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O Que Eu Queria Dizer

Cheguei em casa deixando marcas de molhado no tapete vinho. Passei a mão na testa e nos cabelos preto, não tentando secar, mas sim tentando conter a frustração. Por que tinham que fazer isso de novo? As outras vezes não foram suficientes?

Cada dia uma coisa diferente. Eles bem que podiam me deixar em paz pelo menos um pouco. Qual o problema em ter sotaque? Ou de ser legal com todo mundo?

Dei um longo suspiro. Tirei o blazer azul e o pendurei tomando cuidado para não molhar os outros casacos.

- Dian! – Disse Mawar aparecendo no mini corredor e vindo super animada em minha direção. O tênis quase não fazendo barulho. Seus dentes um pouco afiados quase passavam despercebidos quando sorria. - Jesus! O que houve contigo?

Ela é poucos anos mais nova que eu e mora a mais tempo no Brasil. É o mais próximo que eu cheguei de uma irmã.

- Nada. - Respondi ríspido demais tirando meus sapatos. A meia branca estava encharcada e cinza. Eu a encarei, não queria brigar, mas também não estava com vontade de falar sobre o que aconteceu. Não com ela vestida de roupa social preta pronta para ir trabalhar. Mawar me avaliava com seus olhos azuis. Ela sempre parecia saber o que me incomodava e como devia agir.

- Pelo mau humor, não parece. Mas tarde quando eu voltar, a gente conversa. Vou indo! - Ela ficou na ponta dos pés e me deu um beijo no rosto. - Espero que não fique chateado, mas eu já botei a janta do vovô.

O perfume de rosas ainda estava no ar quando eu respirei fundo e virei à direita no pequeno corredor entrando na sala/quarto. O cheiro familiar de formol acertou o meu nariz com força. Na primeira vez que senti esse cheiro foi bem difícil de acostumar, mas agora só causa um leve desconforto. Meu avô estava do mesmo jeito estático de sempre. Vestido de forma casual esportiva.

- Boa tarde vovô!

Terminei de me secar e trocar de roupa e encarei o homem idoso de pele cinzenta e áspera, sentado do lado do sofá cama.

- Sim... Eles me jogaram água fria de novo. - suspirei de novo e deitei no sofá. - Eu sei... Devia reclamar com o chefe ou pedir demissão. Lucas me disse a mesma coisa. Embora ele quisesse partir pra cima dos outros. Mas não quero mais problema. Vou acabar piorando a minha situação.

Para muitos parece estranho ter um morto dentro de casa. Mas desde a infância eu tenho um contato com eles. E o Iskandar, meu avô, sempre me ensinou a respeitar os ritos. Mesmo não estando mais em Toraja. O problema agora será viajar de volta a minha terra natal.

Eram quase dez horas da noite quando Mawar chegou. Parecia super cansada, os ombros um pouco curvados, e o andar meio arrastado me diziam que tinha acontecido alguma coisa no trabalho dela também. E o modo como me olhou depois de entrar na sala significava que era um problema que me envolvia. Meu dia estava prestes a ficar pior.

- Espero que já esteja com um humor melhor. - disse ela sentando no sofá cama. Sem se preocupar em tirar a roupa do trabalho. - Quero saber o que aconteceu dessa vez.

Respirei fundo e olhei para o tapete cinza.

- Esta bem... E você me conta o que aprontou dessa vez.

Mawar arregalou os olhos por alguns instantes, mas depois concordou com um aceno de cabeça.

- Douglas e Rogério me jogaram dois baldes de água. - Falei bem rápido, botando tudo para fora numa só respiração. Omiti a parte dos insultos de "brincadeira" e o que fizeram com a papelada de um cliente meu.

Ela se inclinou um pouco para trás e levantou uma sobrancelha.

- Foi só isso mesmo?

Só concordei com a cabeça. Não ia falar o restante. Precisava do emprego, e eles eram muito amigos do Henry, nosso chefe. Minha prima respirou fundo, e falou do mesmo jeito que eu:

- Falei que estamos namorando. - Sentei e a encarei esperando que aquilo fosse uma brincadeira.

- Você não esta falando sério. Esta?

- Estou! - Respondeu ela num tom firme. - Daniel não parava de me encher pedindo para namorar comigo. Acabei falando sem pensar.

