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— Seu idiota filho da puta! — Xiao grita abruptamente enquanto empurra Xuxi — o que você estava pensando? Você poderia ter matado todos nós!
— Se ele não tivesse distraído aquela coisa, eu teria morrido! — Jeno se opõe.
— Você age como se eu não tivesse um plano — Xiao rosna.
— Oh, sério? O que foi? Deixar o monstro me comer no lanche da manhã? — Ironizou.
— Vocês dois! Parem! — Xuxi berra, silenciando os dois — Superem-se desta vez ou todos iremos morrer aqui. É o que vocês querem?
O silêncio se segue enquanto Xuxi os encara. Jeno mastiga irritado a parte de dentro da bochecha, se recusando a falar enquanto Xiao franze os lábios e olha para longe.
— Xiao, você quer deixar de existir e desistir do lugar no Inferno que você estava morrendo de vontade de ter? — Xuxi questiona duramente.
— Não — Xiao resmunga.
— E Jeno, você quer que Jaemin sofra nas mãos de seu pai? — Xuxi continua: — Você quer perdê-lo?
— Não… — Jeno murmura.
— Então vocês dois precisam se recompor e começar a trabalhar em equipe. Há tempo para brigar e ameaçar um ao outro na terra, mas aqui... não temos o luxo de tempo ou espaço para erros — Xuxi manda.
Jeno solta um suspiro profundo. Xuxi estava certo. Era crucial que tivessem sucesso. Muita coisa dependia deles para obter a magia da luz e retornar vivos à Terra. O fracasso não era uma opção.
— Então... onde estamos? — Jeno resmunga.
— O caminho das boas intenções — Xiao responde de uma maneira muito mais calma.
— O que? — Jeno questiona confuso.
— Não se deixe enganar pelo nome — afirma Xiao — Você conhece o ditado 'a estrada para o Inferno está pavimentada com boas intenções'?
— Sim? O que tem? — Jeno responde.
— Esta é aquela estrada... no sentido literal — explica Xiao — Precisamos seguir esta estrada de paralelepípedos de merda até chegarmos ao fim.
— Deixe-me adivinhar, não é tão simples? — Jeno suspira.
— Bingo — Xiao confirma.
— Então, contra o que estamos lutando? — Xuxi murmura.
— Ou o seu maior arrependimento ou o seu desejo mais desejado. É uma espécie de cara ou coroa dependendo da pessoa. Ouvi dizer que às vezes pode ser os dois — Xiao responde enquanto olha em volta.
— Bem, foda-se — Jeno geme — Quanto tempo temos até que isso aconteça para nós?
— Sinceramente. Acho que um já está aqui… — Xiao murmura enquanto escuta atentamente e continua a olhar ao redor — Precisamos ir. Faça o que fizer, não se envolva com nada que não seja nós. — Xiao então começa a vagar pelo caminho. Xuxi e Jeno trocam olhares confusos antes de seguirem.
Enquanto caminham, Jeno jura que ouve sussurros fracos. Os sussurros se transformam em ecos leves, depois em gritos gritantes.
— Xiao! Xiaojun! — a voz repete: — Xiaojun!
O homem continua a andar, ignorando-o com o melhor de suas habilidades. Jeno quase jura que é como se ele nem pudesse ouvir a voz chamando por ele.
Curioso, Jeno olha por cima do ombro e vê um menino desconhecido caminhando em um ritmo casual atrás deles. Jeno não consegue vê-lo muito bem, mas é apenas o suficiente para ver que ele irradia um brilho fraco.
— Xiao, quem é esse? — Jeno pergunta.
— Ninguém — ele murmura. "Ele é um anjo?" Jeno continua.
— Não — Xiao responde categoricamente.
— Então por que ele está brilhando? — Jeno pergunta.
— Porque ele é um anjo — murmura Xiao.
— Mas você disse-
— Não o Doppel, seu idiota. O Hendery real — Xiao sibila.
— Hendery? Quem é HENDERY? — Xuxi pergunta: — E que porra é um Doppel?
— Ele... ele era um amigo próximo — Xiao responde — E Doppels são como essas... coisas... são chamadas. Eles se transformam em qualquer coisa que podem para atrair as vítimas para fora do caminho.
— O que aconteceu com Hendery? Por que está se transformando nele? — Jeno pergunta.
— Houve um tempo em que eu estava vivo, acredite ou não… — Xiao divaga — Hendery e eu... éramos muito próximos... um dia escapamos no meio da noite para evitar olhares curiosos. Nós nos encontramos na floresta e ficamos lá um tempo só... conversando. Quando percebemos que era hora de voltar para casa, seguimos nossos caminhos separados...
Xiao fica em silêncio por um momento, aparentemente reunindo a capacidade de falar.
