10. A Verdade Nunca Dita - A Saga do Mago Cintilante, Parte Final
O portal que havíamos entrado estendia-se por um corredor amadeirado iluminado por tochas. A temperatura era baixa, apesar de ter a presença de fontes de calor pelo caminho. Logo adiante, após passarmos pela única porta no fim daquele lugar estreito, ficamos de cara com outra pessoa. A mesma trajava uma vestimenta semelhante à que nos ajudou anteriormente, porém, sua aparência era de alguém mais nova, provavelmente tinha entre seis a dez anos.
A garota ruiva com lindos olhos cor de rosa expressivos, sorriu ao nos ver, parecia que estava nos esperando. O inusitado desse encontro revelou-se a seguir, quando a mesma pulou para cima de mim em um forte abraço demorado. Olhei para o Kaio para encontrar um luz do que fazer sobre aquela situação, ele só deu de ombros sem entender, e riu.
– Você exite mesmo? – perguntou ela, com o típico linguajar fofo de criança, ao se afastar. Seus olhos pareciam bolinhas de gude quicando de baixo para cima me observando. O jeito como ela falava, e olhava, me fazia lembrar do meu irmãozinho.
– O que disse? Q-Quem é você, menininha? – indaguei em um tom mais fofo. Sempre funcionava com Kevin quando o questionava sobre qualquer coisa.
– Eu sou Lili, uma Maga de verdade! Vim te levar para um lugar segulo, senhor! – ela levou uma das mãos à testa, em uma postura de soldado.
Segurei o riso, e Kaio continuou.
– Quem te enviou? Você é algum agente da Catástrofe?!
– Home mau, home mau! – balbuciou referindo-se a Kaio, após se esconder do mesmo por trás de mim.
– Ô! Qual é a sua?! – O repreendi. Ele sussurrou um "foi mal" de imediato.
Me ajoelhei para a garota, e a fiz me olhar.
– Não, pequena, ele é bem legal. Aliás, você sabia que ele é um dos guerreiros mais corajosos por aqui?
Ela sorriu e o bisbilhotou sobre meu ombro. Aquele gesto de pura inocência só comprovou o quanto ela se parecia com meu irmão, até as sarnas em torno de seu rostinho pareciam idênticas. Seria possível que ela poderia ser uma versão do meu irmão naquele mundo caótico? Não dava pra descartar essa hipótese.
– Corajoso, é? Ele já lutou cota um leão daqueles gradões?! – Ela finalmente parou de se esconder.
Olhei de relance para o Kaio. Queria só ver o que ele iria responder.
– Leão?! Bom, deixa eu ver... Acho que não, mas já derrubei um gigante mais ou menos desse tamanho – ele usou suas mãos para detalhar a altura do ser. A garota só assistia com um certo brilho nos olhos. Kaio sabia bem como entreter uma criança, ou amedrontar. Tinha esquecido que ele tinha uma irmã com aquela mesma idade.
Depois do desenrolar daquela conversa, a garota acabou revelando que era parceira da mulher que nos ajudou a escapar pouco antes. Disse também que moravam num lugar grande e misterioso, curiosamente ela o chamou de “Castelo da Vovó” — seria apelido para um esconderijo secreto para magos?
As dúvidas só param de fluir quando a mulher misteriosa mencionada resolve aparecer, trazendo Andreas desmaiado com uma cara nada boa. Quem diria que seu plano sairia pela culatra. Ilário.
– O que aconteceu com ele? – perguntei a ela, tendo em mente um vislumbre de sua resposta.
– Uma vez pilantra, sempre pilantra... Ele tomou uma bela surra, e dessa vez com juros. Nada que ele não merecesse. – Ela sibilou.
Kaio ajudou a mulher, passando a carregá-lo.
– Que idiota. – comentou em seguida.
Lili não esperou nem mais um segundo, partiu pra cima da sua parceira com mais um de seus abraços longos e apertados. A mulher expressou o mesmo sentimento da garotinha, e o retribuiu com ainda mais carinho.
– Tini, você votou!