Isso seria um problema. Ainda mais se chegar ao ouvido do pessoal da concessionária. Minha prima e eu passamos um bom tempo pensando em formas como resolver isso. E enquanto trocávamos as roupas de Iskandar eu pensava em como esconder isso dos meus colegas de trabalho. Acabamos decidindo em só tirar algumas fotos juntos. O que para mim foi um alívio, no pior das hipóteses teríamos que convidar uma das amigas dela para dormir com a gente.

Acordei cedo como de costume, e para a minha surpresa Mawar já tinha colocado o nosso café na mesa de centro. Quase não conversei, eu estava com meu humor de sempre, mas não tinha nada para falar. E ela parecia estar de acordo com o silêncio. Depois de tomar café e ajudar a vestir meu avô, me arrumei para ir para o trabalho. Tive que limpar meus sapatos e os do meu avô, nem tinha percebido que os sujei de lama no dia anterior.

- Bom dia Manu! - Saldei a secretaria de Henry assim que passei em frente à recepção. Meu coração pulou quando ela sorriu para mim com os olhos brilhando. Era um tipo de sorriso que só eu ganhava. Sempre achei que ela gostava de mim por isso. Mas nunca vi outro sinal.

- Bom dia Dian!!! - Diz Manuela colocando a pasta azul marinho em cima da mesa recepção. E me chamando para mais perto com um aceno de mão. Seu sorriso sumiu na mesma velocidade que tinha surgido. Seus olhos pretos se cerraram um pouco junto com o maxilar enquanto ela sussurrava. - Eu soube o que fizeram contigo ontem. E não gostei nada... Sei que vai ficar zangado, mas eu falei a verdade pro chefe.

- VOCÊ O QUE?

- Não gosto que façam isso com você. - Ela passou as mãos no cabelo castanho e umedeceu os lábios. As sobrancelhas se inclinaram num olhar de pena. - É uma boa pessoa. Você não deveria passar por isso.

Agradeci e fui para o meu armário. Não estava mais de bom humor. Agora que aqueles dois não me deixam em paz. Precisava pensar em como resolver isso depois. Não queria atrair mais problemas.

Antes que eu terminasse de colocar as minhas coisas dentro do armário alguém bate na porta do vestiário. Manu abre um pouco a porta, não o bastante para que ela pudesse falar sem precisar colocar a cabeça para dentro.

- O chefe está te chamando... - ela tomou um pouco de ar e completou com a voz um pouco preocupada. - E tem um policial com ele.

Parece que eu atrai os problemas que queria evitar.

- Obrigado Manu. Já estou indo.

Terminei de colocar o blazer azul da empresa pensando em como escapar dessa. O fato de um policial ter sido chamado queria dizer que alguém iria perder o emprego ou seria mandado para outra loja. Como os dois são amigos do chefe duvido que eles percam. As chances de eu ser mandado para outro lugar era o mais provável. Sou o mais novo por aqui. Todos já têm anos de estrada.

Respirei fundo, me levantei do banco e fechei o armário.

O escritório de Henry sempre me pareceu muito diferente. A quantidade de quadros que tinha parecia mais uma galeria, quase não dava para ver a parede verde. Eu sempre os admirava com um sorriso no rosto toda a vez que entrava. Retratavam rostos diferentes e paisagens lindas. Os móveis rústicos de madeira maciça também pareciam estar no lugar errado. Eu teria parado para admirar as artes, mas o cheiro de cigarro e o homem de farda em pé de frente para a grande mesa de Henry prenderam minha atenção.

- Dian! - Cumprimentou meu chefe de mãos estendidas para o alto, como se agradecesse a Deus por eu estar ali. Depois ele apontou para o homem de cabelos grisalhos a sua frente. - Quero te apresentar ao Inspetor Soares.

Os olhos do inspetor me avaliaram durante alguns segundos. Ele encarou minhas mãos que eu tentava controlar para não tremer, os bolsos da minha calça azul e meus sapatos pretos. Era como se me avaliasse como uma possível ameaça. Tive certeza disso quando me olhou nos olhos do jeito desconfortável como todos os policias faziam.

- É um prazer Dian! - Falou ele sem nenhuma emoção na voz forte e rouca.

- Pode se sentar. O inspetor tem algumas perguntas para fazer.

O policial continuou me encarando com a mesma intensidade e depois pôs as mãos nos quadris deixando a arma bem visível. *Ele está querendo me intimidar?* Não que precisasse de muito para fazer isso.