— Foi a última vez que o vi — afirma ele — ele foi encontrado duas semanas depois no fundo do lago. Foi... foi minha culpa. Pressionei-o para vir comigo e... e eu sabia que deveria pelo menos ter levado ele para casa.
Embora Xiao não chore, sua expressão endurece imensamente.
— Mas não há nada que eu possa fazer a respeito. Não agora, de qualquer maneira — murmura Xiao.
— Eu... sinto muito — Jeno fala baixinho — Eu-
— Não se desculpe. Continue andando. Concentre-se em nosso plano — Xiao imediatamente o interrompe.
Jeno fica em silêncio, e é então que ele percebe que a voz do Doppel também havia silenciado.
— Um já foi, faltam dois — Xiao murmura.
****
Pelo que parece uma eternidade, a caminhada é bastante plácida. Jeno aproveita para olhar a bela paisagem ao redor deles. Certo, consistia principalmente de árvores, mas ele não podia deixar de se sentir à vontade.
Isto é, até que a voz veio.
— Yukhei — a voz gentil sussurra das árvores. Xuxi para em seu caminho e se vira para olhar a fonte.
— Xuxi, precisamos continuar — Jeno o incentiva. Ele olha ao redor em busca da fonte da voz, ele mesmo, mas não consegue identificá-la.
— J-Jungwoo… — Xuxi gagueja — É... parece Jungwoo…
— Jungwoo? — Jeno pergunta interrogativamente.
— Xuxi, você é estúpido? Continue andando! — Xiao grita.
Jeno imediatamente puxa Xuxi consigo, praticamente arrastando-o para longe.
— J-Jungwoo... ele... ele… — Xuxi gagueja, ficando completamente sem palavras.
— Saia dessa — Xiao sibila — Não é ele.
Xuxi franze a testa profundamente e abaixa a cabeça.
Jeno tenta perguntar a Xuxi sobre Jungwoo novamente, mas ele apenas balança a cabeça e continua olhando para seus pés enquanto eles caminham.
Jeno sabia que seria o próximo a enfrentar um Doppel, mas não percebeu que seria uma sucessão tão rápida após Xuxi.
Momentos depois, o som da voz delicada e calma de uma mulher chega até ele.
— Jeno, meu doce menino — diz a mulher de uma maneira melódica que o acalma: — Venha a mim.
Jeno olha ao redor e vê uma mulher aparecer das árvores, deslizando graciosamente em sua direção. Seu cabelo flui perfeitamente de sua cabeça como uma luxuosa cachoeira negra. Seu sorriso é caloroso e reconfortante. Ela usa um longo vestido cinza escuro que vai até o chão, embora não pareça rasgado ou sujo. Foi perfeito, assim como ela.
— M-mãe? — Jeno sussurra.
— Sou eu, meu doce menino — ela cantarola — É tão bom ver você de novo.
— Eu sinto muito — ele profere.
— Jeno! Que porra você está fazendo? — Xiao grita.
— É... é minha mãe... é ela… — Jeno divaga: — Meu pai disse que ela estaria aqui. Ela veio me buscar.
— Mestre. Mestre, não é sua mãe. É um Doppel. Você precisa deixá-la e vir connosco — diz Xuxi em um leve pânico por cima do ombro.
— Não... não é ela. Eu sei! Ela deveria estar aqui no purgatório — insiste Jeno.
— M-Mestre, eu... sinto muito, mas não tem como ser ela — afirma Xuxi.
— Por que não? — Jeno sibila.
— Porque seu pai nos fez destruir a alma dela — Xiao responde.
— Nós dois — acrescenta Xuxi — foi nosso teste para provar nossa lealdade a ele.
— O-o quê? — Jeno gagueja enquanto as lágrimas começam a picar seus olhos. Sua visão começa a ficar turva, obscurecendo a visão da mulher que ele lembra como sua mãe.
— Ele nos disse para destruir a pessoa que você mais amava. Ele queria ter certeza de que não havia chance de ela ficar no caminho ou de você recuperá-la — diz Xuxi em um sussurro.
— Ela se foi, Jeno. Ela não existe mais — afirma Xiao com pouca emoção.
— Não... não… — Jeno murmura.
— Vamos — Xuxi profere baixinho enquanto começa a arrastar Jeno junto. Jeno continua murmurando 'não' o resto do caminho, incapaz de lidar com a informação repentina. Ele não conseguia acreditar. Ele não quis. Ele passou os últimos oito anos de sua vida acreditando que poderia visitar sua mãe a qualquer momento, mas seu pai já havia se livrado dela. Matá-la permitiu que seu pai a destruísse.
Ele nunca mais poderia vê-la.
Nunca.
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