DETETIVE ENZO
C A S S I E A N D R A D E
Depois de ter sido deixada com cara de boba na calçada pelo meu próprio pai, voltei para casa em passos furiosos e Verônica estava encostada no batente na porta, aparentemente tão absurda quanto a mim em relação aqueles dois idiotas que nos deixaram sem nenhuma mínima explicação decente.
Passei por ela em silêncio e já ia subindo para o quarto quando ouvi Verônica me chamar.
— Cassiana!
Dei meia volta do quarto degrau da escada e segui a direção da voz da rainha.
— Vossa Majestade, quero dizer, oi?
Estagnei surpresa ao encontro Draco nos braços dela, com a língua para fora e aquela carinha de quem aprontou todas.
— Você conhece esse rapaz? — perguntou acariciando a cabeça peluda de Draco que apreciava, muito feliz por sinal.
— Eu posso explicar!
— Foi ele que fez aquilo com o jardim?
— Não! — disse depressa e sem pensar — Fui eu.
Verônica franziu a testa com a minha resposta e eu balancei a cabeça confirmando.
— Pois é estava com raiva. Raiva de tudo e destruir o jardim. Às vezes eu dou uma surtada dia sim e dia não. Você vai se acostumar.
Ela me lançou um olhar de descrença.
— Cassie...
— Ele é só um bebê! — justifiquei e acabei ouvindo uma manha a qual eu não ouvia há tantos anos na minha própria voz — Ele só estava brincando.
Verônica sorriu me entregando o filhote — Eu sei, meu bem, mas antes de trazê-lo para casa, sabe que devia pedir permissão para o seu pai ou a mim. — ela fechou os olhos respirando fundo — Ok, ok. Um problema de cada vez, certo? Primeiro resolvemos sobre o Enzo e depois falamos do cachorro.
Concordei balançando a cabeça com um sorriso, já estava me virando para subir,
mas ela me chamou de novo.
— Cassiana.
Eu desci e parei na sua frente.
— Esquece. Não precisamos arrumar mais um tribunal familiar por causa disso, né? E não tem como não se apaixonar por essa delícia. — disse acariciando a cabeça de Draco que estava no meu colo eu acabei sorrindo.
Olha, a rainha tem um coração mole.
— Qual o nome dele? — perguntou.
— Draco.
— Vamos ficar com ele, mas é claro você vai ter que arrumar a bagunça dele e fazer um cantinho confortável e uma cerca de verdade para proteger o meu jardim desse monstrinho fofo em crescimento. E é claro, me ajudar a arrumar o jardim. — impôs Verônica apontando para mim — Vou comprar o material para tudo isso agora e começamos ainda hoje.
Soltei o ar exasperada — Tá bom. É aquele ditado como dizia a Inês Brasil, né?
Verônica franziu a testa confusa — Que ditado?
— Vamos fazer o que?
• • •
Quando a Rainha da vara de família saiu para comprar os materiais de jardinagem, eu consegui finalmente subir para o meu quarto. Empurrei a porta com o quadril a fazendo bater levemente na parede. Depositei Draco na cama do Enzo e ordenei que ele ficasse quietinho. Segui até o meu lado do quarto, abri o notebook no meu rack e coloquei a senha me sentando na cadeira de rodinhas.
Meu usuário abriu, com o plano de fundo da tempestade dos x-mens.
Abri o Skype e loguei na minha conta encontrando Juliana e David online, meus melhores amigos do ensino médio.
Antes de iniciar uma conversa de vídeo em grupo, liguei minha câmera, meus cabelos que estavam alisados pela prancha estavam voltando a ficar perdendo o efeito, querendo voltar a seu estado natural, me lembrando que precisava lavar. Sem falar que estava perdendo o corte chanel, já estava querendo passar do pescoço, minha pele negra estava meio desbotada, pedindo um sol. Talvez um dia de beleza com a rainha não seja uma má ideia. Ainda bem que já estamos ficando amiguinhas.