– Claro que sim, lindinha! Não iria a lugar algum sem você do meu lado – A garota sorriu com a resposta. – Olha só… Você fez direitinho o que pedi, não foi?
– Claro que sim, chefe Tini! – respondeu usando a mesma postura de soldado. – Não saí do meu posto, comi o bolinho sem me sujar, e aguadei a chegada do Mago Cintilante como pediu.
– Muito bem, mocinha! – A mulher fez carinho no topo da cabeça dela, o que a fez ficar corada.
Sem sossego, Kaio indagou:
– Você é o contato que Andreas mencionava, o alguém que ajudará com a magia do Edu?
A moça relembrou-se da seriedade da situação pelo tom de voz dele e, em silêncio, retomou sua postura.
– Desculpe os modos do meu amigo, moça. – Tentei amenizar o clima que havia surgido.
– M-Modos? Como assim, Edu? Não é uma "catástrofe" que temos que impedir?! Tá brincando que você tá de boas com isso sem dar um de seus surtos?
Kaio me olhava seriamente, como se estivesse esperando eu reagir instantaneamente da forma como ele pensou. Por outro lado, eu buscava encontrar as palavras certas para dizê-lo o que realmente sentia sobre tudo. Ele acreditaria se lhe dissesse que não era mais aquele Eduardo que conhecia?
Desconcertado, suspirei o que estava na minha mente nebulosa, torcendo para que fosse suficiente.
– É complicado… Desculpe.
Ele percebeu meu olhar distante e, com serenidade, assentiu.
– Seu amigo está certo – A mulher intercalou outro assunto, apaziguando o clima. – O tempo realmente está correndo. Foi como a Superiora nos alertou.
Ela nos fez olhar para o céu, na qual nos fez perceber nuvens escuras se aproximando. Aquilo me fez recordar brevemente do fenômeno similar que estava presente nos céus da Floresta Esquecida. Era a Catástrofe, ela estava sobre nós.
– Lili. – chamou a pequena. – Quero que abra o portal.
– Tudo bem!
Contente, a menina pulou até uma das paredes daquele beco. Com um toque meticuloso na mesma, a garota encantou boa parte da parede com uma espécie de magia cor de rosa — da mesma cor de suas roupas — que, a seguir, tornou-se uma abertura em forma de vácuo que possuía uma conexão para um lugar desconhecido.
– O que ela fez? – perguntei intrigado.
– Normalmente, os magos possuem apenas uma característica básica quando desenvolvem sua magia. Lili é ainda é uma maga novata, porém dedicada. Sua magia espacial se desenvolveu bem cedo, mesmo sem seu Artefato Familiar. Então, depois de alguns treinos, ela finalmente conseguiu abrir fendas perfeitas capazes de conectar pontos específicos no espaço tempo.
– Caramba! Isso é bastante apelão! – comentou Kaio, impressionado.
Tini ficou intrigada com o jeito “estranho” que meu amigo falou.
– Ele quis dizer “Uau, que incrível!”. – expliquei com um sorriso forçado.
– Enfim, ela é um dos prodígios do nosso coven. Isso serve de lição para você, um mago novato… Tem muito a aprender.
– Então, sobre esse lugar… Esse tal coven que tanto fala… O que faremos lá? O que tem de tão especial para a Administradora achar que é lugar certo para o que preciso? – Tentei uma saída mais arriscada, pois queria cessar a tamanha ansiedade que sentia.
No entanto, antes que a maga me respondesse, recolocou seu capuz, aproximou-se da frente do portal que Lili havia aberto, e começou a recitar alto e com formalidade:
– Sou a maga Tini. Solicito a entrada para o Coven.
Dito isto, uma fina camada que ainda bloqueia a entrada esvaiu-se rapidamente, permitindo nossa passagem.
– Vamos? Suas respostas te esperam. – indicou ela, antes de entrar pelo portal junto de Lili.
Suspirei olhando para Kaio, que então assentiu para que prosseguirmos com nosso objetivo. Andreas ainda estava desacordado, apoiava-se nos ombros do meu amigo, mesmo depois que atravessamos o portal.
