Capitulo Oito - What Is This Feeling?
Boa leitura, meus fantasmas- digo, espiritos- quer dizer... Gasparzinhos! Vocês entenderam.
~o~
Louis participou do show de talentos. Não cantando, mas fazendo a música que vamos cantar. Ele e Liam escreveram uma em conjunto. Ao longo de duas semanas, os meninos vieram vez ou outra para a sala de música comigo. Eu disse que isso seria só durante os ensaios porque depois não queria ninguém lá. Sei que não tenho direito de pedir isso, mas respeitaram minha vontade. Eu apenas não quero estragar esse lugar e momento meu e do Louis.
Eles falam com Louis e jogam futebol após os treinos quando querem, é até melhor já que não sei jogar. Mas na sala de música não quero ninguém além de nós dois.
Niall ajudou a fazer a melodia no violão e faltando as ultimas semanas tínhamos a música pronta. Ensaiamos as partes que cada um irá cantar. Agora estou aqui atrás das cortinas do palco, escutando a plateia conversando e esperando os próximos, que somos nós.
- Harry? – Liam pegou no meu ombro. – Você está pálido.
- Viu um fantasma, ou o Louis? – Niall brincou e Liam deu um tapa na cabeça dele. – Ai.
- Não tem graça – Louis apareceu do meu outro lado e Niall levou um susto com a voz repentina, e então relaxou.
- Seria muito melhor se eu pudesse te ver, Louis. Às vezes, acho que são vozes da minha cabeça – Niall estremeceu.
Louis não deu muita atenção e Liam falou algo sobre modos para Niall. Zayn tinha ido fumar um pouco antes de se apresentar.
- Tudo bem? – Louis olhou em meus olhos e eu desviei.
- Sim – passei a mão na franja. – Eu... Eu nunca me apresentei para esse numero de pessoas. Na verdade, nunca me apresentei. Só para a família nos eventos especiais.
- Você vai arrebentar – Louis ia colocando a mão no meu ombro, mas se impediu no ato e ambos arregalamos os olhos. – Desculpa.
- Não, tudo bem.
Trocamos sorrisos.
- Harry – ele prendeu minha atenção. - Eu tenho certeza que você vai se sair bem e eu vou estar por perto te dando apoio. Não precisa olhar para as pessoas. Olha para outro lugar, ou para os seus amigos... Canta querendo que todos te ouçam, mas não te vejam.
- Você pode fazer isso com os meninos – ri.
- Faça do seu jeito – deu uma piscadela.
- Obrigado, Louis – agradeci verdadeiramente, nervoso, mas me sentindo confiante.
Ele sorriu para mim e sumiu.
- Cadê o Zayn? – Liam se aproximou. – Louis já foi?
- Mais ou menos – olhei ao redor atrás de Zayn. – Ele disse que vai ficar por perto para me apoiar. E quanto ao Zayn, eu não sei.
- Viu só? Vai dar tudo certo, até um espirito de sorte você tem – Liam riu.
Zayn finalmente apareceu e soltamos o ar. Ele sorriu amarelo e formamos um tipo de roda. Olhamos para o rosto um do outro quando as professoras de Artes, Inglês e Literatura avisaram que está na nossa vez.
- Não esquentem, rapazes – Zayn colocou a mão no meio do circulo. – É só mais uma memoria que vamos criar.
Assentimos e colocamos nossas mãos em cima da dele. As cortinas se abriram e nos posicionamos. As luzes no publico desapareceram e outras se iluminaram no palco. Niall está com o violão elétrico preparado, sentado num banco com o microfone na sua frente apoiado no tripé. Liam, Zayn e eu nos espalhamos pelo palco.
Cantamos seguindo o ritmo do violão.
Niall se une aos vocais e como Louis previu, as pessoas estão curtindo e batendo palmas ao som da música. No primeiro minuto, eu ainda me senti nervoso, mas Liam colocou o braço ao redor dos meus ombros para retirar a tensão. Ele se afastou e todos nós cantamos sorrindo para o outro.
Está chegando perto do meu solo e fiquei nervoso outra vez. Eu posso sentir minhas mãos tremendo e a respiração dificultando. Estou com medo de atropelar as letras, ou simplesmente esquecer.