Finalmente sai dos meus devaneios de beleza e liguei a câmera, iniciando uma video chamada.
— Oii gente! — Juliana acenou animada, ela tinha os cabelos pretos como carvão, bem cacheados e tinha o estilo meio punk e gótico, que super combinava com sua pele chocolate.
— E ai. — cumprimentou David, ele era branco de olhos verdes e cabelos castanhos claros e usava óculos.
Eu levantei e peguei o Draco que estava deitado na cama de Enzo. — Diga oi para os seus titios!
— Ain, meu Deus! Que coisa mais linda! — exclamou Juliana com uma voz abobalhada.
Será que eu soava tão ridícula assim quando eu fazia essa voz?
— Igual a mãe! — disse orgulhosa.
— Uma vira-lata? — cutucou David.
— Tua namorada! — retruquei, e ele sorriu se rendendo. — Ou melhor, seu nariz. Sem rivalidade feminina aqui.
— Touché.
Juliana levou a mão ao peito — Sororidade sempre. — Alguma novidade? — perguntou animada — Já está se dando bem com o seu novo irmão gato?
Revirei os olhos. — Ele não é meu irmão. E também não é nenhum gato. — mordi os lábios, pensando no que aconteceu hoje — Maas, tenho um babado fortíssimo.
— O que? — perguntaram os dois. Juliana com um genuíno interesse e David com o celular na mão.
— Ainda não sei o suficiente para contar com detalhes, mas logo entrarei com informações de primeira mão.
— Ah Cassie! Vai-te a merda. Como nos atiça dessa maneira? — reclamou Juliana.
— Você tem alguma coisa de importante para contar, afinal? — perguntou David, voltando a atenção para mim.
Pensei por alguns instantes mordendo levemente o lábio inferior — Acredita que o príncipe da vara de família disse que eu não tenho vida? Tipo, só porque ele tem aquela bandinha de garagem, saí para umas festinhas acha que é o Sr. Descolado. Sr. Popularidade e etc.
— Príncipe do que? — David franziu a testa.
— Piada interna. Meu pai trouxe uma monarquia para casa. Esse é o novo castelo de advocacia familiar. Verônica é uma poderosa e importante advogada. — expliquei — Não contei a vocês?
— Miga, foca. — Falou Juliana lentamente — Você tem saído às sextas depois da aula?
Fiquei em silêncio por longos quinze segundos, pensando na última vez que sai.
— Não... — Respondi vagarosamente — Tipo, já estou cheia de trabalhos da faculdade. Direito não é fácil não! — Tentei me defender.
— Fez alguma amizade? — perguntou David de novo com o celular nas mãos e digitando habilidosamente.
— Estou tentando. Mas o povo de direito é um nojo, sabiam? — respondi — Mas olha, isso não significa que eu não tenha uma vida! Aliás, falo com vocês, eu estudo. Leio os meus livros...
— Cassie, isso não é uma vida de verdade. — rebateu David — Admita, você precisa sair da toca, dá uma chance para as pessoas te conhecerem. Conhecer alguém legal. Olha para você, pálida como uma vampira gótica. Qual foi a última vez que viu o sol?
— Eu já conheci alguém legal. — mudei de assunto para eles pararem de me encher, e já estava com um sorrisinho ao lembrar do meu crush.
— Vadia! — Exclamou Juliana me fazendo sorrir. Que saudades dessa vaca! Ela continuou no mesmo ritmo de empolgação — Conta tudo! Quem é? É bonito? Quero fotos!
— Se for pela internet nem conta. — falou David se recostando no descanso da cadeira e me fazendo revirar os olhos.
Eu enviei o perfil do Facebook.
— Conta sim, ele mora aqui perto. No aterro do flamengo
— Uau, bem gato. — Juliana estava inclinada, provavelmente stalkeando a minha paquera.
Era um rapaz de cabelos loiros desgrenhados, barba aparada, olhos azuis quase cinzas.
