Capítulo 64🐉Confronto final🐉
Chen
Anoiteceu. Já faz 24 horas que Jéssica está sumida. A essas horas, Yan já deve ter registrado na polícia o desaparecimento da irmã. Pobre garoto, deve estar apavorado achando que eu falhei em minha busca. Eu mesmo temo o pior. Não sei o que me espera. Mas se perder Jéssica nessa batalha, entrego-me ao meu adversário, sem lutar. Não suportarei perder mais uma pessoa que amo, por causa dessa guerra, que iniciou no passado com nossos ancestrais e que fomos obrigados a conviver e pagar com nossas próprias vidas, os erros dos outros.
Assim que chegamos ao pé da Montanha do Suicídio de Amor, notamos que o teleférico, que leva ao alto já está fechado...
"A forma mais rápida de chegar lá em cima é pelo teleférico. Acho que precisaremos esperar amanhecer para subir."
Disse Jeremy.
"Não temos esse tempo todo. Jéssica está em perigo. Tenho uma forma mais rápida de chegarmos lá."
Eu disse.
"E qual é?"
Jeremy perguntou. Então fui para o centro da campina e disse:
"Afaste-se!"
Imediatamente Jeremy, já acostumado a presenciar situações incomuns, graças ao convívio com Hu, corre para o bosque ali próximo e abriga-se entre as árvores e fica observando.
Permito que o processo de transmutação comece. Meus olhos negros começam a clarear, ficando em um tom azul luminoso. Abro os braços e meu corpo incinera, tornando-se uma fumaça azulada, que logo toma a forma do Dragão Azul.
Jeremy sai de seu abrigo desconfiado e temeroso, então sacudo a cabeça, como em um cumprimento, para que ele perceba que estou ciente de meus atos, apesar da transmutação.
Desço uma asa, como um convite para que ele suba. Ele se aproxima e de forma atrapalhada sobe em meu dorso. Bufo impaciente. Ele que se vire para segurar, não tenho tempo para explicações. Então, ergo minhas asas e as sacudo, levantando voo e alcançando altura rapidamente.
Jeremy treme e espragueja agarrado em meu dorso.
"Ai meu Deeeeus!"
Ao chegarmos ao topo da Montanha, Jeremy aponta o local que Hu usa como cativeiro para aprisionar Jéssica. Sobrevoo ao redor e desço em campo aberto. O fato de já ter anoitecido facilita bastante nossa chegada, assim evitamos ser surpreendidos pelos nativos do local, os Naxi. Esse povo acredita que na Montanha existe um portal para o paraíso, para onde vão aqueles que morreram por amor. Daí a origem do nome da Montanha.
Jéssica
Hu está cada vez mais nervoso. Parece que sabe que se aproxima o momento que terá que enfrentar seu opositor. Ele tira a camisa suada e expõe seu tronco e braços musculosos e uma tatuagem de dragão em seu braço direito. Finalmente entendo o que aconteceu aquele dia no Aeroporto, quando cheguei na China...
"Era você aquele dia no Aeroporto!"
Ele ri orgulhoso.
"E quem mais seria? Se você tivesse obedecido meu conselho, tudo teria sido mais fácil desde o início. Mas foi insistente, preferiu ficar e pagar para ver e acabou se unindo ao meu inimigo. Agora pagará o preço por isso!"
Então ele dá um passo em minha direção. Sinto que meu fim se aproxima. Me encolho mais em um canto do cômodo e tento distraí-lo novamente. Hu é arrogante e vaidoso, gosta de humilhar os mais fracos e se vangloriar. Então finjo suplicar:
"Para quê carregar todo esse ódio do passado consigo? Tudo isso aconteceu há muitos anos. Você não enxerga que não vale a pena tanta ambição e sede de vingança?"
Ele se aproxima mais e me encara.
"O que não vale a pena é gente de sangue impuro como você e seu namoradinho, tomar posse de uma joia de uma família nobre e depois reinvindicar direitos que não têm!"
"Não faremos isso nunca! Nem queremos sua joia! Solte-me que prometo que eu mesma lhe trarei a joia."
"Cale-se! Acha que sou bobo?"
Então Hu, estapeia minha face com tanta força, que meu rosto vira e eu caio no chão.
Ele parecia um lunático, com os olhos vidrados, falava de fatos históricos que aconteceram no passado, como se fossem atuais. Lamentava o progresso, a invasão de estrangeiros na China, o fim do Império e citando
até a Revolta dos Boxers, fato histórico que aconteceu por volta de 1912.
