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EFEITOS COLATERAIS pt.2 -FIM-

"Meu coração bate
mas a alma morreu
Meu corpo esta respirando
sobre olhos catatônicos
O sangue flui,
definindo uma morte livre
Eu perdi meu saldo
mas Deus sabe que eu tentei
Eu não quero estar aqui
em cartas escarlates
Esculpido no que uma vez fui eu
Que uma vez foi você, não mais..."

- Scarlett Letters -
MUDVAYNE


O Mustangue acelerava sem abandonar o acostamento.

Avançava alguns centímetros e recuava num vai e vêm próprios de um predador.

A fumaça branca que deslizava do capô formava desenhos vivos que se elevavam rumo ao céu ainda escuro. O para-brisa envolvido num embaçado denso o suficiente para não permitir a visualização do suspeito atrás do volante.

O Mustangue parecia vivo. Mas, de repente o carro parou, o motor morreu e os faróis perderam o brilho fantasma. Apenas um vulto garantia ao inspetor que o veículo continuava lá, à espreita como um cão raivoso.

Laureano tentou caminhar e se deu conta de que a virilha estava encharcada. A mancha próxima ao zíper da calça tão escura quanto o interior do carro fantasma.

- Pelo jeito o inspetor tem incontinência - disse a voz embebida em estática - Eu também já tive isso inspetor. Sabe o que fiz pra conter esse vazamento maldito...? Responda ou vou aí e arranco sua garganta!

- Eu não faço ideia! - gritou Laureano. A voz saiu contra sua vontade. De súbito, esganiçada.

- Oras, arranquei meu pau fora com uma faca de serra! Quer que eu faça isso pra te ajudar, inspetor? Posso até te lamber, se preferir.

As pernas do policial se debatiam; os joelhos chocavam-se uns aos outros. Continuava apontando a arma para o veículo demoníaco, mas o dedo no gatilho tão frio quanto a voz que escorria pelo rádio patrulha.

- Por favor... O que quer de mim? Não me faça mal. - murmurou o inspetor.

- Minha missão é outra. Percorri toda essa estrada por você. Os outros foram apenas efeitos colaterais.

- O que quer dizer?

- Não é da sua conta, mocinho curioso... A propósito, onde está o Adriano?

Laureano engoliu em seco.

- No Posto de Fis...

- Tem certeza?

O inspetor procurou na mente alguma resposta concreta, algum fato que confrontasse a insinuação na voz do espectro. Não surgiu nada. O Mustangue continuava ali, na outra margem da rodovia; o matagal lambendo os pneus de aro cromado e vez ou outra beijando a lataria azul sempre que o vento empurrava forte o suficiente. O som da vegetação indo de encontro ao veículo só fazia aumentar a certeza de que tudo aquilo era real.

- Sabe inspetor, você é especial. Assim como outras almas espalhadas por esta cidade... O cometa Halley custa a vir por aqui, mas quando passa almas especiais se destacam. É como se exalassem... algum tipo de aroma doce... Não me leve a mal, sou apenas um "garoto de recados" do Demônio da Garrafa. Se não fosse eu seria o casal do Lixão da Ribeira... eles são asquerosos, cara. Tem o pecado da Gula os guiando. Há o tal Nelson Avaritia lá no centro da cidade, naquele escritório infernal. Fui assistir um culto na Igreja dele... Poderiam ter sido também os Porcos da Fazenda Eugouça... ou o Lobis...

Um lapso de coragem aferrou as garras no coração de Laureano. Tudo aquilo era surreal e de certa forma soava tão crível a ponto de fazer o medo balançar a alma. Mas ele era um inspetor, o mais respeitado dentre eles. Conseguiu girar o rosto para a viatura; viu as chaves ainda na ignição, a porta escancarada, o rádio patrulha emitindo chiados e cacofonias diabólicas. Devolveu a pistola ao coldre tentando controlar a tremedeira e olhou na direção do Mustangue. Sentiu que era o momento certo e andou devagar.

- Consigo sentir o fedor de medo em você Laureano... Isso me excita... - crocitou o espectro - a ponto de ouvir seus pensamentos... Quer fugir é?

