O ENCONTRO
E N Z O T E I X E I R A
Rapidamente chamei Rodolfo e discretamente apontei na direção do suspeito. O cara que estava se comunicando com a Cassie. Ele estava falando ao telefone.
Rodolfo olhou na direção do suspeito, o identificando.
— Eu vou pegar esse desgraçado agora! — disse indo na direção dele, mas Rodolfo me impediu.
— Calma.
— Calma? — eu questionei incrédulo.
Eu olhei na direção do suspeito novamente, ele continuava a falar no telefone, parecia agitado.
— Não podemos o abordar desse jeito. Não temos nada contra ele ainda, precisamos juntar as provas, de qualquer forma ele não vai sair daqui até as portas se abrirem novamente. — respondeu Rodolfo me encarando.
— Senhor, o corpo da jovem está no banheiro. Quer dar uma olhada na cena do crime? — perguntou um policial militar.
Rodolfo assentiu para o policial militar e olhou na direção do suspeito, eu também olhei. Ele ainda falava ao telefone
— Eu fico de olho. — disse voltando o olhar para ele.
Rodolfo franziu a testa me encarando desconfiado.
— Não tomarei nenhuma atitude sem te consultar. Prometo.
Rodolfo assentiu — Fique atento.
Foi o que eu fiz.
Fiquei meia hora observando o suspeito, ele havia desligado o telefone há uns vinte minutos atrás e parecia mais nervoso do que antes. Olhando para os lados o tempo todo, batucando os dedos na mesa, um sinal de impaciência ou talvez ansiedade para sair da faculdade o quanto antes.
— Qual é a situação? — ouvi a voz de Wallace atrás de mim. Eu me virei e me surpreendi ao encontrar Melissa ao seu lado, logo atrás Danilo e o chefe legista Doutor Fabiano Azevedo estavam se aproximando.
— Garota que marcou encontro com o assassino no banheiro e foi degolada pelo mesmo. — Informei resumidamente.
— Cadê o chefe? — perguntou Melissa procurando Rodolfo pela multidão.
— Sério que chama ele de chefe? — franzi a testa e Melissa apenas sorriu.
— Ele é o chefe. Não tem outra forma de chamá-lo. E aí? Onde ele está?
— Foi até a cena do crime. — respondi.
— Sem a gente? — perguntou Danilo parecendo surpreso — Onde fica esse banheiro?
Eu dei os ombros — Não sei, ele me mandou aqui ficar de olho no... — eu estava me virando para apontar para o suspeito, mas ele já não estava mais ali — Não... — disse balançando a cabeça, ficando desnorteado — Não! Cadê o desgraçado?!
— O que? — perguntou Melissa procurando alarmada.
— O suspeito! Ele estava bem ali! Não podia o perder de vista! — apontei para a mesa onde ele estava. Rodolfo iria me matar por perder o suspeito.
— Não se preocupe, assim que entramos eu mandei redobrar a segurança, ninguém sai e ninguém entra.. — disse Wallace.
Eu soltei um suspiro conformado. Não poderia fazer mais nada mesmo.
— Não se preocupe, vamos dizer que nós acabamos te distraindo quando chegamos. — Melissa deu tapinhas no meu ombro com a intenção de me aliviar.
Danilo se aproximou de outro policial militar que estava de guarda, mostrou o seu distintivo da polícia civil e pediu que nos levasse até a cena do crime.
O PM assentiu, pediu que um colega tomasse seu lugar e nos levou até um banheiro que estava em manutenção. Encontramos Rodolfo do lado de fora conversando com uma estudante. Ele liberou a menina quando nos viu chegar.
O olhar de Rodolfo pairou em mim imediatamente, obviamente querendo saber o que estava fazendo ali.
— Eu o perdi de vista. — contei de uma vez.
— Era só para você... Você só tinha um trabalho!
— Foi culpa nossa, Rodolfo. — Danilo o interrompeu fazendo seu olhar raivoso se virar para ele — Chegamos e acabamos desviando a atenção do garoto. Não é culpa dele. De qualquer forma o lugar está cercado, ele não vai conseguir sair.
— É melhor a gente começar a trabalhar. Já perdemos muito tempo. — disse Rodolfo soltando um suspiro, ainda irritado.
— Espero que não tenha mexido no corpo. — disse o doutor Fabiano caminhando em direção ao banheiro.