Franzi as sobrancelhas. Por quê?

- O que está acontecendo? - Minha voz saiu baixa demais. Mas por sorte não tremeu.

O inspetor e meu chefe se olharam por muito tempo, cheguei a achar que não me responderiam. Até Henry fazer um aceno de cabeça positivamente.

- Douglas foi encontrado essa manhã. Quase irreconhecível. Ele está no hospital em estado grave.

- Eles acham que ele foi surrado ontem à noite.

Ah então é por isso que eu estou sendo intimidado. Pensei engolindo o bile que ameaçava subir. Por causa da brincadeira de ontem eu devia ser o suspeito número um. Apesar de que não tinha como eu, magricela do jeito que sou, ter espancado um homem com um físico de alguém que frequenta a academia todos os dias.

- Onde você estava ontem à noite entre dez horas a meia noite? - Perguntou Soares num tom ríspido, como um pai que dá bronca em seu filho. Eu achava que eles só perguntavam isso nos filmes.

- É... Eu... Eu estava em casa. Em casa cuidando do meu avô.

- Qual o seu relacionamento com ele? - O inspetor andou até ficar longe do meu campo de visão. Suas botas fazendo um som forte a cada passo.

- Ele era o meu colega de trabalho. - Encarei o Henry, ele me deu um sorriso encorajador.

- Eu soube que vocês não se davam bem. Ele implicava constantemente. Isso é verdade?

Prendi a respiração e olhei para as minhas mãos no meu colo.

- Sim...

- Estranho Henry disse que você nunca reclamou com ele.

- Eu não queria causar problemas.

- Conhece muita gente por aqui? - a voz do inspetor estava mais calma. Não parecia mais ser uma pergunta importante para uma investigação.

- Só meus vizinhos e o pessoal daqui, senhor.

- Muito bem. Por enquanto você está dispensado.

Respirei de alívio e sai antes que ele mudasse de idéia. Pude ouvir Henry falando num sussurro antes de eu cruzar a porta.

- Precisava assustar o garoto tanto assim? Eu te disse que não foi ele.

Assim que sai da sala, vi Lucas levantando do banco acolchoado ao lado da porta. Ele estava com uma expressão de pura preocupação, se curvou um pouco para ficar na mesma altura que eu e disse:

- Meu Deus! Você está bem? Está branco feito um fantasma. O que aconteceu?

Fiz uma breve explicação do que aconteceu no escritório. Omitindo o fato de eu ter quase borrado as calças. Nunca gostei de policiais. Já alguns espancando uma molecada, só porque eles estavam fingindo fumar. Outros aceitavam dinheiro para omitir coisas ou até ajudar no tráfico e na prostituição.

Lucas deu uma gargalhada baixa.

- Ele bem que mereceu pelo o que te fez. Foi bem feito. Espero que aprenda uma lição. - Fez uma pequena pausa e completou. - Não é possível que eles acham que foi você. É incapaz de fazer mal a uma mosca.

Ele tinha razão. Mas eu podia ter pedido a alguém que fizesse isso. Tenho certeza que foi por isso que ele me perguntou se eu conhecia muita gente. E era o que me dava mais medo.

- Respire meu amigo... - Disse Lucas me confortando com seus olhos castanhos. - E vamos trabalhar. Com o tempo isso se resolve.

Não vendi nenhum carro. Eu estava sem cabeça para isso. Minha mente criava diversas versões diferentes de mim na cadeia. Meu amigo até tentou me animar com seu sorriso sincero. O tipo de sorriso que encantava todo mundo e que sempre me deu uma pontada de inveja. Mas nada levantou o meu humor. Alguém bateu no Douglas e eu era o principal suspeito, pelo menos eu me sentia um. Achei satisfatório Rogério não ter aparecido, não queria olhos incriminadores para cima de mim.

Lucas e eu terminamos de tirar a roupa social da concessionária conversando sobre tipos de investigação. Ele me dizia que muitas vezes os policiais intimidam só para conseguir arrancar a verdade das pessoas. Eu esperava que ele tivesse razão.

Cheguei em casa super desanimado. Por sorte Mawar não colocou a janta do meu avô, então pude comer enquanto desabafava com ele. Eu estava com medo. E se eu fosse preso seria muito difícil levar o velho Iskandar de volta para nossa terra natal.