Nos últimos momentos que deixamos Leviosa, percebi de relance os gritos carregados de desespero vindo de alguns habitantes que estavam próximos do beco que saímos. Meu estômago se contraiu devido a forma como aquele som ressoou em mim, a dor local foi como um soco potente.
***
Sabe aquela sensação de perigo iminente que do nada surge? A mesma que nos faz duvidar até mesmo da nossa própria sombra, como se houvesse algo nos observando? Algo similar sobre essa sensação cobriu meu corpo inteiro no momento que pisei pela primeira vez naquele enorme salão daquele coven.
O chão era feito de um piso de algum tipo de pedra semelhante a vidro, nunca vi algo tão reluzente. Havia colunas feitas de um espécie de gesso, onde detalhes cuidadosos de desenhos de rosas desdenham uma aparência grega ao ambiente; a ornamentação do espaço em si era intrigante, e mesmo não tendo outros sinais de vida no local, aquela sensação angustiante não havia cessado. O que tinha de errado, afinal?
– Tem certeza que você está bem, Edu? – A voz de Kaio ressoou nos meus ouvidos. Ele havia deixado Andreas próximo a uma das colunas do lugar.
– Eu não sei... Meu corpo está estranho. - revelei meio trêmulo.
Então, meu amigo segurou minhas mãos mais uma vez. Percebeu de imediato o quão frias estavam. Seus olhos se arregalaram.
– Edu, você tá um gelo, isso não é nada bom. Ei, você! – Ele berrou para Tini, e continuou: – O que há de errado com esse lugar? Por que ele de repente ficou mal?
– Calma, Kaio! Também não é pra tanto. – tentei impedi-lo de causar um alvoroço.
Ele me olhou sério.
– O que deu em você? Eu disse que tô bem! – indaguei com o cenho enrugado, tentando parecer instável. A verdade é que via seu rosto másculo como uma pintura borrada.
– O que deu em mim? Fala sério! Você só sabe me afastar! – rebateu com sarcasmo.
Engoli em seco, pois não sabia o que fazer. Afinal, ele estava certo. Eu estava o afastando, e não sabia o porquê. Talvez o que passei naquela floresta tenha feito mais do que cortes superficiais…
– Essa ala, tanto quanto o resto do castelo em que estamos, é coberto por um véu mágico que amplia os sentidos de usuários de magia. – vociferou uma mulher que surgia por uma porta ao fundo. Seu cabelo era grisalho, usava um vestido similar ao da Tini, diferenciava-se por ser preto.
– Minha Superiora, mil perdões, não a vi se aproximar. Eu mesma iria alertá-los sobre os benefícios de sua poderosa magia. – Tini, ao lado da pequena Lili, fez uma reverência para a mulher misteriosa. Acompanhamos as duas com o ato.
– Não se preocupe, irmã Tini, você fez o bastante trazendo-os até aqui. Afinal, estamos em tempos delicados... – Ela fez uma pausa, e me fitou. – Este é o garoto?
– Sim, é ele, o Escolhido. Na verdade, Superiora, os dois são. O de cabelos brancos e de físico extravagante, representante das Terras Áridas, chama-se Kaio. Já o outro de roupas escuras e cartola, representante do Reino Leviosa, é o-
– Edward. Sim, eu sei.
Tini ficou impressionada com o olhar curioso que a mulher fazia perante a mim. Não era só ela. A imensidão dos olhos da Superiora me fisgaram de uma maneira irracional. A sensação era de estar sendo sugado para um buraco negro.
Ela continuou a nos analisar em silêncio. Seu semblante misterioso transmitia uma frieza inexplicável, e isso tomava forma na medida em que eu imaginava o quão importante ela era para aquele lugar.
– Bom, sejam todos bem-vindos! Sou a cabeça dessa instituição, Mimi, a Maga Superiora. Como devem saber, o mundo de vocês é basicamente a razão para que esse mundo exista. Tudo em nossa volta, até mesmo o ar que respiramos, é provindo do seu. Sabem-me dizer o porquê disso acontecer? A origem por trás de tanta dor? – Ela arqueou sua sobrancelha direita, esperando uma resposta.