— De jeito nenhum, doutor. Eu ainda nem entrei, estava falando com possíveis testemunhas. Muitos alunos ouviram gritos, precisamos saber se um deles possivelmente pode ter visto o assassino sair do banheiro. — contou Rodolfo e então apontou para o banheiro — A cena do crime é toda sua, Fabiano.
— Certo, vou apenas aguardar a minha nova assistente. Ela está a caminho. — disse o doutor balançando a cabeça.
— Podemos falar com os alunos, procurar testemunhas enquanto isso. — sugeriu Melissa, atraindo a atenção de Rodolfo para ela.
Seu olhar se fixou na jovem cientista forense, como se tivesse notado a presença dela ali só agora.
— O que você está fazendo aqui, Melissa? — questionou Rodolfo a encarando com a testa franzida.
— Vim no lugar da Helô. — respondeu ela.
— Você não é investigadora, Melissa. — Rodolfo cruzou os braços ainda a encarando, Melissa sorriu e apontou para mim.
— Ele também não é e está aqui.
— É verdade... — disse Rodolfo coçando o queixo. Provavelmente não esperava essa resposta. De repente seu rosto se iluminou e ele abriu um sorriso olhando para Melissa e eu. — Eu tive uma ideia! Quero que vocês dois se misturem com os estudantes e se aproximem das amigas da vítima. O estalque...
— Stalker! — corrigiu Melissa.
— Enfim, esse bandido... — continuou Rodolfo olhando para Melissa e ela somente assentiu — Até onde sabemos, ele se aproxima das amizades da vítima, para saber do que ela gosta. O nome da vítima é Ana Clara Souza Silva, 22 anos, estudante de direito. Vocês vão procurar por esse nome com os professores de direito e perguntem o nome dos amigos e investiguem.
— E o que? — questionei.
— Investiguem. — repetiu Rodolfo — Conversem com os amigos, façam amizade. Perguntem se tiveram contato com o assassino. Quero os celulares, tudo ainda hoje. Se o assassino estiver aqui, ele ainda pode estar com o celular, ou ter descartado recentemente.
— Tipo espiões! — disse Melissa empolgada.
— Esse lugar é enorme, vai ser difícil — disse o encarando.
— Vai ser difícil se vocês ficarem aí parados olhando para a minha cara. — retrucou Rodolfo secamente. Ele começou a bater palmas — Vamos! Agilizem.
— Sim senhor! — falou Melissa me puxando.
• • •
C A S S I E A N D R A D E
Peguei a minha mochila e desci as escadas correndo e atravessei a sala.
— Vou dar uma saída, mas volto antes das quatro! — avisei abrindo a porta.
— O QUE? — Perguntou Verônica se levantando rapidamente — Cassiana ,você enlouqueceu?
— Eu preciso sair, urgentemente. — falei parando na frente da porta, ainda aberta.
— Você sabe que seu pai jamais permitiria isso. Cassie as regras você sabe...
— Por favor! — implorei com as mãos juntas, os dedos entrelaçados e a encarando com a cara do gatinho pidão do sherek — Eu não vou demorar, eu juro.
— Vai para onde, ao menos posso saber? — quis saber.
— Uma festinha na faculdade. Você, sabe só para marcar presença... Todo mudo vive dizendo que eu devo curtir mais a vida e etc — fui ligeira na minha mentira, quando você mentira a mistura com a verdade, sempre funciona, ao menos para mim — Vou chegar antes das 3 horas. — eu garanti persuasiva.
— Vou contar os minutos. — disse Verônica apontando para o seu relógio.
Eu pulei de alegria e corri para dar um abraço e beijo nela agradecendo, a fazendo rir surpresa.
— Sabia que você era legal! — falei correndo para fora de casa e entrei no carro que havia chamado pelo aplicativo enquanto conversava com o Edgar.
Em poucos minutos ele me deixou perto da UERJ.
Subi a passarela que estava lotada de gente, a maioria jornalistas loucos por uma exclusiva. Eu mergulhei na multidão empurrando as pessoas sem delicadeza para chegar aos portões da faculdade. Parei na entrada, que estava com uma segurança super reforçada. Um grupo de seis policiais militares, faziam a segurança da entrada da faculdade, eu me aproximei com a minha maior cara de pau e disse que era estudante.
Um policial militar mal-encarado, provavelmente farto de pessoas querendo entrar ou saber o que estava acontecendo lá, me lançou um olhar nada simpático e negou dizendo que ninguém mais poderia entrar ou sair da faculdade.
