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NOIVADO ÀS ESCURAS

"...Agora eu não estou tentando ser desagradável
Ou eu não estou tentando deixá-la assustada
Mas há um assassino à solta
Ou você não ouviu falar?
Ele estará andando por esta cidade
Lá pela meia-noite
Sim, isso é Chinatown
Isso mesmo
Isso mesmo..."

- Killer On The Loose -
THIN LIZZY



Sandro deu mais um trago no cigarro de maconha e olhou para o relógio de pulso pela décima vez naquela noite. Olhos exaustos enxergaram 00:01 e o coração galopou no peito. Resgatou o celular do jeans surrado e deslizou o indicador pelo display até desbloquear o aparelho na caça de alguma notícia que o alegrasse naquela noite tão planejada.

"Nenhuma mensagem ainda. Será que ela virá? Sei que marcamos meia noite... Mas..."

Ludmila atrasou. Como sempre.

O sujeito guardou o celular num dos bolsos e inspirou o último ar de erva antes de jogar o resto de cigarro fora. A névoa desceu morna, fez o que tinha de fazer nos pulmões numa velocidade absurda e refez o caminho de volta. Na bifurcação acima, uma parte dela decidiu voltar e sair pelas narinas enquanto a outra escorregou pela língua e abandonou os lábios de Sandro, indo de encontro ao céu estrelado até desaparecer com um safanão. O sujeito retirou de outro bolso uma caixinha coberta com algo semelhante a veludo. Abriu. Visualizou o conteúdo como que para ter certeza de que ainda estava ali, que era real e possível aquele momento.

Tossiu. A coceira na garganta incomodava tanto quanto a ardência nos olhos. Lembrou da mistura entre Vodka e Sprite que tomou antes de estar ali e sorriu. Na hora parecia uma boa ideia, pra aliviar o nervosismo sabe? Bem melhor do que os que tomava pra ansiedade que o deixavam ainda mais ansioso.

Repassou as palavras do mini discurso e ensaiou a poesia inspirada nas musicas do The Doors para embalar o que seria o convite oficial para uma vida a dois. Em cima da hora resolveria a dúvida entre cantar "Wasting Love" do Iron Maiden, "Alone I Break" do Korn ou a balada mais famosa do Led. Por enquanto, resolveu deixar o joelho direito beijar a terra e o outro servir de apoio para o braço esquerdo. Uma das mãos segurou a tal caixinha enquanto os dedos da mão livre beliscavam as dobradiças de plástico numa imitação confusa de um baú pirata.

Ele a abriu e proferiu o pedido.

A noite ressoava apenas o barulho dos insetos e o murmurar do vento frio que circulava por entre as lápides do Cemitério do Gavião, distante alguns quilômetros do centro de São Luís. Lugar mais que apropriado pra ele e sua musa.

O garoto recomeçou o teste. Decidiu que não estava bom o suficiente para aquele sonho de consumo chamado Ludmilla e pensar nela às vezes sufocava. A escolheu pra namorar num dos shows da banda de punk rock que mais adorava, no entanto, todos diziam que ele não era suficiente para aquele tornado de emoções. A garota tinha olhos quentes, o quadril perfeito, o rosto moldado pela pura beleza, seios fartos, um corpo esculpido pelos deuses; a própria Afrodite parecia ter doado seus lábios a ela. Dentes pequenos que se encaixavam perfeitamente num sorriso de desmoronar os Muros de Troia e fazer balançar o Monte Olimpo. Enquanto ele... Não passava de um reles mortal.

Ele tinha ciência de que aquilo tudo era um sonho. Mas não se perdoaria por não tentar.

Dessa vez ao invés de abrir a caixinha, Sandro estendeu a mão e só após isso, perguntou para o silêncio se aceitaria se casar. Os olhos do Romeu estavam cerrados, uma das mãos no peito a outra ostentando a caixa com a aliança da Romanel. A camiseta do Motorhead foi puxada para o lado para mostrar bem os músculos em fase de crescimento. O cabelo, um mohawk digno da grande tribo junto com o sorriso impresso na cara, formavam o cartão de visita. Pegou o celular e decidiu que iria gravar uma mensagem de áudio, saber o paradeiro da futura noiva.

Nesse momento a reposta tardia ao pedido de casamento chegou. Veio num tipo de grunhido.

