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Capítulo 34: Perdendo o controle [narrado por Elena]

     Fui acordando lentamente, minha cabeça doía e meus olhos ardiam. Tudo parecia muito escuro, foi quando percebi que um pano tampava minha cabeça. Não conseguia enxergar nada e o ar era pouco. Senti que estava deitada em algo macio, parecia ser o banco de trás de um carro. Senti o veículo andando em uma velocidade rápida, ele chacoalhava, deveríamos estar andando por uma rua de terra e muito esburacada. As lembranças anteriores estavam espalhadas, só me lembro de entrar em casa, e de quando Eldon apareceu e então eu desmaiei.
     Isso, Eldon... era ele quem deveria estar dirigindo. Para onde ele estava me levando? Eu precisava sair daqui. Senti que minhas mãos estavam amarradas, o que me causava ainda mais aflição. Tentei ficar calma, precisava fingir que ainda estava dormindo. Um vento gelado entrava pela janela do carro que deveria estar aberta, e alguns pingos finos de água caiam sobre minha pele, o que indicava que estava chovendo. Ouvi a respiração de Eldon, eu precisava fazer silêncio.
     Tentei mexer minhas mãos o máximo que pude, a procura de algum objeto escondido nos cantos do banco do carro. Foi quando senti que uma das mãos de Eldon tocou as minhas costas, ele estava procurando alguma coisa que estava perto de mim, então voltei a fingir que estava dormindo. Depois de mais algum tempo na estrada, senti que ele parou o carro. Deveríamos ter chegado, mas onde? Ouvi que Eldon desceu e em seguida bateu a porta. Eu estava desesperada, ele iria abrir a porta de trás e eu não teria escape.
     Alguns segundos depois ele abriu a porta do carro onde eu estava, e eu senti os pingos mais grossos de chuva batendo contra a minha pele. Deixei que o meu corpo ficasse mole e mantive minha respiração calma, eu tinha que ganhar tempo.
     - Vamos, Elena. Levanta. - ele disse.
     Me mantive imóvel e não respondi.
     - Pare de fingir que está dormindo, eu sei que você está acordada, eu vi você se mexendo. - ele disse.
     Droga.
     - Levanta daí! - ele estremeceu, me puxando pelos braços.
     Eu então parei de fingir e me debati, tentando me soltar dele. Ele me segurou firme e me puxou pelos braços, me arrancando de dentro do carro. Suas mãos apertavam os meus pulsos com força.
     - Você tá me machucando! - me debati.
     - Calada, meu amor. Isso não é nada, se não fizer silêncio eu vou acabar te machucando de verdade. - ele disse. - Agora vamos, se você ainda não percebeu, está chovendo, e eu não quero chegar todo molhado.
     Sua voz, como eu a odiava, a maneira como ele falava, que droga, nunca imaginei que um dia eu voltaria a escutá-la. Seu rosto, não conseguia ver, e nem queria. Não via nada, como ele queria que eu andasse? Ele bateu a porta do carro e foi me puxando pelo braço para que eu caminhasse com ele.
     - Para onde você está me levando? - perguntei.
     - Porque você acha que eu diria? - ele perguntou, ironicamente. - Você vai saber quando chegarmos.
     Então ele foi me guiando, parecia que estávamos entrando em uma floresta. As folhas das árvores encostavam no meu corpo, tudo estava muito gelado e molhado. Eu estava ficando assustada, não sabia para onde estávamos indo. Ele continuava me arrastando contra a minha vontade, e eu sem ter outra opção, continuei andando. Ele parecia apressado, andávamos tão rápido. Eu estava cansada, estava grávida, não sabia onde estava pisando. Eu iria tropeçar mais cedo ou mais tarde.
     Tinha que me sentar para recuperar o fôlego, senão não conseguiria prosseguir. Mas ele não me deixou e continuou me levando com ele para sabe-se lá onde. Permanecemos caminhando por mais alguns minutos, que pareciam infindáveis.
     - Chegamos. - ele disse.
     Então subimos alguns poucos degraus e entramos, em uma casa? Eu não tinha certeza. Só sabia que o frio tinha amenizado um pouco, se é que eu podia dizer isso, mas minhas roupas e meu cabelo ainda estavam molhados. Parecíamos estar atravessando por alguns cômodos até que ele parou e me sentou em algo que parecia um colchão no chão. Ele levantou as minhas mãos e prendeu os meus punhos em correntes, enfim retirando o pano que tampava o meu rosto.
     Quando olhei para ele não acreditei, parecia estar vendo um fantasma, um fantasma do passado. Como aquilo poderia ser real? Ele havia morrido, não poderia estar em minha frente. Seu rosto me enojava e agora ele tinha uma cicatriz de queimadura enorme no lado esquerdo do rosto. Aquilo me arrepiava, ele havia ficado com o rosto deformado.
     - Elena, você não sabe o prazer que é estar de volta. - disse ele.
     Eu ainda estava incrédula, não conseguia responder.
     Suavemente, ele tocou o meu rosto e colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, eu me virei automaticamente.
     - Seu rosto continua perfeito, não ficou nenhuma cicatriz...
     Seus olhos caminharam pelo meu corpo até pararem no meu braço, ele olhou diretamente para ele e o segurou com força para observá-lo.
     - Aqui restaram algumas, mas no seu rosto... não ficou nenhuma marca como lembrança.
     Ele me soltou e depois se levantou. Então eu olhei para o espaço onde estava, parecia uma espécie de cabana na floresta. Era pequena e muito deteriorada, as madeiras pareciam estar partindo. No canto tinha um armário velho e uma mesa, no chão havia mais um colchão e algumas roupas espalhadas. Tudo estava bagunçado, havia restos de embalagens e muita poeira. Deveria ser aqui que Eldon se abrigava, pensei. As paredes estavam sujas e os poucos móveis, quebrados. A escuridão que vinha da janela deixava o recinto mais escuro, se não fosse por uma pequena lâmpada que ficava no meio do cômodo. Ela piscava quase o tempo todo, mas clareava um pouco o ambiente.
     - A verdade, no entanto, é que algumas cicatrizes nunca desaparecem por completo... - ele disse.
     Isso foi mais profundo do que o esperado e me fez refletir sobre as cicatrizes que ele havia me deixado, que não foram apenas na pele.
     Ainda fazia frio, um vento gelado entrava pelas gretas das paredes de madeira. Em cima da mesa também tinha alguns restos de embalagens e ainda alguns jornais rasgados, tudo ainda parecia um pouco recente. Isso estava me deixando assustada. No outro canto tinha uma lareira velha, Eldon remexeu nos gravetos e a acendeu. Eu agradeci por um lado, estava quase congelando de frio. Ele ficou abaixado, mexendo os gravetos com um pedaço de ferro. Isso me deixava com medo, a forma como ele olhava para o fogo, as chamas vermelhas me fizeram lembrar daquela noite.
     - Você não acha engraçado?  - ele perguntou, se levantando. - O fogo é um elemento tão importante, precisamos dele para sobreviver. Se eu não tivesse ele acho que teria morrido de frio nesta cabana. É irônico, não é? O fogo é traiçoeiro, com um mínimo de descuido ele pode te ferir e deixar cicatrizes irreversíveis. Por isso dizem que é melhor não brincar com o fogo, senão acaba se queimando.
     Onde ele estava querendo chegar?
     - O que é isso? História para dormir? - perguntei, chacoalhando as correntes.
     - Não, é só uma observação. - ele olhou para mim. - Sentar aqui e ficar observando o fogo me acalma e me trás lembranças, em você não? Não faz você se lembrar daquela noite em que as chamas se ergueram e começaram a se alastrar pelo porão?
     Fiquei em silêncio.
     - Eu me lembro... - disse ele.
     É claro que eu me lembro, pensei.
     - Mas como? Como você sobreviveu? A casa inteira pegou fogo, não tinha chance de você ter sobrevivido. - eu então me pronunciei.
     - Vocês me deixaram para trás, mas eu sobrevivi, sempre fui o primeiro da turma. - ele balançou os ombros.
     - Era você ou a gente, eu preferi que fosse você. - eu disse, cuspindo as palavras.
     Ele ficou sério, mas logo mudou sua expressão.
     - Isso eu deixo passar, eu também não escolheria vocês. - ele debochou. - Mas sabe, tem umas coisas que eu ainda não superei.
     - Como o quê, por exemplo? - perguntei.
     - Como isso! - ele gritou, apontando para o seu rosto. - Como estas cicatrizes que vocês deixaram em mim.
     Ele se aproximou para que eu olhasse o seu rosto, também me mostrando suas mãos.
     - Vocês fizeram isso comigo! Acabaram com a minha vida. - gritou, seu rosto nojento colado ao meu.
     Eu me encostei o máximo que pude na parede.
     - Isso não é nem a metade do que você merece! - gritei. - Ou você esqueceu do que fez comigo? Do que fez com Dean!
     - Como eu me esqueceria... - ele sorriu e se afastou.
     Eu estava com ódio, não podia controlar a raiva que sentia em minhas veias.
     - Como você fugiu? - perguntei novamente.
     Ele então me respondeu:
     - Depois que vocês me deram às costas o incêndio se alastrou. Eu estava ferido, Dean tinha me esfaqueado, mas mesmo assim eu me levantei e subi as escadas do porão. As chamas já haviam queimado os meus braços e se eu não saísse dali eu morreria. Então eu percebi que teria que atravessar pelo meio do fogo se quisesse sobreviver. Foi quando eu fiquei com o rosto assim. Saí pela porta dos fundos porque a da frente já tinha sido bloqueada pelas chamas. Quando me afastei da casa, BUUM, ela explodiu.

     - Mas como conseguiu sobreviver depois disso? Você tinha se queimado e estava ferido, como se curou? - perguntei.
     - Eu sempre dou o meu jeito. - ele se gabou.
     Eu analisava tudo incredulamente.
     - Então você achou esse lugar e decidiu se abrigar aqui enquanto atormentava a nossa vida?
     - Pois é, a cabana estava abandonada quando eu a encontrei. Então pensei: porque não fazê-la de casa?
     Ele estava de palhaçada.
     - Era você o tempo todo, não era? - perguntei.
     Ele gargalhou.
     - Mas é claro que era! Quem poderia ser melhor do que eu nesses joguinhos?
     Eu não acreditava.
     - Então é isso que a gente é pra você, não é? Apenas um jogo.
     Ele pareceu refletir.
     - Ora, não fique magoada comigo. Vocês não eram apenas um joguinho qualquer, eram o grande jogo!
     - Eu não acredito que você ficou aqui o tempo todo brincando com as nossas vidas, mudando os nossos destinos como se fossemos peças no seu maldito xadrez! Que direito você acha que tem sobre nossas vidas? Porque acha que pode ficar decidindo o que acontece com elas? - eu gritei, enfurecida.
     - Porque eu faço o que me dá na telha! - ele balbuciou. - Eu não preciso de direito, eu tomo! Isso é poder.
     - Não, isso não é poder. Isso é abominação.
     Ele me encarou, sério.
     - Pessoas como você, essas pensam que têm algum poder, mas na verdade não tem. São apenas pessoas terríveis.
     - Sendo terrível ou não terrível, não posso mudar quem eu sou. Como posso fugir do que está dentro de mim?
     Eu concordei.
     - Você é um psicopata e sempre será!
     - Acho que eu me orgulho disso. - ele admitiu.
     Eu só conseguia sentir desprezo.
     - Mas a propósito, o pedido de casamento foi lindo. Nunca ouvi algo tão emocionalmente. - ele disse, tirando sarro.
     - Era você na floresta também, não é? Estava gostando de espiar? - perguntei.
     - Eu? Jamais eu ficaria espiando, como poderia fazer isso? - ele deu de ombros.
     É claro que era ele.
     - Eu gostei, sabe. De onde será que Dean tirou aquele discurso? Será que foi de algum filme? - ele gargalhou.
