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OS FILHOS DA TERRA - CAP3

"...Sombras no Sol
Filtram através de nós
Ainda luto com os demônios que me aprisionaram como uma criança..."

- Forget to Remember -
MUDVAYNE


O vulto se revelou um jovem, não menos que 17 anos. O desconhecido mantinha a espingarda próximo à testa de Sandro; o dedo no gatilho tremia.

- Você a matou, ímpio! - disse. Os olhos faíscavam de fúria. O rosto era uma carranca sob o sol.

Sandro desviou o olhar de seu captor e olhou sobre o ombro, para o monte de trapos ao lado do trator. Enxergou a silhueta da ruiva e ela continuava imóvel. Deitada sobre palhas tingidas de vermelho vivo.

- Sei que estou em pecado. Sacrifícios não podem morrer antes da hora... -

Sandrou voltou a encarar o jovem. Enquanto isso, suas mãos revolviam a terra.

- ... Mas o que fez... Isso que fez...

- Por favor, não precisa me... - Sandro tentou lubrificar a garganta com saliva sem sucesso. Havia um deserto sob a língua.

- És temente ao NOSSO Deus? - soluçou o jovem - Aquele que...

Sandro jogou terra nos olhos do atirador.

A espingarda trouxe de volta o som do trovão. O coice da arma atingiu o ombro do jovem. A bala atingiu o chão à direita de Sandro; por poucos centímetros não lhe abriu uma cratera no pescoço.

- Maldito herege! - o adolescente cambaleou para trás; uma das mãos sobre um dos olhos, a outra tentando empunhar a arma.

Sandro projetou todo o peso do corpo para frente e saltou contra seu algoz. Os dois caíram no chão e giraram um por cima do outro com Sandro ficando por cima. Ele atacou o garoto no quadril, depois na costela. A adrenalina não ocultou as dores que irradiavam pelos músculos e num descuido o jovem aproveitou a brecha na defesa de Sandro. Mirou o nariz e o quebrou com a coronha da espingarda. Sandro tombou de costas.

Isaías o deixou deitado sobre a própria derrota e andou até a esposa, os olhos marejados.

A adolescente agonizava; a boca cuspia golfadas de sangue coalhado. O quadril estava torcido e de uma das pernas despontava a brancura de um osso. A carne rompida pela fratura despejava sangue no chão escuro do milharal.

A mulher deu o último suspiro quando Sandro percebeu que havia ignorado totalmente os outros perseguidores.

Ouviu murmúrios inundando o milharal.

Ficou de joelhos e fitou a multidão que o encarava.

Crianças e adolescentes. Dezenas delas carregavam ancinhos, espingardas, revólveres, vergalhões e todo tipo de arma capaz de ceifar vidas. A idade variava de seis a dezessete anos. Rostos pálidos e sujos adornados por cabelos desgrenhados.

Sandro não se moveu. Arquitetava um plano quando ouviu a voz de Isaac ressoar com a mesma frieza que iniciou toda aquela perseguição. O líder. O que mandara pegar o pecador! Sandro teve que esganar um sorriso histérico ao pensar na loucura em que tinha se metido.

O mar de crianças abriu e deu espaço a um garoto de oito anos. O rosto tinha parte das feições escondida por um chapéu preto de longas abas.

O menino de caminhar suave, olhos graúdos e acizentados vestia macacão e botas de couro até perto do joelho. Carregava um livro escuro sob a axila, as mãos entrelaçadas na altura do quadril. Polegar com polegar esfregavam-se inquietos. Parou e observou a grávida morta. Com a cabeça indicou para que Isaías recuasse para perto das crianças e sibilou algo que apenas eles entenderam. Virou-se para Sandro e semicerrou os olhos.

- Apenas o sacrifício mantém o fogo longe do Milharal! - Entoou. As crianças repetiram a frase num coro uníssono.

- Aqui os ímpios são expurgados. Consumidos pelo que Anda por Trás das Fileiras em prol da plantação - continuou Isaac - Pecadores aqui não tem SALVAÇÃO!

- Aleluia! Salve o Irmão Isaac e suas obras ao Senhor do Milharal - berravam as crianças.

- Mas que merda é essa?! Quem são vocês seus lezados? São seguidores do Manson?!