– As ações negativas que a humanidade anda causando? – murmurou Kaio, incerto do que falou.
– Exato. É por isso que estão aqui mais uma vez, pois são só vocês, humanos, podem consertar o estrago que andam causando.
– Isso já não é meio óbvio? – brincou Kaio. Tirei proveito que estava usando ele como apoio, devido ao que senti a pouco, e o dei um belo beliscão.
Desde quando ele agia assim, feito um idiota? Relembrei de sua versão do primeiro ano, o ano que o conheci junto de Henry. Ele era o Satanás em pessoa, não pra mim, mas para os que não eram convenientes para si. Mas agora… algo está diferente em nós. Essas mudanças que observava aos poucos em mim, estavam refletindo nos meus amigos também. Confesso que eu estava com medo de perdê-los de alguma forma.
Mesmo com a "pequena" interrupção, a mulher continuou plena em seu monólogo, que mais parecia uma recapitulação de fatos que já estávamos carecas de saber.
– Você sabe que precisa se esforçar para parar o que está por vir, não é? Neste nível atual em que se encontra, um espirro do nosso inimigo será o fim para sua geração.
Kaio prontamente a repreendeu:
– Até parece! Você está me subestimando.
– Fortão – A pequena Lili chamou sua atenção. – Ela não tá falando com você! – A garota, com um cara sapeca, deu um risinho quando meu amigo percebeu que aquelas palavras eram todas direcionadas a minha pessoa.
– Não se sinta excluído, garoto. Isso também serve para você, mais um dos jovens despreparados que a Catástrofe Divina escolheu para impedi-la.
Seu olhar agora voltou-se para Andreas, que, por sua vez, ainda repousava depois da surra que levou.
– E o que temos aqui…
– Esse é Andreas De La Von, Superiora. Um Escolhido da geração passada, representante das Terras Áridas. – Tini tentou ser ágil com a informação.
A Superiora aproximou-se do sujeito, conferiu sua testa com um breve toque, e declarou ao se afastar:
– A geração dele, antes da de vocês, foi um fracasso. O engraçado é que só bastou uma falha de um deles para o caos se instaurar. Vocês apreciaram o erro deles muito bem, penaram por ajuda, enquanto muitos morriam em corredores lotados. E tudo por um simples vírus...
– Tá tentando nos dizer que o surto do Covid foi causado... – Me assustei com o que estava tentando compreender, até o Kaio ficou sem reação.
– Precisamente.
– A Catástrofe Divina, como devem saber, é conectada com o seu mundo, desenvolve-se por causa dele. Então, quando os Escolhidos que ela seleciona para a impedi-la falham, o resultado tende ser terrível para ambos os mundos. – Tini acrescentou.
A Administradora já havia me explicado sobre tudo isso, a conexão entre os mundos. Não imaginava que era nesse nível.
– Nossa, isso é extremo demais! Como podem deixar a vida de milhões sobre as mãos de simples adolescentes? Essa… coisa é burra! – Kaio comentou indignado.
– Uma grande inconveniência, eu diria. Não temos certeza concreta sobre os critérios que essa entidade deste mundo exige para selecionar os tais "Escolhidos"– Tini explicou. – Como simpatizantes e fiéis aos nossos próprios fundamentos, nosso coven de irmãs sempre auxiliou esses jovens, especialmente aqueles como você, Mago Cintilante.
Engoli em seco. Mimi indagou:
– Um fato interessante é que todos vocês cinco, apesar de se diferenciarem dos seus antecessores, sempre reencarnam nos mesmos avatares de indivíduos que são originalmente membros de cinco específicas raças do nosso mundo.
– É por isso que a Ava te mandou através de Andreas – complementou Tini. – O lugar em que está o ajudará a controlar sua magia, e aprenderá o necessário para enfrentar a Catástrofe.
