Libertem-se das correntes do medo
E chegou o domingo. O domingo rápido e estranho que me levaria para a ponte curta em destino à chegada da segunda feira decisiva que só de notificar o meu cérebro paranoico disparava fagulhas no meu estômago.
Acordei me sentindo como uma mulher grávida cultivando um filho cujo nome nervosismo crescia depressa dentro de mim.
Tomei o café da manhã por tomar, eu não estava com fome. O rio foi a única coisa que me distraiu, meus olhos cor mel admiravam o riacho na visão retrato da janela. —Será que um dia consigo trazer o Levy aqui? No lugar que me acalma?
—A sombra da Dona Mirtes escureceu o meu rosto. Por mais que eu tentasse esconder os meus sonhos e segredos eu era reprovada na matéria do improviso.
—Já está sonhando a essa hora da manhã? —Dona Mirtes segurava uma xícara com a mão direita enquanto que a esquerda roçava o cabelo curto.
—Nunca se tem para sonhar! —Eu a respondi e depois fique me questionando se a resposta soou fria e seca como aquele domingo. Ao invés de tentar adivinhar a resposta por trás dos seus olhos cansados troquei de assunto. — E o resto de plantão como foi?
Dona Mirtes puxou a respiração e em seguida se sentou na cadeira. Eu até já sabia a resposta; outro assunto— Para outras mães sonhar em conhecer um ídolo preferido não passaria nem perto da hipótese em ser uma péssima preocupação que ela sentia por mim.
—Filha eu sei que você sonha tanto em conhecer esse ator. — Ela fez uma momentânea pausa, franziu a testa numa ânsia por quase arrotar, em seguida levou o dorso da mão a boca. — Enfim, você sabe o que eu acho sobre isso.
Eu podia compreender sobre história, relações internacionais na faculdade, mas jamais entendia o porquê havia aquela conversa. Não por relutar o sentido protetor de mãe. Dona Mirtes estava usando o seu instinto e muito no caso. Mas o globo terrestre gira todos os dias e em suas rotatividades as coisas mudam e se atualizam por outros rumos. Mirtes perdeu a carona do globo e travou no tempo e, diante dessa circunstância, jamais a culpei por ser previsível ao que ela julgava.
Sair de casa todos os dias desde que eu me entendo por gente e ainda ser mãe e pai perfeitamente, a obrigou a não ter escolha, se não fazer tudo isso sem reclamar ou consentir.
Por um rápido impulso me levantei e fui em sua direção dando-lhe um abraço bem apertado—Me deixe sonhar mãe!— Eu sei que a vida não é um conto de fadas— Meus olhos estavam à risca de marejarem por lembrar que no fundo minha mãe era a certa da situação. Levy não vai me resgatar pulando corajosamente num cavalo branco, ou, vai me receber de braços abertos em seu estúdio com um beijo caloroso e longo.
Levy não sabe que eu existo. Embora eu tenha escrito várias cartas para ele e, cansei de ele me mandar um beijo no decorrer de várias conversas entre fãs na internet. Nunca me esquecerei do presente que pedi a dona Mirtes no aniversário de dezoito anos; uma viagem ao projac para participar de um programa televisivo que iria entrevista-lo. Na época, quase desmaiei por estar próximo dele —da escandalosa plateia eu sentia o seu perfume francês.
O que eu posso esperar é um soco na boca do estômago com um emaranhado de decepção se nada der certo. Eu sempre tive medos, inseguranças, por isso criei e abusei do lúdico. Eu precisava de um alguém real para estar comigo, Levy não é apenas um rosto bonito, eu sinto algo enigmático.
Despertando do meu transe voltei os meus olhos no rosto intrigado da minha mãe. Mirtes já avançava para a terceira xícara de café e eu ainda não havia finalizado a conversa.
— Você estava longe não? — Perguntou decepcionada cobrindo o rosto com a metade da xícara.
—Sim—Respondi com a cabeça baixa. Dona Mirtes deixou a cadeira, levantou-se devagar erguendo o meu rosto pelo queixo — Eu não vou te impedir nem se eu quisesse... E o Betinho iria me estapear vestido de mulher loira— Eu dei uma gargalhada precedido por ela.
