Capítulo 57🀄Faces🀄
Jéssica
Entro em meu quarto, fecho a porta, encosto nela e vou deslizando, até sentar no chão. Enfio as mão nos cabelos, massageando meu couro cabeludo, tentando aliviar a dor de cabeça que sinto. No momento não sei o que pensar. A descoberta da ligação do Senhor Su, nosso motorista, com Jeremy, foi algo que abalou minha confiança em todos os sentidos. Como poderei confiar nele novamente? Será que ele está envolvido em toda essa trama? Será que eu estava andando, todo esse tempo, com o inimigo bem de perto?
Chen
O
lho para o alto e vejo que a janela do quarto de Jéssica está aberta. A luz está acesa, então ela deve estar no quarto. Impulsiono meu corpo e num salto, chego ao primeiro galho de árvore. Com leveza dou mais alguns saltos nos demais galhos, usando-os como degraus e alcanço o batente da janela.
Acostumo minha visão com a iluminação do cômodo e me surpreendo com a imagem fragilizada de Jéssica sentada ao chão. Ela abraça os joelhos em uma atitude desolada. Pulo no chão e caminho em sua direção. Meu andar felino é silencioso, por isso ela não nota minha presença de imediato.
Ouço ela fungar, sinal que esteve chorando. Me enrosco em suas pernas. Ela então levanta o rosto com uma fisionomia triste.
Jéssica e Chen
"Oi!" Diz Jéssica, acariciando meu pelo.
Dou um ronronar triste, esfregando meu corpo em sua perna. Parte meu coração vê-la assim. O que será que aconteceu?
Jéssica continua...
"Desculpe por me encontrar assim. Com tanta coisa acontecendo, acabei desmoronando..."
Ela agora estende as pernas no chão, então subo em seu colo.
"Hoje descobri algo tão terrível, que me custa acreditar que é verdade."
Arregalo meus olhos em sua direção, a interrogando em meu silêncio felino.
" Você acredita que descobri por acaso, que o Senhor Su, o motorista da família, é tio de Jeremy, o rapaz que vive me seguindo? Cheguei agora pouco de sua casa. Fui lá entregar-lhe o dinheiro de sua bicicleta, entrei e acabei achando um porta-retrato dele com a irmã e o sobrinho."
Meu pelo se arrepiou em meu dorso.
"Pois é! Agora não consigo nem pensar. Minha cabeça está latejando. Será que o Senhor Su está envolvido em toda essa sujeirada, Chen?! E pior! Se ele estiver sendo conivente com os planos do sobrinho e de Hu, agora que sabe que eu desconfio dele, pode fazer algo contra mim..."
Jéssica
Entrar no carro com o Senhor Su na direção, ainda que com a companhia de Meili, tornou-se algo bem tenso para mim. Fico o percurso inteiro da casa dos Yang até o Instituto, em silêncio.
A suspeita de que o Senhor Su pode estar ciente de tudo que o sobrinho tem feito e pior, que pode ser seu cúmplice, me deixa enjoada.
O restante da semana vem transcorrendo sem maiores surpresas. Yan voltou da casa de Lien. Esses dias lá fizeram muito bem a ele. Chegou até a ajudar Ming em seu restaurante.
Recebi os resultados das minhas provas e todos foram muito bons. Continuo empenhada em minhas aulas de Artes-marciais. E Chen, a cada dia que passa, fica mais alerta e tenso com um inevitável confronto com Hu e seus aliados.
O final de semana se aproxima e nossa excursão com a turma pode ser a distração que precisamos para relaxar um pouco, nos afastar dos problemas e não surtarmos de vez.
Jeremy
Desde a noite que fui surpreendido por aquela garota, minha vida tornou-se um tormento pior do que já era. Quando cheguei em casa no sábado, com minhas roupas sujas e alguns dentes quebrados, minha mãe deduziu que eu havia me envolvido em alguma confusão na rua e apanhado. Ela fez todo aquele discurso entediante mais uma vez, de que não sabia onde tinha errado em minha educação, que eu precisava voltar para a Inglaterra e passar uma temporada com meu pai para ver se ele me dava um jeito e depois começava a chorar. Como sempre, nada mudava, porque o velho não me queria de volta. Já tinha uma nova família e eu só atrapalho sua vidinha perfeita. Minha mãe ainda não superou a partida de meu pai e vivia pelos cantos triste e chorosa.
Mas encarar Hu foi mil vezes pior, que ouvir os lamentos de minha mãe e a bronca de meu tio Su.
Hu me fez contar tudo que aconteceu naquela noite para se certificar que eu não tenha revelado seus próximos planos.
"Como pode ser assim tão imbecil e fraco?! Por acaso não tem vergonha? Apanhar de uma garota!"
Disse Hu, me segurando pela gola do casaco. Seus olhos enfurecidos estão vermelhos e ele fala cuspindo em meu rosto.
"De-des-cul-pe, fu-fui pe-pe-go de-de su-sur-pre-sa. E-e-la co-cor-reu mu-mui-to e e me-me a-al-ca-can-sou!"
Respondo gaguejando de medo do que ele pode fazer comigo. Ele me sufoca contra a parede do esconderijo que arranjou nos fundos de um velho restaurante em um Hutong.
"Essa é a última chance que lhe dou. Se você falhar novamente, não terei misericórdia de você e nem de sua pobre mãezinha! Você que sabe! Melhor prestar mais atenção e ser cuidadoso, porque quero que cumpra minhas ordens exatamente como expliquei. Esse será nosso último golpe e ele tem que ser certeiro. Quero tomar posse do que me pertence o mais breve possível. E estou farto de sua incompetência!"
"Si-sim, Hu! Po-po-de deixar! Na-não i-irei fa-fa-lhar dessa vez!"
Finalmente Hu me soltou.
"É bom mesmo! Para o bem de sua saúde e de sua velha!"
Saio cambaleante pelos fundos daquela possilga. Me apoio na parede do beco que dá acesso a rua, respiro fundo para recuper o fôlego.
Dessa vez não posso falhar. Tenho que ser cuidadoso. Preciso dar a Hu logo o que ele deseja, para me livrar dele o quanto antes. Não posso permitir que ele faça algum mal a minha mãe. Ela é uma mulher sozinha e triste, que não tem ninguém para defendê-la. Fugir não é uma opção para mim, se não Hu irá atrás dela.
Notas: Hutongs ➡️ Bairros afastados do centro da cidade. Neles podemos encontrar construções mais antigas e tradicionais, onde residem pessoas com um menor poder aquisitivo.
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