Capítulo 1
Estamos em maratona, voltamos amanhã, por enquanto num love bomb até vc se apaixonar
Capítulo dedicado a LillianCosta0
04/01/2018
Olhando-me no espelho vejo como estou abatida, meus cachos estão totalmente desgrenhados, parecem uma maçaroca negra, há olheiras circulando meus olhos, e minha boca está visivelmente tensa.
Tenho trabalhado muito, PARTY tem consumido muito do meu tempo e da minha sanidade, não que não ame e muito meu cargo de promotora de eventos, a empresa vem despontando como a maior e mais bem preparada para produção de eventos no Brasil.
Graças a meu bom Deus sou uma das melhores do meu ramo, recebo um salário relativamente alto, porém moro em um pensionato, um dos motivos principais para isso é ter companhia. Sempre tive de dividir o quarto com várias meninas, como qualquer garota que passou grande parte da vida em orfanatos.
Meu salário me colocaria entre as jovens influencers, sou seguida por uma grande parte delas, até estranho entre meus 4 mil seguidores, a maioria tem milhões de seguidores e não são seguidas por mim.
Não reclamo do meu trabalho apesar da futilidade dele em alguns aspectos, isso é vitória, venci por meus esforços, e hoje adulta vejo que tenho uma independência que muitos filhos que tiveram acesso à convivência com pai e mãe não têm.
Ainda assim, moro em um pensionato por não me acostumar a viver sozinha, nestas horas queria uma família bem grande, entretanto, como querer não é poder. Hoje com vinte e sete anos, faltando apenas dois meses para completar vinte e oito, sou um mulher adulta, muito bem resolvida profissionalmente, mas sinto uma mistura de vontade e falta de ter minha família.
Igual as meninas que na época de férias correm do pensionato de Dona Cida para os braços de suas mães. E por não ter mãe, meu maior sonho oculto é ser uma...
Sou solteira e não há sequer um namorado em vista. Acho chique a mulher que é independente, mas quero um pai para meus filhos, um marido para discutir sobre o controle remoto. Quero que meus filhos tenham o que não tive, uma mãe resmungona e coruja, e um pai provedor e careta. Eu sou assim, moderna por fora e antiquada por dentro.
Espanto este pensamento enquanto passo meu hidratante, uma tia do primeiro orfanato que passei, dizia que sou filha de branco com negro, por isso minha pele fica acinzentada se não hidratar, mas na realidade não faço ideia se tenho pais, apenas sei que fui entregue ali para viver a míngua, sem pais adotivos, com uma infância de sonhos não realizados.
E só depois de adulta que eu posso alimentar essa pequena Lígia tão amargurada que mora em meu peito, essa minha criança interior tão revoltada com a vida.
É por isso o meu esforço no trabalho, o que tem me rendido lucros significativos e uma conta bancária consistente, sou uma das Top promoters da PARTY, e este ano serei responsável pelo baile de máscaras beneficente Caritas, promovido por um sertanejo riquíssimo e influente, uma festa de Vips exceto pelos funcionários e voluntários.
E foi aquele cansaço que me levou para onde a vida desejava me arrastar, a preguiça de sair, me fez entrar no Facebook, e o ranço com a vida me deu vontade de mudar tudo, excluindo assim todos os álbuns de fotografia velhas, capa e perfil. Na capa coloco uma foto minha, não tenho esse hábito, mas Bruna tirou uma tão perfeita de quando eu estava maquiada para o réveillon e usava um vestido prata que modéstia a parte, me caiu muito bem, se não fosse tão festivo iria usá-lo muitas e muitas vezes. A foto pegou um ângulo perfeito, eu quase de lado, mostrando minha cintura, os cabelos escovados caiam lisos pelos meus ombros. O delineador me dava um olhar misterioso e o batom rosa casava perfeitamente com tudo, coloquei a foto. No perfil postei uma com a mão no rosto, unhas perfeitamente manicuradas.
Abro algumas fotos da ilha bela, onde passei a semana entre o natal e o ano novo. E como se o destino pegasse no tranco, aquilo me de um deixou até mais animada.
***
DEPOIMENTO DE ANTÔNIO LOPES CD ROOM N¹7643
TRECHO DO DEPOIMENTO DE ANTÔNIO LOPES — DEPOIMENTO COLHIDO 26/12/2018
***
Antônio era um rapaz magro de olhos aflitos, a pele era de um tom amarelado usava o cabelo muito curto, parecia muito nervoso ao ser inquirido por dois policiais.
— Eu não imaginava que ele fosse curtir Lígia por uma foto.
— Curtir?— indagou um PM de estatura avantajada.
— Gostar. Realmente eu notei que ele ficou empolgado quando viu o perfil, no entanto como eu ia saber que uma ficada ia virar uma merda deste tamanho?
— Antônio, você quer dizer que viu um estelionatário a fim de uma garota órfã e bem-sucedida, praticamente sozinha no mundo e não achou que ele fosse lhe causar nenhum mal?
— Carlos. Eu o conheço como Carlos e não consigo chamá-lo pelo nome que está circulando pelas mídias. Ele era trapaceiro, mas era uma boa pessoa.
— Como você o conheceu? O seu amigo Carlos, esse bandido de bom coração?
Antônio olhou para a advogada loira que lhe fez um aceno de positivo com a cabeça.
— Eu precisava de documentos falsos, fui deportado há alguns anos por entrar irregularmente nos Estados Unidos. Queria ver minha ex-namorada que ficou por lá, nada demais.
— Sim, claro, e esse bom homem sem maldade nenhuma conseguiu te arrumar um visto mesmo você sendo um deportado? — o policial disse ironicamente.
***
25/01/2018
Perdi o juízo, é isso.
Mais um pouco serei igual aquelas mulheres que dão a aposentadoria para algum fake na Internet.
Estou aliviada por ser feriado em São Paulo, passei a noite conversando no Messenger, isso mesmo com um desconhecido!
Ele me adicionou, depois que começamos uma conversa em um grupo de promotores de eventos, ele mora em Curitiba, porque é assim que funciona na internet: quanto mais legal for a pessoa que você conhece online, maior será a distância que ela mora.
Mas Carlos é gostoso, e trabalha no mesmo ramo que eu, solteiro, gostoso e me entende. Rimos a maior parte do tempo. Um homem solteiro com mais de 30, bem humorado, é raro!
Somos da mesma cor, mas os olhos castanhos dele ao contrário dos meus, são bem claros, a pele tem o mesmo tom de café com leite, a foto de perfil dele é linda. Está parado na frente de uma parede branca com as mãos cruzadas sobre o peito com uma expressão de poucos amigos.
E apesar de conversarmos por horas, acordei de olho no Messenger, vai que ele me chama, e apesar dos meus olhos estarem fixos na tela, já faz duas horas e ele não ficou online.
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