— Muito gato mesmo. Não é fake? — Juliana desconfiou , já que na época de escola, éramos expert em achar perfis fakes no orkut.
— Não, já nos falamos por webcam. — respondi com certeza, pois já havia feito a minha investigação sobre ele nas redes sociais, nada muito profundo, só o suficiente para garantir que não era nenhum velho de 60 anos ou alguma menina de 13.
— Imagens falsas... É muito fácil manipular meninas bobinhas apaixonadas. — implicou David, ganhando um gesto obsceno meu.
— Vai se foder Davi. Não sou bobinha e muito menos estou apaixonada! — Comecei — Ele é um amigo que conheci pela internet e não acredito que seja fake, o perfil é antigo, tem bastante amigos nas fotos, tem família. — dei de ombros — Fala sério! Nem tenho idade pra isso de ser enganada. Eu não sou burra.
— Fique com uma pulga atrás da orelha, sempre. — alertou David me fazendo revirar os olhos novamente.
O Skype notificou outra pessoa entrando.
— Ele entrou. — falei e segundos depois recebi uma mensagem dele — Ah! Ele veio me chamar. — comecei a digitar — Ele quer uma conversa de vídeo, vou fechar aqui gente. Tchau.
— Uau! Isso porque não está apaixo... — interrompi David ao fechar a conversa na cara dele e revirar os olhos. Moleque chato.
Me ajeitei ligeiramente antes de ligar a câmera, soltando e ajeitando os cabelos,
recebi o convite ao digitar que estava pronta. Ele solicitou e eu aceitei.
A imagem dele apareceu no começo chuviscada e lentamente foi estabilizando até ficar em alta definição. Quando me viu abriu um grande sorriso sugestivo.
— O que foi? — perguntei franzindo a testa.
— Quando vai começar o stripper? — perguntou com um sorriso de canto.
— Que tal dia 31 de fevereiro do ano que vem? — sugeri fingindo olhar no meu calendário imaginário.
Ele se levantou me deixando curiosa e voltou com o que parecia ser um calendário. — Calma aí... — ele começou a folhear — Vai cair na quarta-feira e algumas pessoas podem chamar de dia dois março, mas para nós será trinta e um de fevereiro.
Eu ri balançando a cabeça — Deixa de ser idiota, garoto.
— Tem razão. Para quê esperar até o ano que vem? Quer que eu comece? — perguntou ele, e então se levantou novamente e começou a desabotoar a blusa, fazendo uma dancinha ridícula que deveria ser sensual na sua cabeça.
— Edgar! O que pensa que está fazendo? — perguntei sem conseguir conter o sorriso.
Ele continuou dançando e desabotoando os botões um por um até o final, com um sorriso no rosto. Na sua dancinha ridícula ele passou a mão pela barriga mostrando sua definição e então se virou de costas começou a deslizar a blusa lentamente até deixá-la cair no chão. Foi aí que eu entendi.
Ele havia feito uma tatuagem nas costas de uma fênix de asas abertas.
— Meu. Deus! Você é tão exibido! — falei balançando a cabeça.
— Terminei hoje. Ainda sinto meio ardido, mas diz aí. Foda né? — Edgar voltou para o seu lugar, vestindo a blusa, deixando aberta.
— Uau, radical. Qual é o próximo passo? Piercing nos mamilos?
— Calma aí! — Ele olhou para trás e em seguida para os lados como se estivesse farejando algo — Mas que cheiro é esse? Inveja?
Soltei um riso irônico — De ti? Faça-me o favor.
Ele umedeceu os lábios se ajeitando novamente — Quer vir para uma festa aqui? Vai ser na casa do meu amigo. Você pode dormir aqui comigo — convidou.
— Até parece.
— Tá, dorme com a minha irmã. Mas cuidado, ela tá nessa época adolescente de se descobrir e tal. E ainda tem essa moda da bissexualidade na internet. — zomba, rindo.
Eu ri novamente.
