Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capitulo Dois - Ghost/Spirit

Boa leitura, gasparzinhos .xxx

~o~

Ele está vestido com uma camisa branca e uma calça preta com os suspensórios pendurados ao lado. O cabelo é castanho claro em penteado bagunçado, a franja cobrindo a testa. Tem aparência de ser jovem como eu. Espera uma resposta, ou outra reação minha.

Eu não sei escolher como reagir. Uma das varias opções e a mais convidativa é correr para bem longe. Espalhar para todo mundo que essa sala é assombrada e se as pessoas não acreditarem, vão rir de mim dizendo que é uma ótima piada, mas não que não as convence. Porque sejamos coerentes, nem eu mesmo posso acreditar e presenciei a prova de que esse menino, ainda sem nome, surgiu na minha frente. No ar, sem esforço.

Passaram dois minutos aproximadamente em que nos entreolhamos. Eu com as sobrancelhas franzidas pensando em explicações logicas, ou na possibilidade de meus olhos estarem me traindo - ainda mais depois dos eventos de hoje – e causando ilusões. O menino não apresentado parece se divertir um pouco com a situação, mas ao mesmo tempo tão curioso quanto eu.

- Ei! - ele falou alto de mais, me fazendo encolher com a voz aguda que tem. - Vai falar algo, ou você é mudo?

Arqueei as sobrancelhas penosamente, me perguntando se posso ter me tornado mudo depois de tamanha loucura. A única forma de sair dessa situação e entender melhor é falando o obvio. Eu pisquei algumas vezes, alternando o olhar do garoto em minha frente para o chão em que ainda estou sentado. Lubrifiquei os lábios com a ponta da língua como mania que tenho, principalmente quando estou nervoso. Tentei falar, mas engatei no meio da ação. Limpei a garganta timidamente e tentei outra vez.

- Q-quem... - é um bom começo, beleza? Acabei de ver alguém invisível ou algo do tipo. – Você? – saiu incoerente e isso fez o dono dos olhos azuis inclinar a cabeça levemente.

Balancei a cabeça. Fechei os olhos com força, tomando folego e dizendo com mais firmeza ao olha-lo novamente:

- Quem é você?

O garoto acenou com a cabeça, concordando comigo apesar de eu acabar de fazer uma pergunta ao invés de afirmar algo. Estou muito inseguro e preparado para correr caso necessário. Talvez tenha sido tudo um grande mal entendido. Um mal entendido bem elaborado. Eu espero que sim. A ideia de fantasmas, ou pessoas com poderes invisíveis na vida real, não é tão legal quanto nos filmes. Não mesmo, não assim.

- Então, você pode falar – ele me despertou dos pensamentos. - Boa pergunta para começar. Eu sou o Louis. Louis Tomlinson – soletrou o primeiro nome. – Mas a pronunciação é francesa.

Então, a coisa tem um nome afinal. De toda maneira, não estou satisfeito, mas permaneci calado como se tivesse sido o suficiente para um dialogo. Esse Louis parece ser do tipo muito insistente, além de alegre. Como se fosse normal ter aparecido dessa forma e fossemos grandes amigos.

- Não é justo falar meu nome, mas não saber do seu - Louis cruzou os braços, fazendo bico com os lábios ao colocar o inferior para fora de forma que seu rosto se tornou uma carranca tão assustadora quanto à de um filhote de cachorro.

Isso parece ser o suficiente para sair mais uma palavra da minha parte, apesar de eu estar confuso.

- Harry - eu disse num sussurro, não cogitando sequer a ideia de falar meu segundo nome.

- Harry! - Louis desfez a expressão, apontando para mim com o tom de voz alto igual da outra vez.

Tudo foi muito rápido. Eu me encolhi com o barulho e arregalei os olhos para o seu dedo apontado em minha direção com medo de sair algum feitiço, ou algo do tipo. Não seria ridículo pensar isso depois de como ele apareceu.

