A PERSEGUIÇÃO
E N Z O T E I X E I R A
Saímos da faculdade às pressas, juntando nossas coisas e seguimos as instruções da equipe de Rodolfo, já que o próprio saiu correndo, na frente atrás do suspeito, que estava fugindo. Nós dois descemos os lances de escada correndo, na maior velocidade que podíamos ao sermos apressados pelo Wallace, que gritava para sermos mais rápidos.
Melissa estava com um aparelho de rastreamento em uma mão, um tipo de radar — que eu não fazia ideia de onde ela tinha tirado — e na outra o telefone.
— Está falando com quem? — perguntou Wallace aos no ver, chegando esbaforidos pela corrida, ele estava encarando a Melissa, que estava com o aparelho celular no ouvido.
— Um amigo meu está mantendo o rastreamento via satélite com câmeras e tudo mais, agora ele vai dizer a localização mais recente do Stalker! — respondeu ao pousar o celular no peito, ela estava ofegante, vermelha, recuperando o fôlego, assim como eu.
Chegamos ao topo da passarela, onde Rodolfo chegou primeiro, ao tentar alcançar o nosso suspeito, Melissa repetiu o que tinha dito a Wallace há poucos minutos para ele.
— Ótimo trabalho, Melissa. — disse Rodolfo, satisfeito com sua garota prodígio. — Já tem a informação?
Ela pediu um minuto sinalizando com o dedo, parecia estar prestando atenção na pessoa que falava com ela pelo celular, depois de alguns minutos ela terminou a ligação.
— Ele está na estação, E tem um trem que está chegando em dois minutos!
E sem nenhum aviso, Rodolfo e Wallace dispararam descendo a passarela em direção a estação, pisquei confuso, sem reação e Melissa me puxou pelo braço e descemos correndo, seguindo a dupla de policiais experientes.
Rodolfo estava correndo em uma velocidade incrível para um homem da sua idade, quase não conseguimos o acompanhar, Melissa e eu acabamos ficando um pouco para trás. Acho que não corria assim desde a escola.
Rodolfo e Wallace pularam a catraca, e antes que os guardas da Supervia pudessem atrapalhar ,Wallace mostrou o distintivo, os funcionários abriram caminho rapidamente para eles ao identificar que eram da polícia.
Melissa e eu chegamos logo depois, ajudei ela a pular e pulei em seguida, quando um funcionário já veio nos abordar e ela mostrou sua carteira de identificação da polícia civil, disse que eu estava com ela e fomos liberados também.
Corremos procurando Rodolfo e Wallace, que estavam caminhando pela plataforma em busca do suspeito que estava camuflado entre os passageiros, que já se preparavam para embarcar no trem que acabou de chegar.
— Ele está embarcando no trem! — disse gritou com o tablet na mão, avisando a Rodolfo e Wallace que estavam um pouco longe da gente, mas ouviram e embarcaram no vagão a frente.
Melissa e eu também entramos no vagão mais próximo.
Conseguimos entrar no trem esbarrando com algumas pessoas que também estavam correndo para não perder o transporte.
O trem estava cheio, mas ainda era possível caminhar dentro dele e entre os vagões.
Avistamos Rodolfo e Wallace e caminhamos em sua direção, eles estava a uns dois vagões na nossa frente.
— Ele está no primeiro vagão. — Informou Melissa com a face vermelha e suada. Na sua mão a tela do tablet mostrava um trem de oito vagões e um ponto vermelho indicava o nosso alvo, um azul indicava a nossa localização. Estávamos a seis vagões do Stalker, segundo as explicações dela.
— Vocês dois fiquem aqui. — Rodolfo apontou a Melissa para mim. E não usou seu tom de pedido. Era uma ordem.
Ele e o Wallace correram na frente atravessando os vagões, sem esperar nossa resposta, passando com dificuldade entre os passageiros.
— Até parece! — Melissa revirou os olhos e começou a correr atrás deles, pedindo licença às pessoas que estavam no caminho.
— Isso vai dar treta. — disse a alcançando e sendo ignorado por ela.
Chegamos no quarto vagão, onde não tinha mais a ligação. Era preciso esperar a próxima estação para trocar de vagão.
Quando o trem parou, nós trocamos de estação e continuamos correndo em direção ao primeiro vagão.
Chegando lá, encontramos Rodolfo e Wallace parados no centro do vagão olhando para todos os lados, estavam procurando o suspeito, mas não havia ninguém dentro das descrições ali dentro.
Melissa foi até eles, sua camisa estava colada no corpo pelo suor. Ela havia enrolado os cabelos e os prendeu em um bolo de cabelo desfiado, cujo alguns fios estavam grudados no seu rosto e pescoço suado.