- Ohh... E ainda blasfemas? - grunhiu Isaac. No rosto a pintura da desaprovação.

- É sério isso?! Andaram lendo o conto do Stephen King? Sabem quem é ele, né?

As crianças empunharam as armas de imediato. Um dos garotos soltou um sorriso bestial. Ao lado dele uma menina com os olhos esbugalhados e cabelos empapados de sujeira encaravam Sandro enquanto, com a ponta de uma faca, traçava uma linha imaginária diante do pescoço. Um menino de feições indígenas, simulou um disparo contra as próprias têmporas usando o polegar e indicador como revólver ao mesmo tempo em que uma menina tentava sustentar o peso de uma foice. Usava as duas mãos, mas a ferramenta era grande demais pra uma criança de sete anos.

O Menino Profeta avançou alguns passos acompanhado de perto por dois garotos mais velhos; estes usavam macacões que mal lhes cobria o corpo. As roupas gastas carregavam sangue seco por toda parte. Eram a guarda pessoal do líder.

- Profanastes o Milharal com seu fluido impuro... - grunhiu Isaac - Aquele que...

- Anda Por Trás das Fileiras... Sei, eu sei! - resmungou Sandro com a voz trêmula - E o que DIABOS tu quer que eu faça? Não sabia que o lugar era sagrado, porra!

As crianças murmuraram entre si diante da explosão do forasteiro. Ninguém nunca havia interrompido o discurso do Profeta do Milharal.

Isaac soltou todo o ar dos pulmões, fechou os olhos e ergueu a mão.
As crianças caíram de joelhos; olhos lacrados, cabeça inclinada para frente, o queixo tocava o peito. O livro que Isaac trazia sob a axila pairava sobre a cabeça dele; as mãos pequenas o seguravam com devoção. As folhas eram feitas de palha e na capa algum tipo de crucifixo parecia ter sido impresso. Mas nem de longe lembrava uma bíblia. Ao menos não as que a mãe o forçava a ler quando criança.

Isaac virou de costas e também se ajoelhou. Um dos guardas fez o mesmo, porém, o outro permeneceu de pé com a espingarda de prontidão.

O profeta enfiou a mão por baixo do chapéu e dele retirou um ídolo feito de palha e grãos de milho. Grãos escuros que fediam a comida estragada e talvez, fossem a fonte do forte odor de fertilizante, porque tão logo Isaac içou o ídolo diante de seus seguidores, um moscaréu o cobriu.

O pequeno Profeta murmurou palavras estranhas e foi seguido pelas outras crianças.

Sandro testemunhou a tudo imóvel, a boca semiaberta, os olhos graúdos de incredubilidade que aumentou quando o segundo guarda se juntou às orações e abaixou a arma.

Sandro tão logo tomou posse de si mesmo recomeçou a fugir.

Os braços estendidos abriam caminho pelas fileiras.

Ainda trôpego e com o milharal lhe ferindo o rosto correu sem noção de pra onde ir. Sentiu na pele a frustração das vítimas de sua gangue que, como animais prontos pro abate, andavam em círculo tentando antecipar de onde viria o próximo soco, pontapé ou facada.

As pernas fraquejaram e o ar que entrava queimava os pulmões já exauridos pelo esforço.

O fedor de fertilizante e coisa podre numa intensidade insuportável.

Acima de sua cabeça o sol se ocultou sobre algumas nuvens. Não sabia quanto tempo havia passado desde a conversa com o frentista, porém, sabia que em nenhum momento desde que iniciou sua Odisséia o sol havia lhe cedido misericórdia. Pelo visto a tarde já chegava ao fim.

Não demorou até ouvir o som das palhas em comunhão com o caminhar tranquilo das Crianças do Milharal, dos filhos Daquele que Anda por Trás das Fileiras. Os Filhos da Terra.

Antes que Sandro os encarasse pela última vez, a coronha de uma espingarda cedeu a dor pungente que o beijou na nuca.

O mundo girou tão rápido que o chão se aproximou num piscar de olhos e o que viu quando bateu o rosto no solo foi um emaranhado de pés descalços. Dentre eles surgiu o par que calçava botas escuras como o asfalto da Rodovia 724.

- Separamos o joio do trigo de acordo com o que nosso Senhor deseja! - Ladrou Isaac.