Sandro abriu os olhos e o que viu fez com que desejasse ser cego.

[...]

Já era o terceiro ônibus que passava sem parar quando Ludmilla finalmente resolveu pegar um táxi. A garota olhou para o relógio e viu os ponteiros colidirem no "XII". Atrasada, mais uma vez. Os pensamentos iam se avolumando enquanto ela entrava no carro e dizia o destino ao motorista que a olhou incrédulo.

O carro partiu e alguns quilômetros mais tarde parou.

A garota sacou as notas e jogou para o tagarela atrás do volante que não tardou a acelerar pra longe dali. Afinal, cemitérios não são bons de visitar nem na proteção da luz do dia.

Ludmilla pulou o muro como a tribo sempre fazia nas sextas ao saírem do Reviver. Mas dessa vez ela já não carregava aquele sorriso de antes. O namoro havia mudado tudo. Afastado-a de todos. Era hora de pôr um basta.

Chegou ao local marcado, mas Sandro não estava lá.

Pegou o telefone e discou.

Um som abafado se fez ouvir e ela levou um leve susto. Resolveu seguir o som e caminhou até um túmulo. O vocalista do AC/DC rasgava a garganta num refrão enquanto o celular de Sandro vibrava com a ligação de seu amor.

Havia sangue no display.

[...]

Sandro saltou não só uma, mas várias tumbas. Até que numa delas encontrou o chão ao engatar um dos pés num crucifixo. As mãos esbarraram no ladrilho da cova ao lado e a cabeça dele raspou a lápide de uma criança de três anos que ceifei ano passado. Uma cena digna de mortes bem clichê. Mas...

O garoto ficou de pé e continuou a correr desnorteado com a Coisa atrás dele. Ela seguia a passos desengonçados, mas sempre decidida. Não havia mais olhos para guiá-la, ou vida para fazer bater aquele coração obscuro. Mas havia um combustível mais apropriado: fome. De carícias, amor ou carne. O último que tentou invadir a tumba dela sabe bem do que estou falando.

Sandro atravessou duas vias, caiu numa das covas abertas por necrófilos ainda na madrugada de ontem e até atravessou uma pequena reunião de fantasmas sem perceber. Ao longe alguém havia acabado de deixar farofa e cachaça num dos túmulos e ainda mais ao longe vi o coveiro conversar com a esposa morta.

Tudo corria bem no Gavião.

Sandro porém não notou nada disso. Corria com a respiração abafando os sons ao redor. O peito queimava, as coxas latejavam e a cabeça parecia presa num torno. Esbarrou em outro crucifixo, este solto por algum vândalo e derrubado sobre uma das lápides. Ele o pegou e por pouco não deixou alguns dedos no caminho ao arrastá-los num azulejo quebrado. Cortou a mão, mas o medo o anestesiou.

Encontrou o abrigo de uma árvore e se encostou pra tomar fôlego. De lá espreitou o inimigo. A Coisa se aproximava. Os braços retorcidos, a pele ressecada como a de uma múmia egípcia. Os cabelos ralos e raros cobriam parte do crânio marrom e apodrecido. Era como ver uma foto antiga, daquelas em tom de sépia carcomida pelo tempo.

A coisa se aproximou o suficiente para que Sandro a atacasse e de repente hesitou. O garoto conseguia ouvir o vento soprar por buracos cavados naquela carne ressecada. A Coisa olhou para trás, como um cão ao ouvir a voz do dono. Atrás da árvore Sandro balançava como uma corda bamba. Os joelhos falhavam, a respiração travava e voltava, o peito doía.

E então, quando menos percebeu, voltou a correr. O crucifixo na mão, o medo no sangue. Não se atreveu nem ao menos a olhar para trás. Talvez isso tivesse atrasado a tragédia que estava destinada a acontecer, mas não evitá-la. Enquanto Sandro corria, a Coisa fazia o caminho de volta.

[...]

