6. State Of Emergency
Demorei a ter uma reação particularmente minha. A sensação dos lábios de Sean nos meus era boa demais para que eu conseguisse pensar com clareza. O frio na barriga também era uma sensação nova e não conseguia entender o que acontecia comigo. Era apenas um beijo! Na verdade, um selinho, o que deveria deixar tudo menos importante. Só que esse não era o caso e isso me preocupava. Já tivera meus lábios encostados a o de um outro garoto antes, mas não sentira a mesma coisa. O outro garoto não me causara nem cócegas, ao contrário de Sean. Era como se uma corrente elétrica poderosíssima estivesse passando do corpo de Sean para o meu. E ele nem parecia afetado! Naquele momento eu não conseguia separar o que era certo do que era errado, apenas pude afogar-me nas confusas sensações de um primeiro beijo eletrizante. Ainda bem que isso não durou muito tempo. A risada de Scott do outro lado do restaurante trouxe-me de volta à racionalidade.
— Não! — Protestei com a voz rouca. — Estamos em um restaurante! — Sim, eu estava um pouco desconcertada, por isso achei melhor apenas protestar com meu lado mais lógico... E tímido. — Esse não é o melhor lugar para um primeiro beijo, sabia?
— É seu primeiro beijo? — Sean arregalou os olhos e sentou-se adequadamente na cadeira.
— Não! — Tive que rir do pânico dele. Estava mais do que na cara que ele não estava com vontade de cometer um erro em nosso primeiro encontro. Um primeiro encontro não esperado, mas emocionante demais para meu gosto. — Quis dizer o nosso primeiro beijo.
— Agora entendi! — Relaxou e encolheu os ombros. — Você está querendo me matar do coração?
— Não, apenas quero terminar nosso jantar de forma pacífica. — Disse, sem muita convicção. Será que era só isso que eu queria? Eu não estava procurando um pouco de emoção? — Vamos apenas conversar a partir de agora.
— Se é o que quer... — Concordou ele com um muxoxo.
Agora eu só precisava deixar os lábios longe dos meus, caso contrário, não responderia por meus atos, ou pelos possíveis sentimentos confusos.
Esperei que Sean contornasse o carro e abrisse a porta para mim. Sorri sem muito entusiasmo e saí do carro, morrendo de medo do que poderia acontecer agora. O resto do encontro foi razoavelmente agradável, com conversas razoavelmente interessantes. Certo, estou exagerando muito. Sério, a quem estou querendo enganar? O resto do encontro foi muito agradável e as conversas extremamente interessantes. Sean perguntou-me sobre meu processo de criação de uma história e ficou surpreso ao descobrir que eu escrevia sem nunca ter me apaixonado de verdade. Surpreendeu-se também com a quantidade de vezes em que tive que pesquisar para deixar as teorias de Kate mais realistas. Freud me ajudou mais do que qualquer pessoa poderá sequer me ajudar um dia... Pelo menos no quesito teorias plausíveis para uma personagem complexa. E sim, eu tenho uma categoria exatamente assim em meu cérebro. Tenho muitas categorias de técnicas de escrita em meu cérebro, que apenas aparecem quando requisitadas.
Agora voltando à vida normal...
Sean me contou que sonha em cantar profissionalmente desde pequeno. Aprendeu a tocar piano com 5 anos, pois insistira para que os pais comprassem um. Disse que todos se surpreenderam com seu talento nato, inclusive ele. Era como se ele tivesse nascido com o dom para música. Quando ele disse isso, tive que concordar, logo usando minha própria experiência como exemplo. Todos os meus professores de inglês falavam a mesma coisa ao lerem minhas redações. Dons são coisas engraçadas, hein? Acho que a melhor coisa é descobrir logo qual o seu, mas sei que há pessoas que só descobrem depois de adultas. E outras pessoas que acabam não percebendo que de fato têm um. Continuando... Com a idade de Scott, o canadense mais velho aprendeu a tocar violão e confessou-me que inicialmente só tocava músicas infantis. Pode parecer ridículo, mas achei essa confissão adorável e imaginei o pequeno Sean tocando até mesmo minhas músicas de natal favoritas. Talvez fosse válido pedir para que ele repetisse a cena algum dia. Não seria apaixonante? Uh, palavra errada! De qualquer forma... Ele contou-me que só começou a compor no início de seu penúltimo ano escolar, pois via os relacionamentos fracassados dos demais e se inspirava. Esse é o ponto em comum no nosso processo de criação. Conseguimos escrever sobre experiências que não vivenciamos na pele. Seria isso algo relacionado à combinação de nossos signos?
— No que está pensando? — Perguntou Sean com o cenho franzido e balançando os braços. Ele estava querendo atenção ou era apenas impressão?
— Nossos aniversários. — Dei de ombros, tentando demonstrar que era um pensamento completamente irrelevante. É claro que ele teve que continuar com seu interrogatório.