— Você é podre, sabia?
Edgar sorriu — Você sabe como são adolescentes. Eles são curiosos.
— Uau. Não sabia que estava diante de um homem maduro e quase psicólogo juvenil. — era a minha vez de zombar.
— Você é insuportável, sabia?
— E você gosta.
— E aí?
— Não vai rolar, Edgar.
Ele revirou os olhos — Ah, fala sério! O que é? Papai não deixa?
— Isso também. — respondi com um sorriso sarcástico — Não te contei que sou a filhinha preferida do papai.
— Você é filha única, Cassie. — ele revirou os olhos.
— Não mais. — dei de ombros — Você sabe, meu pai arrumou uma mulher com um filho... E você sabe parte dois, que também não confio em você. Nem te conheço direito.
Edgar franziu a testa — Acha que sou o que? Um tarado da internet? — sugeriu incrédulo — Está com medo de mim, Cassie?
— Poderia ser. — falei dando de ombros novamente — Você poderia ser qualquer coisa, um maníaco, um assassino em série...
— Ou só eu. — respondeu Edgar com um sorriso amável — Tipo, só o Edgar que você conheceu no Facebook. — ele ajeitou o cabelo — Qual é Cassie? A gente já se fala por webcam o tempo todo. É sério que ainda tem dúvidas sobre mim?
Respirei fundo — Ok, até acredito que você não seja fake, mas nunca se sabe. Não vou acreditar em tudo que você disser. — dei de ombros — E tem outra, o meu pai jamais me deixaria sair pra festa de um cara que conheci na internet.
Edgar bufou — Sabe o que eu acho?
— O que?
— Que você é a fake na verdade. Vive inventando desculpas para não se encontrar comigo. — Edgar apontou para mim me fazendo sorrir.
Estava tentando virar o jogo.
— Tá, pede uma prova. — falei.
— Mostra os peitos. — disse Edgar com um sorriso de canto.
— Vai se foder, Edgar.
Ele riu alto — Calma, que estressadinha, hein. Preciso pensar...
De repente a porta do meu quarto se abriu. Era Enzo.
Fechei a conversa de vídeo e peguei o celular digitando uma mensagem no whatsapp enquanto ele estava entrando.
Cassie: Depois a gente se fala.
Ed: Qual foi Cassie ? Tem vergonha de mim?
Cassie: ñ, só zelo pela minha privacidade.
Ed: Ahã, sei. Quem era? Seu namorado?
Eu abri um sorriso com o questionamento.
Cassie: Que isso? Ciúmes?
Ed: Me poupe, Cassie .
Cassie: É o príncipe da vara de família. Filho da noiva do meu pai.
Ed: Ah, lembro. É com ele que está dividindo o quarto. Cuidado em, ele pode ser algum pervertido
Cassie: Kkkkkk, nada a ver. Cada um fica no seu canto.
Vou sair tá. Beijos e tente sonhar menos comigo, tá? Não consigo dormir direito.
Ed: Hahahaha! Só que não. Vaza, e não tenha sonhos eróticos comigo. S2
Eu desliguei meu notebook e fui para a minha cama.
— Cadê a minha mãe?— perguntou Enzo me encarando, e jogando a mochila na cama.
— Foi comprar algumas coisas para o jardim.
Ele assentiu.
— E aí? Como foi lá, com o meu pai?
— Rodolfo resolveu tudo. Amanhã vamos voltar para continuar.
— Vamos? — Questionei.
Ele assentiu com um sorriso.
— Tava falando com quem? — perguntou apontando para o computador e me fazendo crispar o rosto em uma expressão de incredulidade enquanto o encarava.
— Não é da sua conta.
— Olha, Cassie. — começou se aproximando da minha cama — Pelo que eu sei, o assassino é um maluco da internet. — ele apontou para o meu notebook — Tudo começa por aí, e você tem ficado bastante tempo no computador. Cuidado, ele é um cara perigoso! Ele seduz, cria um relacionamento virtual, depois leva para vida real e depois de abusar... Ele mata.