     Como ele conseguia ser tão insuportável?
     Ele puxou uma das cadeiras da mesa e se sentou em minha frente.
     - Você gostou da surpresa? - perguntou.
     Eu pensei por um minuto sobre o que ele estava se referindo.
     - Está falando do vestido? - perguntei.
     - Sim, esse mesmo. Foi a minha lembrança de casamento, achei que daquele jeito ele ficaria melhor. Combinaria mais com você, a noiva destroçada. - deu risada.
     Eu me mantive séria, tentando de alguma maneira não me abalar com isso.
     - O que foi? Ah, me desculpe, você não achou engraçado. Só estava tentando descontrair. É que quando eu penso em você, só consigo me lembrar daquela menina ensanguentada no porão. - ele encarou os meus olhos.
     Ficamos em silêncio por alguns minutos.  
     - Isso não vai funcionar, está perdendo o seu tempo se acha que pode continuar me provocando, não pode!
     Ele cruzou os braços e ficou me encarando, parecia estar se sentindo desafiado.
     - Você ainda tem personalidade, isso é muito bom. Sempre gostei disso em você. - ele finalmente se pronunciou. - Supera as coisas rápido, não deixa se levar por nada... é uma boa garota.
     Porque ele estava fazendo isso? Qual era o jogo desta vez?
     - Porque você voltou? - perguntei.
     - O quê? - ele pareceu não ter ouvido.
     - Você se salvou do incêndio, se curou... poderia ter fugido. Porque não foi embora? Porque você voltou?
     Ele ficou em silêncio, isso me agoniava.
     - Porque eu não voltaria? Ora, você acha que eu iria perder o nascimento da minha primeira filha?
     - O quê? - eu estava incrédula. - Isso é piada, só pode!
     Ele me repreendeu.
     - Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. - ele disse. - Eu voltei pela minha filha, somente por ela. Como eu poderia deixar que outro pai a criasse? Assim que ela nascer eu vou embora e vou levá-la comigo.
     Fiquei paralisada diante da sua revelação, como se tivesse recebido um tiro no meio do peito.
     - Não! Você está muito enganado se acha que pode fazer uma loucura dessas. - gritei. - Ela é minha filha, só minha. Você não vai tirá-la de mim, antes disso eu acabo com você! Se encostar um dedo nela, eu te mato com as minhas próprias mãos.
     Ele se levantou, com uma expressão contrariada.
     - Lia também é minha filha, ou você esqueceu de quando ficou grávida? Eu me lembro muito bem, de todos os detalhes, e sei que eu sou o pai desta criança. Então eu também tenho o direito.
     - Ora, não finja que se importa. - eu disse, revoltada. - Você é um psicopata, não tem sentimentos. Jamais se importaria com uma criança. Lia pode ser sua filha biológica, mas você nunca será o pai dela, entendeu? Nunca!
     Ele ficou em silêncio, como se estivesse desacreditado ou algo do tipo. O que ele estava fazendo? Porque estava vindo com essa ideia absurda agora? Ele não iria tirar minha filha de mim! Não demorou nem um minuto para que o seu falso semblante magoado se tornasse uma risada, ele começou a gargalhar como um palhaço em um circo.
     - Do que você está rindo? Qual é a piada?
     - Você é a piada, Elena. - ele não se contentava com suas gargalhadas. - Precisava ter visto a sua cara. Você teve esperança, não teve? Achou mesmo que essa história era verdade? Só se eu fosse realmente louco. Você tem razão, eu sou um psicopata, não tenho sentimentos, eu não me importo. Não me importo com você e nem com esta criança, para mim não significa nada.
     Ele havia atingido em cheio o meu peito, não consegui me segurar e deixei que as lágrimas escapassem, descontroladas, e rolassem pelo meu rosto. Como ele pôde brincar com uma coisa dessas? Como ele pôde? Ele tinha vencido, conseguiu me assustar e me deixar com medo. Lia era o meu ponto fraco, e ele tinha pisado diretamente onde mais doía. Ele se voltou para mim quando escutou o meu choro, e se abaixou para enxugá-lo. Ele ergueu o meu rosto para observá-lo, as lágrimas eram tantas que eu mal conseguia encará-lo de volta. Mais uma vez ele me olhou, mas em seus olhos havia tudo, menos benevolência.
     - Não chore, Elena. - ele disse. - Queria te pedir desculpas, mas não consigo. Anda, engole o choro. Você fica horrível quando está chorando.
     Ele poderia dizer tudo, estava sem forças para rebater. Ele havia me quebrado...
     - Sabe... eu poderia sim arrancar a pequena Lia de você no momento em que ela nascesse, só para ver o seu sofrimento. Mas eu nunca faria isso porque me importo. Achou mesmo que eu pudesse ter algum sentimento por essa criança que me fizesse arriscar tudo só para tê-la? Pois bem, não tenho e nunca terei. Como eu disse, ela pode ser minha filha e isso vai continuar não significando nada para mim.
     Ele tinha ido longe demais, o que ele havia se tornado?
     - Isso é cruel... e baixo, até mesmo pra você. - eu disse. - Uma vez me questionei se um dia haveria um pingo de humanidade em você, se você seria capaz de ter compaixão e sentimentos, mas agora eu vejo que não. Você nunca teve humanidade, talvez ela tenha sido como grãos de areia que escaparam por entre os seus dedos, fazendo você se tornar um verdadeiro monstro sem emoções. É verdade, você nunca será capaz de sentir. Lia não merece o seu amor, por que você não tem, não é mesmo? Ela merece coisa melhor e graças a você agora eu tenho a certeza, mais do que nunca, de que Dean é o tipo de pai que ela merece.
     Ele andou de um lado para o outro, minhas palavras pareciam estar fervilhando em sua cabeça.
     - Ótimo, quer falar sobre Dean agora? - ele perguntou. - Como você acha que ele se sente sabendo que vai ter que criar uma criança que não é dele? Na minha opinião eu acho que ele deve estar se sentindo traído, ou melhor, magoado.
     - Chega, Eldon. Nada do que você disser vai me convencer.
     - Não, decepcionado, esta é a palavra perfeita. - ele disse. - Sabe porque ele se sente tão decepcionado? Porque no fundo ele queria que essa filha fosse dele. Eu sei que ele sempre quis formar uma família com você e quando soube que você estava grávida de outra pessoa a tristeza foi tão grande que era difícil de suportar. Mas ele decidiu aceitar e levar numa boa só para não magoar você, mesmo tendo a total noção de que essa criança não é e nunca será dele. Sim, ele pode educar e cuidar como um pai, mas jamais será a mesma coisa. Nunca será como ele sempre quis.
     Eu fiz silêncio, por um momento não soube o que responder. Dean realmente se sentia assim?
     - Para de tentar entrar na minha cabeça, esses seus joguinhos psicológicos não vão mais funcionar. Você não vai conseguir nos colocar um contra o outro.
     Ele deu risada.
     - Está certo, vocês são imbatíveis. Mas você sabe muito bem que no fundo isso é verdade. Não negue, Elena. Eu sei que você também acha.
     - Não, você não sabe do que está falando.
     - Sim, Elena. Eu sei.
     Eu virei o rosto para o outro lado, não queria mais encará-lo, não queria mais ouvi-lo. Ele deu as costas e caminhou até a janela, puxou a velha cortina rasgada e olhou para fora. O que ele estava esperando?
     - Sabe porque eu voltei? Dessa vez de verdade?
     Me ajeitei sobre o colchão, mas não respondi, não tinha mais interesse.
     - Porque eu não suportava mais a ideia de ter que ficar aprisionado nas sombras, fugindo, enquanto vocês viviam uma vida normal e feliz. Isso me deixava com raiva e eu só conseguia pensar em como eu precisava tornar a vida de vocês um inferno.
     - Porque? Só porque a sua vida é um inferno você acha que podia transformar a nossa?
     Ele pareceu ignorar minha pergunta.
     - Eu via os meses se passando e vocês estavam evoluindo, seguindo com as suas vidas enquanto eu havia morrido para todo mundo. Eu fiquei observando cada movimento que vocês faziam, quando Dean ia trabalhar e você ficava sozinha em casa, ou quando vocês iam em uma consulta. Eu observava tudo. Sabia da rotina.
     Ok, isso me assustava, mas eu não me sentia mais surpreendida.
     - O plano era permanecer morto e fazer com que vocês sentissem como era conviver com um fantasma do passado atormentando as suas vidas, trazendo à tona todas as memórias e o sofrimento. Eu percebi que era isso que eu precisava fazer, como um propósito. Tinha que ficar de olho em cada passo que vocês davam, em cada movimento. Eu era olhos e ouvidos, sempre sabia de tudo e estava um passo à frente. Vocês ficavam tão assustados, que às vezes realmente pareciam estar vendo um fantasma.
     - Qual é a graça nisso tudo? Porque você gosta tanto? - quis saber.
     - Porque era divertido observar como você e Dean pareciam dois ratinhos assustados, correndo pra lá e pra cá como se estivessem dentro de uma gaiola.
     Eu sorri por um instante, como se aquilo fosse óbvio, porque era. Ele tinha razão, nós realmente estávamos vivendo dentro de uma gaiola. Vivíamos na ilusão, achando que estávamos encontrando uma forma de sair de dentro dela, mas na verdade estávamos andando em círculos.
     - Já que eu estava de quarentena e não tinha mais nada para fazer, eu aproveitava os meus momentos de diversão. Tudo foi ficando mais fácil com o passar do tempo. Eu me tornei uma outra pessoa, quem a polícia procurava não existia, o homem de preto era uma invenção. Todos achavam que eu havia morrido e esse novo personagem em cena ajudava ainda mais a encobrir os meus rastros. Para a polícia a hipótese de "Eldon" estar vivo era absurda, o que era ótimo para mim. Assim eu podia agir sem que ninguém desconfiasse.
     - Mas eu imagino que você não conseguia fazer tudo sozinho. Precisava de ajuda para algumas coisas. Eu vejo que a cabana está cheia de roupas e embalagens, imagino que você não entrou em um supermercado e comprou por conta própria... alguém fez isso pra você, não foi? Quem te ajudou, Eldon? - perguntei.
     - Você é uma boa observadora. - ele disse, caminhando até mim. - Realmente eu precisei de ajuda para algumas coisas, não podia arriscar que o meu rosto fosse descoberto. Ethan me ajudava com a comida e com as roupas, e...
     - Ethan? Ethan Forbes? - perguntei.
     - Não me diga que você o conhece...
     Eu pensei por um instante.
     - Não, apenas o nome.
     Era aquele rapaz...
     - Ele devia ter chegado a algum tempo, espero que aquele idiota não tenha sido pego.
     Isso me deixava tensa, a ideia de ter que dividir um espaço tão apertado com dois homens. Um psicopata e o outro... eu nem sabia o que era. Mas do que eu não duvidava era da capacidade que eles, juntos, teriam de me fazerem mal.
     - Como você fez para que ele te ajudasse? Foi ameaça ou... - Eldon me interrompeu.
     - Não, não foi preciso ameaçá-lo, eu apenas ofereci uma vida melhor onde ele poderia ter tudo o que quisesse na palma da mão. Ele não pensou nem duas vezes, e em um estalar de dedos ele se tornou meu cachorrinho.
     Então me lembrei melhor do rapaz, talvez usuário de drogas. Eldon deveria ter oferecido dinheiro fácil, uma vida de crime.
     - Acho que eu entendi, parceiros no crime, não é isso? - perguntei.
     - Isso mesmo, acha que eu posso ser um grande mentor? - ele perguntou.
     Tinha um sorriso divertido no rosto.
     Tudo era muito óbvio, tava na cara que ele só estava usando o rapaz.
     - Você só está usando ele, e quando não for mais útil, você joga fora.
     Ele me encarou.
     - Talvez as pessoas sejam realmente descartáveis...