- Não existe um príncipe chamado assim? Ele é conhecido como Harry, mas o nome é Henrique e também... Oh! - Louis fez a boca em forma de "o" que logo se transformou num sorriso bem largo. - Harry Potter! Você já viu os filmes, ou leu os livros? É muito legal, todos conhecem.

Louis apoiou as duas mãos entre as pernas no banco que está sentado, de modo que os braços ficaram retos e o corpo inclinou- se um pouco para frente com os ombros encurvados quase infantilmente.

Que tipo de assunto é esse? Nem meus amigos já fizeram tal comparação. Eles devem ter pensado nisso, provavelmente. Todos devem se lembrar em algum momento, mas ninguém comenta realmente. É melhor não falar meu sobrenome, então.

De qualquer forma, consegui concluir o tipo de personalidade do Louis de primeira impressão. Ele parece despreocupado e estar na mesma faixa etária, apesar de ter um rosto incrivelmente jovem e bonito que já denuncia essa última parte. Se eu quiser levar isso a algum lugar, ou sair daqui, eu tenho de fazer parte da conversa e termina- la de alguma forma.

- Olha, eu não sei se foi isso o que aconteceu, mas tenho quase certeza e se eu estiver errado, então tudo bem. Eu quero estar - consegui dizer sem travar, voltando ao estado normal, ou o normal que posso ficar.

Meu estomago dói ligeiramente com o que aconteceu no banheiro, mas estou quase esquecendo o motivo no momento.

- Talvez pareça uma loucura, eu... - soltei um riso curto, olhando para o chão e de volta para Louis. - Parece que você, tipo... - tentei gesticular, fazendo uma careta e apertando os olhos. - Sabe?

Louis que me olhou assustado dessa vez e balançou a cabeça, negando saber do que eu estou tentando comunicar. Suspirei.

- Você meio que aparatou - escolhi explicar.

Afinal, não foi Louis que começou com o papo Harry Potter?

- Então, você conhece Harry Potter. Eu sabia - se animou, não respondendo ao comentário, mas o fez em seguida. - Digamos que se pode dizer isso, mas não diria que sou um bruxo.

Eu arqueei os dentes, entortando os lábios e diminuindo um dos olhos numa expressão de total "Que merda você está falando?". Ele acabou de confirmar que apareceu do nada como eu temi? Mas como?

- Como? - repeti em voz alta.

Louis riu ligeiramente da expressão estranha que estou fazendo. Ele tirou as mãos do banco e deu de ombros.

- Sou um espirito.

Okay.

Agora tudo faz sentido. Isso explicou muito mais as coisas. Tenho todas as respostas do mundo. Eu posso dormir tranquilamente e quase cantarolando ao contar ovelhinhas que pulam cercas como escutamos quando criança. Até tentei no passado, mas desisti na terceira porque pareceu uma grande besteira e não funcionaria comigo. Exceto pelo fato de que não, isso não ajudou e não clareou em nada. Pelo contrario.

- Você está falando sério? - continuei olhando para Louis como se fosse um louco, um louco de verdade que precisaria de acompanhamento medico.

E se não for o Louis, bom, algum de nós dois tem que ser não é?

- Mais sério que um morto pode falar - riu e isso piorou ainda mais.

Morto. Eu estou falando com um morto? É isso mesmo?

- Espera - suavizei a expressão, mas por dentro continuo uma bagunça.

Fechei os olhos e melhorei a posição que estou sentado.

- Se importa de explicar tudo de uma vez? É bem obvio que estou confuso para caramba, então sem enrolações - reabri os olhos, deparando diretamente com os azuis.

- Justo - Louis disse calmamente.

Ele levantou do banco e eu fiquei em alerta, me arrastando mais um pouco para trás ao arregalar os olhos.

- Ei, ei! Fica aí! - quase imploro, ficando com medo.

Louis mal deu um passo e parou, estreitando os olhos para o teto e os voltando para minha figura no chão.

- Tudo bem – ele disse lentamente. - Não sou tão assustador assim.