Laureano, já próximo da porta, esticou um dos braços por cima do teto da viatura e ergueu o dedo médio. Num súbito ato de bravura gritou de ódio:

- Vá pro inferno, seu merda!

A risada do motorista infernal explodiu no rádio patrulha se impondo sobre as outras vozes.

O motor do carro fantasma renasceu, os faróis se acenderam num amarelo pútrido e dardejaram o rosto do inspetor Laureano.

Foi então que o fantasma se revelou.

A luz pálida do interior do Mustangue acendeu e iluminou a face do espectro. Ou ao menos o que restava dela. A carne apodrecida esfarelava enquanto o fantasma repuxava os lábios na tentativa nefasta de sorrir. No lugar do nariz existia uma cratera envolta por chagas escuras. Os olhos saltavam das órbitas num brilho vermelho como a ponta de um charuto.

Laureano viu o ser fantasmagórico levar uma das mãos ao cabelo ralo e deslizá-la pelo crânio, arrancando com isso nacos de carne. Fiapos de cabelo pendiam do couro cabeludo esfarrapado, tocavam a testa dilacerada. A mão ossuda que segurava o volante tinha os nós dos dedos brotando por entre a pele.

O torpor voltou a habitar o corpo de Laureano. O medo fez o coração cavalgar no peito e, quando as garras do motorista fantasma atacaram a buzina do Mustangue, o inspetor eliminou o conteúdo do estômago nas calças.

- Estamos sintonizados com as ondas hipnóticas do Inferno meu amigo inspetor. E sabe quem vai se juntar a nós agora?

Laureano jogou os olhos para o banco do carona, atraído pelo vulto esverdeado que lá surgia. A massa disforme evoluiu convulsionando, balançando o veículo para os lados, enquanto o espectro uivava como um chacal.

O motor do Mustangue acelerava e reduzia, acelerava e reduzia; o escapamento ressoando infortúnios enquanto o amanhecer se aproximava.

- Vem cá Laureanoooo! Aqui tem cheiro de bosta, que nem o fundo das tuas calças seu vadio desgraçado!

Laureano engasgou.

Os olhos se arregalaram, os pulmões murcharam e por um momento impediram o ar de entrar ou sair. Mesmo tendo reconhecido a voz daquele vulto e testemunhado o rosto cínico observando-o por trás do para-brisa, ele se negava a crer que era Adriano que esmurrava o painel. Em vez de olhos, buracos necrosados. A boca sem os lábios deixava os dentes expostos num sorriso equino. Ao redor do nariz, jazia uma camada branca do pó que o viciou há um ano. A pele esquálida e coberta de veias inchadas dava o tom da agonia. Adriano estava morto? Não seria uma ilusão?

- Iremos visitar a tua mulher - urrou Adriano - Vai ser sua recompensa por me deixar ter uma overdose, velho safado! Acabei de morrer seu viado mijão.

O rádio patrulha preencheu o ar de estática e gritos estridentes que fizeram Laureano despertar. Entrou na viatura e bateu a porta. Girou a chave na ignição, o motor rugiu. O freio de mão foi empurrado para frente, o pedal da embreagem cedeu sob a pressão do pé esquerdo e o câmbio engatou a primeira marcha em sincronia com o acionamento do acelerador. O inspetor arrancou; os pneus dançaram no acostamento, a traseira do veículo girou e em segundos o horizonte vermelho da Rodovia 724 iluminava o capô da viatura.

Laureano fugiu.

O Mustangue foi atrás.

O inspetor olhou pelo retrovisor quando o carro fantasma rasgou a estrada; os pneus pareciam não tocar o asfalto. Os faróis incendiavam a vista do inspetor, dificultando a fuga. Mesmo assim Laureano afundou o pé no acelerador. As mãos se firmaram no volante e os olhos dançavam entre os retrovisores e o horizonte. Chegar ao posto fiscal era o objetivo. Lá, tinha a esperança de rever o amigo vivo. Mas não era ele no banco do carona? Não o tinha deixado aspirando carreirinhas de pó? Na verdade, quantas seriam necessárias para matar um homem do porte de Adriano? Laureano achou melhor responder às indagações mais tarde, tomando um chocolate quente e rindo da alucinação por excesso de trabalho.