Chegou a hora e eu canto.
Fecho os olhos, me concentrando para não errar e é quando sinto algo quase imperceptível de tão suave, leve e caloroso tocando a minha mão livre. Abro os olhos encontrando Louis sorrindo para mim, passando casualmente na minha frente e soltando minha mão.
Meu coração acelera por vários motivos nesse segundo. Por Louis estar aqui por mim, ser meu solo e nos tocarmos pela primeira vez. Eu quis segurar sua mão por mais tempo, mas é impossível. É como uma brisa acariciando sua pele.
Ele some e percebo que estou sorrindo, meu solo acabando. Os outros concluem a canção e a plateia levanta para bater palmas. As cortinas se fecham e os próximos alunos se prepararam para apresentar.
- Cara, isso foi demais! – Zayn me pegou num abraço de urso.
Ele me larga e abraça Niall e Liam, nós quatro preenchendo o local com risadas. Alguns de nossos conhecidos aparecem para dar parabéns e elogiar. Agradecemos e confesso que me sinto famoso durante esses minutos, é uma sensação boa.
Niall não consegue conter o sorriso em seu rosto, andando com o violão de um lado para o outro, se achando mais que qualquer um de nós. Liam está conversando com umas garotas e Niall se aproximou para participar. Zayn se sentou contra uma parede, observando tudo e esperando ficarmos livres para fazer companhia.
Olhei em volta, procurando pelo Louis.
- Procurando por algo, senhor Styles? – escutei a voz familiar atrás de mim e me virei com um sorriso.
Eu falei meu sobrenome para Louis em alguma de nossas conversas passadas na sala de música. Ele fez a comparação com o príncipe Harry novamente como previ.
- Louis, meu fantasminha camarada! – brinquei.
- Fantasminha seu-
- Oh, oh! – o interrompi. – Nada dessas palavras feias.
Ele riu e então, apenas me olhou. Eu inclinei a cabeça em questionamento.
- Que foi?
- Nada não – continuou me olhando de um jeito indecifrável, quase intenso. – Só estou feliz de ter um amigo, mesmo no estado que me encontro. E de principalmente poder ver esse amigo se dando bem.
Sorri largamente e o deixei sem graça por suas palavras gentis. Louis levantou a mão para me dar um tapa no rosto, mas "desviei" continuando a rir. Dei língua para ele. Eu ia agradecer por ter me distraído na hora do solo, mas Casey apareceu no espaço entre nós.
- Hey, Harry! – falou animadamente. – Você foi ótimo!
- Obrigado, Casey – sorri para ela.
- Estranho – juntou as sobrancelhas e se virou, olhando para os lados.
- Que foi? – olhei para Louis atrás dela e ele deu de ombros, também não entendendo.
- É que sinto quando tem espíritos de boa energia por perto e os de má energia também – ela se vira para mim novamente, sorrindo. – Tem uma energia muito boa perto de você e forte. Algum espirito muito bom está te acompanhando, Harry.
Olhei para Louis que olhou para Casey com um sorriso gentil. Voltei a olhar para Casey.
- Não sei se fico assustado, ou feliz – descontraí.
- Nesse caso, fique feliz – ela me garante. – Eles podem te proteger de coisas que você não vê.
Ela se afasta antes que eu possa responder e vai até Zayn, se sentando do lado do moreno. Casey dá um tapa na perna de Zayn como cumprimento, falando com euforia sobre a apresentação, provavelmente. Zayn a escuta atentamente com um sorriso beirando os lábios. Niall e Liam foram até eles, se sentando.
- É verdade, Boo? – me aproximo do Louis, perguntando discretamente porque tem muitas pessoas ao redor e parece que estou falando sozinho. – Você me protege de coisas ruins? – o olhei de forma provocativa.
Ele revira os olhos.
- Talvez – ele indica a direção do nosso grupo. – Posso ver a aura das pessoas, Harry. Essa garota é muito evoluída, muito mais que eu. E apesar de nunca ter visto esse tipo de aura antes, é linda. Assim como a sua e de seus amigos que são auras mais comuns, porém igualmente fascinantes. – Ele olha para mim. – Isso é tudo que sei. Quando alguma energia ruim tenta se aproximar, eu a afasto se estiver por perto.