- Acredite, é sim – balancei a cabeça veementemente com um sorriso congelado. - Não é todo dia que olhamos um fantasma, ou seja lá o que você é - reforcei. - Eu mal acredito por mais que esteja acontecendo.

Louis ficou abalado com minhas palavras.

- Eu entendo - falou de uma forma baixa que até então não tinha demonstrado. - Mas não precisa ter medo, sério. Eu não sou mau, ou algo do tipo - ele parece estar se esforçando em não transparecer tristeza.

- Quando você me explicar melhor veremos se é mau ou não, mas sei que isso não é normal - fui rude, mas não me importei realmente. Tudo que quero é resolver esse ''mistério'' e aí cair fora.

Louis não pareceu se ofender de qualquer maneira. Sentou- se no chão de costas para o banco como eu estava uns minutos atrás. Estamos quase quatro metros de distancia do outro. Eu não desviei o olhar, não mais. Eu quero ter certeza de que Louis é real e que não vai desaparecer, ou eu acordar sem me lembrar de ter caído no sono, e quem sabe tenha sido um pesadelo o que aconteceu no banheiro também.

- Eu acho que morri em um acidente de carro, ano passado - começou a dizer.

- Você acha?

- Yup. É bem confuso para mim também - admitiu. - A ultima coisa de que me lembro, é de ter saído para jogar futebol com meus amigos. Íamos beber e eu estava de carro - levantou a mão, interrompendo o que eu ia falar sobre a irresponsabilidade do ato e continuando. - Eu sei que foi irresponsabilidade minha, mas eu tinha feito isso outras vezes e nunca deu problema. Dessa vez, nem tomei álcool. Tanto que se me recordo bem, o acidente foi causado por outro carro que ultrapassou a pista do lado errado, batendo num caminhão e então... - Louis engoliu em seco, olhando para baixo e mexendo em seus próprios dedos. - Parece que me atingiram nisso tudo - sussurrou a ultima parte, mas fui capaz de escutar.

- Ah - é tudo o que eu consegui dizer, tocado pelo acontecimento.

Claro, sou humano. Qualquer noticia trágica me entristece um pouco. Eu não desejaria que fosse comigo, ou alguém que conheço. Então, algo me veio à cabeça, quase clareando tudo e me fazendo sobressaltar.

- Você é o tal Louis do terceiro ano? Quer dizer, você era do terceiro ano no ano passado, não é? - perguntei me dando conta enquanto uma memoria quase desgastada retorna sobre isso.

- Hm, suponho que sim - Louis voltou a olhar para mim.

- Eu escutei falar desse acidente. A escola toda, na verdade, mas não sabia que tinha morrido. Nenhum dos alunos comentou isso – balancei a cabeça, estranhando um pouco. – Sua ausência se tornou um mistério.

Louis deu de ombros e sorriu fraco.

- Ai meu Deus. Estou mesmo conversando com um fantasma? - me perguntei em voz alta, fazendo Louis escutar.

- Tecnicamente, não sou um fantasma. Está mais para espirito, sabe? - corrigiu.

- Continua sendo estranho e assustador - insisti, logo depois ficando mais curioso. - Como posso te ver?

- Não sou eu quem decide isso. Acho que você tem sexto sentindo, ou alguma parada dessas que dizem por aí - Louis sugeriu.

- Acho que não, eu nunca vi outro fantasma.

- Espirito - Louis me corrigiu de novo, preferindo ser chamado assim.

- Tanto faz! - grunhi.

- Okay... - Louis entortou a boca num bico. - Eu não posso ser visto pelas pessoas, ao menos não se eu não me materializar. Mesmo assim ninguém teve sentido, ou sei lá o quê, para me ver materializado. Só escutam algo incoerente quando falo, ou olham os objetos se mexendo. Eu também quase nunca saio daqui, dificilmente - refletiu.

- Mas então, você que quis aparecer para mim - observei. – Se materializando, quero dizer.

