutalmente, abusada e esfaqueada... Ela lutou contra o assassino, ele a perfurou diversas vezes com a faca nos braços, pernas e abdômen, numa espécie de tortura e no fim a matou cortando a garganta a deixando sangrar até morrer.

— Minha mãe disse que ele posta as fotos na internet. Ele postou?

Rodolfo assente com pesar — Sim, estamos trabalhando para tirar da internet.

Amanhã irei à cena do crime e vou procurar alguma pista. Quer vir comigo? Pode ser útil. Preciso saber o que estava no lugar e o que não estava. Qualquer coisa que possa se lembrar pode ser relevante.

Balancei a cabeça aceitando o convite sem processar na verdade. Ainda encarava o mar, respirando fundo com a mente ainda mais bagunçada do que antes.

— Vai ser pela manhã, para não atrapalhar suas aulas. — ouvi a voz de Rodolfo me trazendo de volta a realidade.

— Tá bom.

— Agora vamos à delegacia, falar com a polícia militar. Esclarecer tudo.

Olhei para ele confuso.

— O delegado atual do caso, acredita que você é o assassino. Que é um caso comum de feminicídio, namorado agressivo e etc. Vou intervir antes que tentem te prender.

Concordei seguindo Rodolfo que já marchava em direção ao seu carro.
Sim, ele nunca andava, sempre marchava, passos fortes e firmes. Postura de um soldado, sempre intimidador.
Ele dirigiu em silêncio durante o curto percurso de quinze minutos. Entrando na delegacia. Rodolfo já pediu para falar com o delegado.
Fomos guiados até a sala do homem e lá atrás de uma mesa de madeira estava um senhor de uns cinquenta anos, um pouco fora de forma, as laterais do cabelo grisalho.

— Delegado e investigador Andrade. — começou o homem olhando, já desconfiado — Que surpresa você por aqui.

— Delegado Santos. Quero esclarecer algumas coisas.

O delegado me encarou e depois apontou para as cadeiras. — Então, sentem-se. E diga, o que veio esclarecer, afinal.

— Vou assumir o assassinato da garota. — disse Rodolfo sem se sentar.
O delegado Santos que estava levando o café até a boca e parou no meio do caminho para encará-lo com ar de choque.

— O que? — questionou o delegado Santos com ar de incredulidade.
Rodolfo apenas assentiu.

— Rodolfo não tem caso para assumir, houve um assassinato. Testemunhas viram o garoto. E os moradores descreveram o garoto que foi o último a ser visto. Caso resolvido, o garoto vai ser preso, já tenho a ordem. — o delegado falou de forma retórica, mostrando a folha.

— Não é assim, Santos. É bem mais complicado que isso. — começou Rodolfo vagarosamente — Vou assumir o caso e minha equipe vai investigar minuciosamente e ele vai ajudar. — Rodolfo apontou para mim. — Ele é quem você está acusando apenas por provas circunstanciais e tem mais. A garota morreu lá pelas 8 horas da manhã, ele deixou a casa às 4 horas. Ou seja, ela morreu 4 horas depois dele ter deixado o alojamento. Com tantas perfurações e cortes ela morreria em poucos minutos. Não foi ele. Então cancele sua ordem de prisão se não quiser ser processado e perder o emprego e a dignidade. A mãe dele é advogada de primeira, e além de deixar você na sarjeta vai ser humilhado pela imprensa, com algo do tipo: ' O Delegado Luiz Santos prende jovem universitário injustamente por negligência e preguiça de investigar o caso, confundindo um sério caso de asassino em série, com feminicídio. E você já tem um histórico com inocentes. É melhor tomar cuidado. — encara o homem sério — A morte dessa jovem não se trata só de feminicídio, se você não fosse tão preguiçoso iria ligar as outras 13 vítimas, que foram mortas de maneira similar nas redondezas. Se trata de um maníaco. Então seja útil investigando melhor e não nos atrapalhe.


Rodolfo deixou a sala e eu o segui em passos apressados. Saímos da delegacia e voltamos para o carro.

— Nossa, até parece coisa de TV. — comentei me sentando no banco do carona,animado com a cena que acabei de presenciar.

Rodolfo riu ligando o carro. — Lidar com policiais é mais difícil do que parece. Muitos abusam da autoridade que têm para causas próprias. Digamos que a coisa funciona para quem latir mais alto, quando se trata desses tipos de pessoas, como o Santos — saímos do estacionamento da delegacia entrando novamente na estrada — Você já está fora de suspeitas, fica tranquilo. Santos sabe que não pode contra mim. Ele está desesperado para prender alguém. Essa é a terceira só na área dele, as pessoas estão cobrando a polícia.

— Entendi... Para onde estamos indo? — perguntei percebendo que ele estava tomando uma rota diferente da qual tomamos para ir a delegacia da polícia militar.

— Para a homicídios. Onde eu trabalho.

Em poucos minutos chegamos a um prédio da divisão homicídios, Rodolfo estacionou em uma vaga destinada a ele.
Entramos no prédio refrigerado e movimentado ao passarmos pelos corredores vários funcionários o cumprimentaram ao vê-lo.