- Laureanooooo! Abrace seu destino e deixe que eu leve sua alma ao Demônio da Garrafa! - gritava o dono do Mustangue.

- Puta, putinha é o ritmo da ladainha! Vou sodomizar sua esposinha - berrava Adriano.

O sol despontou no horizonte imponente e torrando o asfalto e o interior da viatura. Nos quilômetros finais da Rodovia 724 o rádio patrulha foi aos poucos entrando em silêncio, até que se calou por completo. Laureano olhou para trás e viu o Mustangue cada vez mais transparente, longe, até desaparecer.

Tudo não havia passado de uma alucinação. "O stress faz dessas coisas. Claro que faz.", pensou.

O inspetor chorou de alívio.

Então, as mãos molharam o volante com suor, as pernas fraquejaram. O coração voltou a galopar descontrolado. Laureano notou que já não estava na Rodovia 724. Abaixou o vidro da janela e inspirou o ar que veio quente, fedendo a carniça. Não reconheceu a estrada de terra até o abominável odor do Lixão da Ribeira invadir as narinas o sufocando. Tentou manobrar para o acostamento e foi quando percebeu que não estava no controle. O volante, os pedais, até mesmo o ângulo dos retrovisores agiam no automático. Pareciam controlados por alguma força inv...

- Invisível... Bingooo!

Laureano olhou para o lado e Adriano estava lá, sentado como de costume. A cabeça inclinada para o lado, os cabelos ao sabor do vento. Segurava um cigarro por entre os dentes escuros. A fumaça subia sinuosa e se espatifava no teto do carro. O morto deu um trago profundo, os pulmões reclamaram soltando um chiado como uma panela de pressão.

- Sabe Lau, assombrações não aparecem apenas nas horas mais escuras. Ainda mais agora que o tal da Garrafa tá vindo pra foder com São Luís. Pode uma porra dessas? - Adriano riu, a saliva pastosa escorreu até o queixo e se desprendeu; caiu sobre o banco e corroeu o couro como ácido a papel. - Ainda bem que já estou morto.

Laureano continuava sufocando, a língua descendo pra glote. Tentou pegar a arma no coldre e Adriano atacou. O antebraço de Laureano não resistiu à pressão e quebrou. A fratura no osso abriu caminho pela carne e deixou uma ferida felpuda. Sangue jorrou e Laureano gritou de dor, se debateu impotente. Adriano se aproximou; o cheiro pútrido emanando da carne morta. Os órgãos arruinados desprendendo a viscosidade da decomposição. Os rostos próximos o suficiente pra Laureano saber que tudo era real, tangível.

- Queria me meter uma bala é? Nana nina nã! Seu final é esse aí... olha pra frente!

Laureano viu o vulto do Mustangue se aproximar veloz na contramão, deixava um rastro de labaredas. O piloto por trás do para-brisa sorria e lá dentro se desenrolava um incêndio. Chamas comiam o resto da carne podre do espectro, derretiam a fina membrana entre os mundos.

Antes de a colisão acontecer e Laureano ser projetado para fora da viatura, o inspetor teve o último vislumbre do maligno: a parte frontal do Mustangue se contorceu, dilatou num arco horizontal e junto com os faróis, formou algo como o sorriso na face de um assassino.

O espectro desceu do Mustangue e caminhou em direção ao cadáver de Laureano. Abriu o peito do morto com as garras, afastou a carne da gordura, rasgou os músculos ao arrancar as costelas e retirou o coração. No caminho de volta para a carruagem infernal, viu os fantasmas dos inspetores dentro do veículo; os olhos tinham o brilho da loucura, a boca escancarada vomitava sangue.

O Piloto Infernal entrou no automóvel fantasma, colocou o coração sangrento no porta luvas e girou a chave. O motor rugiu e se uniu às vozes do Inferno que transbordavam da lataria. Tinha pressa, os demônios do Lixão da Ribeira o aguardavam.

Fim... Ao menos até um dia eu criar vergonha e terminar o Projeto heheh...

TOTAL DE PALAVRAS: 1942

TABELA: VERÃO

PALAVRA/TEMA: GULA

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