No outro dia tudo estava calmo e monótono como sempre. Rogério ainda não tinha aparecido. E eu achava que não ia ter mais notícias do inspetor ou daquela história de surra. Mas estava errado, eu tive uma surpresa gigante enquanto atendia um cliente. Lucas estava sendo algemado levado por um policial.

Não... Só podia ser um engano. Eu tinha certeza que não era o Lucas. Ele podia ser agressivo, mas não chegaria ao ponto de mandar o cara para o hospital. Tinha alguma coisa errada nessa história.

Assim que terminei de vender o carro, corri para o escritório de Henry.

- Por que o Lucas foi levado pelos policias?

- Soares me disse que foi encontrado sangue dele na roupa da vítima. E uma testemunha o viu andando atrás do Douglas no dia em que ele foi espancado. - Disse ele num tom de derrota. Como se fosse impossível salvar o meu amigo.

Tive que continuar o trabalho contra a minha vontade. Queria pensar num jeito de livrar Lucas dessa. Ainda estava com medo de sobrar para mim. Mas precisava ajudá-lo de alguma forma. Fui para casa ainda sem saber o que fazer. Precisava descobrir como andavam as investigações de algum jeito. E o que eu poderia fazer para virar o jogo.

Não conversei com minha prima e nem com meu avô. Estava tão frustrado que dormi mal.

Soares estava encostado em meu armário, vestido com o a mesma farda de antes. Eu já sabia que ele estava no vestiário pelo cheiro de cigarro. E tinha me preparado mentalmente para encarar o que quer que aquela visita signifique. Ele deve ter percebido meu desconforto, porque sorriu de uma forma tranquilizadora.

− Seu amigo esta em maus lençóis. - O tom de voz ainda parecia com o de pai falando com um filho. Só que menos ríspido dessa vez. - Ele continua dizendo que é inocente. Queria saber o que acha.

Engoli e respirei fundo.

− Acho que não foi ele. - Me xinguei mentalmente pela minha voz ter saído baixo. - É mais provável que tenha sido outra pessoal.

− Entendo. - Ele saiu da frente do meu armário e me encarou. - Poderia me dizer qual era o armário do seu amigo?

Não!

− Claro... - O inspetor me entregou a chave. - Pensei que já tinham revistado tudo.

− E revistamos. - Então porque estão fazendo isso de novo?

O oficial procurou de um jeito metódico e entediante. Era com se não procurasse alguma coisa de verdade. Ele olhou para meu rosto por cima dos ombros e disse.

− Descobrimos que foi usado um soco inglês para agredir a vitima.

Não consegui esconder a expressão de compreensão e surpresa. Ele realmente estava me testando. Queria ver se eu sabia de alguma coisa. E eu sabia. Lucas tinha um soco inglês, dourado e escrito palavras na base dele. Ele fazia piada dizendo que todo mundo sentiria o peso de suas palavras.

- Todos disseram que seu amigo tinha dois. Posso ver no seu rosto que é verdade. Mas o delinquente escondeu muito bem. - Soares deu um pausa me avaliando e completou. - Ou mandou seu amiguinho esconder.

Encarei o Inspetor. Não gostei do desprezo quando chamou meu amigo de delinquente. Era como se ele já fosse culpado sem ir ao tribunal. E ainda por cima me chamando de cúmplice.

- Ele não me pediu pra guardar nada. - falei baixo mas firme. - Se fizesse seu trabalho direito já teria descoberto que não foi ele.

Eu disse isso em voz alta. Para um policial?

Ele só sorriu em resposta. Não aquele sorriso debochado ou de triunfo. Mas um sorriso de respeito e compreensão. Depois saiu sem dizer nada. O que isso significava?

Um homem com mini topete loiro e olhos verdes entrou no vestiário. O sorriso vitorioso e a malícia nos olhos me diziam que ele sabia de alguma coisa. Ele não falou nada, apenas me olhou por alguns segundos.

- Bom dia Rogério! -falei um pouco alto demais.

- Bom dia neto de zumbi! -respondeu ele, trocando as roupas preta de corrida pelo uniforme. - Mandando espancar muita gente?

Ele olhou para mim com um sorriso largo. Como alguém que guarda um segredo e não planeja contar.

- O que você quer dizer com isso?

- Nada... - Rogério terminou de trocar de roupa pegou um papel dentro da calça de corrida e saiu.

Foi um péssimo dia de vendas para mim. Não consegui me concentrar no que falava. Cometi diversos erros, e não parei de encarar meu companheiro de equipe. O pior é que ele tinha percebido que eu o observava, olhou várias vezes na minha direção e ainda deu tchauzinho. Com certeza foi ele. Qualquer um podia ter pego o soco inglês do Lucas. A chave reserva ficava no escritório de Henry, e ele saía diversas vezes para pagar contas ou visitar um dos fornecedores. A Manu nem sempre prestava a atenção em quem chegava, ainda mais se estivesse atendendo a uma ligação importante, o que acontecia quase sempre. Alguém que trabalha aqui era o único capaz de saber dos horários que daria para entrar no escritório e sair sem ser notado. Sou um dos primeiros a sair, Rogério e Douglas eram os últimos. O único problema agora é a razão. O que levaria ele a bater no próprio amigo?

Fui um dos últimos a sair da concessionária. Enrolei o máximo que eu pude, e descobri uma coisa muito boa. Os dois soco inglês estavam na bolsa de Rogério. Eu estava certo... Realmente era ele. Precisava fazer ele ser pego. Mas como? Fiz diversos planos diferentes que sempre acabavam mal. Já estava na porta de casa quando comecei a desistir de fazer alguma coisa.

- Até que fim! Achei que teria que ir te buscar. Tem noção das horas? - disse Mawar de braços cruzados parada na porta da sala. Eu tinha esquecido de avisar a ela sobre o meu atraso. - Hoje era o único dia em que você não podia se atrasar. Tenho uma reunião em poucos minutos.

- Me desculpa... - falei juntando as mãos como se estivesse fazendo uma prece.

Ela passou por mim quase pisando no meu pé. Foi a primeira vez que a vi tão irritada. Já sabia que ia ouvir muito quando ela voltasse.

- É vovô... Acho que fiz besteira dessa vez. - falei tirando os pratos de Iskandor da mesa. - Mas o senhor não sabe o que descobri.

Contei sobre as armas e todas as minhas teorias. A maioria dos meus planos ficaram muito idiotas quando os falei em voz alta. Mas ainda não tinha desistido de pensar em algo. O ruim seria se ele se livrasse daquelas coisas antes que eu pudesse fazer alguma coisa.

Mawar demorou a voltar. Ela devia estar muito zangada. Não era do tipo de chegar tarde, pelo menos não sem avisar. Fechei todas as janelas, tranquei a porta dos fundos, arrumei meu avô e o deitei. Acabei dormindo esperando por ela. Eram quase três da manhã quando eu acordei com o som de janela batendo ao vento. Não consegui pegar no sono. Eu lembrava de ter fechado a janela. Verifiquei todas as portas, estavam todas trancadas. Minha prima dormia feito um anjo no quarto dela. Procurei por marcas ou algum outro resquício de que alguém entrou, como não achei voltei a me deitar.

Por qual motivo abririam a janela e quem faria? Será que Rogério tinha descoberto o que eu sabia. O inspetor também poderia ter vindo no meio da noite observar. Não, muito improvável. Mawar, ela também podia ter aberto a janela. Criei diversas fantasias diferentes com motivos para um dos três terem aberto a janela e não percebi a hora voando. Levantei e fui fazer o café.

- Não vou te pedoar só porque você fez bolo de chocolate... - Disse minha prima na entrada da cozinha.

Eu suspirei e me virei para ela.

- Me desculpa! Fiquei tão concentrado no trabalho ontem que não prestei atenção na hora. - Não era mentira. Passei tanto tempo pensando no meu amigo que esqueci dela.

Mawar sentou ao lado do vovô e pegou um pedaço de bolo de chocolate.

- Me perdoa, por favor! Prometo que não vou fazer de novo.

Coloquei um pouco de café em sua xícara e observei enquanto ela tomava, gole a gole, bem devagar. Seus olhos se encheram de água, os ombros meio curvados. Achei um pouco exgerado, eu não tinha feito nada tão grave. Assim que terminou o café ela se levantou resolveu quebrar o silêncio:

- Deixa eu tirar o café. - Ela começou a juntar os pratos e as canecas.

- Você não tem que ir trabalhar daqui a pouco?

Lágrimas começaram a descer de seu rosto quando ela me respondeu num sussurro.

- Daniel me demitiu...

- Por ter se atrasado? Que exagero!

- Não foi por isso. A reunião foi pra anunciar a promoção da Michele e minha demissão.

Eu a abracei forte. Não sabia o que falar. Ela amava trabalhar como secretária. Mawar ficou um tempo soluçando nos meus braços. Queria poder fazer alguma coisa.

- Acredita que ele disse que se eu não tivesse namorando ele manteria meu emprego. Porque ele só me contratou pelo rosto bonitinho, já que eu sou uma péssima secretária.

Que canalha! Não acredito que aquele lixo fez isso.

Me atrasei para o trabalho pela primeira vez. Mas só sai de perto da minha prima quando tive certeza que ela não choraria mais. Eu estava com raiva, era ums coisa nova eu raramente ficava assim. Henry não reclamou pelo meu atraso. Manu me perguntou, sempre que me via, se eu estava bem. Era hora de dar um ultimato no Rogério. E eu escolhi aproveitar meu esse sentimento para conseguir alguma coisa dele. Meu colega dava uma parada para beber água, eu também parava e ia atrás. Mas todas às vezes em que eu chegava perto do bebedouro ele saía. Rogério me evitava de todas as formas. Todo aquele ar arrogante foi substituído por desespero. Ele nem sequer olhava nos meus olhos. Não me dava aquele sorriso de vitória nem nada. Ele estava com medo de mim? Foi o único pensamento que eu tive. Tive muita dificuldade de conseguir pega-lo desprevenido. Minha sorte foi com meu último cliente, foi uma venda fácil então pude chegar a tempo no vestiário antes que Rogério fosse embora.

Ele me viu entrando e deu um passo para trás. Encostando a costa no armário. Os olhos arregalados, ele tinha um hematoma roxo no olho esquerdo e alguns arranhões. Parecia ter levado uma surra.

- Não quero problemas.

- Do que você falando? - falei dando um passo a frente e vendo ele encolher os ombros.

- Ele está falando da surra que levou ontem. - disse uma voz rouca atrás de mim. - Seu amigo aqui acha que foi você que mandou fazerem isso com ele.

O inspetor entrou e ficou do meu lado.

- Mas eu...

- Você não sabe do que ele está falando! - Soares olhou para mim e abriu um sorriso. - Eu sei. Acabei de ver uma gravação das câmeras de segurança daquela área e as da perto da sua casa. Foi bastante trabalhoso.

- Já sabem quem é? - Perguntou Rogério, a cor voltando a seu rosto.

- Não. Mas estamos investigando.

- Ah... Que bom! - disse meu colega de trabalho agradecendo e indo embora. Ele parecia aliviado em saber que não foi culpa minha. Mas ainda me olhava como se eu fosse soca-lo a qualquer momento.

- Tenho que te pedir desculpas por ter ré tratado mal no começo. E queria que soubesse que seu amigo será solto amanhã. Nós achamos as armas do crime, e não tinha nenhuma ligação com ele.

Foi uma boa notícia. Me fez esquecer a raiva. Depois de conversar um pouco com o policial, eu fui falar com Manu. Ela disse que ia me ajudar a conseguir um emprego novo para minha prima, o que me deixou muito mais feliz. Eu estava tão alegre que fui andando para casa. Decidi que queria aproveitar o passeio ao ar livre, sem o ar abafado de um ônibus. Andei olhando para as câmeras por algum motivo. A maioria das casas dos meus vizinhos tinham uma. E a maioria ficavam viradas na direção da entrada da minha casa. Mas nenhuma pegava a janela da sala que tinha sido aberta antes. Nunca vou saber quem foi é porque.

Cheguei em casa pingando suor. Parei em cima do tapete e tirei o blazer, o pendurei. Tirei os sapatos e fui para a sala. Mawar ainda estava triste, vendo televisão com um olhar cabisbaixo. Deu um meio sorriso para mim e voltou a atenção na televisão. Me sentei entre ela é meu avô e contei sobre tudo o que tinha acontecido.

Mas tarde, não deixei que ela tirasse a janta. Ela reclamou bastante, mas acabou desistindo e indo dormir. Me virei para meu avô enquanto juntava a louça e disse:

- Sabe, mesmo sabendo que é errado. Eu ainda quero saber quem foi, só para agradecer. De certa forma isso me ajudou muito. Não vou mais sofrer bullying no trabalho.

Tinha acabado de levantar quando escutei uma risada grave e baixa. Um arrepio percorreu a minha espinha enquanto os pratos caíam de minhas mãos quando meu avô disse.

- De nada...

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