Observo meus amigos, pensando um pouco.
- Louis?
- Hm?
- Podemos ir para a sala de música?
- Pode ser, mas e quanto a...? – ele aponta para o grupo.
- Deixa aí. Estão entretidos entre si – abano a mão. – Estou sentindo vontade de tocar piano já que não pude me apresentar tocando um.
Louis sorri e indica a saída com a cabeça.
- Vamos, Curly.
Saímos do auditório, indo para as escadas. Hoje é sexta-feira e as apresentações começaram no final da tarde, depois das aulas. Ainda falta alguns números se apresentarem, então vai ter gente por aqui até umas nove horas da noite. Eu tenho aproximadamente duas horas para matar com Louis e quero aproveitar, pois fim de semana eu não o vejo.
É a primeira vez que subo as escadas com ele. Eu gosto de reparar as primeiras coisas que faço com meu amigo espirito. Com ele, são mais especiais de se notar.
Não falamos nada durante a subida e quando chegamos na porta Louis a abriu como se fosse sua casa, me deixando entrar antes de fechar. Ele liga as luzes e para no meio da sala, me olhando. Sorri para ele antes de caminhar até o piano e me sentar. Ele continua onde está.
- Lou – Coloquei o pé na posição que preciso. – O que você faz no fim de semana?
Olhei para ele, ficando curioso quanto a isso. Nunca tinha pensado em perguntar esse detalhe.
- Ah... – ele olha o céu pela janela perto do piano. – Gosto de ficar deitado olhando para a lua. Ela sempre aparece desse lado.
Louis... Sempre apreciando as coisas simples. Acho que um espirito vê mais importância na natureza do que no físico.
- E de manhã? – pontuei.
- Fico fazendo o que sempre faço, mesmo antes de te conhecer – ele cruza os braços. – Toco violão, penso nos meus amigos, na minha família... Gosto de pensar que estão bem e que não sentem minha falta a ponto de ser doloroso. Quero que, assim como eu, eles tentem ficar felizes porque prefiro que estejam sorrindo.
Fechei os olhos, abaixando o rosto. Escutar isso me faz ter vontade de chorar, mas sei que não é necessário. Eu tenho que estar sorrindo também. Por isso, sorri e voltei a olha-lo, mas seus olhos já estão em mim de forma preocupada.
- Eu tenho certeza que estão felizes porque apesar de tudo, tiveram a oportunidade de te ter na vida deles – levantei a mão e o chamei para mais perto.
Louis descruzou os braços e se aproximou sem pressa.
- É impossível não gostar de você, Louis. Aposto que todos que te conheciam te amavam.
Louis sorri e se vira, sentando no chão encostado contra o banco do piano. Ele está do meu lado, de costas para mim. Eu sinto uma urgência tão forte de correr os dedos por seu cabelo caramelizado que meu estomago deu uma fisgada, mas me contenho. Eu ficaria triste de não conseguir toca-lo.
- Você não dorme, não come... Nada disso, não é? – lembro que conversamos uma vez sobre esse assunto.
- Não – sua voz soou branda e calma. – Não sinto necessidades de um corpo, mas posso fazê-lo se desejar. Sou só uma imagem, uma luz.
- Mas tem sentimentos – combinei seu tom.
- Os sentimentos fazem parte do espirito, não do corpo – ele inclina a cabeça para trás, conseguindo me ver.
Encontrei os olhos azuis de Louis. Ele sorri ternamente e meu coração se comove mais do que em todas as vezes que presenciei essa ação.
- Você tem um lindo sorriso – revelo depois de tantas vezes pensar o mesmo e guardar só para mim.
Louis mexe a cabeça para a posição de origem, constrangido. Se estivesse em um corpo físico, ele teria corado? Ou pode acontecer desse jeito também?
- Obrigado – murmurou não me deixando ver seu rosto.
Eu ri brevemente e suspirei, olhando para a janela. É dia de lua cheia. A lua está perfeitamente emoldurada no canto da vidraça. Mordo o lábio como mania. Como será olhar essa vista com a luz desligada? Parece que está tão perto, mas ainda tão inalcançável. Igual o...