— Eu sei me cuidar! Não sou nenhuma tonta! — disse impaciente e ofendida. Como se eu Cassie Andrade fosse ser manipulada.
— Só tô avisando — Ele caminhou de volta até a sua cama e começou a tirar o tênis — O cara abusa das meninas, Cassie! Ele estupra e até espanca antes de matar.
— Obrigada pelo aviso, maninho, mas eu sei me cuidar. — respondi e então um rugido em forma de meu nome ecoou pela casa.
— CASSIANA!
Troquei os olhares assustados com Enzo, mas logo ele voltou a sorrir, percebendo que provavelmente era a minha vez de está ferrada.
Eu saí do quarto correndo em direção ao grito que vinha do quarto do meu pai, Enzo estava logo atrás.
Meu pai estava segurando um sapato social, que até onde me lembro era novo e agora estava destruído e com o Draco na outra ponta, pendurado, rugindo.
— Draco! — corri pegando meu filhote que estava pendurado, ainda não satisfeito em destruir o sapato do meu pai e provavelmente a minha vida.
Meu pai me fuzilava com os olhos e com uma expressão muito conhecida por mim de querer me matar.
— De-quem-é-esse-bicho? — perguntou pausadamente entre os dentes.
— Meu. — Respondi — Quero dizer, nosso. Agora temos um cachorro. — abri um sorriso, olhando sua reação ao dar a noticia.
— Cassiana, não é assim que a banda toca... — disse balançando o sapato destruído e babado — Você não pode simplesmente trazer um cachorro para casa sem consultar a mim ou a Verônica.
— Eu o salvei de um acidente e deixar ele sozinho na rua seria em vão. — deixei a minha voz manhosa para tentar amolecer seu coração, e então me lembrei que recebi o aval da rainha — E a Verônica já deixou.
Meu pai ergueu as sobrancelhas surpreso — Deixou é? — ele soltou um longo suspiro — Desde que ele fique longe dos meus sapatos e móveis e qualquer outra coisa de valor!
Eu saltei em cima do meu pai o fazendo cair na cama e enchei o seu rosto de beijos. Draco pulou na cama também querendo participar, todo serelepe, como se entender.
— A gente te ama, sabia? — levantei Draco até o rosto do meu pai. — Dá beijo no vovô! — Draco lambeu o rosto do meu pai que reprovou a ação.
— Cassie!
Eu ri, e fui saltitante colocar o Draco na cerca.
Depositei Draco em seu espaço temporário com um sorriso.
— Parabéns, Draco. Você é oficialmente um Andrade agora.
Meu celular vibrou no bolso da calça e eu saquei para verificar. Havia recebido mensagem no Whatsapp
Edgar: Estava pensando aqui, mas fácil vc mandar um nude.
Revirei os olhos.
Eu: me poupe!
Edgar: kkkkk. Não faço ideia do que pedir, sério. Plaquinha é tão Orkut e pode ser manipulada
Eu: Affffff. Escrevo uma na hora pra vc
Edgar: Tudo bem.
Eu: Ok.
Edgar: Depois da faculdade, amanhã. Beleza?
Eu: blz
Edgar: me responde direito, porra
Eu: kkkkkkkkkk, calma amor <3
o que eu vou ganhar?
Edgar: faço o mesmo...
Eu: blz
Já estava voltando para dentro após enfiar o celular no bolso quando ouvi a rainha chamar o meu nome.
Rangi os dentes e praguejei mentalmente antes de me virar para atender o seu chamado. Me virei e a encontrei atravessando o portão, estava cheia de sacolas de uma loja verde que eu não conhecia e com um grande sorriso no rosto.
— Podemos começar o trabalho. — falou empolgada caminhando até o jardim — Vem querida.
— Droga! — resmunguei a seguindo.