Eu não estava lá muito diferente, o suor escorria pelo meu rosto, apesar do trem ser refrigerado, não senti efeito algum do ar-condicionado.
Quando Rodolfo nos viu no vagão, ele fez uma careta de reprovação.
— O que eu disse pra vocês? — questionou em tom autoritário.
Melissa ergueu o tablet — Precisa disso, lembra? — Isso fez Rodolfo se calar. Segurando o tablet com as duas mãos ela caminhou lentamente pelo vagão, como alguém procurando sinal. Como ela estava com os braços esticados, podíamos ver o ponto vermelho se destacando e piscando cada vez mais forte e mais rápido.
— Ele desceu na última estação. Não está mais aqui. — Wallace deduziu, ao não encontrar o suspeito aqui dentro.
Melissa continuou procurando, fazendo Rodolfo e Wallace terem uma breve troca de olhares confusos. Ela chegou perto dos passageiros, os fazendo franzir o cenho em confusão, assim como eu, mas logo entendemos. O sinal continuava enlouquecido quando passou perto da janela, havia quatro pessoas, duas mulheres sentadas e dois idosos, perto dali, um garoto e duas mulheres encostadas à porta.
— Não estou entendendo... — Melissa expressou uma careta confusa, as pessoas a olhavam curiosas. Se afastando um pouco ela sacou o celular e fez uma ligação.
— Raul, o que está acontecendo? O sinal está forte, mas ele não está aqui. — ela ouviu em silêncio e depois balançou a cabeça — Não está não... Raul. Eu estou vendo com os meus próprios olhos! — balançou a cabeça novamente — Ok, faça isso.
Rodolfo, Wallace e eu estávamos olhando para ela, completamente confusos, tentando entender o que estava acontecendo.
Algumas pessoas curiosas que estavam prestando atenção na gente, também estavam atentas, querendo entender a situação.
— Mel? — Chamou Rodolfo com um tom calmo, mas a festa franzida e expressão interrogativa, esperando que ela se explicasse.
Mel — gostei desse apelido, ele nos poupa alguns segundos, e isso indicava um grau de intimidade entre eles, o que significava que ela já trabalhava com ele há algum tempo. O que também explica, a confiança que ela tem para desobedecer o chefe — fez um sinal para ele esperar e então um celular tocou no vagão deixando a garota prodígio atenta.
Ela abriu um grande sorriso e caminhou lentamente seguindo o som do aparelho que estava tocando.
Vinha do celular de um garoto que vendia doces no trem, ele devia ter mais ou menos uns 12 anos. Era o menino que estava encostado na porta ao lado de duas mulheres .O garoto atendeu com naturalidade levando o celular à orelha.
Rapidamente entendendo, Rodolfo avançou parando Melissa no meio do caminho, segurando seu braço, antes que ela pudesse chegar no garoto.
— Seu trabalho já acabou aqui. É comigo agora.
Melissa parou e se virou na direção de Rodolfo o encarando.
Eles pareciam ser bem próximos.
— Deixa eu falar com ele. — pediu o olhando nos olhos — Por favor.
— Esse não é o seu trabalho.
— E ele não é o Stalker. — respondeu no mesmo tom ríspido, mas logo amansou — É um menino. Uma criança. Foi usado como distração pra gente.
Rodolfo respirou fundo. Sua raiva acumulada durante a perseguição parecia se esvair com as palavras de Melissa. Ela estava certa.
— Eu sei disso. — fez uma pausa, respirando fundo, parecendo mais calmo — Mas talvez ele o conheça...
— Você vai assustar ele. Está com sangue nos olhos. — Melissa tirou o cabelo que grudou no seu rosto e passou para trás da orelha. — Eu posso conseguir mais informações do que você e o Wallace.
Wallace se aproximou deles, ouvindo a conversa — Mel... — fez uma pausa, talvez procurando as palavras — É perigoso, ele pode trabalhar para o Stalker Como você disse, ele usou ele para nos despistar. Ele pode está armado e a mando do Stalker, esperando para atacar algum policial. Viu o que ele fez na faculdade. Isso não é pra você. Escuta o Rodolfo e deixa que a gente cuida disso.
Melissa tocou no distintivo pendurado no peito dele por um cordão — Isso assusta. — depois apontou para Rodolfo — E a cara de mau do chefe também assusta. É só um menino gente. Mesmo sendo usado pelo Stalker, continua sendo um menino.Ele não tem culpa, com certeza nem teve escolha.
Estávamos encostados em uma das portas, tendo essa pequena reunião, que já durava alguns minutos. Melissa pelo visto era teimosa e não iria dar o braço a torcer, assim como Rodolfo. Isso poderia durar muito tempo, então resolvi me meter também entrando no meio deles.