- Louis – olhei para a parte de trás de sua cabeça. - Você fica com a luz ligada nessa hora, quando olha para o céu?
Ele nega, balançando a cabeça.
- Dá para olhar as teclas do piano mesmo com as luzes desligadas?
- Sim.
- Desliga a luz - decido.
Louis cria coragem para me olhar, duvida em suas feições. Eu o asseguro com um sorriso. Ele suspira e se levanta parecendo estar com preguiça, mas será que espíritos são preguiçosos? Bom, é um sentimento e logo um estado de espirito, não? Eu ri, ganhando olhos semicerrados me fuzilando como resposta antes das luzes serem desligadas. Louis retorna para a posição anterior. Abro a boca levemente.
A luz do luar reflete no chão até a parede oposta. Projeta uma faixa da janela que traça pelo piano e some perto da porta. Partículas sobrevoam como na luz solar. Olho todo o conjunto, ficando sem palavras para essa sensação. Eu poderia passar a noite inteira contemplando a vista e pensando na vida, igual Louis diz. Faz mais sentido agora que vi por mim mesmo.
- Às vezes, gosto de ficar de olhos fechados – Louis quebra o silencio, a voz baixa como se estivesse tomando cuidado para não quebrar a atmosfera criada. - Fingindo que estou dormindo enquanto sonho acordado.
Eu consigo distinguir as teclas do piano ao acostumar a visão com o escuro e também vejo o resto, menos o fundo mais distante da sala que está em um completo breu. Em outra situação, eu ficaria apavorado, mas assim estou maravilhado.
- Você não se sente sozinho? – me preocupo.
É algo lindo, mas solitário se não tiver alguém para apreciar com você.
- Costumava me sentir – deu uma pausa. – Mas agora sei que quando segunda-feira chegar, eu terei alguém para conversar durante toda a semana.
Sorri para ele, mesmo que não possa me ver ao estar de costas. Ainda bem que dei uma chance para nossa amizade, ou estaria perdendo todos esses momentos. É bom poder significar algo e tê-lo como amigo. Ele se mostra cada vez mais diferente e especial que qualquer outra pessoa que conheci. Não sei quem teve a sorte maior.
- Enquanto você estiver aqui e eu poder ver, pode contar comigo, Louis – girei a pulseira em meu pulso distraidamente, o canto do meu lábio subindo em um sorriso. – Eu vou te ajudar no que for preciso, ou apenas ficar do seu lado.
Louis se desencostou, ficando de frente dessa vez. Ele apoia os braços no espaço livre ao meu lado no banco. Coloca o queixo em cima dos mesmos e levanta os olhos para mim.
- Você é uma ótima pessoa, Harry – a sinceridade em seus olhos é tão intensa que meu sorriso diminuiu. – E um ótimo amigo. Fico feliz que seja você quem pode me ver.
Desvio o olhar, sentindo meu rosto corar e sorrindo sem graça. O escutei rindo porque provavelmente notou. Mais cedo ele pôde esconder o rosto, mas eu não tive essa chance.
- Vamos parar de falar – ele estica o pescoço. – Você disse que queria tocar piano.
- Ah, sim – pisco repetidamente para me orientar. - Não sei se toco uma música que existe, ou uma das que compus.
- Você compõe músicas no piano? – ele se surpreende. - Eu só te escutei tocar uma vez e foi aquela música do Yiruma, não? Quero escutar uma música feita por você – pede.
Engulo em seco, repassando mentalmente o que me lembro das melodias que compus. Eu faço músicas, mas sempre pela metade. Eu nunca consigo concluir nem achar a ponte para o final. Não quero tocar algo incompleto. Quero tocar algo que mostre o quanto estou feliz de que o dia está terminando bem mais uma vez.
- Acho que não dá, de qualquer maneira – peço desculpas com o olhar, esperando que entenda. – Todas as que eu compus estão pela metade, nunca terminei. Além do mais, quero tocar uma música inteira.
- Mas... – Louis faz bico de criança e eu reviro os olhos, rindo. – Eu quero escutar algo que você criou, Harry!
- Tudo bem, mas outro dia – prometo.
- Mas Harry... – ele não parece satisfeito.
