Capítulo 47🐉Herança🐉
América (EUA)
Quando saí do quarto de vó Lan, encontrei meu pai já voltando. Ele preferiu passar a noite no hospital com a mãe. Deixou minha mala na casa de vó Lan e pediu que eu dormisse lá, já que era bem mais perto do hospital, do que ir para casa, no Queens.
Foi estranho estar na casa de vó Lan, sem ela. Sua presença é tão marcante em cada canto e detalhe da casa, que fez com que eu me sentisse uma intrusa.
Tomei um banho, coloquei meu roupão e fui para cozinha, preparar algo para comer.
Parei no corredor para olhar minha imagem no espelho. Eu estava abatida, tanta coisa aconteceu nos últimos dias e eu saí tão apressada da China, que mal tive tempo de processar tudo que me aconteceu.
Após uma refeição leve, já ia voltar para meu quarto para descansar, quando passei em frente ao quarto de vó Lan e lembrei de seu pedido.
Entrei e olhei ao redor, reparando em suas coisas arrumadas do seu jeito. Aquele ambiente ficava tão triste sem sua presença.
Fui direto ao criado-mudo, abri a gaveta e achei uma caixinha mini-baú. Abri e dentro dela uma flanelinha vermelha de veludo, envolvia um colar, de estilo gótico, com um pingente de dragão e uma pedra azul, imitando um olho.
Céus, será que seria sempre assim? A todo momento veria algo que remetesse a ele? E não conseguiria esquecer, um só instante? Eu precisava começar meu processo de cura, mas assim seria difícil. Chen não me queria mais e eu tinha que seguir em frente, mesmo sabendo que sempre o amaria.
Guardei o colar de volta na caixinha, para não ficar me afundando mais em lembranças e fui dormir.
Amanhã logo cedo queria ver minha avó.
China (Liqian)
Já perdi as contas de quantas vezes subi a escada, que leva ao segundo andar da casa de Liang e fui ao quarto que era de Jéssica.
Mesmo sabendo que me torturava fazendo isso, como um viciado, busco vestígios de sua presença nos lençóis, no travesseiro, na camisola, ainda sobre a cama.
Vim para longe, tentar esquecer. Busquei refúgio na casa de minha recém-descoberta avó. Mas cada passo que dou, cada conversa e tudo de bom que aconteceu em minha vida nos últimos meses, estão ligados à ela.
Eu sabia que não seria fácil, mas foi necessário. Amo Jéssica demais para submetê-la ao meu estilo de vida. Ela não merece isso. Ela merece muito mais...
América (EUA)
Desci do táxi, na porta do hospital, já ia entrando, quando ouvi uma voz masculina conhecida me chamando:
"Jéssica?!"
Virei e vi meu amigo Marcos.
"Marcos!"
O abracei.
"Você voltou!"
Ele retribuiu meu abraço com carinho.
"Sim, cheguei ontem da China. Voltei às pressas, quando recebi o telefonema, avisando o estado de minha avó. Mas e você? O que faz aqui?"
"Fiquei sabendo o que aconteceu com sua avó, então vim visitá-la."
"Ah, obrigada Marcos! Vamos vê-la então?"
Entramos abraçados no hospital.
China(Pequim)
"
Como assim, ela foi embora?!"
Meu coração está acelerado, parece querer saltar do peito. Preciso me controlar. Fui pego de surpresa com a notícia que Meili me deu, quando lhe perguntei sobre Jéssica.
Estava enlouquecendo com a distância e voltei de Liqian decidido a ter uma conversa definitiva com Jéssica. Se ela me aceitasse de volta, mesmo sendo do jeito que sou, daria minha vida para protegê-la e não permitiria que nenhum mal mais lhe acontecesse.
Estava sufocando de tanta saudade, não consigo mais viver longe dela. E Liang percebeu minha dor. Me aconselhou a lutar pelo nosso amor. Quando voltei para casa e meu tio me disse que Jéssica tinha ido lá me procurar, tive esperança. Achei que ela me perdoaria pela minha covardia e me aceitaria de volta. No entanto agora, recebo essa notícia de que ela se foi...