- Yeah, porque você estava chorando. Eu achei que ia ser invisível para você também, mas mesmo assim tentei fazer alguma coisa para chamar sua atenção. Eu disse que odeio quando choram - Louis suspirou. - Nunca funciona. Tentei varias vezes quando entra gente aqui para limpar os instrumentos vez ou outra. Mas com você deu certo.

Por um breve segundo parei de tentar absorver que isso está acontecendo, que estou fazendo contato com um fantasma de verdade que é um ex- aluno da escola porque o comentário dele me fez lembrar como cheguei aqui. Eu estava chorando e ainda posso sentir o rosto grudado com as lágrimas secas, fazendo a tristeza se instalar em meu coração outra vez.

Louis notou e ficou sem jeito. Dessa vez, desviei o olhar, não querendo que olhasse diretamente o fato de eu estar triste e ser um chorão. Pude o ver coçar a nuca e jogar a mão no colo.

- Hey - ele me chamou.

Olhei para ele, voltando à realidade.

- Tudo bem? - Louis perguntou cauteloso.

Olhei em suspeita para ele.

- Acho que sim. Se você não contar que estou falando com um espirito pela primeira vez na minha vida como se fosse algo do dia a dia - tentei usa-lo como escapatória, uma boa e verdadeira razão, mas não a principal.

Eu só não quero falar sobre isso agora e muito menos com alguém tão... Único quanto Louis.

- Desculpa? - Louis soou incerto.

- Nah, está tudo bem. Vou só ter pesadelos e ficar olhando para os lados o tempo todo para o resto da vida, mas posso lidar com isso - abanei uma das mãos em descaso irônico, mostrando que poderia ser pior.

Louis riu ligeiramente e eu quase sorri. Quase. Não posso me deixar levar e realmente tratar a situação como uma conversa entre dois garotos vivos porque Louis não está vivo. Ou sim, mas não num corpo de verdade. O que me incomoda pensar desse jeito, mas é a verdade.

- Você disse que quase não sai daqui. Por quê? - perguntei, lembrando o detalhe e ficando curioso.

Louis sorriu radiante da mesma forma que tinha me mesmerizado no primeiro momento após surgir e me assustar. Ele tem um sorriso lindo, isso eu não posso contestar. Tive que me controlar para não sorrir de volta em resposta. Seus olhos azuis cintilam com tanta facilidade que só pode ser possível a uma alma, como se fossem pequenas luzes.

Ele levantou, me fazendo ficar em alerta como sempre, mas ao invés de se aproximar, foi pelo lado direito seguindo a parede para ficar o mais distante possível de mim. Está fazendo isso por minha causa, já que demonstrei não estar muito confortável com sua presença. Pegou o violão no apoio e voltou para o banco do piano. Eu assisti cada passo do menino fantasma - ainda preciso colocar na cabeça que é espirito, ou seja lá qual for o termo certo - com curiosidade.

Louis sorria quando comentou:

- Eu amo música.

Foi tão simples, genuíno, inocente... Louis parece mais um espirito de criança. Eu me peguei tendo simpatia pelo garoto com o violão em mãos. Eu achei que não seria possível sentir isso até porque Louis ainda me assusta e vai contra todas as crenças da minha vida inteira. Será que existe mais gente como ele por aí? Bem provável.

- Acho que quase todo mundo, Louis - suspendi uma das sobrancelhas, desafiando sua afirmação.

Louis ficou mais feliz quando falei seu nome. Depois, ele pareceu pensar em algo e o sorriso quase desapareceu. Eu não entendi muito bem, mas acho que ele deve se sentir sozinho. Pelo o que me disse, ninguém foi capaz de olha- lo até hoje. Ele se recompôs antes do sorriso desaparecer.

- Quero dizer que gosto muito de tocar violão, piano... Cantar - Louis passou os dedos nas cordas do violão com certo carinho. - Eu sempre gostei, até quando era vivo. Ainda bem que não perdi a memoria, ou habilidade de tudo que aprendi durante a vida - refletiu.