- Vou fazer uma música para você – tive ideia, querendo desfazer sua desanimação. – Eu vou termina-la e tocar para você.
- O quê? – ele arregala os olhos e aceno com a cabeça. – Isso...? Muito obrigado, Harry! – um sorriso maior que o mundo substituiu o bico emburrado, os olhos brilhando da forma encantadora e única que só os de um espirito devem ser capazes. – Você é o melhor amigo de todos!
Eu fico feliz em escutar isso, mas... Estou sentindo como se não fosse mais o suficiente. Por quê?
- Agora me diz uma que já exista para eu tocar – estalei os dedos, posicionando nas teclas.
Louis pensou por um instante, mas me olhou em irritação.
- O que foi?
- Eu não posso escolher por você. Isso não é uma apresentação, ou competição – ele voltou a encostar o queixo nos braços. – Toca o que estiver com vontade. Aquilo que estiver te representando agora mesmo.
- Louis – sorri e ele suspendeu as sobrancelhas. – Você realmente me conhece melhor que ninguém.
- Espero que seja sempre assim. Por isso somos melhores amigos, certo? – pergunta inocentemente e eu balanço a cabeça em afirmação.
Sem mais delongas, toco a primeira música que me vem à cabeça. Uma música de esperança e alegria porque é como eu estou me sentindo. É como todos nos sentimos quando coisas boas acontecem e o dia termina dessa forma. Ficamos satisfeitos e com esperanças de que essa alegria possa durar no outro dia.
Meus dedos tocam as teclas quase automaticamente porque eu tenho essa música na cabeça. Já a toquei outras vezes e a aprendi muito bem. É gostosa de tocar. O ambiente silencioso e aberto da sala ecoou o som das notas de forma maravilhosa e talvez pudessem ser escutadas lá embaixo se não estivesse ocorrendo outras apresentações barulhentas no auditório fechado.
Fechei os olhos, um sorriso no rosto. As letras da música em meus pensamentos. Toquei as ultimas notas de Imagine do John Lennon. Mais uma vez é como se eu estivesse em outro mundo e quando abro os olhos, volto para a realidade. Espero Louis se empolgar igual nas outras vezes, mas ele não diz nada.
Ele está com a cabeça apoiada nos braços que estão em cima do banco. Os olhos também fechados e o rosto sereno com um sorriso.
- Louis? – chamo em um sussurro com medo de estragar sua calma.
Ele abre os olhos para mim, ainda sorrindo.
- Eu adoro essa música, Harry. É uma das minhas preferidas porque gostaria que todas as pessoas concordassem com o que ela transmite. O mundo seria melhor de se viver – diz brandamente. – Você me deixou muito feliz.
- Fico feliz, igualmente – retiro as mãos do piano.
- Pode tocar outra? – Louis faz beicinho e eu entorto a boca, mas meu peito se comprime.
- Idiota.
Ele ri e eu me preparo para tocar mais uma. Somewhere Only We Know do Keane e tudo bem porque é uma linda música, mas penso no lugar das letras sendo a sala de música.
Louis quer que Imagine seja transmitido para todo mundo, mas agora eu quero que essa seja transmitida para ele. Uma emoção estranha se apoderou de mim, apertando a área do meu coração. Não é ruim, é apenas diferente.
- Harry.
Terminei de tocar e olhei para o lado, me espantando com Louis sentado no banco quase tocando nossos braços.
- Eu gosto de te ouvir tocar piano – constatou, olhando para os meus dedos ainda nas teclas.
O sentimento no meu peito ficou mais forte. Abaixei as mãos e ele direcionou o olhar para mim.
- Eu gosto de tocar para você.
Ele me analisa por uns segundos antes de sorrir. Nesse momento sinto que algo novo acontece e cresce entre nós dois.
*
- Estava na sala de música com o Louis? – Niall coloca um braço ao redor dos ombros de Casey e o outro ao redor dos ombros de Zayn.
- Quem é Louis e que sala de música? - Casey quis saber e me lembrei de que preciso contar tudo afinal ela já acredita em espíritos.
Eu confio na Casey, mas por enquanto não tem tempo de explicar a historia.
- Sim. Como foram as outras apresentações? – respondi Niall e mudei de assunto.