- Aleluia, Irmão Isaac! - gritavam os fiéis.

- Estamos escrevendo o Evangelho de Sangue - Prosseguiu o Menino Profeta - Exterminaremos os que são indignos e impuros.

- Morte aos Ímpios! - rosnavam as Crianças do Milharal.

O braço de Sandro formigava, a respiração ficava cada vez mais fraca e as têmporas latejavam como se recebessem alfinetadas. Aos poucos os olhos foram sendo domados por pontos escuros até sucumbir e tudo virar escuridão.

- Apenas o sacrifício mantém o fogo longe do Milharal! - os fiéis gritavam. As vozes cada vez mais distantes, até sumirem de vez.

***

Em algum lugar da extensa Rodovia 724 e numa considerável distância da capital do Maranhão, o milharal sussurava e maldizia.

Das entranhas da plantação algo rugia e caminhava na escuridão amainada pela luz do luar. Faltava pouco para a meia noite.

O vulto enorme fedia a morte e o moscaréu que o acompanhava zumbia numa estridência infernal. Congregavam sob a carne apodrecida do Senhor do Milharal.

A noite era de Lua Nova e o céu isento de estrelas proporcionava o melhor cenário para a luz prateada.

No centro do Milharal, nos domínios do deus carnívoro, Sandro agonizava solitário em sua dor. Exceto pela companhia de duas oferendas de colhetas anteriores.

Dos cadáveres carcomidos espigas saíam dos ouvidos e da boca. Palha ocupava o lugar onde antes existiam olhos e no ventre rasgado havia palha seca no lugar de órgãos.

As vítimas, o que sobrou de um homem e uma idosa, estavam ali há algum tempo. Vinham de duas colheitas antes de Sandro encontrar e conversar com Daniel, o frentista que apodrecia em silêncio bem ali à distância de uma cusparada ou um soco na mandíbula com aquela arma de aço que Sandro adorava usar em alvos frágeis e desavisados.

Sandro, porém, não reconheceu a carcaça de Daniel e mesmo que o fizesse não entenderia as artimanhas e ilusões que o Senhor do Milharal criava.

A situação em que Sandro estava no momento era bem pior do que a do frentista ou da bancária morta na colheita após o incêndio do ano passado: ele continuava vivo! Os braços pendiam estendidos na horizontal e em direções opostas. As pernas quebradas com o auxílio de um ferro maciço jaziam torcidas uma sobre a outra. Os Membros superiores e inferiores atados por metros de arame farpado despejavam sangue na terra escura do milharal. As órbitas oculares eram crateras de sangue que fitavam as trevas diante delas.
O rosto desfigurado concluía a pintura demoníaca, o ritual preparado pelo Menino Profeta em honra a seu deus: na testa de todos os imolados haviam sido tatuados (com a ponta de uma faca) três algarismos: "666".

O frio na barriga e a sensação de levitar que Sandro sentia se dava pela altura a qual o tinham submetido. O homem havia sido crucificado há três metros do chão. A cruz mais alta dentre as três enfincadas naquela parte do milharal.

Sandro sentiu quando o Senhor do Milharal chegou e soltou um grito.

O ar ficou azedo, os sussurros aumentaram, a temperatura despencou e o chão tremeu. Perguntou-se onde as crianças estariam. Olhavam a cena, talvez? Como num filme de terror? Não, jamais.

Ninguém tinha permissão de ver o banquete. Estavam em oração longe dali, em segurança. As almas e os corpos sujos como um lixão, mas a vida e a carne longe da fome insaciável do Mestre. Ao menos até completarem dezoito anos e por livre e espontânea vontade irem de encontro ao milharal numa bonita noite de Lua Nova.

O viajante desmaiou pela segunda vez naquele dia, no exato momento em que o antebraço lhe foi tomado.
Por sorte morreu antes da entidade iniciar a imolação de seu corpo.

A dor de ter as costelas arrancadas, nacos de carne mastigados e órgãos molestados era algo além da capacidade humana de sentir dor.

Ali, naquela fria noite de Agosto de 1984 algo se alimentou de Sandro.

E depois do banquete, o que restou foi apenas o silêncio do milharal.

FIM
TOSCO hehehe

TOTAL DE PALAVRAS: 1990

TABELA: VERÃO

PALAVRA/TEMA: GRITO

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