Eu estremeci, sentindo meus pelinhos se arrepiarem. Será ruim toda vez que eu perceber estar falando com um morto.

- Você morreu aqui perto? - deve ser falta de educação perguntar isso para um falecido, mas tenho que saber.

- Não, não. Mas fiquei perdido - Louis admitiu. - Eu estava no meio da estrada e era de noite - ele está com os olhos vagos enquanto mexe tranquilamente nas cordas do violão, relembrando o dia que conta. - Tinha pedaços de veículos pela estrada, mas devem ter rebocado os destroços e levado os corpos. Eu fiquei atordoado, você deve imaginar – riu brevemente. - Não fazia ideia do que tinha acontecido. Fui lembrando a ultima coisa que podia, e foi uma imagem de um caminhão me acertando com um carro. As coisas começaram a clarear na minha mente.

Louis está tocando algumas notas no violão, sem ser especifico. Estou interessado na conversa e me concentrado em suas palavras.

- Fiquei um bom tempo querendo descobrir por que estava lá e o carro não. Fui interligando os pontos. Não poderiam ter me abandonado, certo? E principalmente... Eu estava com a mesma roupa, sem ferida, sujeira, ou qualquer coisa fora do seu lugar - ele subiu a visão para frente, alternando do violão para mim.

- Estava com essa roupa? – balbuciei, apontando de cima para baixo, indicando a muda que usa.

Louis concordou levemente, se apoiando no violão.

- Pode crer que fiquei muito mais assustado que você, para mim foi bem mais difícil de engolir. Saber que em um minuto está vivo e bem, mas no outro, aparentemente morre e fica lá. Sozinho - Louis olhou diretamente nos meus olhos e eu correspondi. - Seria legal se tivesse alguém para me explicar e me guiar como estou fazendo com você. Mas não tinha e eu fui me virando.

Juntei os lábios numa linha estreita, dizendo com os olhos que sinto muito, mas Louis abriu mais o sorriso como sinal de que está tudo bem.

- Mesmo assim, como chegou aqui? Você voa? - posso estar exagerando e comparando muito com os filmes, mas tudo é possível agora.

Para mim, os fantasmas – espíritos - também eram coisa de filme.

- Não - Louis riu. - Quem me dera! Mesmo vivo, sempre achei legal esse poder. Já pensou poder voar por aí, livre como os pássaros? O limite seria o céu - se entusiasmou um pouco e afirmei com a cabeça.

- Você tem outro poder legal que muitos queriam ter. Ficar invisível - relaxei mais o corpo, tomando consciência do ato depois de feito.

- Tem razão. Mas não é tão legal assim quando mesmo que se materialize, continue invisível para alguns - apontou o lado ruim. - E respondendo sua pergunta, primeiro eu tinha pensado na minha casa. Do quanto queria voltar e simplesmente viver normalmente porque ainda não aceitava que poderia estar morto. Daí, subitamente, eu estava em casa.

Eu arregalei os olhos e ele riu.

- Pois é. De qualquer forma, quando cheguei lá estava tudo escuro e vazio. Meus pais não estavam em lugar algum. Pensei em ligar para eles e perguntar o que estava acontecendo. Quem sabe eles pudessem me explicar - voltou a ficar com os olhos vagos.

- E aí? – eu quis saber do resto.

- E aí que eu não estava mais com meu celular, ou nada material sem ser minha roupa. Então, tentei o telefone. Eu nem sabia que estava ''invisível'', como você me viu tocando o piano. No espelho que tinha acima do móvel do telefone, eu não vi meu reflexo. Eu não estava materializado e não sabia nada do que sei hoje - Esticou o pescoço e juntou os dentes, estremecendo. - Foi horrível, cara. Sinceramente, pensei mais na possibilidade de morte nessa hora.

- Que coisa – murmurei apreensivo ao me colocar em seu lugar.