     Eu não aguentava mais tanta baboseira, estava me deixando com dor de cabeça, toquei o meu rosto em sinal de exaustão. O barulho das correntes martelavam em meus ouvidos.
     - Fala logo o que você vai fazer!
     - Como? - ele perguntou.
     Ele precisava parar de se fingir de mal entendido, isso estava me deixando irritada.
     - Você não me trouxe aqui para ficar batendo papo. Anda, me diz qual é o grande plano dessa vez? É mais uma vingança? Chega de conversa fiada e vai direto ao assunto! - ordenei.
     - Ah, é sobre isso que você quer saber? Que garota impaciente...
     - Eu só não tenho mais estômago para ficar aguentando essa sua falação. Se vai me matar, mata logo. Assim não preciso mais escutar as suas reclamações.
     - Matar você?
     Que ódio!
     - Ou torturar, talvez, não é isso que você sabe fazer de melhor? - perguntei.
     - Ainda não. Preciso de você viva, você é o meu passaporte para fora daqui.
     Eu não entendi.
     - O que você quer dizer? - perguntei, confusa.
     Ele revirou os olhos.
     - Eu não sequestrei você atoa, preciso de você viva para pedir o dinheiro do resgate. Sim, eu sei o que você deve estar pensando. Mas depois que eu tiver o dinheiro em minhas mãos eu posso enfim cortar a sua garganta para também não precisar ficar ouvindo as suas reclamações! - ele disse em tom severo.
     Eu me calei.
     - Seu pai está preso, o que é irônico, não é? Ele finalmente está passando pelo o que eu passei, mas para mim isso não é vingança o bastante. Então pensei em terminar de uma vez o meu trabalho. É simples: eu sequestro você, Dean me entrega o dinheiro, você e a criança morrem e Dean tem o resto da vida inteira para se lamentar. Depois que o papai sair da cadeia, ele e a mamãe Gilbert vão ficar tão abalados com a morte da filha e da neta que vão acabar morrendo de coração partido. E ainda tem o pequeno Jared, pobre órfão, vai se perguntar o que há de errado com sua família. Depois que eu pegar o dinheiro e matar você, eu vou para bem longe onde nunca poderão me encontrar. Mas não se preocupe, eu sempre vou estar de olho no pequeno Gilbert.
     Eu olhei com ódio para ele.
     - Você se engana, isso nunca vai acontecer. Dean deve estar com toda a polícia a minha procura, e quando você ligar pedindo o resgate eles saberão do seu plano idiota. Eles vão te encontrar e vai chegar um momento em que não terá mais para onde fugir. Então você vai olhar para trás e perceber que tudo o que fez foi uma grande perda de tempo.
     Ele ficou em silêncio.
     - Você tem tanta fé nisso, Elena? - perguntou um instante depois.
     - É no que eu preciso acreditar.
     - Certo. - ele sorriu.
     Lentamente ele se abaixou ficando bem próximo a mim, tocou o meu rosto com força enquanto eu tentava recuar.
     - Mas se você quiser podemos pular toda essa enrolação e ir direto para a parte que te machuca. A escolha é sua...
     Ele segurou o meu rosto e se aproximou o suficiente para que eu sentisse sua respiração em minhas bochechas, e analisasse ainda mais de perto sua cicatriz. Seus grandes olhos azuis se fixaram nos meus e eu senti como eles me queimavam, tentei me desviar deles, mas era inevitável. Sua mão em meu queixo estava me machucando, e eu não conseguia tirá-la. Ele passa a analisar todo o meu rosto até que seus olhos descem para minha boca, me fazendo sentir ainda mais nojo e repulsa. Ele se aproxima mais, ainda me segurando. Eu tento mexer o meu rosto, mas mesmo assim não funciona. Então, percebendo o que estava prestes a acontecer eu levanto minha mão pronta para acertá-lo e impedir o seu toque abusivo. Ele escuta o barulho das correntes e antes que minha mão chegasse até o seu rosto ele a segura com força para impedi-la.
     - Vou entender isso como um sim. - ele disse, entortando minha mão.
     - AAARGH! - exclamei, sentindo como se fosse perdê-la.
     Ele manteve seu sorriso débil, me segurando com mais força.
     - Para! Tá me machucando! - gritei, tentando pará-lo.
     - Não era isso que você queria? - perguntou hipoteticamente.
     Eu cerrei os dentes tentando resistir a dor.
     - Eu só queria ver até onde você iria. AARGH! - estava doendo demais.
     - Pois agora você já sabe. - ele disse, ainda segurando o meu rosto. - Não pode brincar comigo, eu vou até onde você não imagina.
     Estava quase soltando uma lágrima.
     - Não duvide da minha impaciência, você sabe que eu sou fácil de perder o controle. Então não me provoque. - ele então soltou minha mão.
     Mas antes que soltasse o meu rosto ele o puxou abruptamente, me beijando à força. Sentir o seu toque asqueroso me fazia lembrar do seu maldito abuso, e eu não queria mais sentir aquilo. Me debati e tentei empurrá-lo, até que ele logo me soltou.
     - Ainda é boa naquilo? - ele piscou.
     - Seu monstro nojento!
     - Podemos praticar... - ele sorriu insanamente.
     Eu o olhei com ódio e desprezo.
     - Vá para o inferno!
     - Como quiser, querida. Nos encontramos lá? - ele perguntou, levantando o seu punho.
     Eu fechei os meus olhos esperando o pior até que ouvi algumas batidas apressadas na porta. Ainda de olhos fechados podia imaginar que Eldon havia paralisado. Então os abri, ele olhou para mim com uma expressão de questionamento e então se levantou. Sem pressa ele se afastou e atravessou o outro cômodo para abrir a porta. Só então eu me endireitei sobre o colchão duro, tentando me recuperar do que havia acontecido. Toquei a mão que ele havia apertado, sentindo como ela estava dolorida.
     O meu rosto queimava e eu esfreguei minha boca tentando tirar o gosto horrível que ele havia deixado. Me sentia imunda e não conseguia impedir que a ansiedade me tomasse. Tentei controlar minhas lágrimas e acabei choramingando, era horrível como ele ainda conseguia fazer eu me sentir tão péssima, como se eu fosse um pedaço de lixo, e como se eu fosse a culpada de tudo, mesmo não sendo. Mas eu não queria mais me sentir assim, e não podia mais permitir que ele fizesse isso comigo. Tinha que resistir, precisava ser forte!
     Os passos de Eldon pararam e um silêncio agonizante se fez dentro da cabana.
     - Eldon, sou eu. Abra a porta. - uma voz jovem e masculina soou do lado de fora.
     Então Eldon destrancou a porta permitindo que a pessoa entrasse.
     - Que bom que você chegou.
     - Ela está aí?
     - Sim, eu deixei ela acorrentada.
     Podia ouvir as conversas do outro cômodo.
     Me encolhi no colchão quando escutei os passos se aproximando. Estavam voltando para a sala. Eldon passou pela porta e atrás dele um jovem rapaz apareceu. Meus olhos lentamente se ergueram para encarar o novo convidado, e quando observei sua fisionomia tão jovem acabei me surpreendendo.
     - Essa é Elena Gilbert? - o rapaz perguntou, me encarando.
     - Sim.
     - Ela está mesmo grávida... - ele parecia de certa forma surpreso por sua constatação.
     - Porque você demorou tanto, Ethan? Trouxe a comida? - Eldon perguntou sem paciência, arrancando as sacolas da mão do rapaz.
     É claro, pensei, esse só podia ser o Ethan.
     Ele parecia ser um jovem simples, mas de um rosto muito bem definido. Era alto e louro, com cabelos compridos e bagunçados. Usava um jeans surrado e uma camiseta preta de alguma banda de rock, no geral, roupas um pouco desgastadas. Era um rapaz de certa forma bonito, mas a sua aparência era um pouco sombria e levemente emagrecida, talvez por conta das drogas. Tinha uma tatuagem no braço direito, alguma coisa escrita que eu não conseguia entender. Seus olhos tinham um certo mistério e me faziam ficar apreensiva. Mas ele não parecia ser uma pessoa ruim, ou agressiva como Eldon. Tinha alguma coisa diferente nele, como um pouco de sensibilidade ou talvez medo.
     - Tinham algumas viaturas na rodovia, estavam fazendo rondas, por sorte não me fizeram parar. Não podia deixar que eles me seguissem, por isso demorei. - o rapaz respondeu. - Sim, aqui tem comida e mais algumas roupas...
     Tinha algo diferente na voz do rapaz, como se fosse um certo receio.
     - Já devem estar procurando por você. - Eldon me disse.
     Eu me mantive em silêncio.
     - É o suficiente para hoje a noite? - Ethan perguntou.
     - Sim, isso deve dar... - Eldon respondeu, tirando as comidas da sacola e colocando em cima da mesa.
     Ele se sentou e começou a comer algo que parecia um sanduíche, ele comia rápido, parecia estar faminto. Então me lembrei que minha última refeição havia sido há algum tempo, também estava com fome.
     - Amanhã de manhã eu trago mais comida... - o rapaz disse.
     Eldon mastigou o último pedaço.
     - Soube de alguma coisa? Algum comentário pela cidade ou movimentação estranha? - Eldon perguntou.
     - N-não... parece que está tudo em ordem. - o rapaz respondeu.
     Eldon se levantou e tirou as novas roupas da sacola. Então ele se despiu para trocar de roupa, eu desviei os meus olhos quando vi o seu corpo seminu. O que ele estava fazendo? Era ridículo, de qualquer forma. Ethan também parecia ter ficado sem graça. Ele olhou para mim de um jeito diferente, como se estivesse surpreso pelo meu estado, e com certa pena. Mas eu não tinha certeza se isso era verdade. Não que isso mudasse minha situação. Eu não podia mais me iludir com as pessoas.
     - Isso é bom. - Eldon disse, depois de se vestir. - Agora vai embora, e cuidado para não ser visto. Volte amanhã, vamos dar um fim nisso.
     Eu engoli em seco.
     - Tá... tá bom.
     O rapaz saiu e Eldon trancou a porta, retornando em seguida. Ele olhou para mim e sorriu.
     - É amanhã.

Narrado por Dean:

     Não, isso não podia estar acontecendo, não de novo. Porque? Porque justo agora? Eu não conseguia acreditar, era difícil demais...
     Coloquei meu celular com força sobre a mesa, e mais uma vez repassei todas as cenas da gravação, na esperança de que tudo havia sido apenas coisa da minha cabeça, mas não era. Olhando novamente as imagens vi que tudo era real, realmente havia acontecido. Mas porque? Porque? Minha cabeça doeu... as perguntas estavam me deixando maluco. Não era só o porquê, mas também o como. Como Eldon está vivo? Como? Eu vi ele morrendo, eu mesmo cravei uma faca em sua barriga. Ele ficou naquele porão para morrer, a casa inteira pegou fogo, não tinha como ele ter sobrevivido. Isso era loucura, só podia ser loucura.
     Estava paralisado, como que em choque. Minutos se passaram e eu não havia feito nada. Como não havia feito nada? Eu tinha que fazer alguma coisa. Mas o que? A culpa caiu sobre mim. Eu sabia que não deveria tê-la deixado sozinha, como pude ser tão idiota? Agora ela estava nas mãos de Eldon, e eu tinha medo, muito medo do que ele poderia fazer com ela. Torturá-la mais uma vez ou até mesmo... não, eu preferia não pensar nessa possibilidade. Além disso, Elena estava grávida, eram duas vida em jogo, e aquele psicopata frio não tinha piedade. Eu tenho que encontrá-la, mas onde? Poderiam estar em qualquer lugar dessa cidade ou... não, isso foi a pouco tempo, não teria como eles terem ido para tão longe.
     Eu andava de um lado para o outro, criando teorias e estratégias infindáveis em minha cabeça. Valentina não chegava, eu tinha que ligar para a polícia. Peguei meu celular e encarei a tela, mas meus dedos não conseguiam apertar nenhum botão... estavam tremendo. Foi quando batidas rápidas na porta me fizeram despertar do meu estado de choque. Corri para abrir a porta, era Valentina.