Eu rondei mais um pouco a universidade para pensar em outra estratégia de como me infiltrar lá dentro, até que uma ideia me ocorreu.
Num canto eu me abaixei, abrindo a mochila e vasculhei procurando o antigo distintivo do meu pai. Ele havia me dado para brincar quando eu tinha uns 7 anos de idade. Eu só precisava me passar por uma investigadora. Era uma ideia boba, mas poderia funcionar, estava tudo um caos, poderia passar despercebida.
Amarrei o meu cabelo em um coque e olhei para o que estava vestindo, uma calça jeans, uma blusa apertada de mangas longas preta com um decote U bem discreto e um all star preto. Por sorte eu estava apresentável para o papel.
— Seja o que Deus quiser! — disse para mim mesma ao respirar fundo e fui até outro PM que me encarou.
Sem abrir a boca ou esboçar qualquer sorriso ergui o distintivo e ele olhou o distintivo por alguns segundos e abriu passagem me deixando entrar.
Eu tive que fazer um gigantesco esforço para não sorrir feito uma boba.
Assim que entrei disse para mim mesma.
— Cassie, você é um gênio — dei um beijo no distintivo e continuei andando.
A UERJ era simplesmente linda e gigantesca, seus prédios com seu ar histórico e majestoso. Adorei cada centímetro dali e tive inveja de quem estudava ali.
Parei de andar por ali abobalhada me lembrando que Edgar estava na universidade e eu tinha um trabalho a fazer.
Eu enviei uma mensagem no WhatsApp pra ele.
Cassie: entrei! kd vc?
Edgar: o que? Como vc entrou?
Cassie: sou profissa rapaz. Onde vc tá?
Edgar: não é possível vc é uma csi!
Cassie: o tempo que passei assistindo essas séries não foi em vão! Kkkkkkk. Onde vc tá?
Edgar: na sala de 3001, mas vai até a cantina e fica no balcão, vou te encontrar lá.
Cassie: ok
Olhei em volta à procura da cantina e não foi difícil encontrá-la, antes de ir até lá dei uma olhada em volta em busca do meu pai. Não queria ter nenhuma surpresa ao esbarrar nele.
Não o encontrei.
Enfiei o distintivo no bolso e tirei da mochila o casaco que havia pegado emprestado de Enzo no armário, me arrumei rapidamente soltando os meus cabelos. Amarrei o casaco na cintura, para parecer mais universitária e caminhei até a cantina ainda atenta, à minha volta,
Chegando ao balcão, sentei olhando para todos os lados e a cada direção que olhava avistava um cara mais lindo do que o outro, e a maioria gritante com a cara da burguesia. As garotas então, a maioria era todas arrumadas, com suas roupas de marca, mochilas caras e celulares tipo iphone. É, minha gente, a faculdade federal não era para pobres.
Me levantei mudando de lugar e fiquei em pé de costas para a cantina para ter uma visão melhor de todos à minha volta.
Percorrendo os olhos pelo lugar, acabei encontrando com o olhar fixo de um cara.
E era bem gatinho, malhado e estava olhando para mim, com um sorriso brincando nos seus lábios. Meu charme natural é assim, atraí olhares. Como não sou de desviar, o encarei de volta, mas quando seus olhos azuis e gélidos se encontraram com o meus olhos, eu não consegui sustentar por algum motivo e desviei, até mudando de lado.
A caminho da cantina já consegui enxergar Edgar se aproximando. Senti meu coração disparar: NOSSA! Como ele é lindo!
Seus cabelos loiros desgrenhados balançavam enquanto ele caminhava apressadamente na minha direção, estava com uma barba de dias, provavelmente uma semana e dava para ver de longe seus olhos azuis, quase cinzas.
A mochila pendia no seu ombro meio desajeitada e ele estava com um sorriso bono no rosto quando me viu.
Eu desci do balcão animada e fui ao encontro dele. Ele era mais alto do que eu pensava Quase 1,80 de altura ou mais contra os meus pobres 1.60.
— Pensei que fosse mais alta. — disse ele por fim, me olhando com aquele sorriso idiota no rosto.
— Vai a merda. — disse dando um tapa de leve nele.
Edgar riu e abriu os braços e eu o abracei, apertado, a cabeça em seu peito, podia sentir o seu perfume masculino,amadeirado, forte e gostoso quase me fazendo derreter nos braços desse homem cheiroso.