– Como sabe o nome dela? – Kaio perguntou.
– Ava, há muito tempo, já foi uma aprendiz neste lugar. Tudo o que sabe sobre magia foi provinda das aulas que teve aqui.
– Deve ser por isso que ela sabia tanto dos meus dons… Ela mencionou que teríamos que encontrar uma tal de "Relíquia". Talvez possamos ter alguma chance com isso, seja lá o que for! – relembrei vagamente sobre esse detalhe.
– As Relíquias Divinas são armas que foram forjadas especificamente para combater a fúria dessa ameaça – acentuou Tini. – Cada escolhido possui uma. Sempre únicas, criadas há muito tempo pelos primeiros povos que habitavam SPAM. Todas possuem, em sua essência, a pureza da parte boa da Semente Original.
– Em outras palavras, são como veneno para a Catástrofe. – resumi quase de imediato.
Tini assentiu.
– Caramba! Parece coisa de anime. – Kaio se empolgou com o rumo da conversa. Fantasia era sua praia.
– Garoto, onde está o seu Espírito Animal? Ele é essencial para o seu processo de obter tal poder. – indagou Mimi.
Ela referia-se a aquela criatura que seguia Kaio quando o encontramos na Floresta Esquecida. Essa era sua verdadeira natureza, afinal.
Kaio, por sua vez, desfez aquela espontânea empolgação para uma ligeira expressão tristonha.
– Eu não sei...
Estava totalmente perdido sobre aquilo. Ava não mencionou nada sobre isso, pouco ela detalhou sobre alguns assuntos que havia me repassado.
– Kaio, o que foi? Espera, esse tal de Espírito Animal era realmente sua arma? – perguntei.
– Talvez. Eu o chamava de Matt, abreviação de Metamorfo. O encontrei no instante que despertei nesse mundo, e, como parte de mim, o vi crescer rapidamente, desenvolvendo suas habilidades.
– E o que houve com ele?
– Durante o processo que fiz para uma luta arquitetada pelo chefe da minha tribo, despertei a verdadeira forma dele: uma forte energia me envolveu… Me sentia poderoso. Antes de te encontrar em Leviosa, parei de sentir aquela sensação. Edu, você acha que o Matt… morreu? – Sua pergunta parecia estar tomada de remorso.
Toquei a maçã de seu rosto triste, e lhe confortei com um sorriso:
– Sinceramente, eu não sei. Mas saiba que estou aqui para o que precisar.
Ele retribuiu o sorriso, e assentiu.
– A verdadeira forma de sua arma não é o que imagina, garoto. – indagou a Maga Superiora, nos surpreendendo.
– Explique, por favor. – pedi antecipadamente, ao ver que meu amigo reagiu de uma maneira espantosa ao que ela mencionou.
– O garoto foi precipitado demais. As Relíquias Divinas tomam várias formas para se ajustarem com o seus portadores. A sua é a “Aresnarok”, se eu estiver certa. A arma de várias facetas que representa a fúria e a brutalidade desse mundo. Ela é a mais versátil de todas as cinco, pode surpreender com seu imenso poder.
– Então você sabe para onde ela foi? – perguntou Kaio, extremamente intrigado.
– Ela nunca foi a lugar algum. Uma vez despertada, a arma libera sua forma mais pura, e diante disso, favorece a habilidade de seu usuário. Aresnarok deve estar em um estado inerte, esperando o momento adequado para reaparecer. Isso requer treinamento, muito treinamento!
Kaio, ao ouvir aquilo, fez uma nova expressão em seu rosto, dessa vez, uma confiante. Talvez, para ele, era muito mais que uma arma para ajudar-nos a deter uma ameaça. Me perguntava se teria a mesma relação quando encontrasse a minha.
– Tini. – A maga Mimi chamou a atenção. Prontamente, a mesma atendeu seu chamado. – Ajude os nossos convidados a se alojar, quero que ambos estejam corados e bem dispostos para a agenda de treinamento que farão. Especialmente você, garoto – Ela lançou um olhar amedrontador para mim, senti meu corpo congelar.