• • •
E N Z O T E I X E I R A
Depois do projeto em crescimento de pessoa escapar da bronca, desci para pegar um lanche, algo para beliscar, tipo um biscoito e voltar para o quarto. No caminho vi Rodolfo entrar no seu quarto novamente após jogar os sapatos destruídos pelo cachorro no lixo.
Olhei para a porta do meu quarto, estava aberta e Cassie não estava lá.
Lembrei dela no notebook, incontáveis vezes durante a semana.
Toda misteriosa, sempre fechando o notebook ou interrompendo a conversa quando me aproximava.
Respirei fundo e caminhei em direção ao quarto do Rodolfo e agora da minha mãe também.
— Rodolfo? — chamei com cuidado, entrando no quarto.
— Oi. — ele deu uma rápida olhada na minha direção. Estava guardando sua arma numa gaveta à chave.
— Queria falar uma coisa... — comecei lentamente — Sobre a Cassie...
— Outra briga? Parece que são irmãos desde a maternidade! — falou se sentando na cama com um pequeno sorriso.
— É mais sério que isso.
A atenção dele se concentrou em mim, completamente.
— Se é tão sério assim, é melhor parar de rodeios e ir direto ao assunto. — falou me encarando seriamente.
Respirei fundo e dei alguns passos para frente, entrando totalmente no quarto e fechei a porta atrás de mim.
— Olha, eu não quero bancar o X9 nem nada do tipo. A minha convivência com a Cassie não é das melhores, mas se ela souber que fui eu que contei, vai ser impossível. Não sei se percebeu, mas a sua filha é meio explosiva...
— Enzo... — repreendeu Rodolfo para que eu fosse logo ao ponto.
E eu realmente estava enrolando, mas se ela souber, a confiança em mim vai ser reduzido a pó, isso é, se existe alguma confiança que ela possa ter depositado em mim.
— Sério, eu preciso que garanta que vai parecer que eu não tive nada a ver com isso. — pedi — Se estiver acontecendo o que eu realmente acho que está acontecendo, vou precisar muito que ela confie em mim. Me veja como um amigo. Como um irmão.
— Sou detetive, sei fazer com que tudo saia do jeito que eu quero.
— Ok. Bem, ela tem conversado bastante com alguém da internet durante as madrugadas e depois da aula, bem quase todos os dias. E sempre que eu chego ela fecha a conversa ou para de conversar de repente...
Rodolfo abriu um sorriso, aliviado. — Ah! Acho que está falando dos amigos dela que foram estudar em outros estados.
Eu neguei balançando a cabeça — Não, uma vez o ouvi convidando ela para o aterro do flamengo.
Rodolfo já estava se levantando, eu entrei na sua frente, bloqueando a passagem.
— Sutileza. — lembrei ainda bloqueando o caminho — Ela não pode desconfiar.
Ele bufou, recuando e sentou na cama novamente em movimentos lentos e respirando fundo — Acha que ele seria burro o bastante para atacar a minha filha?
— Talvez ele não saiba quem está atacando.
— Preciso pegar o notebook dela... — falou juntando as mãos — Preciso ter certeza se a minha filha está conversando com um assassino em série.
— Vamos descobrir. — falei — Amanhã eu ajudo a pensar em algo. Enquanto isso eu fico de olho.
— Depois de me contar isso, quer que eu espere? O assassino em série está tentando atrair a minha filha para sua armadilha e você quer que eu espere? — questionou Rodolfo irritado elevando a voz, ao me encarar.
Abri a porta e verifiquei o corredor, estava vazio.
— E se você for lá para gritar e brigar com ela, ela vai te contrariar e vai ser atraída por ele mais rápido. — disse o encarando — É preciso ter paciência.
— Eu devia ir lá e arrancar dela tudo que dê acesso a essa maldita internet! — bufou Rodolfo.
— Shhhh! Para de gritar. — Olhei corredor novamente — Você é um investigador e essa profissão requer paciência e você não me parece paciente.