"Foi o que eu disse! Jéssica voltou para a América!"
Meili respondeu impaciente.
"Mas assim de repente, sem avisar?"
"Ela recebeu um telefonema urgente. Sua avó está muito doente e ela foi ficar com ela."
"Mas ela voltará, não é?"
Perguntei controlando meu desespero.
"Aí já não sei..."
América (EUA)
E
ntrei no quarto de vó Lan e a encontrei com uma aparência bem melhor, tomando seu café da manhã. Ela sorriu, quando me viu. Dei-lhe um beijo e lhe apresentei Marcos.
Assim que tivemos um momento à sós, ela me perguntou sobre a caixinha. Eu a tirei da bolsa e lhe mostrei.
"Guarde com você, com muito cuidado. Como lhe disse ontem, essa joia foi dada a minha irmã Liang, pelo amado dela Long. E ela deixou comigo, na última vez que nos vimos.
Seu avó Dishi levou essa joia para ser avaliada, há alguns anos, e tudo indica que é uma peça chinesa rara, ela se chama (Blue dragon eye - O olho do dragão azul), talvez da época da dinastia Quin. E a única prova de que Long era filho légítimo daquele nobre que engravidou sua mãe, porque esse colar foi um presente dele a ela, quando ainda eram amantes."
"Está bem, vovó. Guardarei com cuidado."
Conversamos com os médicos sobre a situação de vó Lan. Eles disseram que o estado dela ainda requer atenção, por isso ela ficará mais alguns dias internada.
Meu pai resolveu ficar em Chinatown mais um pouco e me pediu para ir para casa, no Queens, encontrar minha mãe e Yan e deixá-los informados da situação.
Aproveitei a presença de Marcos e peguei carona com ele de volta para casa.
Na viagem de carro, ele puxou o assunto, que eu não queria falar:
"Então Jéssica, como foi a viagem para a China? Gostou de lá?"
Esse assunto me trazia lembranças muito recentes de alguém que eu precisava esquecer.
"Sim, gostei muito."
"Está pensando em voltar, depois que tudo se resolver?"
"Não sei, talvez. Ainda não pensei sobre isso."
Então, cortei o assunto.
"E a faculdade, Marcos? Já começou?"
Marcos sorriu, percebendo meu corte.
"Não, começarei quando as férias acabarem."
Sorri e virei a cabeça para a janela.
"O que aconteceu lá?"
Fingi não entender sua pergunta.
"Hã?! O que? Onde?"
Marcos sorriu mais uma vez, enquanto dirigia, olhando para a frente.
"Eu te conheço Jess. Aconteceu algo na China e você não quer tocar no assunto."
Suspirei desanimada.
"Verdade. Aconteceram muitas coisas lá, mas não quero tocar no assunto agora. "
Abaixei a cabeça.
Marcos segurou minha mão.
"Tudo bem. Mas quando quiser falar sobre o assunto, estarei aqui, ok?"
Fechei os olhos e sorri agradecida.
"Ok! Obrigada!"
E mudei de assunto mais uma vez.
"E Amber e Kat? Como estão?
Queens
Abraçar a minha mãe, depois de tanto tempo, foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias. Ela é maravilhosa. Me abraçou e beijou, depois me deu umas palmadas sem motivos, chorou e depois riu muito.
Notou que algo me entristecia. Mas diferente dos outros, eu não conseguia disfarçar com ela. Acabei deixando vir à tona, as lágrimas que há muito vinha controlando.
Deitei a cabeça em seu colo e lhe contei tudo, exceto os detalhes sobrenaturais, seria demais para ela. E talvez quisesse me internar, achando que fiquei louca.
"Não fique assim, meu amor! Na sua idade, pensamos que tudo é definitivo, mas não é. Tudo passa e as coisas mudam."
Ela acaricia minha cabeça.
"Mas dói tanto, mamãe!"
"Eu sei minha querida! Mas acredite, se for para vocês ficarem juntos, não há circunstâncias que os separem. Nem o tempo, nem a distância, irão impedir o encontro de vocês."
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