- Fiquei parado por uns longos minutos, continuando a negar tudo. Voltei a tentar ligar para os meus pais. Confesso que naquele momento estava com medo de pegar o telefone e atravessa-lo, mas consegui. Acho que posso sentir os objetos, mas eles não me sentem - respirou fundo. - Tentei contata-los, mas estava ocupado, ou fora de área. De qualquer forma, tinha uma mensagem na Caixa Postal e resolvi escutar.

Eu estou entendendo tudo, mas ainda espero que isso leve a real pergunta que fiz de como ele veio parar aqui. Louis continuou:

- Era uma tia minha, chorando e falando palavras incoerentes. Fazendo varias perguntas e pedindo para a minha mãe, Johannah, ligar de volta e confirmar se realmente tinha acontecido o que aconteceu comigo. Se eles já estavam no hospital e qual era - parou de sorrir. - Meu mundo todo ficou de cabeça para baixo. Eu acho que deviam estar no hospital, chorando e provavelmente preparando as papeladas para o meu funeral, ou algo do tipo. Porque eu não estava com eles e não tinha reflexo. Eu devo ter morrido de noite, naquele dia quando tudo aconteceu.

Com isso, finalmente levantei do chão. Hesitei bastante, mas dei um passo vacilante para frente.

- Sinto muito, Louis - eu disse com honestidade, olhando com pena para ele.

Louis não quis me olhar de volta por causa da expressão em meu rosto. Acho que como eu, ele não gosta de ter a pena de ninguém.

- Não sinta, eu também tento não sentir - foi firmemente sério, como até então não tinha esboçado ser. - Eu me esforcei o tempo todo para não ter pena de mim mesmo. Pena de nunca mais ver a minha família, ou os meus amigos. Porque não quero chorar mais que chorei quando terminei aquela mensagem na Caixa Postal e me sentei no chão de casa, me abraçando inconsolavelmente. Vendo tudo que construí até ali, ser destruído.

Eu esfreguei a mão no meu braço, sem jeito e olhando para baixo.

- Eu não aguentaria ver as pessoas que conheço e amo sofrendo por me perder, mas ainda estar aqui impossibilitado de falar, ou tocar neles de novo. Eu não sei por que continuo na Terra. Eu não sei se Deus existe a essa altura... O céu, inferno, mas nunca pensei que ficaria na Terra vagando - bufou. - Eu não quero vingança de ninguém e dizem que os espíritos vagam por isso. Quando se suicidam, ou tem alguma missão para resolver - deu uma pausa e continuou. - Mas eu não me matei, não odeio ninguém e não sinto como se tivesse algo a fazer ainda, a não ser sair da Terra, ou voltar a viver.

Ele arriscou me olhar e eu fiz o mesmo, nós dois sem graça pelo seu desabafo.

- E foi assim que vim para cá. Eu pensei em vários lugares, mas todos tinham alguém que eu não aguentaria ver. Já era o fim do ano. Eu pensei na escola e apareci aqui tão subitamente quanto na minha casa, é algo bem legal até - voltou a sorrir e isso me deixou aliviado. - Subi todas as escadas numa fuga, era de madrugada. Se eu ficasse em algum outro lugar nos outros andares, iria acabar encontrando alguém familiar, ou simplesmente chorar por ver todos vivos com minha idade, ou mais jovens e andando por aí, continuando com suas vidas normalmente.

Umedeci os lábios, cruzando os braços.

- Achei esse lugar e eu nem sabia que existia. Não tinha nenhum desses instrumentos ou objetos, estava completamente vazio. Pareceu perfeito para mim porque eu me sentia vazio do mesmo jeito.

Louis falou sorrindo o que me fez questionar se é verdadeiro por ter sido bem depressiva suas palavras, mas percebi que ele não é bem fã da tristeza. Não por muito tempo, pelo menos. Ele não gosta de ver as pessoas chorando, ou de chorar. Nem ser pessimista. Acho que ele não tem mais o que perder.

- Hm, sim. A gente escutou falar esse ano da sala, mas não sabemos o que é. Quer dizer, agora eu sei - olhei ao redor. - Ainda não inauguraram, nem nos avisaram que é de música. Acho que vão fazer isso só ano que vem.