— Tudo bem, Enzo, mas amanhã eu confisco tudo. Com ou sem plano. — sentenciou erguendo o dedo — Esse vagabundo não vai fazer mais nenhuma vítima!
Depois da conversa difícil com Rodolfo fui deitar. Cassie não estava no quarto, olhei pela janela e a encontrei arrumando o jardim com a minha mãe. O que imediatamente me deu uma ideia.
Tranquei a porta do e fui para o notebook dela, estava hibernando e bloqueado com senha. Tentei todas as senhas óbvias, número de celular, número de telefone, data de nascimento, mano tentei até o número da besta e nada. E então cliquei na dica:
"Frase"
— Frase? Vai se ferrar Cassie! — praguejei olhando em volta, vi um guarda lápis com alguns marcadores e olhei na direção dos livros e peguei alguns para folhear.
Ela grifava algumas frases como:
"Perdoar não significa esquecer, significa soltar a garganta da outra pessoa" de William P. Young.
"Duas pessoas só podem manter um segredo se uma delas estiver morta". (Alison)... Pretty Little Liars.
Que frases sombrias.
E seriam frases muito longas para ser uma senha e tinha muitos livros, isso levaria tempo demais. Olhei as gavetas em busca de um papel com senha, pra caso se esqueça e então achei um caderno de anotações. Encontrei uma de autores que nunca ouvi falar um tal de Harlan Coben, James Patterson, John Boyne. Continuei folheando em busca da famigerada senha ou qualquer coisa que me levasse até ela.
Encontrei outras frases grifadas de azul.
Tentei digitar no computador e nada.
Desistindo do caderno avistei um book que estava fora de ordem cronológica criando uma certa numeração.Era os únicos livros que não estavam organizados na organizada prateleira de Cassie.Tentei o número e consegui entrar no usuário dela. A dica da frase era para despistar.
Que vaca.
— Acho que deveria mudar de curso. — disse pra mim mesmo com um sorriso, era mesmo um ótimo detetive.
As redes sociais dela estavam abertas, tratei de ficar off-line rapidamente e abri a janela da última conversa que ela teve.
Li rapidamente as últimas mensagens.
Cassie: Depois a gente se fala.
Edgar: Qual foi Cassie ? Tem vergonha de mim?
Cassie: ñ, só zelo pela minha privacidade.
Edgar: Ahã, sei. Quem era? Seu namorado?
Cassie: Que isso? Ciúmes?
Edgar: Me poupe, Cassie .
Cassie: É o príncipe da vara de família. Filho da noiva do meu pai.
— Príncipe da vara de família? — resmunguei.
Edgar: Ah, lembro. É com ele que está dividindo o quarto. Cuidado em, ele pode ser algum pervertido
— Que desgraçado cínico! Vamos te desmascarar seu pervertido!
Cassie: Kkkkkk, nada a ver. Cada um fica no seu canto.
Vou sair tá. Beijos e tente sonhar menos comigo, tá? Não consigo dormir direito.
Edgar: Hahahaha! Só que não. Vaza, e não tenha sonhos eróticos comigo. S2
Sai do Skype e fui para o Facebook.
A página carregou rapidamente o perfil do Facebook de Cassie, procurando pelo assassino. Digitei Edgar e reconheci a foto de perfil pela foto do Skype.
Edgar Ferrari
Cliquei no perfil e dei uma olhada:
Nome: Edgar Ferrari
Status de relacionamento: Solteiro
Local: Rio de Janeiro
Ele tinha várias fotos marcadas com amigos no Aterro do Flamengo.
Não parecia um perfil de um assassino, mas quem parece?
Olhei as conversas.
Edgar: Oi Detetive.
Cassie: Oi Arquiteto kkk. Tudo bm?
Edgar: Não. Estou enlouquecendo com tantos trabalhos. Acredita que a professora de Topografia não quis dá 0,2 pontos que faltava? Tenho que fazer um trabalho extra. Tipo vou precisar da sua ajuda para destruir as provas do crime e sumir com o corpo dela.