— Oi, Investigador Andrade.

— Boa noite detetive.

— Boa noite Sr. Andrade.

Rodolfo respondia com um aceno e um sorriso até chegarmos ao elevador.
Ele clicou no botão do terceiro andar onde aparentemente se localizava a área de perícia. Deduzi isso por causa dos laboratórios à nossa volta.
Uma garota que usava um jaleco branco e devia ter uns 20 e poucos anos no máximo saiu de um laboratório no final do corredor e correu até a gente esbaforida.

— Chefe! Chefe! Chefe! Chefe!— parou na nossa frente ofegante.

— Calma Melissa. — repreendeu Rodolfo erguendo a mão sinalizando para ela parar, e ela parou — Já conversamos sobre essa euforia.

A garota de jaleco que se chamava Melissa balançou a cabeça positivamente e respirou fundo e soltando o ar lentamente, se recuperando da corrida.
Ela era bem branca, tinha cabelos loiros e sardas estrategicamente espalhadas pelo rosto dando um charme e usava óculos redondos iguais do Harry Potter, na boca um batom vermelho.

— Melissa Sanchez é a nossa especialidade forense pleno. Um verdadeiro prodígio. — Rodolfo a apresentou apontando a garota eufórica me fazendo erguer a sobrancelha.

Sério? Essa menina já é uma especialista forense?

— Esse é Enzo Teixeira, o meu enteado e ele esteve com a vítima antes de morrer e vai nos ajudar no caso. — Apontou me apresentando para a jovem cientista.

Melissa me deu um abraço forte e sem nenhum aviso me surpreendendo — Meus pêsames pela sua namorada.

— Obrigada, mas ela não é minha namorada... — disse quando ela me soltou — A gente... Só ficou, sabe?

— Entendi. — ela assentiu, ainda com o sorriso de condolência.

— O que você tem pra mim? — perguntou Rodolfo para ela.

Melissa abriu um sorriso contagioso, que até me fez sorrir sem saber por quê. Rodolfo não sorriu.

— A gente já se apoderou dos pertences da menina. Eu estava averiguando o notebook, olhando as redes sociais externamente, sabe? Em busca desse tal João. — ela olhou para mim, como se quisesse confirmar que eu estava acompanhando, então eu assenti e ela continuou — Ele se tornou um fantasma, então eu invadi internamente as redes dela. Facebook, Skype essas coisas. Eles tiveram várias conversas de vídeos bem longas, eu copiei todas as escritas e enviei para o e-mail do senhor e dos investigadores do caso. Quando estava lendo percebi que uma coisa em comum com as outras vítimas, é que ele nunca aparece em público com as meninas. Nunca. Sempre marca encontros privados, sem testemunhas.

— Para evitar ser reconhecido. — constatou Rodolfo.

— Isso! E por isso todas as meninas se revoltaram. O colocando na parede, tipo exigindo encontros as claras, namoro oficial. Aí, ele tenta enrolar mais um pouco, mas elas ficam de saco cheio, nesse ponto ele dá o ultimate prometendo uma surpresa.

— E então ele acaba tudo para elas. — concluiu Rodolfo respirando fundo e fazendo Melissa concordar.

— O que a gente tem sobre esse cara? — perguntei olhando para Melissa, ela parecia saber tudo sobre o caso e para está no cargo em que está ela devia ser bastante inteligente.

— Nada, só estamos tentando montar um perfil ainda. — respondeu Melissa me encarando — Até agora esse assassino se mostrou muito cuidadoso, sem pistas, sem corpos, sem vestígios. Só tínhamos fotos na internet das vítimas com a garganta cortada, que ele mesmo publicou e as conversas apagadas na internet que estamos tentando recuperar. Nem mesmo o corpo ele deixava, e até limpava a cena do crime, estava sendo muito minucioso, até agora...

— Agora temos mais. — Rodolfo olhou de Melissa para mim — Temos uma cena do crime, um corpo e um aparelho celular.

— O que é muito estranho, já que com as outras 13 vítimas ele não deixou absolutamente nada para trás. — disse Melissa desconfiada, olhando para Rodolfo — Parece que deixando isso pra gente, de propósito.

— Ou num descuido ele não teve tempo de limpar, cometeu esse deslize e aí que vamos pegá-lo. — respondeu Rodolfo.

O som de passos no corredor chamou a nossa atenção. Um casal estava se aproximando.

— Até que enfim encontramos você, Rodolfo. — disse a mulher, era uma morena, cabelos castanhos escuros presos e de estatura média, ela vestia um jaleco branco igual ao de Melissa e tinha uns óculos de proteção no pescoço, o que mais me chamou a atenção foi a sua barriga. Devia estar com uns sete meses de gravidez, parecia na casa dos trinta anos. — Pois é, seu padrasto não dá moleza nem para as grávidas, um verdadeiro carrasco. — estendeu a mão para me cumprimentar com um sorriso brincando nos lábios. — Sou Heloísa Gomes, investigadora.

— Enzo Teixeira. — me apresentei apertando a sua mão com um sorriso.