— Por quê? — Cruzou os braços, parecendo desconfiar de algo.
Porque nossos signos se completam, mas é claro que eu não responderia isso.
— Você é quatro meses mais velho que eu. — Respondi como se não fosse nada de importante.
— E o que tem isso? — Arqueou a sobrancelha.
Sempre sonhei que meu namorado seria mais velho que eu.
Eita.
De onde veio isso?
Deus!
— Nada. — Minhas bochechas esquentaram e minha voz não saiu como deveria. Ótimo, me denunciei!
— Okay então... — Murmurou ele e olhou para a porta da minha casa. — Seus pais estão?
— Depois das sete horas da noite eu sou a única que fica na rua. — Respondi simplesmente, sem querer dar mais detalhes.
— Se você diz... — E essas frases interrompidas dele? Que irritante! Teria protestado se ele não tivesse pegado minha mão para conduzir-me até a porta. — Acha que vai ter uma boa noite de sono?
— Não sei. — Respondi com sinceridade. Talvez eu tivesse insônia, mas nada disso importaria.
— Acha que posso te ajudar a ter um sonho bom? — Murmurou ele, virando para ficar de frente para mim.
— Como faria isso? — A curiosidade me consumiu.
Sean não respondeu, pelo menos não com palavras. Colocou a mão direita em minha bochecha, logo a movimentando para agarrar uma mecha do meu cabelo. Eu estava hipnotizada, então não conseguia pensar no que fazer. Nem no que ele estava pensando em fazer. Droga! Toda a situação me deixava vulnerável. Muito vulnerável! E lá estava Sean, colocando a mecha atrás da minha orelha. Sorriu e aproximou nossos rostos, fechando os olhos quando nossos narizes se tocaram. Eu não sabia como pará-lo. Eu não queria pará-lo. Fechei os olhos apenas imitando sua ação anterior. Agora era tudo por conta dele. Senti o nariz de Sean se mover, o que indicava que ele estava tentando tocar sua boca na minha.
— O que temos aqui? — Ouvi uma voz fina dizer ao nosso lado e afastei-me rapidamente de Sean. Virei a cabeça e encarei minha irmã mais velha. Ela tinha um saco de lixo em mãos e eu logo me dei conta de que nem saíra de casa para me procurar. Ia apenas colocar o lixo na rua e fez questão de atrapalhar minha cena romântica. — Quem é o gato?
Ela estava dando em cima de Sean? Mesmo?
— Ninguém que precise ter o desprazer de te conhecer. — Estava apenas alfinetando, porque, no fundo, ela sabia que eu não pensava isso dela. Sorri e me virei para Sean, beijando sua bochecha. — Está ficando tarde, vá para casa.
E foi o que ele fez, mas não antes de se despedir. Parecia frustrado pela interrupção, mas eu sabia que ele não deixaria isso afetá-lo por muito tempo. Na verdade, eu deveria deixar ele ter essas chances.
— Quantas vezes vocês se beijaram antes de eu chegar? — Chloe perguntou e eu grunhi, passando por ela e, em seguida, subindo as escadas com raiva. Com certeza meus pais saberiam disso, cedo ou tarde, e eu provavelmente não teria a oportunidade de contar.
E foi naquele momento que percebi que esquecera de perguntar para Sean sobre o que vira em meu passeio.
Na manhã seguinte, eu estava mais cansada do que nunca. O frio piorava tudo. Tive que colocar luvas e um gorro, mas essa não foi a parte ruim. Adoro o frio, como já devem ter percebido, o problema aqui é ter que usar luvas quando você tem que cuidar de um garotinho de 8 anos de idade com hiperatividade. Certo, não sei se ele é hiperativo, mas todos percebem que Scott é agitado demais às vezes.
E agora estou aqui na casa dele, olhando para ele.
Apertei o nariz de Scott, tomando cuidado para não machucá-lo. Era a terceira vez naquela semana que eu tinha que preparar seu café da manhã, mas não estava reclamando. A carinha de felicidade dele ao ver minha preocupação em fazer uma refeição saudável compensa tudo. Acho que Sean nunca preparou o café de Scott como eu. Sério, a cada segundo eu desejava mais que Scott fosse meu irmão. Não precisaria nem trocar Chloe. Poderíamos ser três irmãos, e talvez isso melhorasse o humor dela. Virei-me para alcançar meu celular e abri minha playlist um tanto quanto entusiasmada. Dei play em uma música qualquer e logo pudemos ouvir a voz de Ed Sheeran cantando The City. Sempre sou atingida por reflexos involuntários, por isso acompanhei Ed com a cantoria, quase como se estivesse com o britânico ao meu lado. Eu teria me entregado ao instinto de dançar também se não estivesse ocupada com um sanduíche.