Cassie: Eu estudo para solucionar crimes. Você acaba de me dar uma confissão.
Edgar: Por isso mesmo. Se você solucionar pelos furos do criminoso sabe o que não fazer para não ser pego.
Cassie: Que mente maligna Senhor Ferrari. Devo ficar de olho em você?
Edgar: Ah, com certeza ;)
Que conversa estranha para se ter com uma paquera.
Recebi uma notificação, eles estavam conversando em tempo real no Facebook.
Cassie: E ai?
Edgar: Opa, tudo em cima gata?
Cassie: Sempre e ai?
Edgar: Melhor agora.
Cassie: Ah, deixa de conversa! O que tem feito?
Edgar: Estudando, estudando e me matando de estudar. Enfim, mudando de assunto...
Cassie: Diga.
Edgar: Quando vamos nos ver senhorita Fake?
Cassie: E por que você não vem aqui?
Edgar: Vamos marcar um cinema. Você paga.
Cassie: Kkkkkkkkk. Que cara de pau. Você me convida e eu pago?
Edgar: Alguém tem que dar o primeiro passo.
Cassie: Vou pensar, tá?
Edgar: Vai pedir para o papai?
Cassie: De onde mais eu vou tirar dinheiro? U.U
Edgar: Eu pago, ue. Eu trabalho. Te busco de moto.
Cassie: Mais devagar, Edgar...
Edgar: Porra, mais devagar só parando. A gente conversa há muito tempo, mas tudo bem, Cassie. Você não quer não é?
Cassie: Não, não faz isso, Edgar. Você sabe que não é assim.
Edgar: Ah é? Não te entendo. Eu sei que você é você mesma, e você sabe que eu sou eu. A gente mora perto, o shopping é um ponto de encontro muito seguro. Só não vai quem não quer.
Cassie: Os vingadores.
Edgar: O que?
Cassie: Os vingadores, o novo filme. Vamos ver.
Edgar: Semana que vem? Fazer o que né. Só não vai ficar igual uma retardada igual fica na sua linha do tempo.
Cassie: Estou doida para dar uns cascudos nessa cabeleira loira!
Edgar: Se comporte! Assim não vou deixar você me beijar no primeiro encontro u.u
Cassie: Hahahahahahahahahahahaha hahahahahahahahahahahaha! Ufa, nossa você realmente não tem limites!
Edgar: Veja quanta insolência.
Cassie: Hãn, para. Daqui de longe tô vendo o seu sorrisão que dá para ver de costas.
Edgar: Ah, é? Daqui tô escutando o seu coração batendo forte, já emocionada antes de me ver em carne e osso.
Cassie: Sua imaginação é incrível! Poderia fazer algo produtivo e parar de fantasiar comigo.
Edgar: Você nem imagina as minhas fantasias.
Cassie: :oooooooo ai meu Deus. Socorro. Que medo de você.
Edgar: Ridícula. Poluída. Nem sabe do que tô falando aff. Vai lá ler os seus 50 tons de cinza.
Cassie: Me respeite. O único romance que entra na minha estante é policial e de terror.
Edgar: Sei. Sei. Preciso sair Cassie. Posso te ligar amanhã, mais tarde?
Cassie: Claro!
Edgar: Beijos e me ame menos.
Cassie: Bjo, pessoa que me ama, me adora e me acha foda. S2
Edgar ficou offline.
Merda, Cassie estava marcando um cinema com o provável assassino de Daniela.
Fechei e deixei tudo como estava antes da Cassie voltar e me flagrar e fui para o meu computador.
Ela chegou poucos minutos depois sem desconfiar de nada.
Cassie foi em direção ao armário, enquanto cantarolava me adora da Pitty em voz baixa e escolhia um pijama.
Com as roupas selecionadas, ela pegou uma toalha preta e entrou para o banheiro.
Estava me sentindo um espião.
• • •
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