     - Dean! - ela passou pela porta, abruptamente. - Cadê a Elena? Chega de brincadeira.
     Ela tinha um tom autoritário, em seus olhos havia medo e negação.
     - Valentina... - eu não sabia como dar uma notícia dessas.
     - Por favor, Dean...
     - Você precisa ficar calma.
     Como eu poderia pedir uma coisa dessas? Se eu mesmo não estava.
     - Cadê a Elena? - ela gritou.
     Eu engoli em seco.
     - Você precisa ver com os seus próprios olhos, senão não vai acreditar em mim.
     Ela me encarou, relutante.
     Fiz com que ela se sentasse em frente ao notebook e dei início às imagens. Deixei que ela observasse e me virei de costas, não tinha mais estômago para ver aquilo.
     - Não! - Valentina exclamou alguns minutos depois.
     Senti como se fosse perder as forças.
     - Não, isso não é possível! - ela repetia.
     Ela se levantou de onde estava sentada quando eu me virei para encará-la.
     - Infelizmente, é possível.
     Uma lágrima escapou de seus olhos e inesperadamente ela me abraçou. Eu retribui automaticamente, sentindo que um pouco do peso sairá de cima dos meus ombros, mas ainda sim a dor e a tristeza me consumiam. Estava em pânico. Ela se afastou e me encarou com seu olhar abatido e triste, meus olhos marejaram.
     - Nós vamos encontrá-la, eu prometo. - garanti.
     Ela enxugou suas lágrimas com a manga da blusa.
     - O que temos que fazer? - agora parecia mais determinada que nunca.
     - Onde está o Jared? - perguntei.
     - Ele... ele... - estava confusa. - Ele está na casa de uns amigos...
     - Certo. Liga para ele e manda ele vir o mais rápido possível. Depois liga para o Sam e os restantes, precisamos reunir todo mundo.
     - E você? Vai ligar para a polícia?
     Eu pensei por um instante.
     - Eu cuido do resto...
     Ela concordou com a cabeça. Não estava realmente convencida, mas em sua expressão havia esperança. Algo que em mim eu precisava segurar e não deixar que escapasse. Ela pegou o seu celular e foi para outro cômodo, começando as ligações. Eu esfreguei o meu rosto. A polícia não ajudaria em nada, para início de conversa eles não acreditariam em mim quando dissesse que Eldon estaria vivo, seria taxado de maluco e não iria ser levado a sério. Então uma lembrança me veio à mente:
     "- Pegue o meu cartão e se ouvir alguma coisa não hesite em ligar, entendido?"
     Eu continuei tentando me lembrar de quem era essa fala. Era aquele agente, o do FBI, como era mesmo o nome dele? Ah, sim... John Karter. Ele era obcecado por Eldon, não sei se essa é a palavra certa, mas, ele provavelmente acreditaria nessa história toda, ele tinha que acreditar! Enfiei a mão no fundo do bolso da calça, retirando de lá a minha carteira. Abri e comecei a vasculhar. Onde estava? Tinha que estar aqui! Então encontrei, depois de tanto tempo eu ainda tinha o cartão dele. A última vez que soube notícias foi na TV, ele estava no condado ajudando a polícia do estado em algumas investigações, o que significava que ele estava por perto. Li o seu nome no cartão e o nome do seu departamento, então analisei o número e digitei no telefone. Era ele que iria nos ajudar, eu tinha fé nisso. Então liguei.
     A chamada tocava e me deixava cada vez mais ansioso e desesperado, no quinto toque ele atendeu:
     - Agente Karter falando...
     Estava tenso e nervoso, achando que ele não atenderia, mas quando ouvi sua voz, de certa forma me aliviei.
     - Alô? - ouvi sua voz novamente, então me lembrei de que não havia respondido.
     Abri e fechei a boca.
     - John... agente... Agente Karter, oi. Eu... - ele me interrompeu.
     - Quem está falando? - perguntou, agora tinha uma voz mais séria e desconfiada.
     - Meu nome é Dean Winchester, o senhor provavelmente não se lembra, mas eu me lembro. O senhor me entregou o seu cartão e disse que se eu precisasse eu não deveria hesitar em ligar e... bem, agora eu preciso de ajuda.
     Houve um silêncio do outro lado da linha.
     - Certo. Dean, é isso? No que posso ajudar?
     Eu me apoiei sobre a mesa.
     - Olha, o senhor precisa me ouvir bem. Minha esposa sumiu, ela foi sequestrada...
     - Isso acabou de acontecer? Já ligou para a polícia?
     Ah, era difícil...
     - Faz uma hora, mais ou menos. E-eu... eu não liguei para a polícia...
     - Ah, senhor!
     Ele não estava me levando a sério.
     - Não, o senhor tem que prestar atenção. A minha esposa foi sequestrada, ela está grávida e eu tenho imagens que comprovam. Eu sei quem a sequestrou, mas a polícia não acreditaria. Eu liguei para o senhor pois eu sei que o senhor iria acreditar em mim, é o único que pode me ajudar nesse momento. Foi ele... ele quem...
     - Calma, senhor, calma. Me conta direito essa história. Quem sequestrou sua esposa?
     Eu fechei os olhos e respirei fundo.
     - Eldon Styne. Ele está vivo e acho que novamente está atrás de vingança.
     Ele não disse mais nada por longos segundos.
     - Impossível!
     - O senhor precisa acreditar em mim, foi ele. Eu tenho imagens de câmeras de segurança que comprovam que ele esteve aqui em minha casa... ele a levou. Elena foi sequ...
     Ele voltou a me interromper.
     - Elena Gilbert? Ah, agora eu me lembro do caso, a menina que foi torturada pelo psicopata, eu me lembro. Você é Dean Winchester, o que também foi vítima. Escuta, Dean, se você estiver brincando com uma coisa dessas, saiba que vai ter problemas. Não percebe o que está dizendo? Eldon Styne está morto.
     - Não, ele não está! Essa é a verdade, eu tenho provas. Por favor... é da minha mulher e filha que estamos falando, elas estão em perigo... - eu dizia tudo muito rápido.
     Ouvi um suspiro.
     - Olha, está tarde, o senhor precisa ficar calmo. Deve haver algum engano, talvez...
     Foi minha vez de interromper, sentia a raiva subindo pelas minhas veias.
     - Não há engano algum, eu tenho total certeza do que estou falando! Eldon esteve nos atormentando durante meses, e agora ele conseguiu mais uma vez o que queria. Ele a levou.
     - Sr. Winchester, eu sei. Eu acompanhei esse caso, de certa forma, de perto. Eu sei que a polícia de Detroit ainda não encontrou esse criminoso encapuzado, mas logo eles iram encontrar, e eu tenho certeza de que ele não é Eldon Styne. Eu sei que tudo isso, as investigações e tudo o que vocês tem passado causam muito estresse e dor de cabeça, às vezes vemos coisas onde talvez não existam...
     Eu estava em negação.
     - Não, não ouse dizer que eu estou inventando uma coisa dessas. Eu jamais brincaria com isso.
     Sentia uma raiva descontrolável.
     - Eu não estou querendo dizer isso. - ele disse. - Só acho que talvez o senhor devesse refletir melhor sobre os fatos...
     Eu estava decepcionado.
     - Eu liguei para o senhor porque estou desesperado, achei que fosse acreditar em mim. Eu tinha esperança de que o senhor pudesse ajudar, mas estou vendo que não...
     Ele ficou em silêncio.
     Então eu percebi que ele não estava disposto a ajudar. Teria que me virar por conta própria. Ligar para a polícia local, que me faria preencher um formulário enorme e sem sentido de desaparecimento, algo que não ajudaria em nada.
     Eu estava me sentindo cansado e arrasado, era como se minha esperança tivesse acabado.
     - Escute bem... - ele cortou o silêncio. - Eu nunca neguei ajuda a ninguém, mas uma possibilidade dessas é quase impossível. Eldon Styne morreu, a casa pegou fogo. Eu mesmo estive lá para analisar os destroços e posso garantir que nada sobrou. O corpo dele foi carbonizado, ele morreu. Mas eu posso reconsiderar... o senhor disse que tem provas, certo? Eu posso analisar essas provas e se realmente estiver falando a verdade terei que me desculpar, e irei ajudar com certeza. Por favor, me passe o endereço, eu irei assim que possível...
     Quase não acreditei, então me afastei da mesa em um sobressalto, sentindo como se uma pequena parte da minha esperança tivesse sido reacendida.
     - Ah, o senhor não sabe como eu agradeço. Por favor, o endereço é West Outer Drive, 420.*
     - Estou à caminho.
     Então ele desligou a ligação.
     Joguei meu celular sobre a mesa e bufei em sinal de frustração. Tudo ainda era muito recente e isso me assustava. Valentina retornou com seu semblante triste, segurando um copo de água. Como eu queria que tudo tivesse sido diferente... Ela parou em minha frente.
     - Toma, você precisa. - ela me entregou o copo.
     Eu o peguei e fiquei segurando por alguns segundos, depois o coloquei sobre a mesa. Não estava com vontade nenhuma de beber algo que não tivesse álcool. Mas eu não podia, tinha que me manter sóbrio.
     - Eu liguei para o Jared, ele ficou confuso. Disse que está à caminho. Também liguei para o Sam, ele estava com John, os dois estão vindo.
     Permaneci em silêncio, pensando. Meu pai viria, isso era bom.
     - Você contou a eles?
     - Não. - ela respondeu. - Não tem como contar isso por telefone.
     É, ela tinha razão.
     Ela cruzou os braços e ficou em silêncio.
     - Eu liguei para alguém que vai nos ajudar, ele deve chegar logo.
     - Alguém quem? É da polícia?
     Eu fiz que não com a cabeça, mas reconsiderei.
     - Não é exatamente da polícia, não da local. Ele é um federal, deve saber melhor como resolver esse tipo de problema.
     Uma expressão de surpresa surgiu em seu rosto, talvez se questionando sobre como eu teria o contato de um federal.
     - Um federal? Quem?
     - John Karter.
     - Hummm. - ela pareceu refletir.
     Então se sentou em uma das cadeiras da mesa com a mão servindo de apoio para o queixo, deveria estar com dor de cabeça.
     - Porque tudo está se repetindo? Porque tudo parece estar acontecendo de novo? É uma pena que dessa vez Afonso não esteja aqui para me apoiar... - ela sussurrou, como que para si mesma.
     Mas eu ouvi muito bem, e entendia a dor que estava sentindo. Queria de alguma forma consolá-la, mas nada do que eu dissesse iria melhorar, então era preferível ficar em silêncio. E assim ficamos, os dois inertes e atônitos, esperando que alguém chegasse para nos dizer o que fazer. Estava me sentindo péssimo, sabendo que Elena poderia estar sofrendo enquanto eu estava parado sem fazer nada para ajudar.
     Isso era horrível, o fato de não saber de nada e de não poder fazer nada. Apenas ficar de mãos abanando. Até o momento eu não havia me sentado, simplesmente não conseguia. Meus olhos estavam focados no relógio pregado na parede da cozinha, mas se me perguntassem as horas exatas eu não saberia responder. Nada mais passava pela minha cabeça, senão o fato de Elena não estar aqui comigo. Era uma tortura.
     Passou algum tempo até que ouvi barulhos na porta da frente, eles haviam chegado. Então entraram.
     - Dean? - meu pai me chamou da sala.
     - Estamos aqui na cozinha. - respondi mais alto para que eles ouvissem.
     Então escutei o barulho dos passos pelo corredor, que eram altos e pesados, e apressados. Os três adentraram a cozinha: Jared, Sam e meu pai. Jared tinha uma expressão séria e um pouco confusa, correu para perto de Valentina.
     - Mãe? O que era tão importante?
     Valentina abriu e fechou a boca, olhou para mim e não conseguiu responder nada.