— Por que está cantando em vez de me beijar? — Ouvi um sussurro rouco bem ao meu lado. Não ouvira passos antes, nem percebera a aproximação repentina, mas sabia muito bem a quem a voz pertencia. Sean.
— Beijos são nojentos! — Resmungou Scott.
— Sean só disse isso porque sabia que ia te irritar. — Comentei, mesmo que soubesse a verdade. Era melhor Scott não desconfiar do que acontecera na noite anterior. Na verdade, muito me espantava que ele não tenha suspeitado. Bom, era melhor me concentrar no sanduíche.
— O que está fazendo? — Perguntou Sean ao perceber que eu apenas encarava o pão.
— Sanduíche de pasta de amendoim com geléia. — Respondi, mecanicamente.
— Adoro. — Disse Sean.
— Eu não. — Suspirei. — Mas é só o que temos. — Senti algo se encostar ao meu ombro e logo percebi que era o queixo de Sean. — O que está fazendo? — Entreguei o sanduíche para Scott, que logo deu uma mordida grande.
— Estou encostando-me a você. — Disse como se fosse a coisa mais óbvia. E era, só não estava acostumada.
— Sai Sean! — Me sacudi para que ele saísse de perto de mim, mas o garoto persistiu. — Vou socar seu nariz!
— Vai nada! — Ele riu.
— Vai sim... — Parei. Oops. Errei. Calma... — Vou sim!
— Te confundi! — Vangloriou-se Sean, com uma gargalhada.
— Você é muito engraçadinho, hein? — Apesar da frase, eu acabei rindo também, o que fez Sean enlaçar minha cintura com seus braços. Eu podia facilmente me acostumar com isso. — Acho que estou começando a me sentir mais confortável com você.
— Eu também. — Sussurrou, então me virou para que ficasse de frente para ele. Seus olhos brilhavam de uma forma que nunca vi antes, quase como se estivesse tendo um dos melhores momentos de sua vida. Por alguns segundos, perguntei-me se estava com o mesmo olhar. — Becca...
— Não me sinto bem! — A voz fraca de Scott chamou nossa atenção.
Virei-me para ele e vi que sua pele estava quase branca de tão pálida. Seus lábios estavam levemente azulados. O pânico logo tomou conta. Minha mente logo apontou o causador do mal estar: pasta de amendoim.
— Sean, vai preparando seu carro enquanto eu ligo para seus pais! — Disse com pressa.
— Por quê? — Sean parecia não ter assimilado o que estava de fato acontecendo.
— Acho que seu irmão é alérgico a amendoim. — Minha resposta foi suficiente para fazê-lo correr. Tínhamos que ser rápidos.
Encostei a cabeça na parede da sala de espera, olhando para Sean com o canto de olho. Ele estava descabelado e preocupado, assim como eu. Os pais dele estavam falando com o médico sobre o estado de Scott, mas nenhum de nós tinha certeza se fora algo muito grave. O doutor já havia dito que o fato de eu ter percebido cedo o que estava acontecendo podia ser muito bom para Scott. Disse que os exames no garotinho eram necessários, e acreditava que ele ficaria bem. Sean podia ser multado por excesso de velocidade pelo tanto que corremos para chegar. Os pais de Scott perderiam o dia de trabalho, mas estavam tão preocupados quanto eu. Scott estava péssimo e meu coração estava apertado. E lá estávamos nós, morrendo de preocupação e tudo por causa de um sanduíche idiota. Sério, nunca mais chegarei perto de um pote de pasta de amendoim na minha vida!
— Espero que ele fique bem! — Murmurei pela centésima vez ao coçar o olho.
— Também espero. — A voz de Sean não me passava confiança alguma naquele momento. Ele estava preocupado com o irmão, o que me fazia lembrar da minha primeira impressão ao conhecer Sean. Não se importa com o irmão. Não tenta ajudar o irmão. Eu estava errada, mas quando estava prestes a dizer para ele como minha opinião havia mudado... Bem, ouvimos uma voz masculina extremamente melodiosa cantarolando Hold On, We're Going Home. — O que é isso? — Sean praticamente pulou da cadeira, parecendo irritado com a voz desconhecida.
— Deve ser um paciente com muito talento. — Murmurei.
— Ou um visitante irritante! — Rosnou, o tom de voz não aumentando muito. — Isso aqui é um hospital. É preciso ter respeito pelos pacientes!
— Hey, calma Sean! — Aproximei-me dele e fiquei na ponta dos pés para beijar sua testa. De onde veio esse mau gênio? — Talvez o cara só queira animar a todos.
— Não está funcionando comigo!
— Calma! — Repeti e acariciei seu braço. Deus, eu me sentiria muito mais culpada se ele ficasse assim.
— Olá! — Um sotaque tipicamente escocês (que eu reconhecia por viver no Reino Unido por anos) saudou-nos alegremente. — Estou atrapalhando algo?