- Isso mesmo. Eles começaram no ano passado a arquitetarem o espaço e trazerem os instrumentos novos. Todo final de tarde, durante os últimos dias de aula quando todos os alunos já estavam em casa, e também nas férias, chegavam homens carregando coisas e mais coisas de um caminhão. Escutei o diretor falando diversas vezes dos planos e da inauguração como matéria opcional ano que vem para alunos do Fundamental e Ensino Médio. Para as crianças vai ser obrigatório no final da semana. Uma aula de lazer - Informou.

- Vantagens de ser um fantasma – Brinquei, mas estou pasmo.

- Espirito, Harry - suspendeu a sobrancelha para mim, me fazendo rir pela primeira vez.

Eu não pude evitar agora. Tudo isso parece uma grande piada e ao mesmo tempo, eu me sinto melhor depois do Louis explicar essas coisas. Ele ficou surpreso. Quando o som da minha risada preencheu a sala silenciosa por aproximadamente três segundos, ecoando pelas paredes, Louis paralisou e me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

Eu corei e parei rapidamente quando percebi. Fico envergonhado com a forma que me olha. Não é grandes coisas eu ter dado uma risada, mesmo que Louis seja uma anomalia que me assusta de certa forma. Simplesmente não consegui mais me retrair. Talvez eu deva pensar nisso como algo engraçado ao invés de assustador. É melhor.

- Er... - gesticulei, desviando o olhar para qualquer lugar que não fosse ele. - Então, você sabe tocar violão e piano, né? - busquei voltar ao assunto.

Louis sacudiu a cabeça, piscando algumas vezes.

- Uhm, sim... Mas sou melhor no violão - ele está com o tom de voz bem mais baixo que o seu escandaloso normal.

- Eu sei tocar piano - deixei escapar.

- Oh, sério? - aumentou a voz outra vez, abrindo o sorriso e quebrando a tensão.

Eu sorri suavemente como um sim.

- Seria legal te escutar tocar alguma vez... - disse, olhando para o violão e dedilhando nas cordas do mesmo novamente.

Agradeci mentalmente por ele ter olhado para outro ponto nessa hora porque eu sorri mais ainda, me censurado logo depois. Eu gosto de tocar para as pessoas, principalmente quando querem me escutar. Mas tocar para um fantasma? Um pouco Fantasma da Ópera, não?

- Quem sabe. Não espero realmente que te veja de novo para o bem de minha própria saúde mental – fiz outra brincadeira com uma pontada de verdade.

- Ouch? - Louis parou de dedilhar, juntando as sobrancelhas.

- D- desculpa! - pedi rapidamente. - Não quero te ofender, é só que eu não quero ficar olhando um fantasma, entende-

- Espiri-

- Você entendeu.

Ele suspirou, mas deixou um sorriso escapar.

- É, se eu fosse você iria falar o mesmo provavelmente, então entendo. É só ficar afastado daqui. Sinto muito, mas até ano que vem e achar outro lugar para mim, eu não quero sair.

- Ah, não, claro! Eu não quero que saia, também. Vou ficar distante, pode deixar. Só isso - eu o tranquilizei. - fantasmas e seus direitos, huh?

- Eu não vou te falar outra vez, Harry - revirou os olhos e não entendi de primeira, mas aí percebi que tinha falado fantasma de novo.

Eu dei um sorriso de desculpas.

- Eu acho... Eu acho que preciso ir para casa - olhei para o relógio. - Minha família vai ficar preocupada, está ficando escuro - eu posso ver um azul escuro eliminando o rosa e laranja do céu.

- Vai nessa - encorajou, sem nem pestanejar.

- Tipo, legal falar com um fan-

Louis suspendeu a sobrancelha e eu me interrompi.

- Espirito.

Louis assentiu com satisfação.

- Então, é isso - eu realmente não sei como me despedir de alguém tão inusitado quanto ele, mas pensei em algo sincero. - Espero que possa encontrar a luz, ou... Não sei.

