Como pude permitir que as coisas fugissem tanto assim do meu controle?

Primeiro, Chen aparece em minha casa, sem avisar e se apresenta para minha família. Minha avó toda feliz, por conhecer o sobrinho-neto, Yan todo empolgado para ir à China comigo, até meu pai ficou encantado, ao saber que tem um primo. Somente minha mãe, perspicaz como é, notou que havia algo errado comigo.

Depois que todos os convidados foram embora, fui à cozinha ajudar minha mãe com a limpeza, e lhe contei quem era Chen, enquanto ele compartilhava uma conversa animada na sala com vó Lan, meu pai e Yan.

Entrei na sala e Yan me falou todo empolgado:

"Jess! Chen me contou que tem uma Ducati Monster!"

"É, eu sei."

Fuzilei Chen com os olhos. Sabia exatamente o que ele estava fazendo. Usando charme e carisma para conquistar minha família.
Uma vez, em uma conversa com o Senhor Wu, ele me falou um pouco sobre algumas características dos dragões. Disse que eram seres poderosos e corajosos, mas também eram temperamentais, possessivos, ciumentos e vaidosos.

Nesse momento, eu estava conhecendo uma outra faceta da personalidade de Chen e pior que eu sentia que ele estava se divertindo com tudo isso. Não perdia a oportunidade de me provocar e forçar intimidade com minha família.

Finalmente, ele entendeu meu olhar, nada satisfeito com a situação, se levantou e anunciou que era hora de ir.

Mas vó Lan foi a primeira a protestar.

"Como assim, vai embora?! Você é da família! Não pode ficar sozinho! Jonh, fale com ele!"

Era só o que me faltava! Um pedido de vó Lan, jamais seria recusado por meu pai.

"Mas é claro que você tem que ficar conosco rapaz! Se não se importar de ficar no dormitório, que temos no sótão..."

Chen sorriu, visivelmente satisfeito.

"Claro que não me importo, Senhor! Até prefiro ficar no último andar! Adoro altura, sabe?"

Olhou para minha cara com um sorriso meio debochado, pois eu era a única que entenderia sua piadinha.

"Ah, então está ótimo! Onde estão suas coisas?" Meu pai perguntou.

"No carro, Senhor. "

"Yan, vá ajudá-lo!

Assim que os dois saíram, aproveitei e subi para o meu quarto. Tomei um banho, coloquei meu pijama e me enfiei debaixo das cobertas. Amanhã eu resolveria essa questão com Chen. Fiquei deitada, por um tempo, olhando para o teto e depois caí no sono.

Como dormi muito cedo, no domingo, acabei acordando cedo também, mas isso foi bom. Com um pouco de sorte, sairia antes que Chen acordasse, passaria o dia fora e só voltaria à noite, com isso ganharia mais tempo.

Tomei um banho, coloquei uma roupa confortável e desci para preparar meu chá, hábito que adquiri na China.
Fui em nossa pequena horta, no quintal dos fundos, pegar algumas ervas.

Estava distraída e não notei a aproximação ou isso era coisa de dragão, mas quando me virei, ele já estava de pé, atrás de mim...

"Foi dormir cedo ontem."

Disse me encarando sério.

Disfarcei, dando alguns passos para atrás.

"Sim, estava cansada."

Ele me olhou de baixo em cima.

"E acordou cedo também. Pretende sair?"

E se aproximou mais.

Droga, detesto quando Chen usa essa tática. Ele estava no modo: "Misterioso e Perigoso" e falando pouco. Isso sempre termina mal.

"Não, eu só ia preparar meu chá."

Ele se aproximou mais, pegou uma mecha do meu cabelo, agora curto e passou por trás de minha orelha.

"Cortou o cabelo. Gostei dele assim."

Comecei a transpirar. Deus, tinha que sair rápido dessa situação, se não acabaria frequejando!

Dei mais um longo passo para atrás e acabei escorregando na terra úmida da horta, e caí sentada no chão. Chen podia ter me ajudado, mas ficou ali parado, me olhando com cara de bobo.

Minha mãe abriu a janela da cozinha e disse sorridente:

"Bom dia crianças! Acordaram cedo!"