— Não! — Apressei-me em dizer, afastando de Sean. Não queria que o garoto novo em cena nos achasse grosseiros. Sorri e analisei-o. Alto, musculoso, loiro, olhos claros, dentes brilhantes. Perguntei-me se ele não seria algum funcionário muito jovem, apesar de não estar com jaleco nem nada assim, porque ele parecia muito calmo, feliz e confortável no lugar, o que me levava a crer que estava acostumado a ficar por aqueles corredores.
— Você é o cantor? — Sean perguntou, carrancudo.
— Sim. — Riu alto, com vontade e parecendo não ligar para o que os outros poderiam fazer. — Gostou da minha voz?
— Você é paciente aqui? — Sean ignorou a pergunta do garoto. O escocês negou. — Está visitando um familiar?
— Não.
— O que você é, afinal? — Exasperou-se Sean.
— Meu pai é médico aqui e está atendendo um garotinho com alergia a amendoim. — Sorriu, parecendo orgulhar-se do pai. E minha teoria se mostrou correta.
— É o irmão de Sean. — Comentei, percebendo que esse era um bom motivo para conversarmos. — Ele está bem, certo?
— Acredito que sim. — Sorriu, os olhos parecendo me analisar. — Seu sotaque é bem familiar. — Comentou o escocês, parecendo desconsiderar o que eu havia acabado de falar. — Inglesa?
— Sim. — Confirmei com um sorriso fraco.
— Ótimo! Somos dois britânicos com sotaques engraçados no Canadá! — Ele parecia realmente feliz com a nova descoberta.
— Parece que sim. — Sorri, só então me lembrando das formalidades. — Sou Rebeca Fletcher e esse é meu... — Meu o que? Podemos ser considerados amigos? Bem, vale a pena tentar. — Amigo, Sean Johnson. Diga olá, Sean.
— Olá. — Disse o canadense, ainda com um mau humor inabalável.
— Ótimos nomes! — Elogiou o escocês, nunca deixando de sorrir.
— Qual o seu nome?
— Oh, desculpem-me pela indelicadeza. — O garoto loiro deu mais uma de suas gargalhadas gostosas de se ouvir. — Sou Harry Walker.
— Harry Skywalker? — Indagou Sean, com a sobrancelha arqueada. Era possível identificar a maldade em sua voz. Eu já não entendia mais nada. O garoto fofo que eu conhecera no dia anterior estava tentando irritar o nosso mais novo amigo... Se é que poderemos chamá-lo assim um dia. Mas enfim... Por que ele tentava irritar Harry? Ainda mais ao ver que ele parecia ter um humor inabalável?
— Adoraria ser parente de um Jedi, mas sou apenas filho de um médico escocês que resolveu viver no Canadá para salvar vidas. — Harry sorriu com amabilidade, deixando mais do que claro que não se ofendera pela brincadeira de Sean. — Estou mais para Harry de Harry Potter.
— Preciso confessar que sempre que vejo Star Wars eu fico com vontade de entrar na história só para acompanhar Luke nas aventuras. — Senti minhas bochechas corarem pela confissão. — Gostaria também de estudar em Hogwarts e tenho certeza de que não sou a única. — Sorri para Sean, por ter acabado de lembrar de sua coleção de DVDS, que ficava na sala de estar. Simplesmente encantador! — O problema aqui é que nada supera Star Trek para mim, e juro que não é somente por eu amar Chris Pine! A história em si é muito boa para mim e eu adoraria casar com o Capitão James T. Kirk. — Sorri e Harry retribuiu meu sorriso. Olhei para Sean, esperando que ele estivesse com o mesmo humor que nós, mas ele ainda estava carrancudo.
— Você gosta de rebeldes então? — Harry perguntou, referindo-se principalmente à linha do tempo Kelvin de Star Trek, a qual apresentava Chris Pine como Capitão Kirk. — Saiba que não existe cara mais rebelde do que eu na face da terra! — Piscou para mim de uma forma que ele pareceu considerar sedutora.
— Isso foi uma cantada?
— Entenda como quiser. — Piscou novamente.
Que figura!
— Desculpe Harry, mas prefiro nerds. — Sorri meiga, como se estivesse mesmo dispensando o garoto. Até olhei para Sean com o canto do olho e pude ver o sorrisinho que ele tentava esconder. Ahá, acho que alguém gostou bastante da minha confissão!
— Posso me tornar nerd quando quiser! — Fingiu estar desesperado por atenção e eu tive que rir de sua brincadeira.
— Desculpe, mas já tenho um nerd diferente em mente. — Sorri fraco, esperando que Sean não percebesse que eu falava dele.
— Puxa, cheguei atrasado para fisgá-la. — Fez beicinho e eu aproximei-me dele para dar um soco em seu ombro em sinal de brincadeira. — Posso perguntar o que vocês fazem da vida?
— Nada. — Respondemos em uníssono, depois encarei Sean com um sorriso, mas novamente ele não retribuiu. O que está acontecendo?
— Eu só faço algumas coisas para correr atrás do meu sonho. — Dei de ombros, um pouco envergonhada com a confissão. Estava falando demais! Só que não conseguia conter, me sentia bem ao lado de Harry, quase como se fôssemos amigos de longa data. E isso era estranho, porque nunca tinha acontecido antes.
— E qual seu sonho? — Perguntou Harry, parecendo realmente interessado pela resposta.
— Quero ser escritora. — Suspirei, já esperando pela risada. Não veio. Brincadeira de mau gosto? Não. Pessimismo? Também não. Estranho!
— O quê? — Ele arregalou os olhos e pareceu pensar por um momento. Foi a vez de Harry se aproximar de mim, e ele não se contentou com a aproximação. Colocou as mãos em meus ombros e ficou analisando-me de cima a baixo, exatamente como faria se tivesse acabado de me ver pela primeira vez. Sério! O que está acontecendo? — Você é Rebeca Fletcher?
— Foi o que disse há alguns minutos. — Brinquei ao estranhar sua pergunta. Eu já me apresentara, então por que ele estava perguntando isso?
— Não, não, não... — Balançou a cabeça e chacoalhou-me como se quisesse espantar algo de mim. Ideia ou inseto? — Você não está entendendo!
— Explique-se então, mocinho. — Franzi o cenho. Falei com ele da mesma forma que falava com Scott às vezes.
— Você por acaso escreve Entre o Sonho e a Realidade? — Perguntou, um tanto esperançoso demais. Isso me fez arregalar os olhos.
— Você lê? — Agora eu entendia sua reação exagerada, mesmo porque eu queria imitá-lo naquele momento. Ele concordou e eu sorri como se minha boca fosse elástica o bastante para ocupar meu rosto inteirinho. — Não acredito! — Estava mais surpresa do que nunca. É muito difícil encontrar uma pessoa aleatoriamente na rua que leia algo que você escreve. — Você é o Old-fashioned Boy?
Silêncio. Foi como se eu tivesse dito a maior besteira da minha vida, só que a pergunta era válida. Harry deixou os braços caírem e deu um passo para trás. Não conseguia dizer se ele estava hesitante ou surpreso. Virei a cabeça para Sean e percebi que ele praticamente fuzilava Harry com os olhos, como se o fato de o garoto ler minhas coisas fosse péssimo para ele. Qual é? Sean pode até ficar anos e anos sem saber como é minha escrita, mas não pode conter minha animação quando descubro que alguém pode confiar no meu potencial. Voltei a encarar Harry, que parecia finalmente pronto para responder a pergunta do ano.
— Sim. — Sorriu com timidez e eu bati palmas de forma patética. Dê-me um desconto! Era o primeiro leitor que eu conhecia pessoalmente!
— Nossa! Isso é incrível! — Passei a mão pelo rosto, pensando no que mais poderia dizer para mostrar a todos meu grau de felicidade. — Eu amo seus comentários! Principalmente o último sobre a árvore de coração, no qual você disse que a descrição foi perfeita para que sua imaginação voasse. — Sorri e me virei para Sean. O garoto estava pálido e cabisbaixo, por isso resolvi incluí-lo na conversa. — Não é uma coincidência incrível, Sean?
— Maravilhosa. — A amargura em sua voz era praticamente palpável, o que me fez franzir o cenho. Por que ele estava tão irritado com isso? Era algo bom para mim, então deveria ser para ele. Ele sequer conseguia me olhar! Estava de mau humor por não ter conseguido tomar café? Era algo a se pensar.
— Estou morrendo de fome! Vocês não? — Questionei aos garotos, só percebendo naquele momento que eles eram opostos completos. Um reservado e tímido, o outro animado e disposto a conquistar qualquer pessoa que passar por ele. E sim, a primeira impressão conta muito! Harry concordou comigo, mas Sean deu de ombros. Vai ficar com infantilidade agora?
— O que você veio fazer perto de nós, Sr. Walker? — Perguntou Sean, usando o sobrenome do garoto como se fosse um insulto. Harry pareceu não notar o tom envenenado do canadense.
Isso estava começando a ficar ridículo!
— Que cabeça a minha! — Exclamou o loiro ao bater na própria testa e gargalhar, como se não levasse tão a sério seus erros. — Meu pai pediu para que eu avisasse a vocês que Scott ficará bem. Segundo ele, a rápida percepção de Becky salvou a vida de seu irmãozinho. — Informou a Sean e ambos me encararam. Se o objetivo era me deixar vermelha... Bem, eles conseguiram sem dificuldade. — Acho que deveríamos ir comer algo no Starbucks mais próximo.
— Ótima ideia! — Sorri com sinceridade, pois esse era meu estabelecimento favorito em todo o mundo. Sim, ganha do McDonald's, de lavada! — O que acha disso? — Perguntei ao virar-me para Sean. Sim, eu queria que ele fosse conosco, só não conseguia saber o real motivo. Culpa? Pena? Acho que nenhum dos dois. O que seria afinal?
— Vão vocês, prefiro ficar aqui e esperar por meus pais. — Certo, agora ele estava sendo idiota.
— Se você diz... — Dei de ombros. Não ficaria ali tentando convencer um garoto teimoso a mudar de ideia, mesmo que sua teimosia acabasse prejudicando sua saúde. Só ajudo quem aceita, é algo que aprendi com o tempo. Ninguém pode ser ajudado se não quiser.
— Espere! — Sean falou um pouco alto demais quando eu ia sair. — Quero conversar com você antes. — Agora eu mal conseguia ouvi-lo.
— Poderia esperar lá fora, Harry? — Perguntei com amabilidade, tentando não me sentir culpada por ter que expulsá-lo de certa forma.
— É claro. — Aproximou-se de mim para beijar minha bochecha e logo se afastou. Fiquei envergonhada com a ação, mas não queria criar um clima estranho, então resolvi que talvez comentasse sobre isso depois.
— O que tem para me dizer? — Cruzei os braços e deixei o sorriso morrer enquanto encarava Sean. Ele não merecia um sorriso naquele momento.
— Você é uma sedutora, sabia? — Por que eu sentia que aquele não era um elogio?
— O que? — Minha voz saiu esganiçada. Eu não entendi de onde isso saíra, nem o motivo. Parecia tudo sem propósito.
— Você estava tentando me conquistar até aquele garoto aparecer. — Acusou. — Em segundos começou a investir nele!
— Você só pode estar louco!
— Eu sei o que vi, Rebeca! — Rosnou. — Achou que eu ia me apaixonar por você, não é mesmo? Pensou que poderia dar uma de filha Afrodite me conquistando e logo depois quebrado meu coração frágil. Mas adivinhe, isso não vai funcionar!
— Sean, você bebeu? — Estranhei a escolha de palavras do garoto. Ele estava mesmo mencionando o universo de Percy Jackson?
— Acho que bebi uma poção do amor que obteve o efeito inverso ao que era esperado. — Sorriu com presunção. — Eu estava pronto para dizer-lhe que serei fiel daqui para frente... Acho que você me enganou direitinho, hein? Fiquei pensando por horas, na noite passada, em qual seria a melhor forma de te conquistar, mas está mais do que óbvio que isso não será necessário.
— Sean, nada do que você diz faz sentido. — E mesmo sem fazer sentido, cada palavra sua era como um tapa na cara.
— Faz sim! — Passou a mão pelo cabelo, olhando do chão para mim. — Primeiro pensei que meu jeito tímido ia te conquistar, mas você sequer notava. Então resolvi imitar todos aqueles conquistadores de filme, mesmo que acabasse indo parar no inferno por isso! E o que você fez? Enganou-me! Pensei que poderíamos dar certo como casal... Ou poderíamos tentar. E aqui está você, jogando-se nos braços de um escocês egocêntrico e desconhecido!
— Eu não fiz nada disso! — Protestei sem ter mais o que fazer. Os sentimentos se empilhavam, um sobre o outro, e os pensamentos se embolavam, impedindo que eu desse uma resposta à altura.
— Fez! — Sean estava até vermelho de raiva e eu nem conseguia entender porque ele estava explodindo. — Pensei que você fosse diferente das outras garotas, mas eu estava profundamente enganado. Sorte minha que não apostei com ninguém sobre o desfecho da nossa relação. Eu certamente perderia.
— Sean, você está indo longe demais! — Alertei-o. Eu queria matá-lo e queria chorar ao mesmo tempo. Não choraria. E também não mataria. Só estava ali, parada, vendo até onde ele chegaria.
— Longe demais? — O seu tom de voz gélido quase me fez tremer. — Fui longe demais quando pensei que você não tivesse preconceito com os garotos inteligentes e introvertidos. Está mais do que na cara que você ama um destruidor de coração que leva tudo na brincadeira!
E onde, nas coisas que eu conversara com Harry, ele entendera isso? Qual era o propósito de tudo aquilo que dizia?
— Escuta aqui...
— Não! Escuta aqui você! — Com movimentos bruscos ele segurou-me pelos ombros, obrigando-me olhá-lo. — Eu estava quase me apaixonando por você, só que seu desvio de caráter acabou com tudo que eu poderia vir a sentir. — Grunhiu. — Você é apenas mais uma garotinha mimada que não hesita ao deixar as obrigações de lado para ter um encontro perigoso. Queria atenção, certo? Queria ter um cara aos seus pés, te elogiando por algo que você faz facilmente. Quer elogios por sua escrita confusa ou sobre sua beleza gritante? — Agora eu estava mais furiosa do que nunca e poderia certamente matá-lo. Aposto que ele mesmo acabaria percebendo seus erros depois. — Você ia sair daqui sem sequer pensar em Scott!
— Eu só ia comer e voltar! — Certo. Nenhum protesto meu estava dando certo.
— Não importa! — Ele me soltou, mas não se afastou um centímetro que fosse. — Odeio pessoas que fogem de suas responsabilidades. Você está fazendo exatamente isso agora! — Bufou e olhou para o caminho que Harry havia tomado. — Saiba que sair com esse cara pode ser divertido, mas a culpa te consumirá até você vir rastejando me pedir perdão.
— Nunca! — Okay, agora eu estava gritando. Abaixa esse tom de voz, Rebeca. Você ainda não saiu do hospital, mas ele precisava me ouvir naquele momento. Falando mais baixo, continuei: — Eu é que não vou te perdoar depois das coisas que disse! — Fuzilei-o com os olhos. Ele abriu a boca para dizer algo, mas não lhe dei chance alguma. — Tudo que você acabou de dizer é abominável, Sean! Já deveria saber que amo Scott como se fosse meu irmão e eu só estava saindo porque sei que não será nada bom desmaiar enquanto as atenções devem ser todas direcionadas a ele. — Por que eu não quebrava o nariz dele e saia de lá com classe? — Nunca pensei em seduzir Harry ou qualquer garoto que fosse, porque não preciso de um homem ao meu lado para ficar bem! Essas coisas são naturais, sentimentos, relacionamentos, quando tiver que acontecer, irá, e não é do meu feitio tentar conquistar alguém. Acho que, por ser como sou e não conseguir me abrir muito, ou a pessoa gosta de mim como sou, ou nada vai adiante. — Nem eu sabia mais de onde as palavras estavam vindo. — Não entendo seu surto ridículo e nem estou com vontade de entender. Eu apenas quero que você engula cada uma das palavras ácidas que acabou de pronunciar! — Era um desejo válido. — Principalmente depois de dizer "as outras garotas" como se todas as mulheres fossem iguais e ruins. Todas são únicas e incríveis, independente do que fazem ou dizem! — E eu estava muito feliz em ter coragem de dizer isso. Continuei: — Primeiro, eu estava sendo educada com Harry e até deixei claro que não encorajaria suas investidas. — Eu até mencionei que já tinha Sean em mente! — Depois, fiquei muito feliz por descobrir que alguém no mundo realmente gosta do que escrevo. Poxa, ele é simplesmente a pessoa que mais comenta na minha história e também a que mais me elogia. Não podia tratá-lo com indiferença! — Pausei só para recuperar o ar. — Eu não deveria dizer mais nada para você, mas quero deixar tudo muito claro. — Passei a língua pelos lábios, preparando-me para o que diria a seguir. — Nunca me apaixonei e nunca quis que um garoto se apaixonasse por mim sem que eu sentisse o mesmo. — Eu deveria ter parado por ali. — Você estava começando a baixar minhas guardas ao mostrar seu verdadeiro lado... Agora eu nem sei mais se você possui algum lado verdadeiro.
— Rebeca... — Ele não parecia mais tão confiante.
— Minha escrita pode ser confusa, mas eu pelo menos estou me esforçando para conseguir alcançar meus sonhos! — Esbravejei e tirei as luvas, não sabendo ao certo o que pretendia fazer. — E saiba que ninguém fala mal da minha escrita sem deixar uma cicatriz! — Em seguida fiz a coisa mais infantil de toda minha vida. Joguei ambas as luvas em Sean e saí correndo do hospital. Só quando estava ofegante ao lado de Harry pensei em algo importante. Como Sean sabia que minha escrita era confusa? Será que ele só disse aquilo para me irritar?
— Está tudo bem? — Perguntou o escocês, ao segurar-me pelo ombro. Parecia que ele tinha medo de eu desmoronar bem em sua frente. Neguei. — Problemas no paraíso?
— Algo assim... — Suspirei. — Sean estava um pouco fora de si.
— Essa não! — Harry parecia sentir-se culpado. — Não pensei que seu namorado fosse ficar tão bravo com minhas investidas.
— Ele não é meu namorado! — Falei rápido demais.
— Mas bem que vocês adorariam namorar! — Ele piscou para mim e começou a guiar-me pelas ruas de Toronto.
— Que nada! — Revirei os olhos para não deixar outra ação me dominar. — Sean está precisando pensar depois de tudo o que disse.
— E você precisa de terapia para perceber que o ama. — Provocou Harry.
— Não diga asneiras! — Fuzilei-o com os olhos. — Aquele garoto egocêntrico nem deve saber amar. Acha que é o centro do mundo! — Eu obviamente só estava com raiva.
— Bem, não diga que eu não avisei quando ambos forem parar na Emergência precisando da ajuda do meu pai porque estão morrendo de amor. — Sorriu e abraçou meu ombro.
— Você é cheio de intimidades, hein? — Ri, mas, por algum motivo, eu me sentia bem daquele jeito.
— Você não está reclamando. — Salientou com uma risada. — Deve ser por isso que o Sr. Ciumento ficou tão irritado.
— Ele não estava sendo o Sr. Ciumento, estava sendo o Sr. Irritante! — Argumentei.
— Você tem um ponto. — Harry impulsionou-me para entrar no Starbucks. — O que vai querer comer?
— Nada. — Só foi dizer essa palavra que Harry parou de andar e me encarou. — A discussão com Sean me deixou sem fome. — Confessei, sem graça.
— Não vou comer sozinho! — Protestou ele. — Você vai tomar alguma coisa então!
— Frappuccino de chocolate à base de creme. — Falei mecanicamente, pois esse era meu pedido habitual. Meu pedido dos sonhos!
— E eu vou pedir um Brownie de chocolate duplo. — Harry sorriu para mim e eu soube que ele estava tramando algo a favor do meu estômago.
Harry conseguiu me fazer comer e rir. Certamente ele poderia ser um ótimo amigo! É realmente um garoto engraçado e super galanteador. Sempre que via uma garota que considerava bonita, ele estava preparado para soltar seu melhor elogio. Acha que dá certo? Todas ficam caidinhas por ele! Eu devo ser a única exceção, mas somente porque já tenho outro babaca em mente. E eu nem deveria pensar nesse babaca egocêntrico que me magoou com suas palavras ridículas e sem sentido. E me sinto muito amargurada por ficar pensando tanto nisso e por estar tão irritada assim. Odeio sofrer por algo que outra pessoa disse, mas é inevitável. Nunca deixo ninguém perceber que estou de guarda baixa, sofrendo e prestes a chorar, mas, lá no fundo, sei que só gostaria de ter alguém com quem conversar sobre isso. Sei que não posso contar isso aos meus pais porque eles ficariam preocupados demais... Sem falar que papai com toda certeza tentaria falar com Sean. Isso seria divertido, mas eu gosto de lutar em minhas próprias batalhas de vez em quando. Poderia facilmente acabar com a moral de Sean se quisesse, mas eu só queria ficar trancada no meu quarto ouvindo músicas deprimentes.
Música da vez: Me And My Broken Heart, Rixton. Essa é uma música que define pessoas como eu. Por quê? Vamos apenas citar alguns versos. Tudo que eu preciso é um pouco de amor em minha vida. Isso não te convenceu? Vamos para o verso que mais me definia naquele momento: Me segure para que eu não caia aos pedaços. O problema é que eu não tinha ninguém para me segurar. Harry ficara com o pai, Scott também, em observação. Mamãe e papai saíram para jantar e eu recusei ir com eles, alegando que precisava escrever. Chloe estava em uma festa qualquer e eu sabia que mesmo se estivesse em casa não me daria atenção. Eu estava com um aperto no coração e ninguém poderia me ajudar.
Continuando a música...
Como na música eu tentei fugir dos sentimentos novos. O que sempre consegue me parar são os olhos de Sean, pois o brilho neles... Ora, esqueça! E sim, parece que eu estou perto de perder o controle. Sean já parecia ter perdido o dele, mas por um motivo nada romântico. Egocentrismo ou qualquer coisa assim. Argh! Eu me sentia muito sozinha naquele momento, principalmente por estar desconfortável com quão rápido tudo acontecera. Como em um dia Sean podia ser perfeito e, no dia seguinte, podia estragar tudo? Certo, sei que ninguém é perfeito, muito menos eu, mas como alguém pode mudar da água para o vinho tão rápido?
Talvez uma parte de Sean realmente me odeie, e tudo aquilo não passou de uma brincadeira péssima. Talvez ele só tivesse medo de seus sentimentos, assim como eu, e agira por impulso, o que provavelmente o deixaria irritado depois. Eu não tinha como saber a resposta, mas eu e meu coração partido nos sentíamos muito sem chão. Será que ele mentia para mim como a garota da música mentia para algum dos integrantes da Rixton? Bem, ele já mentira muito, então essa era uma possibilidade. Mas, naquele momento, só queria fingir que nada acontecera.
Desencostei a cabeça do travesseiro ao imaginar ter ouvido algum estrondo. Estava ficando louca? Não, pois ouvi novamente. Tirei um dos fones e pude ouvir uma música alta vindo do lado de fora. Franzi o cenho ao reconhecer a voz de Pierre Bouvier, da banda Simple Plan, e corri até minha janela, abrindo-a. Coloquei a cabeça para fora e avistei Sean encostado em seu carro, justamente a fonte da barulheira. Pelos deuses! Eram oito horas da noite e eu tinha plena certeza de que meus vizinhos chamariam a polícia em pouco tempo.
— Que diabos você está fazendo? — Gritei, na esperança de ser ouvida.
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