—Então, você já deve ter percebido a nossa intenção com o projeto da faculdade? —Ela revirou os olhos— Francamente minha filha, eu vi teu amigo de peruca.. Por quem mais ele faria isso? —Nos abraçamos novamente e, eu sentira um intenso alívio por minha mãe, a mulher que abominava segundo a sua opinião' Uma besteira de sonhar acordada'' estar lançando um grande e importante suporte através de um abraço expressivo de profundo carinho.
—Obrigado enfermeira Mirtes! —Enxuguei minhas lágrimas tentando não olhar em seu rosto sábio sorrindo com os lábios. —Sou a sua mãe, quero o teu bem.... Só tome cuidados com pessoas gananciosas que vivem ao redor daquele ator.
—Pode deixar! —Retruquei estufando meu peito— Um dia eu quero trazê-lo aqui em casa. Mirtes fez que não com a cabeça. Enquanto ela se dirigia no lava pratos eu dava voltas pela mesa como uma criança inquieta — Levy veio de um lugar humilde, ele não se importa com luxo.
—Humpf!... —Gemeu minha mãe— Todas essas estrelas de televisão são cheia de frescuras... Eu garanto que esse ator nunca botaria os pés aqui—Por ciências desconhecidas adorava escutar Dona Mirtes reclamando não importando ser sobre o meu Levy.
Conversamos mais um pouco e, eu nunca vi a patroa tão tagarela. Falou do estresse do hospital, falou mal as colegas de trabalho, do médico mal educado. Ela confundiu a cozinha com um consultório de psicologia. Eu parecia um robô respondo um simplório'uhum''. Ela estava tão empolgada que alguns pires eram lavados mais de uma vez. Dei silenciosas risadas.
O ar gelado de um domingo passageiro, trouxe uma noite misteriosa e bonita. Antes de me deitar, não hesitei em visitar o meu cantinho da paz. De pantufas misturadas com pijama verde, retirei da bolsa azul marfim um pote de vidro com tampa lilás, sentei na beirada do rio tocando com os dedos das mãos a água gelada silenciosa cantada na música viciante e barulhenta das cigarras. Um cheiro gostoso de natureza limpa estimulava meu olfato. O que o rio vazio do dia não tinha nada de especial à noite ele se transforma numa verdadeira obra de arte com os adereços da natureza; os vaga-lumes que ali sobrevoam inquietos iluminavam a noite e deixavam tudo mais sereno A cada ano que se avança eu me sentia mais próxima num nível de conectividade além do que eu podia entender.
Um conjunto de sentimentos felizes transportava até o meu corpo. Era como se um pinheiro de uma árvore totalmente apagado se ascenderia aos poucos.
Olhei para o céu e sorri—Hoje as estrelas não estão tão tímidas pois há muitas delas reluzindo o teto noturno. Tudo estava perfeito. Até esqueci-me da ansiedade a qual me aborreceu oscilando a minha inquietação. Dona Mirtes roncava em sua noite de folga e eu, completamente entregue a grama gelada e aos queridos amigos vaga-lumes.
Havia vários. Me sentira em uma festa mágica. Quando me deparei de estar sendo rodeada por mais ou menos uns vinte e tantos, elevei os braços fazendo alguns se repelirem e outros iluminarem à minha volta. O meu rosto florescia, meu corpo todo florescia a cor amarelo das luzes dos pequenos lampejos.
A minha vontade de gritar era tão louca que as vezes minha voz gemia uns gritinhos por viver aquela eufórica sensação e não poder compartilhar com ninguém, exceto Betinho que sempre me acompanhava.
Uau!—Murmurei abaixando os braços espantando alguns vaga-lumes— Falando em Betinho ele mandou uma mensagem muito cumprida pra se ler quando a preguiça predomina mente.
Conforme eu lia mensagem, meu rosto desanimava. A mensagem de texto começava da seguinte maneira—'' Amiga!.... Hoje meu dia foi uma droga.. Tudo deu errado.. Enfim não estou bem''
Eu relaxei os ombros e hesitei em ligar para Betinho. Um arrepio percorreu a minha espinha. Algo grave aconteceu!—Meu amigo precisa da minha ajuda!
Corri até a varanda e depois de tuas tentativas sem sucesso, ouvi a voz rouca de Betinho atendendo um '' Alô'' entristecido pelo tom de voz rouco de tanto chorar.
Continua. Votem e comentem
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