Senti Edgar me abraçando carinhosamente, seu queixo apoiado na minha cabeça, senti ele inspirando o perfume dos meus cabelos, e beijando minha cabeça.
— Meu deus! Ela é de verdade! — disse ele enquanto me apertava, com certa animação na voz.
— Eu que o diga, em! — disse me soltando do abraço e apontando para o peito dele.
— Eu nem acredito que você veio mesmo! Se eu soubesse que para te encontrar era só preciso me aproximar de uma cena de crime, iria em algum lugar do centro, só que a gente ia ter que tomar cuidado com roubos — brincou Edgar.
— Não brinca, isso é sério. — o repreendi. — Já sabe do que se trata? — perguntei.
— Garota morta no banheiro. Ninguém sabe como aconteceu, a polícia não deixa ninguém nem se aproximar do corredor onde fica o banheiro. As fotos na internet já viralizaram, tem gente tentando entrar no banheiro para tirar mais fotos — contou Edgar suspirando — É uma situação horrível, e ainda tentam ganhar likes. — ele balançou a cabeça e então me fitou. — Vem cá, como você entrou aqui? Tem polícia pra todo lado, não estão deixando ninguém sair.
Eu abri um sorriso de canto, confiante.
— Sou uma detetive, tenho minhas manhas. — respondi ainda sorrindo — E ai? Me fala o que está acontecendo. Quero saber de tudo.
— Na mesma situação de antes. Tudo interditado... Mas por que isso te interessa tanto? — perguntou Edgar com a testa franzida, me encarando, tentando me entender.
— Se eu encontrar alguma pista desse assassino em série, que ajude nas investigações, meu pai pode me dar uma chance. — o respondi ansiosa, olhando em volta, em busca de algo.
— Mas você já não ganhou uma chance com a sua "boadrasta"? E seria mais fácil seu pai surtar ao saber que você está querendo encontrar um assassino em série, do que ficar orgulhoso ou algo do tipo. — disse Edgar, cruzando os braços, dizendo algumas verdades que não tinha parado para pensar.
— Estou disposta a correr o risco. Já estou aqui. Olha, ele aceitou o Enzo, e ele não fez absolutamente nada, além de ter ficado com uma vítima e estado na cena do crime, antes do crime. Eu só preciso de uma chance para mostrar a minha competência e inteligência para solucionar crimes! Provar a ele que eu sou capaz, de ir tão longe quanto ele, ir além, entende? — disse com toda a sinceridade, olhando nos seus olhos. — Eu nasci pra isso. Pra ser uma grande investigadora. Eu sinto que eu posso pegar esse cara.
Edgar tentou desviar o olhar, mas eu segurei o seu rosto, carinhosa o fazendo me encarar.
— Por favor. Já estamos aqui e você é a única pessoa com quem posso contar, nessa missão.
Edgar suspira cedendo — Meu Deus! Você é doida Cassie. — disse segurando minhas mãos no meu rosto com carinho, e suspira — Como que posso te ajudar?
Sorri empolgada, dando pulinhos, e segurei sua mão, caminhando pela faculdade — Me mostra onde fica o corredor próximo a cena do crime? — pedi e então vi que o Enzo e a Melissa estavam subindo as escadas, e estavam muito perto da gente. Rapidamente puxei Edgar seguindo na direção oposta, para evitar contato visual. Quando os dois desapareceram escada a cima, pude respirar fundo aliviada. Eles não podiam me ver aqui, de jeito nenhum.
— Cassie, você não me ouviu? Ninguém pode se aproximar de lá! A polícia tá isolando tudo.— Edgar parou se virando — E mesmo se a gente pudesse, a gente não conseguiria passar nem em frente. É no terceiro andar, e dali pra cima tá tudo isolado, eles não querem ninguém subindo ou descendo, para não atrapalhar a investigação. Só podemos circular do segundo andar para baixo, eles são bem rígidos em relação a segurança.
— Preciso ir ao banheiro, você me espera aqui? — perguntei me virando junto, de olho nas escadas que Melissa e Enzo subiram há poucos minutos.
Edgar franziu a testa, como se tivesse captando a minha mentira — Cassie...
— Eu estou apertada... — menti saindo na frente, ele já me deu as informações que eu precisava, era no terceiro andar — Não sai daqui, eu não vou demorar.
— Você nem sabe onde tem banheiros por aqui!
— Eu encontro, não se preocupa! — respondi correndo até as escadas.
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