- Boas, mas acho que gostaram mais da nossa. Sem querer me gabar – Zayn piscou para mim com um sorriso sapeca.
- Mas já se gabando – Liam completou, rindo. - É verdade, estão todos falando da nossa apresentação – ele parece orgulhoso de nós.
Eles conversam ao longo do trajeto e eu comento o que posso, mas minha cabeça está muito longe. Casey se despediu e foi de carro com a mãe. Niall pegou carona com Liam já que moram perto. Zayn e eu fomos andando até a parte que nos separamos por caminhos diferentes.
- Harry, você está bem? – perguntou quando estávamos perto de nos dividir.
- Sim, por quê? – franzi a testa.
- Sabe quando fica olhando para o Freddie? – deu exemplo e eu assenti, sem entender aonde quer chegar. – Você o olhou hoje? Porque eu não acho que ele tenha vindo.
- Não, também acho que não vem para esses tipos de coisa – olho para frente e paro antes de atravessar a rua. – Por quê?
- Você está com aquele sorriso bobo e os olhos vagos, perdido em pensamentos. Igual quando acaba de ver ou falar com alguém que gosta – informa. – Eu conheço muito bem esse seu olhar.
Eu poderia ter rido e dito que ele está errado porque a única pessoa que eu tenho uma atração no momento é o Freddie. Eu nem o vi ou pensei nele. Além do mais, eu estava com o Louis o tempo inteiro e quando não, com eles mesmos.
Mas é isso que me deixou muito nervoso. Mais nervoso do que eu estava antes de me apresentar no palco. O sentimento estranho no meu coração de mais cedo reapareceu e acelerou meus batimentos.
- Engraçado. Porque eu nem vi ou pensei no Freddie – murmuro e tento sorrir casualmente.
- É... Talvez não seja nada – Zayn bate no meu ombro e se vira. – Ou talvez seja outra pessoa – nos encaramos por uns segundos e ele se afasta, dobrando a esquina. – Até mais! – levantou a mão de costas para mim.
- Até – falo quietamente e ele nem escutou.
Aproveito que a rua está sem carro e mesmo com o sinal aberto para eles, saio correndo sentindo uma adrenalina repentina. Corro como se eu estivesse fugindo de algo. Fico repetindo o que aconteceu com Zayn, mas bloqueio e diminuo os passos ao chegar em casa.
Pego minhas chaves, abrindo a porta e entrando. Tiro meu casaco e os sapatos.
- Harry? – mamãe coloca a cabeça para fora da cozinha. – Como foi o show de talentos?
- Ótimo, fomos os mais aplaudidos – abrevio, passando pela cozinha e subindo as escadas.
- Parabéns, filho! Não quer jantar-
- Sem fome – interrompo.
Quando chego ao topo quase esbarro em meu pai que está querendo descer.
- Oi, filho. Como foi lá na escola? – ele afaga minha cabeça, bagunçando meu cabelo.
- Muito divertido. Fomos os melhores – sorri para ele e fui para o meu quarto antes que pudesse me responder, fechando a porta.
Não vou me preocupar com o que Zayn disse. Não tem com o que se preocupar. Eu não estou apaixonado por ninguém. Eu estava com os meninos e Louis o tempo todo, nem vi o Freddie. Preciso tomar um banho e tocar teclado antes de dormir, só para me acalmar.
Isso. Sorri, decidido.
No banheiro eu senti vontade de tocar Fireflies do Owl City, a música perfeita para uma noite sem sono, mas feliz. Tirei a roupa e liguei o chuveiro. Limpo meu corpo e cantarolo Fireflies até meus olhos pararem na pequena janela da parede, onde posso ver a lua desse ângulo. Menor e mais ao alto.
Será que Louis está olhando para ela também?
Meus músculos ficam tensos e o sabão cai da minha mão. Eu encaro o chão por longos minutos enquanto a água desce por meu corpo e um pensamento assustador passa por minha cabeça.
E se esse sentimento estranho e diferente que sinto quando estou com Louis, ou penso nele estiver ligado com o que Zayn disse? Balancei a cabeça. Não. Eu tenho que deixar isso para lá.
Não é nada de mais.
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