O homem também me cumprimentou, ele era alto, negro, forte e com um corte militar, devia está na casa trinta também.
Ele não vestia um jaleco, mas seu distintivo estava pendurado no pescoço e o seu coldre era visível na lateral da sua cintura.

— Sou Wallace Pereira, investigador. Prazer Enzo. Rodolfo disse que você seria de grande ajuda.

— Espero poder ajudar mesmo.

— Bom, nas roupas da vítima havia dois tipos de sangue, como ela reagiu o outro sangue só podia ser do criminoso, mas como não temos nenhum suspeito para comparar, é inútil. — explicou a investigadora Heloísa com a atenção voltada para Rodolfo que apenas balançou a cabeça e se virou para Wallace que entendeu a deixa e começou a falar.


— Investigamos a casa, não encontramos nada de relevante. O único palpite e a coisa que podemos fazer é falar com o pessoal do luau. Danilo já está cuidando disso, ele pediu uma lista com nomes e endereço para o dono do estabelecimento que trabalhou no evento fornecendo bebidas e alimentos.

— Ótimo. — Rodolfo se voltou para mim — Enzo, quero que dê uma olhada nas fotos da cena do crime. Talvez possa reparar em algo, já que esteve lá antes de tudo acontecer.

Concordei e eles me levaram para um tipo de escritório de reuniões ou algo do tipo. Lá tinha uma mesa grande com oito lugares, um monitor enorme que ocupava boa parte da parede e alguns computadores. Heloísa foi para um dos computadores na pequena escrivaninha e tirou alguns envelopes da gaveta e começou a escanear enquanto Wallace ligava o grande monitor. Poucos minutos depois as fotos do quarto de Daniela surgiram no monitor em boa qualidade e para o meu espanto o alojamento dela estava todo destruído.

— Meu Deus! — exclamei surpreso me aproximando do monitor. — Está tudo destruído! E ninguém ouviu nada? — perguntei. Haviam vestígios da janela despedaçada, móveis, televisão, cadeira e tudo mais aos pedaços. Até mesmo tufas do cabelo loiro de Daniela estavam pelo chão.

— Quando os vizinhos chamaram a polícia era tarde demais. — Wallace também encarava o monitor enquanto me respondia — Eles relataram gritos, algo parecido com uma briga de casal, por isso demoraram a alertar a polícia.

Respirei fundo voltando a olhar para o quarto de Daniela — Nem parece o mesmo lugar... Ele a atacou como um bicho, um monstro...

— Enfurecido. — completou a detetive Heloísa — Sim, toda a cena descreve que ele foi extremamente violento. Como se estivesse com uma raiva específica dela. Ele não bateu nas outras vítimas desse jeito, o que constatamos pelas fotos, houve agressão, mas não assim.

Senti meu coração acelerar com esse comentário e Heloísa balançou a cabeça.

— Acreditamos que essa raiva foi gerada por ela ter saído com você. Senão não teria motivo para ele ter tanta raiva a não ser acreditar que foi traído.

— Vizinhos relataram que a ouviram chorar enquanto voz masculina despejava insultos a intimidando.

Eu estava sentindo que minha respiração estava sendo bloqueada, a pressão nos meus pulmões aumentava e o mundo a minha volta começava a girar.
Eu havia causando aquela reação no desgraçado? Por minha causa ele a espancou?

— Se ele ficou sabendo que vocês se envolveram, ele tinha que estar por perto durante o luau. Perto o suficiente para ficar de olho. — Rodolfo me encarou e franziu a testa — Está se sentindo bem?

— Vocês estão querendo dizer que ele estava no luau? — questionei soltando o ar pela boca e voltando a respirar. — Nesse caso, como ela não o viu se estava tão perto? Como ela não o reconheceu?

— Talvez tenha visto. Talvez tenha te usado para fazer ciúmes por ele fazer tão pouco caso daquele relacionamento que criaram em tão pouco tempo. — sugeriu Heloísa.

— Ou talvez ele estivesse disfarçado. Usando algo que esconda o rosto. — Rodolfo apoiou as mãos na mesa e me encarou novamente — Tinha alguém nesse perfil?

— Bom, como era noite e estava frio geral foi agasalhado — tentei lembrar — Uns usavam capuz, touca, boné...


— Já é um começo. Vou procurar o Danilo. — Wallace saiu da sala.

— Eu posso vê-la? — perguntei voltando o olhar para Rodolfo — A Dani. O corpo dela está aqui, não está?

— Não. — Negou imediatamente — Eu só o trouxe aqui para ajudar na cena do crime. Você não precisa ver isso. Não é para isso que está aqui.

— São cenas muito fortes. — Melissa que até então estava quieta durante toda a apuração das imagens tocou no meu ombro e ofereceu um doce e consolador sorriso — Escuta o chefe, você não precisa ver isso. Guarde as lembranças boas. É melhor assim.

— Hora de ir para casa. — Rodolfo estava se dirigindo à porta.

— Eu tô aqui para ajudar. — relembrei a ele.

— E já começou. Amanhã você volta.





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