     Sam tinha uma expressão preocupada quando veio até mim.
     - Dean, irmão! - ele me abraçou.
     Foi rápido demais, e eu ainda estava paralisado pelo choque. Não consegui retribuir o abraço.
     - O que aconteceu? - ele tocou os meus ombros após se afastar. - Cadê a Elena?
     Eu o encarei, uma lágrima caiu de meus olhos. Não fiz questão nenhuma de enxugá-la.
     Cadê a Elena? Onde está a Elena? Porque essas perguntas me machucavam tanto?
     - Porque Elena não está aqui? - Jared perguntou.
     Meu pai se aproximou. Sua expressão era sempre calma, em qualquer situação. Ele gostava de manter o controle. Mas dessa vez tinha algo diferente nele, talvez um cenho franzido ou um arquear de sobrancelhas, algo que demonstrava certa cautela.
     - Aconteceu alguma coisa com ela? - ele perguntou.
     Tantas perguntas. Tantas perguntas!
     - Aconteceu. - foi só o que consegui responder.
     Todos suspiraram.
     - O que aconteceu com a minha irmã? - Jared perguntou.
     - Calma, Jared... - Valentina tentou tocá-lo, mas ele recuou.
     - Não me peça pra ficar calmo, mãe! Não quero mais mentiras e nem meias verdades, quero saber o que aconteceu. - sua voz era alterada.
     Sam me encarou.
     - Ele tem razão, Dean. Se aconteceu alguma coisa, precisamos saber, e agora.
     Eu balancei a cabeça.
     - Sim. - eu disse, falando de maneira geral para todos que estavam ali. - É por isso que vocês estão aqui, precisamos de ajuda. Sentem-se.
     Sam concordou e todos se sentaram, ainda que relutantes. Eu permaneci em pé, e então contei a eles o que havia acontecido.
     - Como assim Elena foi sequestrada? E só agora você nos conta isso? - Jared bateu suas mãos sobre a mesa com força, antes de se levantar cheio de raiva.
     - E você queria que eu dissesse o quê? - me aproximei dele o suficiente para ficar cara a cara. - Talvez seria melhor se eu ligasse e dissesse: Oi, Jared. Sua irmã foi sequestrada, mas está tudo bem. O que você acha de vir até aqui em casa para comermos bolinhos e tomarmos café, enquanto discutimos sobre como vamos fazer para encontrá-la? O que você acha, Jared? Seria bom pra você? - estremeci.
     - Ei, chega! Vamos acalmar os ânimos. - meu pai se levantou e chamou nossa atenção.
     Só então percebi que minha voz tinha se alterado. O que eu estava fazendo? Estava perdendo o controle...
     Jared me olhou com ainda mais raiva, mas se deteve, voltando a se sentar. Valentina me olhou assustada. Queria ter pedido perdão, mas não iria. Minha paciência acabara.
     - Dean, nos conte direito. - meu pai voltou a falar. - Como ela foi sequestrada?
     Eu não aguentava mais, meus punhos estavam cerrados.
     - Está tudo aí. - apontei para o notebook. - Vejam e vocês vão entender.
     Novamente dei as costas para eles e me afastei, eu estava como um vulcão quase entrando em erupção.
     - Meus Deus! Como ele está vivo? - ouvi Sam sussurrar.
     - Não é possível! - meu pai disse.
     Jared permaneceu em silêncio. Mesmo sem ver o seu rosto eu tinha certeza de que ele tinha uma expressão nada agradável. Então me virei. Todos olharam para mim, à espera de algum tipo de explicação ou indicação do que fazer.
      - Vamos ligar para a polícia. Vocês já fizeram isso, certo? - Sam perguntou.
     Eu neguei.
     - Não, por enquanto não. Liguei para alguém que será mais útil do que a polícia local. É um agente, do FBI. Ele deve chegar logo.
     Eles me olharam com um olhar surpreso, assim como Valentina me olhou outrora, como se fizessem a mesma pergunta: como eu tinha o contato de um federal? Exceto Jared, que balançava a cabeça com um sorriso sarcástico, estava em negação.
     - O que foi, Jared? Você tem alguma sugestão? - perguntei.
     - Quer saber... isso tudo é ridículo. - ele se levantou mais uma vez.
     Ele tinha os olhos marejados e uma irritação excessiva. Sua voz era embargada, quase sendo dominada pelo choro. Mas, ainda assim, era duro ao falar.
     - Isso tudo é culpa sua, Dean! Você deveria ter cuidado da minha irmã e não cuidou. Prometeu que iria protegê-la e não protegeu. E agora ela foi levada, novamente, por esse... nem sei o que é. Espero que esteja mesmo abalado, porque eu estou. Só que a diferença é que eu não tenho com o que me culpar, já você tem o bastante. É bom que saboreie essa culpa. - ele cuspiu as palavras e saiu correndo em direção a porta da frente, um instante depois escutei o estrondo, ele a havia batido com força.
     Eu fiquei em silêncio. Talvez ele realmente tenha razão. Talvez eu tenha sido o culpado, o fracassado que não cumpre suas promessas, o que deixa as coisas de lado e não cuida daquilo que tem. Talvez eu não tenha feito o bastante. Fiquei em silêncio porque não tinha como discordar dele.
     - Jared, espera... - Valentina se levantou logo em seguida.
     Ela me olhou triste e de certa forma, envergonhada. Como se dissesse: eu lamento. Mesmo sem abrir a boca. Eu a olhei de volta, e também não disse nada, mas queria dizer: vai atrás dele. E assim ela foi atrás do filho.
     O silêncio que se fez na cozinha acabou me deixando desconfortável. Todos estavam à espera de alguma atitude vinda de mim, uma guia, algo que fizesse sentido. Mas eu também não sabia o que fazer. Ah, como cheguei a esse ponto?
     Meu pai e Sam se entreolharam e ambos não disseram nada, talvez por não saberem o que dizer. Eu não os julgava. Pela primeira vez me sentei, me sentindo cansado. Meu corpo estava pesado, parecia que o chão era como um imã, me atraindo para baixo. Esfreguei o rosto com as mãos. Eu queria muito uma bebida. Mas era mais que isso. Eu precisava de uma bebida. De várias.
     - Ei. - meu pai cortou o silêncio.
     Não sei se agradeci ou não.
     - Jared não quis dizer aquilo, ele só estava nervoso pelo o que aconteceu com a irmã.
     Eu o encarei.
     - Eu entendo, está tudo bem.
     Eu não entendia e não estava tudo bem.
     - Eu não ligo, e quer saber... eu preciso de uma bebida.
     Eles se entreolharam novamente, porque estavam fazendo aquilo?
     Me levantei da cadeira e fui até a geladeira, pegando uma garrafa de cerveja. Me sentei novamente e abri a garrafa. O primeiro gole desceu gelado, era bom, mas não fazia eu me sentir melhor.
     - Só vai com calma, Dean. - Sam disse.
     Eu tomei mais um gole.
     - Não, tudo bem. Eu sei o que estou fazendo.
     - Sabe?
     - Sei. - eu disse. - Estou saboreando a culpa.
     Sorri com amargura e levantei a garrafa, como que fazendo um brinde.
     Sam revirou os olhos.
     Passado algum tempo Valentina retornou, sozinha. Se juntou a nós, mas não se sentou. Então ela se dirigiu a mim:
     - Sinto muito, Dean. Lamento pelo o que você teve que ouvir. Jared não quis dizer aquilo, só estava nervoso. Sua vida tem sido muito difícil agora sem o pai. Tem as crises da adolescência e o time de futebol... - ela esfregou a cabeça, cansada. - E agora isso com a Elena foi o suficiente para que ele explodisse de vez.
     Eu concordei com a cabeça.
     - Cadê ele? - meu pai perguntou.
     - Ele entrou comigo, mas subiu. Deve estar observando a rua pela sacada, é bom que ele tenha esse momento sozinho.
     Ninguém falou mais nada.
     - Vocês não acham melhor esperarmos na sala? O tal agente pode chegar a qualquer momento... - Sam sugeriu.
     - Podem ir na frente, eu vou ficar aqui mais um pouco. - eu disse.
     Eles concordaram e se levantaram.
     - Sam... - chamei.
     Ele olhou para trás, os outros já tinham saído. Eu pensei por um instante, na minha cabeça eu tinha algo importante para dizer. Um desabafo, uma conversa entre irmãos ao qual eu diria tudo o que estava sentindo e no final ele diria que era complicado, mas que eu iria passar por isso. Mas quando abri a boca as palavras sumiram, então simplesmente disse:
     - Leva o notebook e deixa em cima da mesa de centro. Pode fazer isso?
     - Sim. Claro. Faço.
     Ele pegou o aparelho e me encarou.
     - Olha, se precisar conversar... se quiser ajuda com alguma coisa... eu estou aqui. - ele disse.
     - Eu sei. - forcei um sorriso. - Obrigado.
     Ele sorriu e se retirou.
     Permaneci em silêncio, pensando em Elena. O pedaço do bolo ainda estava sobre a mesa, se ela estivesse aqui certamente teria comido na hora, e não pararia mais de elogiar e dizer o quanto ele estava gostoso. Por um breve momento me permiti sorrir. Mas o próximo gole de cerveja fez o sorriso desaparecer aos poucos do meu rosto. Como se eu fosse invadido por uma sensação horrível de tristeza, um pressentindo ruim de que algo muito terrível iria acontecer, ou já estava acontecendo.
     Meus olhos estavam fixos no armário, mas não era como se eu olhasse para ele. Estava apenas perdido. Só me dei conta de que minha bebida havia acabado quando levei a garrafa até a boca, estava vazia. Pensei em pegar outra quando ouvi algumas batidas na porta da frente. O agente deveria ter chegado. Então deixei a garrafa sobre a mesa e me levantei, andando pelo corredor.
     - Deixa que eu abro. - avisei de longe.
     Me aproximei da porta e a abri, vendo um homem alto, vestindo um terno cinza caro, de aparência séria e de um olhar levemente caído. Era ele mesmo, o agente John Karter.
     - Agente... entre, por favor. - eu disse, me afastando da porta para dar passagem a ele.
     - Com licença. - ele disse. - Desculpe a demora, atravessar o condado me custou alguns quilômetros.
     Eu concordei.
     - Eu agradeço muito por ter vindo.
     Ele pareceu concordar.
     - Por aqui... - eu disse, conduzindo-o até a sala.
     Todos o esperavam em pé.
     - Agente... esse é o meu pai, John. Meu irmão, Sam. - apresentei. - E essa é Valentina, minha sogra.
     O agente olhou para todos e então retirou seu distintivo do bolso.
     - Agente John Karter, é um prazer. - ele se apresentou.
     Depois de longos apertos de mão ele finalmente disse:
     - Onde está a gravação? Posso dar uma olhada?
     - Claro, é para isso que o senhor está aqui. Por favor, sente-se. - indiquei o sofá.
     Ele se sentou.
     Abri o notebook, tentando não fazer com que meus dedos tremessem. Coloquei a imagem do início e deixei que ele controlasse a velocidade.
     - A que horas tudo aconteceu?
     Eu pensei.
     - Eu cheguei em casa por volta das oito e ela já não estava mais aqui.
     - Certo.
     Ele acelerou as imagens.
     - Muito bem, a primeira cena é de 19h35, Elena e Valentina saem de casa. - ele constatou. - O encapuzado entra logo em seguida.
     Observei sua expressão, ele parecia intrigado e interessado nas imagens. Olhava com atenção, vidrado em cada detalhe.
     - Três minutos depois, às 19h38, Elena retorna, sozinha.
     Todos nós ouvíamos, tensos.
     Ele parecia surpreso com as próximas cenas, passando a mão sobre o bigode. A cena seguinte foi a revelação, o homem de preto finalmente tira sua máscara deixando seu rosto exposto - ainda acredito que foi por gosto, ele queria que soubéssemos que era ele - era Eldon Styne.
     - Por Deus! - o agente exclamou.
     Seu rosto mudou de sério e intrigado para inacreditavelmente surpreso. Eu pausei a imagem e aproximei, focando exatamente no rosto do psicopata.
     - É ele, oficial. Eu disse que ele estava vivo.
     - Mas como isso é possível? - isso não pareceu uma pergunta e sim um pensamento alto causado pelo seu estado de choque.
     - É o que todos nós queremos descobrir.
     Ele continuou a assistir a gravação, boquiaberto.
     - Eldon ainda está vivo, isso explica muita coisa... - ele refletiu.
     Alguns instantes depois, ainda incrédulo, ele fechou o notebook, e se virou para mim.
     - Sr. Winchester, por favor, queira me desculpar... - ele começou. - Mas creio que o senhor entenda que era uma situação difícil de acreditar.
     Eu não me importava com as desculpas.
     - Não, tudo bem. Eu mesmo não acreditei quando vi.
     - O senhor tinha razão, e essas imagens serão a prova para abrirmos uma investigação. Eu estou à sua disposição... - ele disse.
     - Se o senhor quer mesmo se desculpar pode fazer isso nos ajudando. Por favor, eu preciso muito encontrá-la.
     - É claro. - ele pousou sua mão sobre o meu ombro. - Além de encontrá-la, precisamos dar a Eldon aquilo que ele merece. Será um prazer ajudá-lo.
     - Ótimo.
     O agente se levantou e caminhou até o canto da sala, retirando seu celular do bolso. Fiquei observando enquanto ele discava alguns números e observava a silenciosa vizinhança pela janela.
     - Vou ligar para o departamento. - ele avisou.
     Então colocou o celular na orelha.
     - Alô. Agente Karter na linha. Preciso da minha equipe. Sim, Detroit, West Outer Drive. Não, preciso agora mesmo. Reabertura do caso trinta e oito. Sim, consegui as provas de que precisava. Repito, reabertura do caso trinta e oito. Já estão à caminho? Ok, obrigado.
     Todos nos entreolhamos. Então o agente se virou.
     - Pronto, eles estão à caminho.
     Concordamos.
     - Há mais alguém que saiba do sequestro de Elena? - ele perguntou.
    - Sim, meu filho, Jared. - Valentina respondeu. - Ele está lá em cima.
     - Certo. Poderia chamá-lo? É importante que eu converse com todos que saibam.
     - Claro.
     Então Valentina subiu.
     Karter tinha um olhar observador. De vez em quando ele encarava nossos rostos, ou andava de um lado para o outro, analisando a casa. Olhava para as paredes, observava a decoração, e até mesmo remexia, ainda que discretamente, em algumas coisas. Isso acabava me deixando um pouco desconfortável, mas eu acreditava que não era culpa dele. Digamos que ele não fosse exatamente uma pessoa curiosa, e que era tudo apenas parte do seu trabalho como investigador.
     Não demorou muito para que Valentina retornasse, Jared veio atrás dela.
     - Então você é o Jared, irmão da Elena?
     - Sim, eu mesmo. - Jared apertou a mão do agente.
     - É um prazer, Jared. Estou aqui para ajudar a encontrar sua irmã.
     Jared concordou.
     - Agora que estão todos aqui, precisamos deixar algumas coisas claras.
     - Como o quê? - cruzei os braços.
     - Preciso que o sequestro de Elena fique apenas entre nós, nada de polícia local, xerife, nem nada. A polícia serviria somente para causar tumulto, algo de que nós não precisamos. No momento temos que ser discretos, nada de comentar com amigos ou vizinhos e nem redes de comunicação, quanto menos gente souber, melhor. Nisso vocês estão de acordo?
     - Estamos de acordo. - Sam e meu pai responderam.
     - De acordo. - disse Jared. - Mãe?
     - Sim, acho que será melhor se mantermos em sigilo.
     Então todos se voltaram para mim.
     - Dean?
     Dei de ombros.
     - Claro, é bom que fique em segredo.
     Não era como se eu não tivesse pensado nisso quando evitei ligar para a polícia.
     - Ótimo. - prosseguiu o agente. - Quero que vocês fiquem assegurados de que a minha equipe é uma das mais competentes de todo o departamento, somos especialistas em resolver crimes como este. Temos investigadores criminais formados em tecnologia, tudo para que tenhamos um resultado rápido e eficaz nos nossos casos. Vocês estão em boas mãos.
     - Assim eu espero. - eu disse. - Conto com isso para encontrar Elena.
     - Basta confiar em nosso trabalho.
     - Nós também estamos à disposição. - meu pai disse. - Queremos colaborar para o que for necessário.
     - Isso é bom, muito bom. - o agente parecia satisfeito com a nossa cooperação. - Bem... a operação toda será realizada aqui, então vamos precisar de espaço. Podemos ocupar a sala? Já que ali tem uma mesa, acho que minha equipe ficará bem instalada aqui. Se estiver de acordo, é claro?
     Eu concordei.
     - Sim, claro. Vocês podem ocupar a casa toda se for necessário, o que precisarem. O que importa mesmo é que vocês consigam resolver nosso problema.
     - Sim...
     Ele me olhava com atenção, como se analisasse meu comportamento.
     - Bem, o que nos resta agora é esperar... - suspirei.
     De novo.
     Algum tempo se passou, e os ponteiros do relógio se aproximavam cada vez mais da meia noite. Isso me deixava nervoso e ansioso. Fizemos algumas mudanças na sala para esperar a equipe, empurramos alguns móveis. Mas tudo para mim parecia perda de tempo. O que eu queria mesmo era sair por aí à procura de Elena, mesmo sabendo que talvez não fosse encontrá-la. Ao longo da minha movimentação tive que desabotoar alguns botões da camisa, e erguer as mangas. A essa altura não conseguia sentir mais frio, nem nada que não fosse desespero.
     Quando estava prestes a perder as esperanças eles chegaram. Karter abriu a porta para eles, e então eles entraram. Fiquei observando, de início eles conversavam algo que eu não podia entender, talvez nem fizesse parte do nosso caso. Então eles se aproximaram e o agente fez as devidas apresentações. Eram umas cinco pessoas no total e usavam uniformes de cor azul e preto, e pistolas na cintura. Confesso que a casa nunca tinha ficado tão cheia.
     - Dean, esses são Max e April. Eles são especialistas em buscas de informação e localização de pessoas, principalmente nossa querida April. - ele tocou o ombro dela.
     Max era alto e louro. April era morena, tinha o cabelo trançado para trás e era alguns centímetros mais baixa que Max.
     - É um prazer, senhor. - ela apertou minha mão.
     - É bom conhecê-lo, Sr. Winchester. - Max estendeu sua mão para mim. - Vamos encontrar sua esposa.
     Eu assenti e apertei sua mão.
     Observei dois outros homens que também haviam entrado, estavam carregando vários equipamentos que pareciam pesados.
     - Aquele é o Justin, o nerd da equipe. - Karter apontou. - É especialista em monitoramento de computadores, banco de dados, entre outros. Não há nada que ele não possa hackear.
     - E aí. - Justin disse. - Pode ajudar aqui?
     - Claro. - Sam foi até ele e o ajudou a carregar alguns equipamentos, colocando-os em cima da mesa.
     Justin era alto e tinha o cabelo preto, usava óculos e parecia ser mais desastrado do que eu imaginava. Digo isso vendo ele derrubar algumas coisas no chão. Karter deu um sorriso sem graça e Justin logo juntou a bagunça.
     - O outro é Brandon, nosso mestre em criminalística.
     Brandon era o outro que ajudava Justin a carregar as coisas. Ele era o mais alto da equipe, e era forte. Tinha tatuagens no braço, e ao contrário de Justin, que parecia ser incrivelmente novo para fazer parte do FBI, Brandon deveria ser um dos mais velhos. Ele acenou para mim com a cabeça.
     - E esse é o Stevan.
     - Olá. - ele me cumprimentou com um aperto de mão, assim como os outros.
     - Por muito tempo ele trabalhou por conta própria como investigador particular, até resolver fazer parte do FBI. Também é um ótimo profissional.
     - Isso é verdade, por muito tempo investiguei Eldon Styne sozinho e quando apresentei as informações que tinha levantado para a polícia foi uma ação mais do que essencial para que ele fosse preso pela primeira vez em nosso país. - Stevan complementou. - Sei tudo sobre ele, conheço o seu perfil. Podemos prendê-lo de novo.
     - Imagino que tenha sido difícil da primeira vez...
     - Na verdade, sim. Apesar de Eldon ter deixado uma pilha de corpos, mortos todos da mesma forma, algo que indicava o seu padrão e nos fazia entender que era ele, ele sempre conseguia encobrir os seus rastros.
     Concordei, nem um pouco surpreso.
     Stevan parecia ser quase da idade de Karter, as leves linhas de expressão que se formavam nos cantos de seus olhos toda vez que ele sorria indicavam seu tempo de trabalho. Tinha cabelo preto e olhos azuis, e deveria ser o mais baixo da equipe, apesar de ainda considerá-lo alto. De aparência amigável, com certeza tinha uma ótima lábia. Isso era bom para um investigador, certo? Ele tinha uma espécie de bolsa pendurada nos ombros e usava um boné combinando com seu uniforme.
     - Vocês são uma equipe antiga, eu presumo...
     - Stevan e eu somos os mais velhos, ele é um amigo de longa data. - parecendo alegre, Karter deu alguns tapinhas nas costas de Stevan. - Logo veio Brandon, e então formamos o trio mais antigo. Em seguida veio o Max. Já April e Justin estão conosco a pouco tempo. Tempo o bastante para ultrapassar o número de casos resolvidos em um ano.
     - É a tecnologia e a juventude superando nosso conhecimento e tempo de trabalho. - sorriu Stevan. - Estamos ficando velhos.
     - Imagino que cada um deles possui ótimos feitos. - meu pai se aproximou.
     - Sim. - Karter respondeu. - April investigou e conseguiu combater uma das maiores facções do tráfico de armas do país. Já o Justin, ele conseguiu derrubar mais de quarenta sites que divulgavam pornografia infantil. Além de localizar os autores, ele liderou a operação que efetuou a prisão deles.
     - Por isso não devemos subestimá-lo por ser jovem. - Stevan disse. - Justin é um menino de ouro.
     - E o Max? - perguntei.
     - O Max tem uma ficha incrível, resolveu esquemas de corrupção, tráfico. Ele sempre foi linha de frente. Enfrentava os criminosos sem medo, embora ele tenha ficado um tempo afastado. Acabou caindo na bebida, o que enfraqueceu a carreira dele. Eu não o julgo, depois do que aconteceu...
     - Porque? O que aconteceu?
     - A cinco anos atrás ele estava investigando uns caras da pesada, máfia russa. Mal sabia ele que isso iria custar a vida de sua esposa.
     Fiquei boquiaberto.
     - Pois é. - ele continuou. - Os caras descobriram que ele estava investigando, e resolveram cortar o mal pela raiz.
     - Como aconteceu? - perguntei.
     - Max trabalhava muito, ele realmente amava o seu emprego. Trabalhava até durante as folgas, o que já vinha gerando discussões a muito tempo entre ele e a esposa. Ela queria que ele tirasse mais tempo para ela, e que não ficasse tanto tempo enfiado no trabalho. Ele ficava dividido. Até que ele decidiu atender o desejo dela e tirou uma folga. Os dois saíram para jantar em um restaurante. Foi quando os homens armados da máfia chegaram. Houve uma troca de tiros e um deles acertou a cabeça de sua esposa. Ela morreu nos braços dele. O alerta do restaurante acionou rapidamente a polícia, e os criminosos não tiveram tempo de concluir o objetivo, que era matá-lo. E sabe o que é mais triste? A esposa estava grávida de sete meses, seria o primeiro filho deles, uma menina.
     Olhei para Max que estava afastado de nós, conversando em um canto com os outros colegas da equipe. Olhando-o assim, não dava para acreditar que ele havia passado por tudo isso. Fiquei com pena e fui invadido por uma onda de tristeza enorme. Era horrível a forma como o que aconteceu com ele se parecia com o que estava acontecendo comigo e Elena, e eu temia.
     - Eu sinto muito.
     - Eu também. - ele disse. - Tentaram em vão levá-la para o hospital, mas não adiantou. Os médicos fizeram de tudo, mas não conseguiram salvar a bebê. Depois disso, a dor foi tão grande que Max não aguentou. Ele passou dois anos se culpando pela morte da esposa e da filha, se culpava por não ter dedicado tempo suficiente para ela. E também se culpava pela morte das outras cinco pessoas que morreram naquela noite no restaurante. Ele se enfiou na bebida e não foi mais trabalhar. Foi difícil tirá-lo daquela situação, mas nós conseguimos. Quando ele voltou, voltou com tudo. Resolvia mais casos do que antes. Não era mais o mesmo, tinha se tornado um homem frio e prometeu vingança para os mafiosos. Para encerrar, ele conseguiu. Investigou e descobriu exatamente quem havia disparado o tiro que acertou sua esposa, e então o matou. Prendeu o restante dos bandidos e até mesmo o chefe da quadrilha. Ele conseguiu sua vingança, mas o que eu posso garantir por tempo de convivência é que isso não fez com que ele se sentisse melhor. Pelo contrário, ele carregou o peso de mais uma morte nas costas. Tinha sangue em suas mãos. Mas o importante é que agora ele não é mais assim, voltou a ser o mesmo Max de antes. Embora no fundo ele ainda sofra.
     Era uma história de vida triste, eles eram uma família e iriam ter um filho, até que de repente ela foi arrancada dele sem piedade. Eu não o julgo por ter se vingado, embora a vingança não tenha o poder de arrancar do peito a dor da perda. Eu acho que faria o mesmo. Isso me fazia pensar que quando olhamos as pessoas de longe imaginamos que a vida delas é um perfeito mar de rosas, tudo muito feliz e contagiante, como se não tivessem nenhum problema, mas mal sabemos o que elas realmente enfrentaram.
     - April e Max parecem ser bem próximos... - observei.
     Os dois conversavam ao longe e sorriam, pareciam se dar bem.
     - São melhores amigos. - disse Karter. - April foi essencial para que Max voltasse a ser essa pessoa feliz e alegre que ele é hoje. Devemos agradecer isso a ela, ela consegue conquistar todo mundo ao seu redor. E sim, eu não duvido nada que role um lance entre os dois. Mas quando eu questiono eles ficam na defensiva. - ele sorriu.
     Eu também sorri e dei uma última observada, os dois realmente combinavam. Todos deveríamos ter alguém que nos fizesse esquecer ou aliviar as dores que havíamos sofrido, por sorte, eu tinha esse alguém.
     - Bom, vamos ao trabalho. - Karter bateu palmas, chamando a atenção de todos.
     Logo eles começaram a se movimentar. Sam ajudou Justin e Brandon a ligarem os equipamentos e conectar à internet, eu via o interesse dele por isso, afinal, meu irmão também era nerd. Max folheava alguns papéis e April mexia em um tablet, ao mesmo tempo que se comunicava pelo rádio com alguém. Deveriam estar fazendo alguma espécie de relatório. Isso era mesmo necessário? Acho que não importava o que você fosse fazer, sempre deveria haver burocracia.
     John pediu ajuda ao meu pai para pendurar uma espécie de quadro na parede. Talvez fosse uma daquelas lousas que os detetives usavam para pendurar fotos de suspeitos e pistas da investigação.
     - Vou passar um café para os investigadores. - Valentina disse e foi até a cozinha.
     Olhando o seu rosto eu percebia que ela ainda estava triste, provavelmente procurando alguma coisa para se manter ocupada, qualquer coisa que a fizesse esquecer por alguns instantes o que estava acontecendo com Elena. Jared já não estava mais na sala, talvez ele devesse ter subido de novo.
     - Sr. Winchester, o senhor não teria uma foto de Elena sozinha? - Stevan perguntou, me fazendo sair de um transe que eu nem tinha percebido que estava.
     Eu olhei para ele.
     - Claro. Tenho uma foto dela lá em cima. Eu vou subir e pegar... só um instante.
     Ele concordou e então eu me afastei e subi as escadas. Chegando no patamar do andar de cima a primeira porta a dar de cara foi a do banheiro. Continuei caminhando, e cada vez mais sentia meu coração apertado. Ao chegar à porta do nosso quarto eu parei e respirei fundo, não sei se sentia angústia e medo ou a esperança de que ao abrir a porta Elena estaria ali dentro. Minha mão tocou a maçaneta e foi como se eu contasse até três antes de abrir a porta. Então entrei. O vazio do quarto me atingiu, ele estava escuro e frio. Quando alguém desaparecia acabava deixando tudo um pouco sombrio, como se tivesse algo faltando.
     Liguei o interruptor e a luz acendeu. Olhei em volta. Tudo estava bem organizado, como Elena gostava de deixar, exceto a cama. Depois de um tempo encostado na porta, resolvi dar um passo e fui até ela. Em cima dos lençóis, um tecido claro se sobressaltava, acabei puxando-o. Era a roupa que Elena vestia hoje de manhã. Como que por instinto levei-a até o meu rosto, sentindo a maciez dos tecidos. A roupa ainda tinha o cheiro do seu perfume. Era um cheiro doce que me prendia e me fazia pensar em Elena. Onde você está, meu amor? Uma lágrima dolorosa escapou pelos meus olhos. Então coloquei sua roupa perfeitamente sobre a cama. Olhei para o criado mudo e em cima dele estava o porta retrato com a foto que eu queria. Fui até ele e o peguei. Era uma foto de perfil, Elena sorria e usava o colar que eu tinha dado. Sempre gostei dessa foto.
     Tirei a foto da moldura com cuidado para não amassar, e devolvi o porta retrato sobre o criado mudo. Sei que a veria dessa forma de novo, sorrindo. Então saí do quarto e tranquei a porta. Entreguei a foto para Stevan quando retornei.
     - Justin, passe as imagens de novo para a equipe. - Karter pediu.
     - Deixa comigo, chefe.
     Justin estava no controle dos equipamentos, tinham vários monitores e rádios em cima da mesa. A equipe fez um círculo em volta dele para assistir às imagens.
     - Muito bem, pessoal. Essas são as imagens, aqui estão os dados de como tudo aconteceu. - ele entregou um papel a cada um deles. - A ação foi realizada em menos de vinte minutos, nosso suspeito aqui é rápido.
     Eles analisaram os papéis junto com as imagens.
     - Que loucura, então o cara está mesmo vivo... - Max comentou.
     - É, pelo jeito o cara é durão, mas não pode resistir para sempre. - Brandon disse. - Só preciso de uma ordem e eu acabo com ele.
     - Não. - Karter se sobressaltou. - Eu quero ele vivo, ele tem que pagar por tudo o que fez e a morte não é castigo o suficiente.
     Brandon deu de ombros.
     - É isso, pessoal. Aqui tem outro relatório com a ficha extensa e suja do Eldon. - Justin entregou-lhes outro papel. - Estudem o caso, vocês vão precisar.
     Karter se aproximou e pareceu dar um pause em uma das cenas.
     - Esse é o carro que Eldon utilizou, é um carro velho, todo caindo aos pedaços. Tenho noventa e nove por cento de certeza que é roubado.
     - Isso é óbvio, aliás, para quê ele iria roubar um carro novo? Isso chamaria muito atenção. - Brandon ressaltou.
     - Tem razão. - Karter concordou. - Tem como aproximar mais?
     - Claro. - Justin disse, aproximando as imagens. - E como esperado... a placa não aparece.
     - Droga.
     Ele pareceu pensativo.
     - April... acha que consegue descobrir que carro é esse? - pergunta.
     - É claro que consigo.
     - Ótimo. Quero modelo, ano, placa, tudo. Se foi roubado ou não. O que você conseguir descobrir vai ajudar bastante.
     - Deixa comigo.
     Ela pegou o seu tablet e se afastou.
     - Max... ligue para o departamento e peça reforço. Mande que as equipes fiquem em áreas estratégicas, fronteiras, estradas desertas, esses lugares. Peça que sejam discretos, como se fosse uma simples blitz de rotina. Envie a foto de Elena e do suspeito. Pode fazer isso?
     - Posso.
     Ele também se afastou, segurando um dos rádios.
     - Justin... continue vendo se descobre alguma coisa.
     - Você que manda.
     - Stevan e Brandon... vocês dois deem uma volta pela vizinhança. Descubram se os vizinhos viram alguma coisa. Mas sejam discretos, não precisamos que eles saibam o que estamos fazendo.
     - Deixa com a gente. - Stevan disse.
     Os dois cruzaram a porta e saíram.
     - Ótimo, tudo sobre controle.
     Eu estava de certa forma surpreso e um pouco satisfeito com a disposição da equipe, mas ainda assim, me sentia inseguro.
     - Telefones... quantos telefones tem nessa casa?
     - Dois, tem dois. Um aqui na sala e outro que fica lá em cima no quarto.
     - Tá legal. Deixa que eu cuido deles. Eldon pode ligar pedindo o resgate.
     Eu franzo o cenho.
     - Não parece ser o tipo de coisa que ele costuma fazer.
     - Não podemos excluir nenhuma possibilidade. Eldon é imprevisível, podemos esperar qualquer coisa.
     - Certo.
    E eu novamente estava de mãos abanando.
    Valentina retornou segurando uma bandeja enorme com xícaras e uma garrafa de café. Deixou em cima da mesa. Fiquei encostado sobre a lareira, os ponteiros do relógio não tinham piedade. Já era madrugada, e eu ainda queria mais uma bebida. Max já tinha ligado para o reforço, e passando mais um bom tempo, Stevan e Brandon retornaram.
     - O que descobriram? - Karter perguntou.
     - Nada demais. - Stevan respondeu. - Nada do que já não saibamos.
     - Com quem conversaram?
     - Tinha uma senhorinha em uma varanda. Ela disse que viu Elena e chegou até a acenar para ela momentos antes de tudo acontecer.
     - Não perguntaram sobre o carro?
     - Perguntamos. Foi difícil fazê-la lembrar, mas ela afirmou ter visto um carro estacionado um pouco mais abaixo, um carro detonado como o das imagens. Disse que estava estacionado a um bom tempo, mas não achou estranho pois sempre os carros ocupavam aquela vaga.
     - Humm, ela não quis saber o porquê das perguntas?
     - Para falar a verdade ela estava mais interessada no grandão do Brandon aqui do meu lado, a velhinha tava dando mole pra ele.
     Eu revirei os olhos e bufei.
     - Vai à merda, cara. - Brandon pigarreou.
     - Vem cá, isso é mesmo necessário? - interrompi. - Agente, o senhor disse que a sua equipe era qualificada. Os dois saíram para passear e voltaram sem nada. Justin ainda não encontrou nada nesse maldito computador e April está a duas horas mexendo na porcaria daquele tablet e não consegue identificar esse maldito carro idiota.
     - Ei, o que é isso agora, Sr. Winchester? - April se levantou. - Estamos fazendo o possível para ajudar, não precisamos ficar ouvindo baboseira.
     Eu senti que uma veia sobre minhas têmporas latejava.
     - Minha mulher grávida está por aí com um maldito psicopata, correndo perigo, enquanto vocês ficam aí sentados tomando cafézinho e folheando papéis.
     - E o que você sugere que a gente faça? - Karter questionou.
     - Ora, devemos fazer buscas. Temos que procurá-la em algum lugar.
     - Algum lugar onde? Não temos informação, qualquer coisa pode ser um tiro no escuro. Precisamos ter certeza antes de agirmos, não é de cabeça quente que resolvemos as coisas por aqui.