A figura de respeito, após deixar suas ordens, retornou para a porta que havia surgido, e antes de nos deixar a sós, acrescentou algo:
– Ah. Tini, não se esqueça, cuide do sujeito debilitado, sim. Não quero que ele deixe marcas de sangue no meu piso. Sabe bem que é um dos bens mais valiosos desse lugar.
– Precisamente, Superiora. Cuidarei para que não haja um vestígio sequer da visita de La Von.
Ela bufou e seguiu seu caminho, sumindo do nosso campo de vista. Tini expirou aliviada.
A partir dali o meu treinamento finalmente começou. Estava empolgado, pois a companhia de Kaio foi fundamental para meu progresso. O foco das irmãs, selecionadas a dedo pela Superiora, era especificamente destinado a mim. Buscavam aflorar, através de árduos métodos teóricos e práticos, o despertar da minha Relíquia Divina, atualmente adormecida — posteriormente, descobri que era algo que já conhecia, Cronates, a mesma varinha mágica que anteriormente nos fez passar por maus bocados naquela torre prestes a ruir. Henry quem diga, coitado.
Sua verdadeira forma era um grimório de cor escura, destacava-se por um símbolo roxo de infinito na capa. Seu poder era imenso, quase ilimitado. Ele não só me fazia manipular facilmente as variações da magia elemental, mas também tornava diversos feitiços poderosos brincadeira de criança. No entanto, o que mais me atraiu diante dessa diversidade, foi a capacidade de criar portais e mexer, em um certo limite, o fluxo do tempo. Fiquei super empolgado durante as aulas que a própria Superiora ministrava.
Kaio não ficou para trás em seu treinamento.
Realizando várias sessões com a maga Tini, ele conseguiu controlar uma boa parcela do poder imenso que sua arma possuía. Como a superiora havia mencionado, sua Relíquia era muito versátil e potente. Bisbilhotei pelos cantos o esforço que ele teve que fazer para alcançar tal poder.
Referindo-se ao manuseio, Aresnarok era o contrário de Cronates, pois era uma arma mais difícil de empunhar, pois sua verdadeira forma a tornava semelhante a uma espécie de machado comprido e pesado. Creio que se não fosse pelo físico que Kaio possuía, ou melhor, de seu avatar, poderia haver um grande obstáculo para que ele a dominasse.
Foram longos três dias. A irmandade inteira se surpreendeu pela enorme velocidade que conseguimos aprender tanto, e em pouco tempo. Nem nós acreditamos. Na verdade, quando ouvimos murmúrios por todo o castelo sobre o problema ao qual nos preparamos para combatê-lo, declarou-se, enfim, os preparativos finais para a grande batalha. Isso acelerou muito o nosso treinamento.
Dentro das extremidades do castelo, a situação assemelhava-se a um formigueiro sobre ataque de predadores. Magas saiam e retornavam de suas missões sem dar uma pausa para repouso. A verdade era que naquele meio tempo, alguns reinos estavam presenciando o início do ataque provindo do florescer da Semente.
Pela descrição da Maga Superiora, o primeiro ato maligno da ameaça começava a partir de uma chuva de esporos, que depois de pousarem sobre o solo e crescerem, tornavam-se um exército fiel à sua criadora. Esses mesmos soldados eram feitos da mistura entre a energia maligna da Semente com um corpo inteiramente vegetal. Eles seriam os precursores para o que viria a seguir.
Consequentemente, sem prévia alguma, acabei tendo uma forte crise de ansiedade, uma das grandes. Era estranho novamente sentir aquilo. A perspicaz estratégia que minha hiperatividade me assombrava, às vezes, me surpreendia. Não mais do que a atitude que Kaio teve ao improvisar algo para livrar-nos dela: ele me beijou e disse que gostava de mim. Foi um ato momentâneo, talvez por impulso, mas significou para mim a força que precisava naquele momento para encarar o embate que iríamos confrontar.
A partir do próximo capítulo, Henry voltará a ser o narrador.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro