Capítulo 2: Procura-se uma banda
Depois do café da manhã, peguei o ônibus para ir para a escola onde eu fazia cursinho, o "Projeto Jacira", uma escola que oferecia cursinho pré-vestibular para pessoas de baixa renda.
Eu achava esse projeto incrível! Ele foi criado por Jacira Ruas, uma mulher que era analfabeta aos 35 anos e sonhava em ser médica. Começou seus estudos porque trabalhava em uma escola de Educação Infantil e conseguiu se formar aos 52 anos. Gostou tanto da arte de ensinar e aprender que preferiu ser professora e criou o projeto em seu nome para ajudar outras pessoas.
A história dela sempre me inspirava a lutar por um sonho. Ainda que o sonho mude de percurso ao decorrer do caminho, é importante lutar por aquilo que nos faz feliz.
Foi bem difícil conseguir a vaga nesse projeto. Tive que ir para fila às três da manhã e ficar de pé até as nove horas. Consegui porque eu me encaixava no perfil: estudante de escola pública e de baixa renda familiar. Apesar de estar feliz em ter conseguido a vaga, eu não estava feliz com a situação financeira. Não via a hora de já trabalhar e poder ajudar em casa, mas nesse momento eu estava mais focada nos estudos e meus pais me apoiavam nessa ideia.
No caminho fui conversando com meus amigos pelo celular. Eu tinha um grupo só com fãs da Mika e eles estavam me apoiando em participar. Eu estava muito ansiosa. Ficava pensando em como poderia ser o vídeo, qual música seria e o que mais poderia ser feito.
Se eu ganhasse esse concurso e trabalhasse como cantora seria o plano perfeito. Conseguiria ajudar meus pais e estaria fazendo o que eu gosto.
Assim que eu entrei na escola, já vi a Júlia sentada em um banco sozinha, lendo um livro. A Júlia sempre foi muito dedicada, desde os tempos da escola. Era aquela aluna que só tirava nota alta em tudo!
Ela estava sempre com um livro nas mãos e estudando. Quando eu cheguei, obviamente ela estaria estudando! Mas eu a entendia, ela queria prestar vestibular para faculdade de Direito na Universidade HAX, que era super concorrida, principalmente no curso que ela havia escolhido.
– Oi, Helô! – acenou ao me ver.
– Oi, Ju! – sentei ao seu lado. – Tão cedo e estudando, amiga?
– Sempre, você sabe! – sorriu, enquanto guardava o livro na mochila.
Eu lembro quando conheci a Júlia! Eu a julguei mal, achando que era metidinha... Mas que nada! Ela era uma pessoa bem incrível e muito estudiosa! A Júlia era loira, de cabelos ondulados e sempre prendia a franja com um grampo para não ficar nos olhos.
Por eu achar que ela era daquele jeito, acabei me afastando dela no início! A sorte é que um dia ela veio conversar comigo e vi que ela era totalmente diferente do que eu achava.
– Amiga, eu preciso te contar uma coisa! Adivinha quem vai vir para o Brasil!? – falei com empolgação.
Ela olhou para cima, demonstrando que estava pensando, e depois balançou a cabeça.
– Não faço a mínima ideia!
– Mika! – falei super animada.
Júlia não se ligava muito nessas coisas de show e artistas. No entanto, ela sabia o quanto isso era importante para mim.
– Sério? Ela vai fazer show?
– Vai! – continuei na mesma empolgação. – E o melhor de tudo: vai ter um concurso para escolher uma banda ou cantor para abrir seu show!
– Amiga! – ela abriu mais os olhos se demonstrando surpresa. - É a sua chance! Já se inscreveu?
– Ainda não! Mas eu vou me inscrever, sim! – falei animada. Peguei o celular e comecei a mostrar para ela. - Precisa só mandar um vídeo cantando, mas eu estou super na dúvida. Não queria mandar sozinha, acho que só "voz e violão" vai ficar estranho. E, de certa forma, fico com vergonha de cantar sozinha. Com uma banda eu acho que ficaria mais segura.
– Olha, sinceramente, eu acho que ficaria melhor mesmo!- Júlia disse. - Você conhece pessoas para montar uma banda?
– Não – falei entre um suspiro desmotivado.
– Calma, amiga! – soltou uma risada compreensiva. – Vou pensar em alguém... Não tem ninguém que estude aqui que possa te ajudar?
– Não... Provavelmente não...
Eu não era uma pessoa com muitas amizades no curso. Andava com os meus amigos e só. Por causa disso eu não sabia muito quem poderia me ajudar.
– Ah, já sei! – ela se lembrou e disse empolgada. – Sabe o Lucas, meu primo?
– Não me lembro dele...
– Ele toca violão na igreja. A gente podia falar com ele, porque com certeza deve conhecer pessoas que possam ajudar.
– É tudo que eu preciso! – sorri. – Mas será que ele topa participar?
– Com certeza! – ela disse. – Ele é um amor de pessoa! Você vai adorar conhece-lo!
– Que bom! Espero que ele aceite!
– Vamos fazer isso hoje? – ela perguntou e eu fiquei super feliz com a sua empolgação. - Depois da aula eu vou para sua casa e já vemos tudo isso.
– Muito obrigada, amiga! Não sei o que seria da minha vida se não fosse você!
Eu dei um pulo e a abracei. Eu estava extremamente feliz por ela estar me ajudando a realizar um sonho, aliás, dois sonhos!
– Eu sei o quanto isso é importante para você! Pode acreditar que vai dar tudo certo, porque vai!
– Imagina? É a minha chance de realizar meu sonho e ainda conhecer a Mika!
Tivemos aulas de Matemática e Química – matérias que eu tinha muita dificuldade. Pareciam estar em grego para mim. E a professora de Matemática, a Sr.ª Edith, só piorava a situação. Já o professor de Química – Heitor – era bonzinho, eu que ficava um pouco perdida, mas nessa matéria até que dava para levar.
Depois da aula, almoçamos na escola e Júlia foi para a casa do meu avô Zino junto comigo. Todas as tardes eu ficava com ele até minha tia voltar do trabalho para que ele não ficasse sozinho, pois desde o ano passado ele começou a sentir fraqueza e dificuldades para se locomover, então eu comecei a passar as tardes com ele para que não ficasse sozinho. Mesmo assim, ele não gostava de ficar parado. Meu avô sempre foi para mim um sinônimo de motivação. Ele sempre buscava algo para fazer. Também sempre me apoiava em tudo! Foi ele quem me ensinou a tocar violão e, em tudo que eu fazia, sempre estava do meu lado me dando força.
Quando chegamos à casa dele, perguntei se eu poderia ensaiar na sua garagem e ele adorou a ideia. Disse que iríamos animar suas tardes, que deixariam de ser tão monótonas.
A Júlia avisou ao primo dela para passar lá também e, enquanto esperava, mostrei a música que eu queria cantar no concurso. Às vezes, quando estou sem fazer nada, pego o caderno e deixo minha mente livre para a criatividade tomar conta e então escrevo.
Na verdade, geralmente, as inspirações costumam vir quando eu tenho muita coisa para estudar e então uma nova música fica martelando na minha cabeça, fazendo com que eu me distraia e acabe não conseguindo estudar nada.
Enquanto esperávamos, recebi a mensagem da Fernanda, uma amiga minha que adorava a Mika tanto quanto eu.
"Amiga!! Você viu o concurso para participar do show da Mika? Vamos participar?"
"Eu vou me inscrever sim!!! Só estou vendo como vou fazer! rs" – enviei.
"Você vai ganhar, amiga!! Quero participar também. Me coloca na sua banda!!!"
– Ai... – soltei um suspiro de tensão.
– O que foi? – perguntou Júlia.
– Nanda, uma amiga minha, acabou de mandar mensagem. Ela mora aqui perto e é muito fã da Mika. Está pedindo para entrar na banda!
– Que ótimo! O que ela sabe tocar? Ou ela canta?
– Nem uma coisa nem outra... – disse sem jeito. - Ela não canta muito bem...
– Ah, então diz que não vai dar! – Júlia balançou a cabeça. - Você está no concurso para ganhar e não para perder.
– Eu não consigo ser assim...
Suspirei e mandei mensagem para ela.
"Vem para a casa do meu avô. Estamos aqui escolhendo a música para gravar!" – enviei.
"Estou indo!!!" – sua resposta chegou logo em seguida.
Júlia balançou a cabeça negativamente, desaprovando a minha atitude.
– Você é louca! Eu só escolheria os melhores para a minha banda se eu fosse participar! – Júlia falou colocando mais força na palavra "melhores" para enfatizar.
Eu preferi não dizer nada. E não porque eu não confiava na Júlia, mas eu preferia não falar mal de uma amiga.
Sim, ela tinha razão. Mas como eu diria "não" para a Nanda? Ela iria ficar morrendo de raiva de mim e me acharia super egoísta. Afinal, esse era um jeito de estarmos mais próxima da Mika e quem sabe, conhecê-la.
A campainha tocou e, quando fui atender, era o Lucas. Eu ainda não o conhecia. Ele era bem parecido com a Júlia, só que ele era mais bonito. Não que a Júlia fosse feia, muito pelo contrário. Mas realmente eu o achei muito bonito. Ele estava carregando o violão nas costas e deu um sorriso assim que me viu abrindo a porta.
– Olá! Heloísa? – disse me cumprimentando.
– Isso! Obrigada por ter vindo!
Júlia chegou na sala e nos viu. Deu uma corridinha e abraçou seu primo.
– Lucas! Que bom que veio! Precisamos muito da sua ajuda! Vamos lá para te contarmos tudo.
Fomos para a garagem, que estava vazia, já que minha tia havia saído com o carro. Sentamos no chão e Lucas colocou o violão ao lado dele.
– Contem! Em que vocês precisam de mim? – Lucas perguntou.
– Eu conto! – disse Júlia empolgada, parecia até que era ela quem estava participando. – A Helô é muito fã da Mika e ela vai se apresentar no Brasil. Para esse show, vai ter um concurso para escolher a banda de abertura! Como a Helô canta super bem, precisamos montar uma banda para ela se inscrever no concurso. Por isso, precisamos da sua ajuda!
– Abertura do show da Mika? – ele perguntou impressionado. – Seria ótimo abrir um show desses, hein? E o que tem que fazer?
– É só se inscrever no concurso mandando um vídeo com música própria! Os melhores vão participar da seletiva, que deve ser bem concorrida. – Júlia respondeu.
– Imagino! Deve ser concorrido porque, além de fãs, com certeza vão participar músicos profissionais. Afinal, abrir um show internacional é ótimo para o currículo de qualquer artista!
Ele falou calmamente e eu, por uma breve fração de segundo, fiquei insegura, mas logo me lembrei do que eu havia pensado de manhã e disse para mim mesma: "eu sou capaz".
– A gente já tem uma música! – Júlia pegou minha folha e entregou para ele. – A Helô que compôs junto com o avô.
– Sonrisa de Luna... – ele leu o título e começou a passar o olhar pela letra da música. – Mas a música é em espanhol?
– Ai, desculpa! – eu disse trocando a folha. – A letra em português está aqui. Eu sempre faço as composições em espanhol, porque tenho esperança de que a Mika um dia possa cantá-las. – falei em uma mistura de timidez e empolgação.
– Entendi... – ele disse soltando uma risada. – E qual o ritmo?
– Canta para a gente, Helô! – Júlia me olhou entusiasmada.
– Ah, depois eu canto... – disse em voz baixa.
– Ela é tímida! – disse Júlia, piorando minha situação.
– Tímida querendo cantar para milhares de pessoas? - Lucas levantou a sobrancelha.
"Eu sou capaz" – eu me disse internamente novamente.
– Ah, é um sonho... – disse ainda sem jeito. – Por um sonho a gente passa por cima de várias coisas.
– Perfeito! – Júlia se levantou. – Vamos fazer esse sonho virar realidade! Mas precisamos de uma banda, Lucas. Você pode nos ajudar?
– Claro! Acredito que sim. Qual instrumento você toca, Heloísa?
– Violão e teclado. Consigo tocar guitarra, só não tenho uma...
– Você poderia tocar guitarra e eu fico com o baixo.
Eu tenho uma em casa, posso te emprestar. E você Júlia, vai tocar bateria?
– Não! – disse rindo. – Não é a minha praia! Fora isso, eu tenho que estudar para o vestibular. Iria me atrapalhar se eu ficasse ensaiando para a banda.
– Você toca bateria? – estranhei, pois eu nunca soube disso.
– Não, é brincadeira dele! Eu brinco às vezes com a bateria da igreja, mas não sei tocar.
A campainha tocou novamente e eu fui atender, enquanto pensava naquele segredo de Júlia! Quem diria que ela poderia ser a baterista da banda e estava escondendo o ouro?
Quando abri a porta, Nanda entrou na casa praticamente me atropelando. Se a Júlia estava empolgada, imagina alguém dez vezes mais.
– Amiga! Que bom que você vai participar! – disse rapidamente, quase não dava para entender o que ela falava. – Eu estava desesperada! Precisamos ganhar esse concurso!
– Calma! – eu ri do jeito dela. – Vamos lá para a garagem que o primo da Júlia está nos ajudando.
Fomos para a garagem e, desde que entrou, Nanda não parou de falar.
– Estamos dividindo a função de cada um. O que você pode fazer na banda? – Júlia perguntou.
– Ah, gente! – disse se jogando no chão como se tivesse caído. – Eu não canto e nem toco nenhum instrumento! Eu só queria muito participar.
Júlia me olhou, mas eu desviei o olhar na mesma hora. Eu já imaginava que ela me repreenderia.
– No ensaio a gente vê como você se sai como backing vocal; precisaremos de uma, já que, provavelmente, a Júlia não vai aceitar.
– Não mesmo, queridos! Vestibular me chama!
– Poxa, amiga! – disse para Júlia. – Você canta tão bem e ainda toca bateria! O que custa quebrar esse galho?
– Custa minhas oito horas de estudo por dia! – Júlia disse. – Já estou aqui participando da reunião para você conhecer meu primo.
Ele me olhou, sorriu e eu imediatamente desviei o olhar. Sabe quando você tira uma palavra de contexto e a transforma em um sentido totalmente diferente?
Júlia estava fazendo eu conhecer o Lucas para que pudesse me ajudar a ter uma banda. Por que eu fiquei tão sem graça com esse comentário então?
A Nanda sorriu. Com certeza ela percebeu que eu havia ficado sem graça.
- Também estou estudando para o vestibular! – desviei o assunto.
- Mas tenho certeza que esse concurso de música vai ser sua prioridade no momento. – Júlia disse e deu um suspiro. – amiga, eu torço muito por você e pode ter a certeza de que eu vou estar na primeira fila para te ver naquele show! Mas, infelizmente nisso eu não vou poder ajudar!
- Fica tranquila, Helô! – Lucas disse, mostrando o celular. – Vou conversar com alguns amigos e ver se alguém topa participar para ser baterista. Com certeza vou achar alguém para a banda. E quanto a backvocal, já temos a Nanda, certo? – ele disse, olhando para ela.
- Claro!! – Nanda respondeu empolgada.
Eu sorri. O Lucas tinha um jeito tão... como posso descreve-lo? Encantador? Sim... Encantador! Ele era um garoto simpático e super atencioso.
Fomos conversando sobre a música e eu acabei criando coragem de cantar. Lucas conseguiu pegar a melodia no violão e deu algumas sugestões para melhorar. Ele realmente era ótimo músico!
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Oieee!!! Como estão??
Fico feliz que estejam gostando da história!!
Agradeço de coração cada comentário e voto!!
A Heloísa já está com a banda quase completa. Será que agora ela conseguirá superar a timidez??
Espero vocês!!!
Obrigada pelo apoio!!!
Beijooos
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