Tapo os ouvidos e começo a chorar, me encolho no chão e espero o golpe final que dará fim ao meu tormento.
Fico em posição fetal por alguns minutos, mais depois abro os olhos para ver o que impede Hu de prosseguir. Ele sacode a cabeça para o alto, como se tentasse apurar a audição.
"Mas o quê?!" Ele questiona algo que não entendo.
Ainda tenta me pegar pelo braço, mas pela fresta da porta, uma fumaça azulada vai penetrando lentamente e circulando o corpo de Hu. Conheço essa fumaça, sei quem é.
Hu agora grita contorcendo-se, enquanto a fumaça o arrasta pelo corredor levando-o para fora.
Logo depois Jeremy aparece gritando meu nome:
"Venha! Precisamos sair o mais rápido possível daqui!"
Ele solta meus pulsos e me puxa pela mão. Subimos a escada de madeira e saímos do cativeiro, que na verdade é um buraco no chão.
Estamos agora em uma colina. Em campo aberto temos a visão da fumaça azul tomando a forma do Dragão e Hu, agora em forma de tigre é levantado cada vez mais ao alto. Ele urra e rosna mordendo várias partes do corpo do Dragão Azul.
As lágrimas descem por minha face ao ver o sangue escorrer pelo corpo da criatura mitológica, que na verdade é Chen.
Me desespero, sem saber o que fazer para ajudar, então reconheço a mochila de Chen nas costas de Jeremy. E tenho uma ideia.
Puxo a mochila e tiro de Jeremy, que não entende o que estou fazendo, mas me entrega. Abro a mochila e vasculho cada compartimento, até que acho a caixinha, abro e tiro o colar de dentro. Ergo o colar e começo a gritar:
"Ei! Ei! É isso que você quer?"
Imediatamente ganho a atenção do tigre que para o que está fazendo e me olha ferozmente. O dragão vai se desenrolando lentamente do felino e caindo fraco ao chão.
"É isso que procura? Venha pegar!"
Sem saber ao certo o que estou fazendo, saio correndo pelo campo aberto, me aproximando do precipício. Então escuto uma voz, que parece vir de dentro de minha cabeça.
"Está louca! O que pensa que está fazendo?"
É a voz de Chen! Não sei como mas o Dragão está se comunicando comigo por telepatia. Então tento lhe responder.
"Vou distraí-lo, enquanto se recupera!"
"Saia logo daí! Largue o colar e fuja!"
O Dragão caído de lado, todo ferido, não mexia a boca, mas fazia o som de um ronco, parecido com um lamento, vindo do peito.
Olho na direção do tigre. Ele avança lentamente com uma postura traiçoeira e hipnotizado pelo objeto que brilha em minha mão. Seguro o colar e estendo o braço para o precipício, ameaçando jogá -lo.
"É isso que você quer? Então venha pegar!"
"Jéssica, o que está fazendo? Largue isso aí e fuja, por favor!"
A voz de Chen continha dor, mesmo em pensamento.
Então tudo acontece como em camêra lenta. Eu me deito no chão e jogo o colar para o alto, de modo que na queda ele caia no precipício, forçando o tigre a pular atrás para resgatá-lo, mas a fera pula em minha direção com um ódio mortal. O que vejo a seguir é o grande Dragão Azul, reunir suas últimas forças e se jogar por cima de mim, arrastando consigo o tigre pelo desfiladeiro abaixo...
"Chen!!!"
Fico de bruços e olho para baixo.
"Não!"
Choro histericamente arrancando a grama do solo com as unhas. Arrasto-me mais para a ponta do desfiladeiro, gritando seu nome. Mãos me seguram e me puxam, impedindo que eu me jogue atrás.
"Solte-me Jeremy! Solte-me!"
Me debato fraca em suas mãos e caio ajoelhada no chão.
"Ele caiu! Ele deu a vida por mim!"
Jeremy ajoelha-se do meu lado, abaixa a cabeça em respeito e comenta:
"Que triste ironia do destino, não?! Na Montanha do Suicídio de Amor, O Dragão entrega sua vida para salvar o alvo de seu amor, caindo no desfiladeiro que tem como nome O Salto do Tigre."
Então escuto pela última vez a voz em meu pensamento:
"Jéssica, te amo."
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