- Harry, cala a boca e vai logo - riu.

Eu acabei sorrindo, achando seu riso um tipo de música para os ouvidos, tirando o fato de que sua expressão fica bem mais viva. Pensando nisso, eu quis fazer mais uma pergunta:

- Quantos anos você tem?

- Trinta.

- O quê?! - me espantei.

- Acha mesmo? Você sabe que eu estava na escola ano passado e eu não tenho cara de adulto - Louis riu de mim por ter acreditado por um segundo.

- Ha ha - proferi sem emoção. - Eu tenho dezessete e vou fazer dezoito agora em fevereiro.

- Dezoito - respondeu de volta. - Faria dezenove esse ano.

Acenei com a cabeça, dando um ultimo sorriso e indo até minha mochila jogada no chão, colocando no ombro. Quando eu ia sair sem dizer mais nada, Louis me chamou:

- Ei, Harry!

Eu me virei, olhando em duvida para o garoto sentado perto do piano com o violão em mãos.

- Se você chorar de novo, eu vou puxar seu pé de noite.

- Louis! Não brinca com isso! - reclamei, ficando com medo e o fazendo rir abertamente.

Revirei os olhos e saí sem olhar para trás, fechando a porta com certa força por cima de sua risada. Depois de chegar ao primeiro andar, eu acabei sorrindo.

Uau, eu conheci um fantasma. Espirito, tanto faz.

Isso só pode ser brincadeira! De qualquer forma, eu preciso associar. É muita informação em pouco tempo. A única coisa boa é que, talvez, só talvez eu pense nisso ao invés do que me aconteceu no banheiro. Até porque se eu chorar, eu vou ficar com medo do Louis realmente aparecer. Não ia ser legal, eu tenho medo dessas coisas sobrenaturais, apesar de Louis parecer ser bonzinho como assegurou. Eu poderia ter feito muitas perguntas a mais, mas preferi deixar como está. Já tive o bastante para uma vida inteira. Só falta falar com um alien, fada, sereia, gnomo...

Não. Por favor, continuem nos livros de historia e no cinema, ou outros planetas. Já basta o Gasparzinho da sala de música. Se bem que em Gasparzinho, ele tem um amigo humano...

Nah, mas na vida real é outra coisa. Não tem como um fantasma, ou pessoa morta ser amigo de um humano. Seria um obstáculo essa convivência. Eu não consigo me imaginar sendo amigo do Louis, melhores amigos, ou coisa assim. Chega a ser uma piada.

Eu tenho muito que contar para os meus amigos amanhã. Okay, talvez menos a parte do Louis. Deve ser melhor guardar isso para mim mesmo ou então, eu farei papel de louco. Não faz diferença mesmo, eu não vou mais ver o menino espirito.

Estranho. Senti algo esquisito por pensar dessa maneira.

Quando pisei dentro de casa, lembrei uma última coisa do Louis. Antes de falar com meus pais que apareceram quase correndo perguntando onde eu estava e se queria o jantar; Louis pode afastar um mau humor e qualquer coisa negativa só com o seu jeito animado de ser.

Eu definitivamente superei o problema de anterior. Eu não vou chorar para não arriscar Louis pegando no meu pé de noite e não vou abaixar a cabeça amanhã como achei que faria. Porque os errados da historia são os meus supostos "amigos" e agressores. Eu sou muito mais que isso. Vou continuar sendo quem sempre fui e não vou deixar que qualquer um me atinja.

Talvez Louis seja um sinal de Deus. Eu não sou muito fervoroso apesar de acreditar em uma força maior que criou tudo que existe. Mas sei que Louis se tornou uma inspiração quando precisei de uma. O garoto sem vida ainda consegue esbanjar uma animação que eu não me daria ao luxo de colocar para baixo, até porque ao menos eu estou vivo e posso falar e abraçar quem amo.

Eu espero de verdade que o menino espirito encontre uma saída para seu estado atual e descansasse em paz.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro