Já se apaixonaram? Reparem que ele pode estar em qualquer lugar.
Estamos em maratona, então até amanhã...
Capítulo dedicado a Mickey-Pou

31/01/2018

Conversamos por uma hora, não rolou mais porque meu notebook ficou sem bateria, e não sei onde enfiei a fonte, e na minha mente tortuosa o celular é pessoal demais, apesar de Carlos ser muito legal, tenho pensado  em passar meu número para ele, mas mesmo sabendo que ele não é um fake, não me sinto preparada para falarmos o dia inteiro.
Eu sei que não faço sentido, sei que conversar com ele é mágico, Carlos preenche um monte de lacunas que eu nem sabia existir, é como se fosse um sonho, como se fosse alguém pensado inteiramente para me agradar. Eu sei como é estranho gostar de alguém, ainda mais no meu caso, sem nunca ter visto essa pessoa, sentido seu cheiro ou olhado no fundo dos seus olhos, mantendo como único contato mensagens através de uma tela fria e vazia, e muitas vezes impessoal. Porém, é como um vício, eu não consigo me desconectar, meu cérebro está cheio de dopamina, há uma pessoa que se encaixa nos meus defeitos, como isso pode ser tratado de maneira indiferente. Estou ligada a ele mesmo sem Internet, porque é como se cada passo meu completasse sua caminhada, como se estivéssemos dispostos na mesma estrada, independente da distância que há entre nós. Ele é um homem lindo e mesmo que não fosse eu ia querer tê-lo ao meu lado, porque ele foi feito para mim.

❤️❤️❤️❤️❤️

01/02/2018

Trocamos telefones, além do senso, perdi o juízo, ele me manda mensagens o dia todo e quando ele não manda eu faço de tudo para chamar a sua atenção. Seja um post besta no Facebook, uma foto impecável de algum trabalho, ou um status que o atinja, Carlos é meu vício, e como qualquer viciada, faço o que for necessário para ter sua atenção, olho sua foto todas as vezes que tenho chance, mesmo tendo salvo a do perfil de seu Facebook como fundo de tela.

***

Roberto leu cada informação, contudo nada apontava a direção de Lígia. Estava tenso. Soltou o diário em cima da mesa onde o processo também estava aberto. Como uma mulher podia se entregar para um homem como aquela morena se entregou? Ainda mais aquele homem que dera problemas desde jovem, a ficha do rapaz era extensa. Aos dezesseis anos entrou em um sistema de um grande banco e desviou milhares de dólares de paraísos fiscais, a fraude foi descoberta, entretanto o dinheiro nunca foi recuperado.
Ele era acostumado a roubar, não foi surpresa roubar o destino daquela jovem um tanto desmiolada.
O que deixava Roberto tenso era a cena de selvageria encontrada no esconderijo dele, o homem não era um criminoso violento, as ações dele não condiziam com a cena do crime. Se é que havia um.

***


PROVA 3: FOTOS DO ESCONDERIJO ONDE O CASAL VIVEU NOS ÚLTIMOS MESES. (PROVA COLHIDA NA PERICIA NO LOCAL EM 16/12/2018)

Roberto espalhou pela mesa quase uma centena de fotos tiradas do esconderijo. Monitores quebrados, marcas de tiro e uma faca suja de sangue. O estranho era o fato de que a polícia conseguiu a pista tardiamente, quando estouraram o suposto cativeiro, parecia que alguém os encontrou antes. Mas quem?
O que este outro perseguidor queria?

02/02/2018

Devo confessar, pelo menos aqui, que estou sim fortemente ligada a Carlos, não definiria como paixão, pois nunca o vi pessoalmente, mas vê-lo on-line, fez acelerar meu coração.

Nunca estive tão próxima a alguém, e sinto que nunca ninguém esteve tão próximo de mim, conversamos a madrugada toda por chamada de voz. Bruna logo chegará, e aí adeus às conversas noturnas. Dona Cida não permite TVs, internet e jogos durante a madrugada.
Terei que me readequar!
Chego à PARTY por volta das dez da manhã, deixo meu carro, um Renault Megane 2015 róseo, meu xodó que mandei trazer direto da Holanda, e pego a van da empresa, reúno uma equipe e vamos para o Boca Loca, um salão de festas esplendoroso. O Caritas será nele, a entrada é de pedras rústicas em tom preto, um caminho de carpete de madeira que lembra um deck nos leva ao seu interior, que é amplo. As paredes são brancas e lisas tem várias iluminações diferentes, a acústica é perfeita. Várias saídas de ar onde pode se soltar aromas de acordo com o tema da festa. Nos fundos uma piscina de fundo verde-água, e um espaço que fica muito bom para uma pista de danças. Quadro de luz, água, internet e Wi-Fi ok. Agora, é só arrumar de acordo com o tema.
Tive a ideia de um baile estilo aos antigos de Veneza, máscaras, vestidos e fraques.
— Lígia o que acha de cortinas de linho escuras? — indaga Amanda minha assistente. — Colocamos prendedores dourados, acho que fica lúdico.
— Sim, frutas numa mesa ao centro, ponche alcoólico, outro apenas com frutas, assim misturamos a Europa ao tropicalismo brasileiro.
— Dona Lígia? — Ouço uma voz extremamente anasalada próxima de mim. — Prazer meu nome é Lucas. Sou um dos fornecedores do baile, cuidarei da parte elétrica e eletrônica.
Olho para o homem que é maior que eu e ainda assim não olha pra mim e sim para o chão.
O tal Lucas usa um boné com aba reta e óculos escuros grandes demais, que lhe escondem o rosto. Ele me estende a mão e ganho um aperto firme.
— Lucas, né? — Ele balança a cabeça em concordância. — Tudo fica no segundo andar. Venha comigo.
Subimos as escadas de mármore branco, aponto onde fica a caixa de força, ele tira da mochila um notebook e uma trena, mede a parede e algumas coisas, o deixo trabalhar e desço pré-estabelecendo cada função. Decido ir a gráfica buscar os convites, assim como a pulseira código de barras, os convites e as pulseiras só foram emitidos após a confirmação previa dos convidados. Tudo vem personalizado com o nome de cada pagante.
Passo na empresa de courrier que fica na Paulista e pago o frete com o cartão da empresa, cada kit será entregue no máximo até amanhã às 11 da manhã. Ufa!
Ligo a van e volto para o salão que já está com a frente decorada. Só falta o tapete vermelho que está em uma câmara fria e só será colocado uma hora e meia antes do horário previsto da chegada dos convidados.
— Dona Lígia? — Escuto a voz fanha atrás de mim assim que entro. — Me acompanhe — ele vai até o centro do salão e pega um controle remoto da bancada e o entrega em minhas mãos. — aperte o verde — a voz dele vacila e não é tão fanha e eu sinto uma estranha sensação familiar.

Obedeço e uma luz verde inunda a sala.

— Cada cor representa uma luz, está vendo os botões quadrados embaixo? Aperte só um.

Aperto como ele diz e uma fumaça começa a invadir o ambiente junto com um cheiro de orvalho, não tem como não se fascinar diante de um ambiente como aquele.

— Parabéns, Lucas.

— Só fiz meu trabalho, nada além do que é necessário.
— Seu trabalho é lindo, conseguiu me encantar.

— Consegui agradar à senhora? — Ele sorri meio de lado. — Isso é uma coisa boa, te ver satisfeita.

Lucas sai agitando os ombros, eu me sento no chão, menos de cinco minutos ele volta e me dá outro controle.

— Dona Lígia, este é para o som enquanto o DJ não chega, coloquei uma playlist animada e outra romântica, desculpe a liberdade, eu ensino como mudar. Ele aperta o play e Tony Braxton canta para não arrebentarem o coração dela, já na outra há músicas pop e funks que me dão vontade de dançar.

— Gostei Lucas, vou olhar todas com carinho, mas se for assim manterei.

— Bem — ele coloca os óculos escuros — eu vou indo, estou um pouco fora do horário. A sua empresa tem o meu cartão, qualquer coisa, defeitos ou dúvidas só entrar em contato.

— Tchau, Lucas, bom trabalho. Se for para casa bom descanso.

— Obrigado dona Lígia, mas, na verdade, hoje à noite pretendo ver minha garota, se ela não trabalhar até tarde, essa semana tive que me esforçar pra vê-la, ela está sempre fazendo hora extra.

— Que bom, Lucas, vai sim. Quando se tem alguém se deve arranjar tempo, a lembre disso — sorrio, tentando entender aquela intimidade sem cabimento.

— Desculpa a intromissão, a senhora é casada ou tem namorado?

— Eu sou apaixonada pelo meu trabalho e casada com ele.

Ele ajusta os óculos, e se aproxima demais, aquilo me trava, Lucas então me analisa  de cima a baixo de uma maneira que me incomodou um pouco, devo confessar, quando penso no que falar para meu espanto, ele saiu.