Eu abracei os ombros delas, atraindo seus olhos e fazendo ela franzir o cenho me encarando. — Escutem, ela é muito persuasiva. Vocês tinham que ter visto ela com os amigos da Ana Clara. Se a Mel não tivesse usado esse dom de lidar com as pessoas, persuadi-las a responder suas perguntas, nós nunca teríamos conseguido pegar os pertences da vítima, e ter chegado até aqui.
Deixa ela trabalhar. Eu sei que a nossa garota prodígio vai conseguir. E nós estamos bem pertinho. Não vamos deixar nada acontecer, né?
Melissa estava com um grande sorriso e me abraçou de volta agradecendo.
Depois do que Melissa fez ao conversar com os amigos de Clara, eu realmente fiquei muito impressionado. Estava falando sério quando disse que Rodolfo deveria ter visto ela em campo. Ela tem um dom natural para se comunicar, agradar as pessoas a sua volta e fazer com que falem, claro que seu rostinho bonito e carisma também ajudam muito.
Ela me lançou um belo sorriso de agradecimento. Esqueci de mencionar que seu sorriso também era uma arma, eu já estava sorrindo de volta.
— Confiem em mim. — Melissa pediu novamente — Por favor.
Rodolfo soltou um suspiro, finalmente cedendo — Vamos ficar de olho e bem perto.
Melissa assentiu animada, agradecendo.
Rodolfo ficou a uma porta de distância, Wallace e eu o seguimos, ficando observando atentos a Melissa caminhar até o menino. Foi se aproximando com cuidado para não assustá-lo. Ela se inclinou perto dele ficando na sua altura e analisou os pacotes de balas, como uma cliente interessada na mercadoria. Sorri observando ela , eu adorava essa criatividade dela, sabia como instigar a pessoa com quem estava falando. O menino logo ficou atento, na expectativa dela comprar algo.
— Oi! — chamou abrindo um daqueles sorrisos contagiantes.
O menino também sorriu automaticamente ao se deparar com o seu sorriso.
— Quer comprar uma bala moça?
— Quero. — respondeu sem desmanchar o sorriso, parecendo super interessada — O tem pra mim?
O garoto mostrou a diversidade das balas e ela escolheu um Trident de melancia. Entregou uma nota de cinco reais e deixou ele ficar com o troco.
— Quantos anos você tem? — perguntou se encostando a porta ao lado dele como quem não queria nada, abrindo o Trident e levando um chiclete na boca.
— Tenho onze anos, senhora... — respondeu timidamente.
— Que isso senhora? Nem sou tão velha assim. Meu nome é Melissa, pode me chamar de Mel. — falou num tom brincalhão, sorrindo para ele.
O assentiu com um sorrisinho tímido.
— E qual é o seu nome? — perguntou rapidamente para não deixar a conversa morrer ali.
— É Ferrugem...
Melissa riu, achando engraçado de verdade e cobrindo a boca — Isso é nome de verdade?
O garoto não pode deixar de rir junto com ela — É como todo mundo me chama...
— Por causa dessa carinha enferrujada? — brincou apontando suas bochechas cheias de sardas.
Ferrugem tinha os cabelos um pouco grandes demais e estavam emaranhados eram castanhos claros, tinha sardas no rosto e no corpo, apesar da sujeira dava para ver.
Ferrugem apenas deu de ombros, como que concordando com ela,
Melissa mascando o chiclete, fez uma pequena bola e chamou o menino.
— Ferrugem?
O garoto a encarou.
— Eu posso fazer uma pergunta?
Ele deu os ombros de novo.
— Você me conta onde você arrumou esse celular bonito? — perguntou apontando para o aparelho grande demais no pequeno bolso da sua bermuda surrada.
E então, no mesmo segundo, a expressão do menino mudou. Fechando a cara, e os punhos ele a olhou irritado.
— Eu não roubei! — disse agressivo a encarando — Você pensa que eu roubei né? Eu não roubei! Não roubo nada!
A explosão do menino atraiu olhares para eles dois, Rodolfo e Wallace já tinham desencostado da porta, prontos para impedir qualquer movimento suspeito que ele pudesse realizar contra Melissa. Ela piscou surpresa pela reação exagerada do garoto, e como seu jeitinho tentou controlar a situação.
— Calma ferrugem... — disse sorrindo tentando amenizar as coisas — Eu sei que você não roubou. Eu nunca disse isso.
— Ah é? Por que eles estão me encarando como se eu tivesse roubado? — quis saber o menino olhando e apontando em nossa direção.
Melissa não olhou em nossa direção e tão pouco desfez seu sorriso de tudo bem.
— Ninguém está aqui para te acusar Ferrugem. Eu sou sua amiga.