Chen sorriu simpático e disse:

"Pois é! Estava aqui explicando para a Jess, que ela está muito grandinha para brincar na terra!"

Minha mãe caiu na gargalhada. Ele conseguiu conquistar até minha mãe! Essa traidora!

Passei por ele toda suja de terra e muito brava.

Após um banho e com roupas limpas, meu humor melhorou um pouco mais. Eu realmente não estava gostando desse lado de Chen. Eu o amo, mas esse lado perseguidor e sarcástico estava me tirando do sério.

Desci e a sala estava vazia. Fui na cozinha e encontrei minha mãe preparando algo e minha avó sentada, tomando seu café.

"Bom dia minha flor!" Disse vó Lan.

Me aproximei e dei um beijo em sua testa.

"Bom dia vovó!"

Olhei para fora pela janela e perguntei:

"Onde estão os outros?"

Minha mãe respondeu:

"Seu pai e Yan levaram Chen para assistir uma partida de Basquete no clube."

"Ótimo!"

Peguei a chave do meu carro e saí apressada.

"Vou me encontrar com as meninas!"

Deixando minha mãe e minha avó surpresas. Elas não deveriam estar me reconhecendo. Sempre fui tão tranquila e comedida. Mas depois que Chen apareceu, eu fiquei tensa, agitada e impulsiva. Sua influência sobre mim era muito forte e esse joguinho de gato e rato, que estamos fazendo é ridículo, eu sei. Mas eu me devia esse tempo para colocar as ideias no lugar, ter certeza do que quero e principalmente me valorizar. Chen não tinha o direito de me dispensar, do jeito que fez e aparecer agora assim do nada.

Passei na casa de Kat, de lá fomos pegar Amber para dar uma volta. No caminho, passamos em frente à quadra de basquete do clube e a curiosidade falou mais alto, quando vi o grupo parado assistindo a uma partida...

Tenho certeza, que ele não fazia de propósito, mas onde Chen passava sua presença causava esse efeito.
Um grupo de garotas se amontoou na ponta da quadra, algumas vestiam aquelas saias brancas de tenistas, que não escondiam nada. Outras babavam descaradamente, soltando gritinhos e gracejos.
Infelizmente, o sentimento de posse falou mais alto que meu auto-controle. Estacionei o carro e desci. Kat viu o mesmo que eu e só comentou:

"Ai meu Deus! Não vai prestar."

Entrei e fui assistir o fim do jogo. Fiquei mais atrás, na mesma ponta que as garotas. Só ouvindo os comentários...

"Gente, muito lindooo!"

"Nossa, essa espécie está em extinção!"

"Que isso, viu aquele tanquinho?"

"Querida, vi primeiro! Sossega o facho!"

"E sai fora garota! Que ganhe a melhor!"

Meu estômago começou a embrulhar. Só de pensar em uma daquelas "periguetes" enroscadas em Chen, meu sangue começou a ferver.

A partida acabou e elas ameaçavam invadir a quadra para ir em cima dele. Chen, recolheu suas coisas e vinha caminhando em direção à elas. Ele já tinha notado o alvoroço que as garotas faziam, estava meio sem graça, mas elas o rodearam. Uma mais abusada passou a mão em seu braço, admirando seus músculos.

Elas despertaram o pior que há em mim. Caminhei até o grupo e entrei no meio. Chen ficou me encarando, enquanto elas me olhavam com desdém. Eu não disse nada, apenas fiquei ali no meio, com uma sensação estranha de aperto no peito, misturada com desespero. Chen leu tudo em meus olhos. Largou a bolsa no chão, chegou bem perto e não disse nada, só me beijo. Daquele jeito que somente ele conseguia fazer eu esquecer o mundo ao redor, mas ainda assim, pude ouvir os murmúrios e reclamações das garotas.

O beijo foi intenso, demorado e suado. O melhor de minha vida, que quando acabou, Chen ficou me segurando com um braço, como se percebesse que eu podia cair. Quando me recuperei saí correndo dali. Deixando ele com um sorriso de satisfação no rosto...

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