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03

- 14 de Junho, 2018. Uma semana antes do tempo atual.

Taehyung caminhava com calma naquela segunda, como em todos os dias que ia para a escola - mesmo que estivesse atrasado.

A mochila pesava nas suas costas, mas quase diria que estava acostumado.

Havia passado o dia anterior inteiro decidindo que declararia-se para Jungkook, e por isso dormira tarde com a ansiedade. Não aguentava mais aquele sentimento queimando no peito, mas mesmo assim, não poder extravasá-lo.

O sorriso surgiu largo, imaginando como seria. Jungkook parecia ser a melhor pessoa para receber seus sentimentos.

Já estava próximo a escola quando seu coração pareceu gelar. Não teve muito tempo para mover o corpo, muito menos para raciocinar algo. Mas a mente trabalhou em gravar aquele rosto com todos os detalhes de que se lembrava.

Jungkook.

Seu corpo doía de todas as formas, e mesmo que desejasse gritar, sua voz não saia. O rosto de Jungkook surgiu em sua frente logo depois que o carro o atingiu. Ele estava chorando, nervoso. Era a primeira vez que via algum tipo de expressão do mais novo.

Depois de minutos tentando manter-se acordado com Jeon ao seu lado, a todo instante tentando reanimá-lo, seu corpo adormeceu ao som de sirenes.

[...]

Jungkook não sabia como reagir. Desde o início sabia que não deveria ter aceitado virar a noite com pessoas que nem chegavam perto de serem consideradas seus amigos. Mas havia aceitado o convite, porque era a primeira vez que era chamado para algo. A primeira vez que um grupo de amigos da sua escola, o chamava para sair.

A excitação por algo novo foi mais forte.

Só que tinha aula, e já havia acordado atrasado. A solução mais razoável foi pedir o carro do pai emprestado. A escola não era tão distante, e ele iria dirigir com cuidado. Foi o que disse para os pais. Jungkook era responsável, então não houve nenhuma controvérsia. Não tinha carteira, mas seu pai o ensinou a dirigir. E tudo teria ocorrido bem se não fosse alguns detalhes: a dor de cabeça, o sono querendo roubar-lhe, o cansaço, a ressaca. Não era acostumado com bebidas alcoólicas, e estava tendo total noção daquilo.

Em seus devaneios, fechou os olhos por segundos, com sono. Um sono pesado e firme, da qual foi obrigado a acordar no susto rapidamente. Mas já era tarde demais. Para parar o carro, para buzinar, para impedir.

Apenas tarde demais.

O baque contra a frente do carro foi enorme. O som aterrorizante em seus ouvidos. Havia cometido um acidente.

Desperto, desligou o carro rapidamente, indo direção ao corpo no chão. Quase gritou assustado. O sangue. Sangue sobre o corpo maior. Sentiu as lágrimas caírem, agachando ao lado do garoto. Era da sua escola. Conhecia-o de vista. Quis espernear ainda mais.

- T-Tudo bem, vai ficar tudo bem - mentiu assustado, temendo pelo sangue que escorria da boca dele. Procurou o celular no bolso, sentindo o coração pulsar acelerado. Buscou os números de emergência. Discou a ambulância. Quando foi atendido, sentiu a voz sumir. Estava com mais medo ainda. Explicou o acidente, disse o local.

Dez minutos para chegarem.

Era muito. O garoto a sua frente estava morrendo por sua culpa. Era muito tempo para esperar.

Deixou que a mão tocasse a pele avermelhada da bochecha, tentando não olhar para o corpo dele. Estava tão machucado. Os minutos passavam sem que percebesse. O garoto não emitia som, mas o corpo tremia muito. Os olhos dele não saiam de si. Intensos e enigmáticos. Podia vê-lo tentar respirar devagar, mesmo que não conseguisse. Mais culpa. Mais medo.

- Me perdoe... eu... eu lamento, não vi você, eu- - o som das sirenes foi ouvido ao longe. Levantou o olhar assustado. Seria preso? Ele havia atropelado alguém, dirigido sendo menor de idade. É claro que iria. Não podia ficar ali. Não podia... correr riscos.

Olhou para o garoto novamente, chorando audível.

- Me desculpe... eu não queria... eu preciso ir - sentiu os dedos ao lado do corpo levantarem até seu joelho, quase em um pedido para que ficasse. Doeu como um inferno. Levantou devagar, tentando ignorar a mão. Colocou-a ao lado do corpo com cuidado, olhando uma última vez para ele. Havia lágrimas. O garoto estava chorando. - Me desculpe... - murmurou, virando-se e entrando no carro apressado. Ligou o automóvel e deu a ré. Voltou para casa.

Quando chegou, abandonou o carro na garagem e entrou na casa, jogando a chave na mesa e correu para o próprio quarto, fechando a porta.

Tudo retornou com força. A batida contra o corpo do garoto. O medo nos olhos dele. O sangue sujando o chão. A respiração nervosa.

Tapou os ouvidos, tentando ignorar aquele som ensurdecedor. As sirenes. O corpo no chão entre a vida e a morte. Gritou, agoniado. O coração batia acelerado, sentia o peito apertado. E se ele não sobrevivesse? Chorou novamente, molhando todo o rosto.

Jogou-se na cama, sentando-se encolhido no canto dela. Ele precisava ficar bem.

Deveria ter ficado.

Deveria ter assumido seu erro. Mordeu o lábio inferior com força. Sua cabeça latejou forte pelo choro. Estava com tanto medo.

Queria poder mudar o passado.

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