— Eu não te conheço! — disse o menino fechando ainda mais a cara e cruzando os braços.
— É verdade, me desculpa, mas eu quero ser a sua amiga. — tentou consertar mudando seu sorriso de tudo bem para outro sorriso meigo. — Eu só queria um celular igual a esse, achei muito bonito. Não queria te ofender. Eu juro de dedinho. — mostrou o dedo mindinho, conseguindo um pequeno sorriso do garoto.
Melissa sorriu percebendo que a cara fechada estava se desfazendo aos poucos.
— Tudo bem se você não quiser falar, vamos mudar de assunto.
— Um moço me deu, eu vou vender ele. — disse o menino pegando o aparelho e mostrando para ela. Era um iphone de última geração, lançamento do ano.
— Esse moço, será que ele tem mais desses pra vender? — perguntou em um tom inocente.
Ela era realmente boa nisso.
— Deve ser celular falso, moça. Nem presta. — comentou sincero, ele estava analisando o celular, como se medisse o peso na palma da mão.
— Poxa, eu queria tanto falar com ele. Quem sabe conseguir uma promoção... — ela soltou um suspiro desanimado e fez um biquinho engraçado.
— Você pode encontrar ele em um abrigo para os mendigos, lá em Madureira. Eu moro lá em Madureira e vejo ele às vezes.
O rosto de Melissa se iluminou, e ela tentou controlar a sua euforia com essa grande informação.
— Você... conhece esse moço? — perguntou com cuidado.
— Só de vista... — respondeu Ferrugem dando de ombros.
— Você pode me levar lá? — pediu meiga e com jeitinho.
— Não posso não moça. Eu tenho que ir pra minha casa e dar o dinheiro das vendas pro meu pai se não ele briga comigo...
A expressão Melissa mudou na hora, ela meio que fechou a cara ao ouvir tudo, abriu a boca pronta para falar algo, mas fechou a boca, parecendo que mudou de ideia. Seu sorriso contagiante não estava mais no seu rosto, mas o tom amigável e meigo continuava lá.
— Ferrugem, você me vende esse celular?
— Eu tenho que perguntar pro meu pai primeiro e saber por quanto que posso vender. — disse inocentemente.
— Olha, eu te dou 1000 reais por ele e você compra um tênis bem bonito, roupas novas pra você e um lanche bem gostoso no Burguer king ou um Mc lanche feliz... — sugeriu com um pequeno sorriso reparando que ele estava descalço.Seus pés tinha alguns machucados e bolhas de água, provavelmente de pisar no asfalto quente durante o dia todo.
O menino ficou surpreso pela quantidade de dinheiro, mas não deixou de se animar, pensando nas sugestões dela.
— Mil conto? Moça, eu disse que esse celular nem deve prestar... Vai jogar seu dinheiro fora...
— É que eu gostei muito dele. — ela sorriu com a preocupação genuína do garoto com o dinheiro dela, ajeitando o cabelo atrás da orelha, e vendo que e a estação dele chegou, concluiu — Não precisa se preocupar com isso. Vai lá, fala com o seu pai e às seis horas da tarde, você me encontra na estação de madureira, e eu levo o dinheiro e você o celular.
O menino assentiu, estava animado com os planos — Tá bom
Quando o trem parou, Ferrugem soltou, feliz da vida, fazendo Melissa sorrir.
Quando as portas do trem se fecharam e o trem voltou a andar, Rodolfo, Wallace e eu nos aproximamos dela.
— Ouviram? — perguntou animada.
— Sim, mas a gente não precisa do celular. — disse a encarando. — Você disse que ele apaga tudo. Só caímos em uma armadilha.
— Mas ele precisa do dinheiro... — respondeu rapidamente — E quem sabe, ele tenha se descuidado e esquecido algo. Não custa tentar.
— Então o Stalker se mistura com os moradores de rua para se esconder... — Wallace olhou para Rodolfo, esperando sua opinião sobre isso. — É um otimo lugar ppara desaparecer após um assassinato.
— Ele é muito inteligente. Isso não podemos negar. — Mel suspirou nos olhando — Ele armou tudo isso, só para mostrar que está na nossa frente.
— Hoje ele nos fez de palhaços. Sabia que estávamos rastreando e nos fez perseguir desesperadamente, largou o celular em um vagão com uma criança e deixou o trem antes de chegarmos... — começou Rodolfo, sua voz estava carregada de raiva — O filho da puta é ardiloso. Se acha intocável. Temos que provar que ele está muito errado.
— E agora? — quis saber qual seria o nosso próximo passo, o encarando e esperando a resposta.
— Vamos para casa, vocês precisam descansar que mais tarde o dia será longo. —
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