     - É engraçado... - sorri amargamente. - Enquanto a gente fica aqui procurando informações, Elena pode estar morta.
     - Sr. Winchester, por favor... coopere.
     - Não, eu não consigo mais cooperar. - estremeci. - Me dá agonia, ficar aqui com as mãos abanando sem fazer nada para resolver essa situação me deixa com raiva.
     - Ótimo, se você se sente assim é melhor procurar algo de útil para se ocupar, algo que realmente nos ajude, sem ser ficar aí reclamando. - Karter debateu. - Se quer fazer alguma coisa para encontrá-la, com todo o respeito, a primeira coisa que deve fazer é parar de ser idiota.
     Meu rosto enrijeceu.
     - Dean, você está nervoso. Tome um pouco de água... - meu pai se aproximou com um copo.
     Irritado, eu me virei e empurrei o seu braço, fazendo o copo cair e mil estilhaços de vidro se formarem no chão.
     - Eu não quero água, vocês precisam parar de ficar me oferecendo as coisas.
     - Dean! - ouvi Sam ao fundo.
     - Deixa, Sam. Seu irmão só está irritado. - meu pai disse, se abaixando para juntar os cacos.
     - E também precisam parar de dizer que eu estou irritado ou nervoso, porque vocês ainda não me viram e não sabem como eu fico quando eu realmente perco a cabeça.
     - Dean, você está passando dos limites. Não perca o controle. - meu pai se levantou e me encarou.
     - Não perca o controle? Você não tem o direito de me pedir uma coisa dessas quando você mesmo não conseguiu manter o controle quando a mamãe morreu. - apontei o dedo sobre o seu peito. - Você se lembra? Depois que a mamãe sofreu aquele acidente de carro você não conseguiu superar a dor da perda e me deixava sozinho para cuidar do Sammy a noite, enquanto você saia para encher a cara em um bar qualquer de beira de estrada e depois chegava bêbado pela manhã fedendo a cachaça. Eu era criança e precisava de você, o Sam era bebê e precisava de você, nós dois precisávamos, mas você nunca estava lá. Tinha perdido o controle. Então você não pode me pedir para não fazer o mesmo.
     Seus olhos umedeceram e eu olhei no fundo deles vendo o sofrimento que eu havia provocado. Eu me arrependi na hora.
     - Você tem razão, eu não posso pedir uma coisa dessas. Mas eu só tenho uma coisa a dizer: você jamais encontrará Elena agindo da mesma forma como eu agi no passado. Pelo contrário. Quando você perde o controle nada mais importa pra você, e quando isso passa você sente toda aquela culpa horrível, e tristeza e o remorso por ter feito tudo o que fez, sente eles te invadindo. É horrível, isso eu garanto. Horrível demais, e eu não quero isso pra você. Então não haja como eu agi.
     - Pai, eu...
     - Não, não precisa me pedir desculpas. - ele me interrompeu. - Eu sei que você estava nervoso e não quis dizer o que disse. Eu sou adulto, eu vou superar.
     Ele me deu as costas e saiu com passos pesados em direção a cozinha.
     - Dessa vez você pegou pesado, Dean. - Sam me olhou com raiva e foi atrás do papai.
     - Eu sei... - eu disse, um som quase inaudível junto de uma lágrima.
     Não tinha mais cara e nem coragem para me virar, sentia os olhos de julgamento pesando sobre os meus ombros. O que eu tinha feito? Não devia ter dito aquilo. Então me virei, alguns me olhavam surpresos, outros com desaprovação. Eu não queria que eles tivessem presenciado minha atitude.
     - Só continuem o que vocês estavam fazendo, por favor... eu sei que estão fazendo o melhor que podem.
     Eles não disseram nada, nem ao menos mexeram a cabeça em concordância. Esfreguei minha cabeça, sentindo que ela latejava.
     - Eu vou limpar essa bagunça. - Valentina quebrou o silêncio.
     Ninguém disse nada, eles apenas se viraram e voltaram ao trabalho. Então eu me afastei e subi as escadas, sentia meus nervos aflorados e só queria fugir dali antes que eu cometesse outra besteira. Queria um refúgio, precisava ficar sozinho e refletir sobre as coisas que eu tinha feito. Sem ao menos perceber já tinha entrado no quarto da bebê. Fiquei encostado na porta apenas observando. O ambiente era simples, mas capaz de me fazer por um instante desligar as minhas emoções, pelo menos as que estavam me desgastando.
     Não precisei acender a luz, não queria claridade, a que vinha de fora era suficiente. Minhas mãos tocaram a cômoda e eu me aproximei do berço. Fiquei ali parado por um tempo, remexendo nos ursinhos de pelúcia que estavam ali em cima. Era tudo tão especial vendo com os olhos certos. Por um momento um sorriso bobo escapou de meus lábios. Me aproximei da poltrona no canto e me senti. Não queria que ninguém viesse atrás de mim, e eu sabia que não viriam depois das coisas que eu disse. Naquele momento eu estava bem sozinho.
     Então comecei a pensar em tudo o que estava acontecendo, era terrível e eu ainda estava em pânico. O que Elena faria se estivesse aqui? O que ela diria? Com certeza não se orgulharia da forma como eu agi, das coisas que eu disse, da maneira como tratei as pessoas. O que eu estava fazendo? Com certeza ela diria que não era desse jeito que se resolveria as coisas. Ah, se ela estivesse aqui... Tudo seria mais fácil. Eu tinha feito besteira, muita besteira. Depois de tudo isso, meu pai tinha razão. Quando tudo passa, quando a raiva passa, a culpa aparece, e é tão horrível que você não consegue suportar.
     Como pude magoá-lo dessa maneira? Eu sabia que havia tocado em uma ferida que talvez ainda não tivesse cicatrizado. Era uma situação delicada e eu havia sido um babaca insensível. Feri os sentimentos dele, mesmo sabendo que ele jamais faria isso comigo. Ele podia até bancar o durão, mas no fundo ele estava arrasado. Eu sabia o que deveria fazer, tinha que pedir perdão. Mas antes era melhor dar um tempo, não queria forçar a barra. Eu precisava desse tempo para absorver tudo o que tinha acontecido, e acredito que ele também.
     Fiquei ali tempo o bastante para repensar minhas atitudes, agora precisava enfrentar as consequências. Então desci. Não estava me sentindo confiante, mas não poderia me esconder por muito tempo, mesmo se quisesse. Quando pisei na sala vi que tudo ainda permanecia do mesmo jeito. Tantas pessoas andando para todos os lados fazia a casa parecer menor. Me precipitei até a cozinha, me arrependendo um pouco ao imaginar a conversa dura e complicada que teria. Porém quando cheguei lá ela estava vazia e a porta dos fundos estava aberta, Sam e papai deveriam estar no jardim.
     Não quis incomodá-los, como eu havia dito, não queria forçar a barra. Queria conversar no momento certo, quando ele estivesse bem e eu me sentisse mais calmo. Sei que iríamos nos resolver, como sempre fazíamos depois de uma discussão. Bastava dar tempo ao tempo. Então me aproximei da geladeira. Precisava de alguma coisa que me acalmasse e mantivesse firme minhas mãos trêmulas. Peguei outra cerveja e abri a garrafa, afinal, era apenas a segunda da noite.
     Voltei para sala e atravessei pelo meio do tumulto. Eles pareceram não me ver ou então minha presença não estava sendo importante no momento. Atravessei a porta e saí, sentindo uma lufada de vento gelado atingir o meu rosto. Me aproximei da varanda e me encostei em uma das vigas que sustentavam a sacada. O primeiro gole da cerveja desceu mais depressa do que eu desejava. Quando olhei para baixo notei que Jared estava sentado no último degrau, estranhei um pouco e então desci e me sentei ao lado dele.
     - A rua está silenciosa... - eu disse.
     Ele não pareceu se surpreender com a minha presença, nem ao menos olhou para o lado.
     - Nunca tinha percebido como era a essa hora da madrugada.
     - É mais calma, traz mais tranquilidade. - ele se pronunciou. - As pessoas deveriam apreciar melhor as coisas a essa hora.
     Eu concordei, refletindo.
     Então me virei para observá-lo, ele segurava uma garrafa de cerveja e bebia. Franzi a testa.
     - Jared, você não é de menor? Não deveria estar bebendo cerveja. Se sua irmã visse...
     - Ah, Dean, não enche. - ele retrucou. - Não me diga que com a minha idade você também não bebia...
     Eu sorri. É claro que bebia.
     - Vou te dar um desconto só porque hoje foi um dia difícil.
     Dessa vez foi ele que sorriu.
     Depois eu me sentiria um pouco culpado. Mas só um pouco.
     - Você estava aqui fora esse tempo todo? - perguntei.
     - Sim, a noite está bonita. Não tinha o porquê de ficar lá dentro.
     A noite estava realmente bonita. A lua era cheia, enorme e reluzia, deixando a rua iluminada. O restante do céu estava limpo, sem nenhuma estrela. Uma garoa fina caía.
     - É, tem razão. - tomei outro gole. - O céu está mais bonito hoje...
     Estava frio e fumaça saia pela minha boca enquanto falava. Ficamos um bom tempo ali em silêncio, estava gostoso e nem um pouco estranho. Ainda que relutante me levantei, mas antes que pudesse me afastar, Jared me chamou.
     - Dean, espera...
     Eu hesitei, voltando a me sentar.
     - Olha, me desculpe. Eu não quis dizer aquilo, só estava nervoso.
     Eu sorri e toquei o seu ombro.
     - Tudo bem, eu também falo algumas coisas que não devo quando estou nervoso. É normal, o ser humano é assim.
     Mesmo assim, ele continuou:
     - Você foi a melhor coisa que aconteceu na vida da minha irmã, por isso eu gosto de você. Foi uma besteira minha ter dito aquilo, você realmente foi a única pessoa que cuidou dela. Não teve culpa pelo o que aconteceu...
     Eu não disse nada, apenas pensei em suas palavras.
     - Se é isso que você quer ouvir... está perdoado. - eu disse.
     Um sorriso brincalhão e satisfeito surgiu em seu rosto.
     - Ufa, achei que teria que levar esse sofrimento para a sepultura...
     Eu dei risada.
     Mais um gole de bebida.
     Algumas coisas eram mais fáceis de resolver do que outras. Bastava ser sincero em relação ao que sentia e você ganhava o perdão das pessoas. Ou às vezes apenas o respeito. Acreditando ou não, era o necessário.
     - Acha que vamos encontrá-la? - ele cortou o silêncio.
     Eu hesitei.
     Aprofundei os meus olhos na imensidão escura do céu.
     - Vamos sim. - respondi. - Mas só se formos juntos.
     Ele sorriu.
     - Um brinde a isso.
     Ele levantou sua garrafa.
     Um brinde.

Continua...

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Notas da autora:

     Oi, pessoal. Como vão? Estou aqui de volta com mais esse capítulo especial, espero que tenham gostado. Achei que não conseguiria publicar, toda vez que apertava o botão de publicar o Wattpad falava: ocorreu um erro desconhecido, tente novamente mais tarde. Só que sempre que eu tentava acontecia a mesma coisa. Enfim, depois de muitas tentativas, consegui. O próximo capítulo já está em andamento.
     Queria ainda ressaltar que ainda dá tempo de vocês escolherem a nova capa para a história, basta voltar ao capítulo anterior e comentar na capa desejada. Também queria deixar claro um outro detalhe que talvez vocês nem tenham percebido, sobre o trecho abaixo:
     - Ah, o senhor não sabe como eu agradeço. Por favor, o endereço é West Outer Drive, 420.*
     O uso do asterisco é somente para deixar claro que o endereço não existe, foi apenas criado para a fanfic. Estando isso explicado, gostaria de pedir que vocês votassem e comentassem no capítulo. Vocês já estão cansados de ouvir o quanto isso é importante. Então até a próxima. Fiquem bem!

Até o próximo capítulo!

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