Ludmilla pegou o celular de Sandro e o analisava quando um odor nauseante lhe bombardeou as narinas. Ela olhou em volta e viu vultos ao redor de uma cova. Imaginou se não era sua velha tribo nas reuniões noturnas que sempre faziam, regada a orações bizarras que de nada tinham de satânicas e cachaças da terra e vinho, quanto mais vagabundo melhor. Caminhava na direção deles quando sentiu um arrepio, os pelos da nuca se encresparam e os pés ficaram frios. Um dos integrantes do círculo virou e acenou, mas não havia carne em seu rosto. Apenas a brancura do crânio resplandecendo em trapos que antes pareciam ter sido um terno.

Ela engoliu um grito e antes que decidisse o que fazer, o círculo de espectros desapareceu.

O fedor estava mais forte agora e Ludmilla resolveu girar nos calcanhares pronta para desaparecer e talvez ligar pra polícia só quando estivesse em casa quando algo lhe agarrou. Algo frio, fedorento e pesado. Talvez aquilo já tivesse sido uma mulher, mas o que estava diante de Ludmilla era uma carcaça coberta por tudo, menos vida. As órbitas vazias davam a sensação do fim de tudo, da queda eterna num precipício ligado direto ao purgatório.

A coisa tentou apertar o pescoço de Ludmilla, mas os ossos não imprimiram força; logo a moça se livrou do aperto fatal e se pôs a correr, desnorteada, a alma pedindo socorro.

[...]

Sandro entrou num dos mausoléus de uma das famílias mais poderosas do Maranhão e lá se escondeu. Ali era o ponto em que os novatos que desejassem fazer parte da tribo deveriam passar a noite. Vencer o medo ou apenas transar caso desejassem. Sandro conhecia bem o local, assim como Ludmilla. Pensar nela e em como deveria fazer para avisá-la o deixou angustiado. Deveria voltar? Isso era uma prova de amor, não é? Ele perguntava a si mesmo e eu doido para responder: "Não, é suicídio. Isso é burrice, pura e simples."

O abobalhado aproveitou que os cadeados já não estavam em seus postos eternos desde a primeira vez que encontrou o lugar e abriu o ferrolho, fechou a grade atrás de si. Foi para um recuo no fundo e lá se esgueirou para as sombras. O crucifixo sempre a postos.

Não sabe por quanto tempo ficou ali, às vezes agachado e outras espremido em pé no canto mofento. Imaginava que A Coisa tinha desistido até ouvir o som de passos e o portão sendo aberto. Ele apertou bem o crucifixo e aguardou. No momento parecia que tudo o que fumou ou bebeu ou comeu resolveu agir. Os sons transformaram-se em apitos agudos, os olhos viam apenas explosões multicoloridas e os cheiros eram doces e azedos. Algo arrastou os pés na direção das sombras e Sandro sentiu quando algo àspero esbarrou em seu ombro e um brilho esbranquiçado veio na sua direção.

Não viu que era o display do celular, nem recordou do papel de parede que estampava o logo do Motorhead. Não observou que Ludmilla gritava e soluçava tentando alertá-lo de algo que ele já sabia estar a caminho. Sandro não reconheceu a mulher que ele pediria pra ser sua noiva naquela noite.

Não ele não percebeu nada disso.

O que viu foi um vulto disforme o ameaçando. E o que fez? Reagiu como qualquer um de vocês reagiria. Afinal, não foi o medo que os fez evoluir de meros sacos de pelos quadrúpedes para sacos de pelo bípedes?

Sandro levantou o crucifixo na altura dos ombros e estocou não uma, mas cinco vezes antes que Ludmilla caísse de costas na mármore fria do mausoléu. E depois que ela desabou engasgando no próprio sangue, ele ainda a espetou mais treze vezes. Até que tudo em sua mente clareou e ele viu o que fez.

Mas não sinta pena do miserável. Ele não soube que Ludmilla ia abandoná-lo como as outras doze namoradas antes dela. Também não houve tempo para luto. Porque ali, no Gavião, não era apenas ele e sua amada que conheciam bem as vias e esconderijos.

Quando Sandro se deu conta, um vulto surgiu na entrada do esconderijo dos amantes. Encontrou o portão aberto e entrou. Fechou-o atrás de si e avançou batendo os maxilares num sorriso esfomeado.

Lá fora, enquanto um banquete de almas se desenrolava, o vento se encarregava de levar os gritos de Sandro pra bem longe dos frequentadores do Gavião.


TOTAL DE PALAVRAS: 2063

TABELA: VERÃO

PALAVRA/TEMA: SÉPIA

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